De Maria
João Avillez. Mas
não se estranhe, num país que admite candidatos como Tino de Rans para PR. Um ver
se te avias de razões comezinhas que não definem nenhum projecto que não seja em
função da causa própria, não do próprio país. Excelente análise de MJA.
A vida continua, claro. Pior
Ao avisar que “é de centro esquerda” Rio
desistiu de milhares de portugueses que politicamente escolheram o PSD e de ser
o motor de arranque de um espaço imensamente maior daquele que elegeu.
1No último sábado, olhando ao serão através das televisões o “filme” de mais uma nacional tragédia política era difícil não estar sempre a tropeçar no espanto exuberantemente exibido por tantos: interjeições de surpresa, rostos siderados, sorrisos ao viés. “O quê? Rio ganhara? Mas como?”. Ah este “como”. E no entanto… é a tal coisa, observação atenta substituída – mas porquê? – por certezas antecipadas. Lupa desadequada para constatar o que ia de facto ocorrendo no “terreno” e não aquilo que muitos queriam que viesse a ocorrer. Ponto final.
2Nesse
mesmo sábado eleitoral discorrera aliás aqui no Observador num artigo sobre a
desvalorização da observação face a sobrevalorização da sondagem como “o”
instrumento mais fiável para descodificar comportamentos eleitorais. Escrevia-o
obviamente antes de saber os resultados Rangel/Rio na corrida do PSD; escrevi-o
por me lembrar de como, de uma forma geral, a campanha Moedas/Medina tinha sido
mal observada. Mas – e eis o ponto – escrevi-o sobretudo por me ter apercebido
de que Rio iria ganhar contra a expectativa de Rangel, do seu núcleo duro, das
suas hostes. (E embora me parecesse politicamente mais avisada a vitória de
Paulo Rangel – comecei em Julho a dizê-lo-lo na TVI, por exemplo – tal
simpatia nunca me impediria de notar e afirmar o que a realidade ampliava.)
O
tempo passou, a campanha começou, a política seguiu, mas é aí que entra essa
necessidade de saber “ver”, percepcionando os sinais: no caso de Rangel,
começaram todos a avermelhar: na batalha interna do PSD iam ocorrendo grosso
modo os mesmos erros que vira há três meses, no combate autárquico lisboeta: do
lado de Paulo Rangel via-se a olho (demasiado) nu que a sua campanha se havia
prematuramente instalado na vitória como quem se senta num sofá. Tal como
Medina também fizera, dando a impressão aos lisboetas que era só esperar que
lhe fossem entregar a vitória a casa, como se fosse uma pizza. Enquanto Moedas
se esfalfava energicamente por estar, ir, explicar, combater, Fernando Medina
não se inquietava: a autarquia não era dele? Não sendo obviamente comparável
com arrogância do PS nas recentes autárquicas, capitaneada por um tonitruante
António Costa, os laivos de sobranceira displicente no baronato de Rangel
também não caíram bem na militância.
Em
resumo: Rio – tal como fizera Moedas em Setembro – nunca desistiu, atravessando
adversidades várias e batendo-se mais e melhor estrategicamente que o
adversário. Rangel,
desorientava quem retivera o seu magnífico discurso de apresentação de
candidatura, e lhe apreciava as muitas qualidades, descendo todos os dias, vitória
abaixo, em vez de subir vitória acima. Começava a não haver dúvidas: certa
do epílogo desta falhada história, no sábado de manhã mandei um sms a um colega
que insistia em que Rangel levaria a melhor: cada um ficou na sua, mas se havia
altura em que tivesse preferido estar enganada era esta: ficou por semear a
esperança de que o vento rondasse e outro tempo político viesse. Não veio, não
virá: ninguém quer mudar.
(E veja-se a propósito de não querer mudar, o empurrão dado a Rui Rio à última
da hora por uma sondagem tão estranha da Pitagórica e com perguntas tão
forçadas que todas as dúvidas passaram a ser legítimas: que era aquilo?)
3Rangel
perderia com a dignidade de quem havia ganho enquanto Rio vencia com o mau
ganhar de quem tivesse perdido. São naturezas. É lá com ele.
O
que já é com metade ou quase metade do país é ter de conviver com um sistema
que começa no “centro esquerda”, líder da oposição “dixit”. Mas em que
sistema politico é que o maior partido de oposição às esquerdas, se auto-situa
e prefere ao centro-esquerda? Se Rio assim prefere intitular-se e
definir-se está a desistir de muitos milhares de portugueses que
politicamente procuravam a família que lidera. A desistir de
ser o motor de arranque – e o próprio combustível – de um espaço imensamente
maior do que aquele que ele próprio delineou e onde se confinou: a desistir do
espaço todo à direita do PS o que politicamente não é dizer pouco. Irá fechar em vez de abrir, fragmentará em
vez de unir. Um
dia o país pedir-lhe-á contas pela oportunidade perdida de nada mudar; pela sua
“preferência” em acreditar que fará reformas com o PS em vez de compreender que
é justamente com o PS que elas serão impossíveis de concretizar. Sim, claro as
coisas irão mudar. Para pior.
Passámos
os últimos anos a padecer da originalidade de metade do país não existir
politicamente: o
centro e a direita foram sistematicamente humilhados e ofendidos pelo poder
socialista, eram uma “não-existência”.
Agora,
mesmo sabendo-se como este PSD não quer ser, e já não é, “o” PSD dos grandes
líderes que se conheceram, fica-se pasmado com um líder que politicamente
aspira a ser a bengala do maestro em vez do próprio maestro.
PS1. De
uma coisa estou certa: a Ordem dos Economistas ficará mais que bem entregue nas
mãos de Pedro Reis, que esta
semana irá disputar as eleições para novo bastonário da Ordem. Em dias incertos
passou a ser um luxo poder contar-se com os homens certos para algumas tarefas.
PS2. Quando
no dia 1 de Agosto deste ano de 2021 fiz uma entrevista a Frederico
Varandas — a primeira grande entrevista que
deu após o seu clube ser campeão nacional — o presidente do Sporting não
tropeçou nas palavras: Luís Filipe Vieira não seria seguramente o único homem
do futebol a ter de prestar contas à Justiça, outras moradas se seguiriam à do
Benfica. A Justiça o dirá mas parece que ele tinha razão. Porque me ocorre
isto? Porque apesar de ser desde sempre “militante” do Benfica nunca me passou
despercebida a diferença introduzida por Varandas no meio futebolístico
português: outra postura, outra exigência, outra lisura. Outra liderança.
PS3. Só
posso falar pelo meu posto de vacinação – na lisboeta Rua da Escola Politécnica — mas como
gosto de gostar e depois dizer que gostei, daqui aplaudo a eficiência, a
disciplina, a rapidez, a cordialidade com que tudo fluiu (nunca se percebe o
que tem de ocorrer para que umas coisas corram tão bem e outras tão mal).
COMENTÁRIOS:
Albino Mulato: De Pedro Reis que foi a opção de MJA nada conheço, mas
de António Mendonça a memória ainda não apagou tudo. A sua eleição vem
confirmar a ideia que tenho do país, melhor , da população do país. Resta
acrescentar de que a ideia que tenho dos economistas, não é a melhor. Dali ou Picasso? Excelente crónica. Escreva sempre como tao bem sabe, e não ligue aos que
fazem jus á última palavra dos Lusíadas. Alberto Sousa: O IL acaba por ser o parido com melhores ideias. Ou
então votar no chega, se for mesmo como protesto! J Ferreira: Não
há nada como esclarecerem as posições. O Rui Rio assumiu que o PS D(ois) não é
de direita e como tal tem que se sujeitar ás consequências. Na realidade, quem
se assuma de direita e defenda os valores de direita, só tem presentemente uma
opção de voto: CHEGA. A Iniciativa Liberal, quer o melhor dos dois mundos,
opções de direita na economia e opções de esquerda nos chamados costumes. Mário Baptista: Não acredito que seja possível escrever e pensar o que
acabei de ler. A vitoria do Rui Rio afectou cognitivamente muita gente. Espero
que seja temporário. Dali
ou Picasso ? > Mário Baptista: a
sério..? se calhar não leu bem... O problema aqui presente, não é a vitoria de
Rio, é a personalidade de Rui. Já reparou na purga e na atitude vingativa do líder(?).
Deste homem nada de bom para o País se pode esperar, até nas palavras que usa,
no modo como discursa se notam as limitações cognitivas. O melhor que diz é o
sound bit de que está "picado", deve ter levado a 3ª do Covid... Qualquer
outro, que fosse o novo líder do PSD e soubesse respeitar todas as tendências
internas, seria melhor. Infelizmente a realidade é esta. De algo estou convicto,
as escolhas que virem nos próximos anos só nos irão empobrecer. Albino Mulato > Dali ou Picasso ?: Mas essas "tendências internas" alguma vez
o respeitaram durante a sua liderança? Phi
Moralia > Dali ou Picasso ? Esta gente vê as coisas sempre ao contrário. Nunca
respeitaram Rui Rio nem as suas ideias sufragadas internamente (e, portanto,
merecedoras de ainda mais respeito, porque legitimadas) e agora acusam-no de
falta de respeito ? De vingativo ? Como assim ? Vingativo é Montenegro e
companhia que quando desafio Rio fez uma figura triste e baixa onde se via o
ódio e o carácter vingativo da contenda. Quando o Dali ou Picasso diz que as
escolhas nos vão empobrecer, deve estar a referir-se às Avilez de turno dos
privilégios adquiridos. Sugerem que Rui Rio é provinciano e depois vai-se a ver
e uma boa parte das nossas elites é verdadeiramente provinciana e muito
portuguesinha, na pior acepção do termo. Mil vezes o pragmatismo de Rio, do que
parte das elites do PSD que são elites cá em Portugal. Lá fora ninguém os
conhece - só no burgo onde gozam de privilégios adquiridos. JOSE DE
CASTRO: Parabéns, Maria Joao. Uma análise
honesta! Guevie Moncor:
Haja clarividência. No entanto a alternativa seria o Sr. Rio mentir aos
portugueses dando a ideia de que é de centro-direita. Seria tanto mentira
quanto foi quando o Sr. Costa disse ser social-democrata - raios, nem democrata
é. Entendem agora por que razões irá o Sr. Rio perder as eleições e ficar a
muleta do Sr. Costa? Entendem por que razões o Chega vai crescer e personificar
a direita, sendo a única alternativa democrática em Portugal? É interessante
como todos os que criticam o Chega fazem tudo para empurrar os cidadãos para
votar nele. O CDS implode e os votantes distribuem-se pelo PSD, IL e Chega. O
PSD vira à esquerda com o Sr. Rio e o centro direita do PSD só pode votar IL ou
Chega, mais Chega pois a IL tem uns problemas de rigidez ideológica e já não
tem CDS. JOSE
DE CASTRO > Guevie Moncor: Muito
bem, é isso mesmo. Traição do Sr Rui Rio, não nos deixando outra
alternativa que não o CHEGA!. Mas há tempos que já se via que a única
maneira de chegar o Pais para a direita, tirando-o
desta terrível distribuição de pobreza é votar no CHEGA!. J
Ferreira > Guevie Moncor: Sem dúvida, foi o meu caso. Com o surgimento do CHEGA
e a viragem à esquerda do Rui Rio, eu disse adeus ao PS D(ois). unknown unknown
> Guevie Moncor : Meu pensamento…. Phi
Moralia > Guevie Moncor : Ahahah a máfia do psd que
constantemente sabota e conspira contra Rio , cujas ideias foram sufragados não
uma, não duas mas sim três vezes ... são muito democratas!! Disso não há dúvidas!!
Tem problemas mentais, e ignorante ou não tem o mínimo de decência? É que não vejo mais nenhuma hipótese ! Das 3,
uma ! antonyo antonyo: A sondagem da Pitagórica foi uma canalhice. Ping PongYang > antonyo antonyo: Não me diga que preferia descobrir às 20H da noite de
30 de Janeiro... E imagine só o que seria a "campanha eleitoral"
do Chega. Como sou um sujeito sensível, até tremo só de pensar nisso. O Doutor Rangel livrou-se duma bela chatice. (Nenhum destes "apoiantes" lhe iria
atender nunca mais o telefone) noah silva: Nada
melhor do que um olhar a partir do sofá ………………………….. (133…)
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