quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O velho “vira o disco”…


É, em suma, o que se extrai dos considerandos um tanto confusos, num “pode ser ou talvez não” inútil, puro pretexto, que lembra a irmã do Solnado e a sua mania de dizer coisas, com o seu “Pois!”, embora não seja sintético, o “pois” de Helena Garrido…

Sete cisnes negros para 2022

A pandemia, as eleições, o SNS, a gestão do Estado e da Justiça e as taxas de juro. Eis uma bola de cristal a olhar para o que é menos provável que aconteça, para os “cisnes negros”.

HELENA GARRIDO

OBSERVADOR, 28 dez 2021

Depois de 2021, o melhor que podemos dizer é que só conseguimos prever que o mundo em geral e Portugal em particular está imprevisível. Como vemos o futuro a olhar para o espelho retrovisor, na verdade temo-nos enganado bastante, as curvas têm sido muitas e inesperadas. São muitos os “cisnes negros”, eventos de baixa probabilidade que se tornam uma realidade. Vamos, por isso, fazer aqui previsões do que é improvável que aconteça, os cisnes negros de 2022.

A pandemia dura ainda mais um ano e vamos viver novos confinamentos. É, neste momento, um evento de baixíssima probabilidade. Todas as análises que encontramos nos domínios da medicina e da ciência dizem-nos que a pandemia está a entrar na sua última fase, tornando-se numa endemia. Mas a probabilidade de surgirem novas variantes é ainda elevada, uma vez que boa parte da população do mundo não está vacinada. Basta olhar para o mapa de África para percebermos os riscos que corremos de novas variantes. Não foi aliás por acaso que a origem da Ómicron tenha sido a África do Sul. Nem que seja apenas por motivos egoístas, os países ricos deveriam estabelecer como prioridade a vacinação da parte da população no mundo que é mais pobre.

O PSD ganha as eleições e o país passa a ser governado por uma maioria de direita. É improvável, mas já foi mais. Olhando para o agregador de sondagens que está a ser publicado pela Rádio Renascença, o PSD está com uma subida visível desde o início de Novembro e em tendência de alta desde Junho, mês em que atingiu o mínimo. O PS é o partido vencedor das eleições e a esquerda continua a ser maioritária, o que revela bem que um Governo do PSD depois de 30 de Janeiro é um evento de baixa probabilidade. No entanto, como vimos em Lisboa com a vitória improvável de Carlos Moedas, a imprevisibilidade parece ser a regra. As legislativas que vão marcar o mês de Janeiro prometem, por isso, ser bastante interessantes.

A burocracia começa a diminuir em Portugal. A prioridade das prioridades do novo Governo que sair das eleições de 30 de Janeiro é a simplificação administrativa e fiscal, um regresso em força do Simplex, que parece ter caído no esquecimento. Este seria um verdadeiro “cisne negro” se levarmos em conta que nenhum partido tem esse tema na agenda, que nem parece preocupar as associações empresariais. Só quando falamos com pequenos e médios empresários, sem acesso ao poder, é que percebemos como seria importante – e contribuiria para aumentar a produtividade – se a relação com o Estado fosse mais simples, mais transparente e com menos regras.

A justiça administrativa e fiscal consegue ser mais eficiente e os processos mediáticos avançam. Menos regras e mais simples e compreensíveis seria também um contributo para que a relação com o Estado fosse menos conflituosa. Não resolvia o problema da herança do passado. Para isso é preciso que um Governo defina como prioridade a resolução dos conflitos que se acumulam, alguns com pelo menos uma década, nos tribunais administrativos e fiscais. O facto de este problema se arrastar sem solução faz dele um “cisne negro”. Noutra frente, na justiça penal, é igualmente pouco previsível que os processos que envolvem o ex-primeiro-ministro José Sócrates e o ex-banqueiro Ricardo Salgado tenham um progresso que façam melhorar a percepção de justiça. Mas já que não se pode resolver o que vem no passado, o novo Parlamento poderia estabelecer como prioridade simplificar os processos, limitando bastante, por exemplo, as possibilidades de recurso. Muito pouco provável.

As políticas orçamentais passam a ser mais estruturais e menos de cortes onde não se vê. A pandemia pode ter-nos iludido, pode ter criado a ideia de que alguns problemas são culpa do Covid. Mas não são. A estratégia usada para reduzir o défice público durante os últimos seis anos, tentando conciliar esse objectivo com a agenda do PCP e do BE, fez com que se cortasse na despesa de tudo o que não se via, de imediato. As empresas que pertencem ao Estado foram violentamente apertadas e, entre elas, os hospitais-empresa. Optou-se por distribuir sem qualquer preocupação de aumentar, ao mesmo tempo, a eficiência. Com a pandemia, o apoio às empresas e famílias foi de tal forma prudente que o sector público administrativo registou um excedente no terceiro trimestre de 2021, de acordo com dados do INE. Mas a despesa mais rígida, como os gastos com o pessoal e as prestações sociais, continuam a aumentar, um problema que já suscitou vários alertas do agora governador do Banco de Portugal Mário Centeno. Claro que ter um défice público mais pequeno ou até um excedente contribui para resolver um dos nossos mais graves problemas: a dívida pública. É uma estratégia possível, a de estabelecer como prioridade a redução da dívida sem cuidar de racionalizar a despesa. Se a dívida diminuir o suficiente para depois deixar subir a despesa, tudo corre bem. Mas se isso não acontecer, tudo corre mal. A melhor política, a que era menos arriscada e mais amiga do crescimento duradouro, era racionalizar a despesa. Mas fazer isso pode ter como custo perder eleições ou nunca as ganhar, especialmente quando temos quase um milhão de funcionários públicos e 3,6 milhões de pensionistas. Por isso é muito pouco provável que algum dia venhamos a ter um Estado que gasta de forma mais racional.

O SNS consegue reinventar-se e atrair médicos e enfermeiros. Seria necessária uma autêntica revolução no modelo de gestão de médicos e enfermeiros, pagando mais, especialmente aos enfermeiros, mas principalmente dando-lhes condições para tratarem bem as pessoas. Como se tem andado a gastar dinheiro onde não se deve, para alimentar as mais diversas clientelas, um dos pilares do Estado Social vive os seus piores dias. E não, não é por causa da pandemia. Já estava em mau estado antes disso. E o facto de se ter concentrado a esmagadora maioria dos recursos de saúde no combate à pandemia, sem ter sequer o cuidado de perceber se pessoas qualificadas como médicos e enfermeiros eram necessários em algumas áreas, está já a deixar sequelas graves de saúde que vamos perceber melhor quando esta fase terminar. As condições em que trabalham os médicos e os enfermeiros no sector público fará com que cada vez mais fujam dele. Quando se vai aos hospitais percebe-se do que estamos a falar. Percebe-se bem o desespero dos médicos e dos enfermeiros. O que se passa no SNS é a face visível do que foi a falta de investimento nos últimos anos, a estratégia de redução do défice público. Fazer com que o SNS volte a ser um sítio onde vale a pena trabalhar vai ser difícil e, por isso, improvável.

A inflação é pouco temporária e o BCE deixa de comprar dívida mais rapidamente. O mês de Dezembro já deu uma pista sobre o que pode acontecer. O BCE é neste momento o banco central deste lado do mundo que vai retirar os estímulos, via compra de dívida pública, de forma mais lenta, passo a passo como disse Christine Lagarde. Em Março acaba a compra líquida de dívida por parte do programa desenhado para a pandemia e embora o outro instrumento de compra de dívida aumente a sua intervenção, em termos globais os valores serão inferiores. Os efeitos nas cotações dos títulos de dívida pública já se fazem sentir, mesmo que ligeiramente. A taxa de juro a que nos financiamos, e especialmente a do Estado, depende desta presença do BCE – é ela que tem permitido reduzir a despesa com juros, uma poupança que pode estar a acabar. Neste momento a maior probabilidade está na manutenção das taxas de juro, esperando-se apenas uma subida em 2023. Mas se a inflação se revelar menos temporária do que o que tem sido defendido por Lagarde, a pressão para correr em vez de andar a passo pode ser impossível de resistir. É pouco provável, até porque ninguém quer gerar problemas financeiros em países como a Itália. Como disse, em entrevista ao Negócios, o ex-economista chefe do FMI e por nós conhecido no início da intervenção da troika em 2011, Poul Thomsen, a Zona Euro está a condicionar a sua política monetária à dívida dos países e os Estados Unidos ao mercado de capitais. Por isso podemos dizer que juros inesperadamente mais altos é um evento de baixa probabilidade.

Para o ano, nesta altura, será o momento de verificar quais os cisnes negros que aconteceram. Feliz 2022!

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS   POLÍTICA   DÍVIDA PÚBLICA   ECONOMIA   SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE  PAÍS  JUSTIÇA

COMENTÁRIOS:

Manuel Rodrigues: Com este sistema político rumo ao  socialismo, condicionado por ideologias totalitárias  (  BE  /  PCP) que  distribui  o que não tem, castiga  quem  trabalha e  mais produz, que nos asfixia em  despesa pública, dívida pública, legislação impeditiva do investimento,, determina-nos  um futuro  certo, e linear,  que é o empobrecimento  generalizado e a emigração  maciça  dos  nossos jovens em procura de outras paragens  Resta-nos  pedir perdão  à Geração  que  nos sucede. Quem nasce torto, tarde  ou nunca se endireita !!!.            Jose Costa: Artigo interessante mas com 7 cisnes muito previsíveis e logo brancos. Um cisne negro seria algo completamente inesperado tipo uma guerra, uma morte súbita de um politico importante, o Chega ganhar as eleiçoes...            Censurado Censurado: Por favor HG. Muito mais que o egoísmo dos países ricos o que está em causa na pandemia são as patentes das vacinas, maioritariamente desenvolvidas com dinheiros públicos. Sem o qual nem daqui a 10 anos teríamos vacinas. Como aconteceu sempre aliás. Deixemo-nos pois de paliativos e hipocrisias porque cada país querer salvaguardar mais a sua população até pode ser egoísta mas nem por isso deixa de ser a coisa mais natural do mundo.   Já continuar a defender direitos privados adquiridos com dinheiro público - e ainda que não fosse como já aconteceu aliás no passado - no meio de uma catástrofe mundial ainda é capaz de fazer menos sentido. Quase como a nossa bancarrota da dívida pública à custa do resgate da banca privada que de pública tinha muito pouco. E também não é só a Lagarde que não vê razões na inflação - como o preço das energias - que não sejam temporárias. Como o IVA na Alemanha ou a deflação nos dois anos anteriores.             Manuel Martins: Se os consegue identificar e prever como cenários possíveis enquanto cisnes negros, quer dizer que não o são .            Mariano Velez: Artigo muito interessante. Uma política que só vê estado - 5 anos, de 400 000 para 800 000 FP-castiga as empresas, cria despesa, cria encargos, tem 3 milhões de pensionistas que só recebem, tem poucos jovens e começam a trabalhar cada vez mais tarde, não sabe gerir, só compadrio, vai conduzir-nos a quê; dívida, dívida, dívida...continuem cegos e a votar nos Zes Marias PS's destes fóruns...             Jose Costa: 0 (zero).             João Afonso: Não, Portugal não está imprevisível.  Com bastante probabilidade, Portugal vai continuar a ser mal governado, ou desgovernado até alcançar o mais que previsível último lugar da UE. Alguém duvida? Não, no fundo ninguém duvida. Mas o importante é Abril, e as enormes conquistas que o PCP, o PS e o BE nos oferecem. josé maria: Ó Helena, e quais são os sete cisnes brancos para 2022? Já comparou as estatísticas de Portugal entre 2015 e 2021 ? Não encontra lá nada que lhe agrade ?          Romeu Francisco > josé maria: O seu comentário só revela que não leu o artigo e se limitou a comentar o título. Não há tempo nem vontade para mais, e a desonestidade intelectual não requer tanto rigor.          josé maria > Romeu Francisco: Ena, que raciocínio tão bem elaborado e fundamentado... Assim sim, dá gosto ver a intelectualidade romeufranciscana no seu melhor... António Bernardino > josé maria: O Romeu tem razão. Se você gosta da Venezuela vá viver para lá.     josé maria > António Bernardino: Outro que se meteu na fila, para mostrar até que ponto vai a profundidade intelectual do pensamento bernardista...             António Bernardino > josé maria: Triste. Pode o país acabar, que você nunca deixará de lamber o rabo do Costa. E escusa de me responder, porque cada um só tem o valor real, que os outros lhe dão.             Mario Silva > Romeu Francisco: Este pseudónimo, usado por um ou vários "mensageiros da verdade única" pago(s) com os nossos impostos, já admitiu nos comentários do Observador que não tem acesso a premium e comenta os artigos de opinião só por comentar. Não perca tempo a dar-lhe troco, está a responder a barbaridades sem sentido nem fundamento.           josé maria > António Bernardino: Escuso de responder? Era o que mais faltava... Então não havia de vir elogiar esse seu novo pedaço de prosa escatológica ?...           Ediberto Abreu: Um país de fantasia, não é? O país das fantasias...            Manuel Norberto Valente Sousa:  “Não foi aliás por acaso que a origem da Ómicron tenha sido a África do Sul.“ completamente ao lado. Sabe, por acaso, qual o continente responsável por maior número de variantes? Vá verificar (existem bases de dados oficiais) e depois rectifique o disparate que escreveu.           Dali ou Picasso ?: Excelente artigo, ousado diria até,  na excelente tradição dos Zandingas e outros profetas do ritual da passagem de ano...  Será um interessante exercício reler dentro de 365 dias. Quanto à substância do tema só consigo para já comentar o ponto 6 - saúde- é para esquecer, nem um bando desses cisnes muda nada neste País, basta um Pisco para manter tudo como está. E mais não digo. No ponto 7, assusta um bocado a subida (agora descida abrupta?) do preço da energia e dos bens alimentares... e o histórico do BCE é sempre de reagir algo tardiamente, portanto parece mesmo que vamos ter inflação galopante.          Tiddly Winks: Esqueceu-se da inflação que vai ser galopante, apesar de eles dizerem que é tudo temporário.                 Antes pelo contrário > Tiddly Winks: Agradeçam à Gretinha e aos totós das electricidades. Na Alemanha, o preço do kWh já é de 31,94 cêntimos e vai continuar a subir, por causa do encerramento das centrais a carvão e da procura. E quando houver muitos carros e camiões eléctricos - a Nikola acaba de lançar os primeiros semi-reboques eléctricos de longo curso - e a economia depender disso, a electricidade vai ficar ainda mais cara porque vai ser preciso investir para produzir mais electricidade e transportá-la. Pois a rede actual não tem capacidade para isso, e no Reino Unido a "REN" britânica já disse que se 20% dos carros forem eléctricos, vai ser preciso um investimento de 100 mil milhões de libras só em cabos e postes de transporte, sem contar a produção nem os terminais. E tudo o resto vem por arrasto. O outro factor é a mania que os governantes actuais têm de querer impor noutros países os princípios que o ocidente entende cmo "universais" - o que a meu ver não apenas é uma forma de totalitarismo, como perfeitamente impertinente, pois não cria apenas conflitos com as pessoas que pensam de outra maneira, como acaba por intensificar a afirmação da maneira de pensar dessas pessoas: como o Islão ou a China. Nós também não veríamos com bons olhos que a China quisesse obrigar o Ocidente a aceitar a mentalidade chinesa, ou que o Islão queira impor cá a Sharia. E o problema, é que quer mesmo: a "Lei dos Separatismos" em França, foi a resposta do Macron à insistência dos Imãs das mais de 3.000 mesquitas que há em França para aplicarem a Lei Islâmica em vez das leis da República Francesa!!! E além disso, há como de costume dois pesos e duas medidas, pois o Japão e os EUA também têm a pena de morte, e Israel ocupa territórios que não lhe pertencem. Porém, só criticam a Rússia, a China, e os países que não seguem a cartilha ocidental. As globalizações, quer obrigando os outros a vergar-se aos nossos interesses se necessário invadindo os seus países - foi o que fez o Hitler, mas também os americanos no Vietname, no Iraque ou no Afeganistão e em dezenas de outros países - quer a que é feita "de mansinho" com a importação de migrantes, só servem para criar tensões que vão culminar numa guerra! Tanto interna - como entre potências, é inevitável.              bento guerra > Antes pelo contrário: Boa! Mas, fazer uma guerra, dá imensa chatice. Só se for por drones, misseis e hackers, coisas que não sujem a roupa.            bento guerra: Antes "patos marrecos" da condição de ser português          Miguel Eanes: Calma, que dia 30 de janeiro, vamos ver quem é que vai criar esses cisnes negros.               LJ ®: Falhou a primeira, acertou em todas as outras. Os outros países já terão abolido as máscaras, e nós por cá andaremos em confinamentos no próximo inverno para “salvar” o SNS do risco de colapso.         Helder Machado: Fica bem ser otimista.

 


Nenhum comentário: