segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Espreitadelas


A outros tempos, a estes tempos, tempos de ninguém, afinal, que já o Romeiro se sentia assim, ninguém, e a guerra sempre foi “aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta”. Mas os heróis assim vão surgindo, nas histórias de todos os tempos. Por vezes inúteis, e anjinhos, como o contado pelo Dr. Salles, neste tempo frio.

PORQUE HOJE FOI DOMINGO...

 Henrique Salles da Fonseca

 12.12.21

…desobrigado, decidi nada fazer ficando a pensar. E pensei que já era tempo de saber alguma coisa sobre o célebre Tenente Valadim,

Vai daí, os olhos a não decretarem greve e lá fui eu a caminho da Wikipédia.

 

Eduardo António Prieto Valadim, nasceu em Lisboa em Julho de 1856 e morreu no Niassa, norte de Moçambique, em Janeiro de 1890. Decapitado de um só golpe desferido por Mataka III, o Sultão que tanto incomodava portugueses como os ingleses da então Niassalandia (hoje, Malawi) como os alemães do Tanganika.

O jovem Tenente cometeu o erro de acreditar na palavra do Sultão com quem combinara hastear a Bandeira Nacional Portuguesa no terreiro da sede do Sultanato e logo após a cerimónia não teve sequer tempo para esboçar um gesto de defesa. Os demais membros da sua expedição acabaram todos degolados. Só em 1912 o dito Sultão foi submetido sem opor resistência. Insubmisso, foi autorizado a abandonar Moçambique refugiando-se no Tanganika. Fez-se acompanhar por 45 mil dos seus súbditos.

Talvez consigamos assim compreender mais facilmente a actual situação em Cabo Delgado e no Niassa,

Tudo, à distância de um ou dois clicks, sem sair de casa e sem necessidade de recorrer aos Serviços Secretos de qualquer país, nosso ou alheio.

Lisboa, 12 de Dezembro de 2021

Tags: história

COMENTÁRIO:

 Anónimo  12.12.2021: Moral da história: ninguém gosta de ver o seu território invadido!

 

DA INTERNET:

NOTÍCIAS

Ataques em Cabo Delgado: Províncias próximas são “refúgio” de insurgentes

As províncias moçambicanas de Niassa e Nampula, norte, e Zambézia, centro, oferecem condições para um “refúgio perfeito e expansão” dos grupos armados em fuga da província de Cabo Delgado, consideram analistas.  

Na semana passada, o presidente da assembleia provincial de Niassa, Artur Chitandale, alertou para a possibilidade de os insurgentes usarem a província como "refúgio” na sequência da fuga face à ofensiva das Forças Armadas de Moçambique (FDS), Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

"Sejamos mais vigilantes, porque a situação dos insurgentes em Cabo Delgado não está boa. A todo o custo [os grupos armados] estão a procurar refúgios e um dos refúgios pode ser a província de Niassa”, ao lado de Cabo Delgado, alertou Chitandale, citado pela Rádio Moçambique.

Aquele dirigente falava na sequência de informações avançadas pela imprensa local de que um grupo de homens armados terá raptado uma centena de jovens  e incendiado construções tradicionais (lojas e residências) na localidade de Naulala, em Niassa, uma das quais pertencentes ao chefe da localidade.

"Refúgio perfeito"

João Feijó, pesquisador da organização não-governamental (ONG) Observatório do Meio Rural (OMR) e autor de trabalhos sobre a violência armada em Cabo Delgado, considerou a província de Niassa "um refúgio perfeito para a insurgência”, apontando como factores de atracção a vastidão do território, mata densa, existência de vários cursos de água, economia ilícita e uma juventude desempregada.

"A expansão da acção dos insurgentes para a província de Niassa é um desenvolvimento natural, tendo em conta a pressão militar que sofrem actualmente em Cabo Delgado”, enfatizou Feijó.

A presença de algumas escolas islâmicas com uma orientação radical no Niassa também favorece a instalação de grupos armados na província, prosseguiu.

Aperto do cerco em Cabo Delgado

FDS, tropas ruandesas e da SADC apertam o cerco contra terroristas em Cabo Delgado

Aquele pesquisador referiu que o cerco aos grupos armados pela ofensiva das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas, do Ruanda e SADC obrigou-os a subdividirem-se em pequenas unidades e com maior mobilidade.

"Infelizmente, se se confirmar uma tendência de expansão da acção dos grupos armados, a guerra no norte poderá ser prolongada e não se vislumbra uma vitória instantânea”, alertou o pesquisador.

Nesse sentido, considerou que ganha mais força a necessidade de diálogo com elementos com influência no seio dos grupos armados, para que a solução política tenha peso igual ou superior à ação militar.

João Feijó assinalou que "a táctica” dos grupos armados repete a estratégia que a guerrilha da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) usou para sobreviver à "Operação Nó Górdio”, conduzida pelo general português Kaúlza de Arriaga - para o aniquilamento dos combatentes que lutavam contra o colonialismo português.

"A 'Operação Nó Górdio' resultou na expansão da guerra colonial, porque a FRELIMO viu-se obrigada a dispersar os seus guerrilheiros por todo o norte de Moçambique e parte do centro”, observou João Feijó.

"Inevitável” a disseminação (…)

Mohamed Yassine, docente de Relações Internacionais na Universidade Joaquim Chissano, instituição estatal, também qualificou como "inevitável” a disseminação da acção dos grupos armados pela região norte do país.

Mohamed Yassine

"Não é novidade nenhuma, se a guerra em Cabo Delgado estiver a atingir a província de Niassa e vier a atingir Nampula e Zambézia, porque a insurgência está sob pressão militar”, declarou Yassine, que elaborou várias análises sobre o extremismo violento.

Aquele académico avançou que depois de terem iniciado ataques no distrito de Mocímboa da Praia e conquistado território na província de Cabo Delgado, era expectável que os grupos armados entrassem numa fase de expansão, resultado da ofensiva militar de que estão a ser alvo.

"A resposta à acção dos grupos armados não se deve limitar à força bruta das armas, passa também pelo diálogo e, sobretudo, pela destruição da ideologia que lhes está subjacente”, afirmou Muhamad Yassine.

Promover a desmobilização de jovens

Yassine também defendeu que o Governo deve encontrar interlocutores à altura de promover a desmobilização de jovens recrutados pelos grupos armados e a implementação e identificação de políticas sociais e económicas em prol das comunidades.

Por outro lado, continuou, a fuga de insurgentes para outras partes do norte do país pode intensificar a radicalização de jovens da região, devido ao contacto com elementos doutrinados no extremismo islâmico e com experiência de combate adquirida em Cabo Delgado.

"O estudo e análise da violência extremista mostra que a maioria dos elementos usados para esta ação é constituída por jovens locais, que podem ter sido ideologicamente intoxicados por pessoas de fora das comunidades”, frisou Yassine.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

 

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