quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O show


Habitual. É disso que gostamos. Um texto que me parece bem correcto, de Raquel Abecassis.

Como meio de disfarçar o tédio que nos vai na alma, coloco o texto sobre planetas errantes, descobertos na Via Láctea, como meio de homenagear RA – com outro espectáculo, embora também assustador - o do desconhecido que se vai abrindo, para nós, ignorantes e indefesos…

I - A responsabilidade do mensageiro

Entrevistar crianças de 10 anos como se fossem adultos informados e capazes de tomar decisões não me parece ser o melhor caminho para a comunicação social lidar com o tema do vírus

RAQUEL ABECASIS, Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas

OBSERVADOR, 21 dez 2021

1Deu que falar a fotografia absolutamente censurável divulgada após a detenção de João Rendeiro na África do Sul. Muitas foram as vozes que, na comunicação social, criticaram a exibição daquela imagem. Quem achou que era boa ideia tirar aquela fotografia e divulgá-la não tem sentido ético nem respeita os direitos humanos, hoje em dia tão propagandeados a propósito de certas propostas políticas.

Mas, neste caso, não basta que os meios de comunicação social sejam palco para difundir opiniões críticas. Há uma responsabilidade própria de quem serve o propósito de difundir uma mensagem censurável. Essa responsabilidade cabe aos próprios meios que devem accionar os seus códigos éticos e tomar a decisão de não publicar aquilo que é eticamente censurável.

É verdade que a linha que separa o que deve e o que não deve ser publicado é, na maior parte dos casos, uma linha muito ténue. Mas é também porque cabe aos jornalistas fazer essa mediação que confiamos na imprensa para nos fazer chegar a informação credível.

Não basta censurar a decisão de quem decidiu distribuir aquela imagem. Neste caso quem a divulga é coautor do crime e custa verificar que nenhum meio de comunicação social português tomou a decisão de não divulgar a fotografia. Ao contrário, ela tem sido replicada inúmeras vezes e de cada vez que o é, é mais um ataque aos direitos humanos do próprio e de todas as pessoas que estão nas mesmas circunstâncias.

2Como é que te sentes? Estás nervoso? Achas que é importante tomar a vacina?”

Este fim de semana demonstrou mais uma vez como o que passa nos jornais, nas rádios e nas televisões tem um impacto decisivo no comportamento das pessoas. Passámos dois dias a ver e ouvir entrevistas a crianças de 9 e 10 anos sobre o receio que tinham ou não tinham de tomar a vacina, a segurança que sentiam ou não em tomá-la, as discussões familiares que tiveram ou não antes de se deslocarem ao centro de vacinação. Na sala de recobro acompanhámos a par e passo a recuperação das crianças depois de levarem a pica e verificámos que as crianças recuperaram bem e não tiveram nenhum fanico. Em resumo, foram 48 horas disto em toda a comunicação social portuguesa.

Não podemos gerar o pânico, ouvimos e lemos aos responsáveis de muita comunicação social, mas a prática dos meios que dirigem mostra o contrário. Mais uma vez se percebe a dificuldade de escolher um caminho diferente quando todos seguem na mesma direção, mas este é um daqueles temas em que o jornalismo não pode nem deve ser neutro.

Se queremos bom senso, racionalidade e equilíbrio na forma como obrigatoriamente nos vamos ter que habituar a conviver com o vírus, isso tem de implicar uma viragem completa na forma como a comunicação social lida com o tema. Entrevistar crianças de 10 anos como se fossem adultos informados e capazes de tomar decisões com base em conhecimento científico não me parece ser o melhor caminho.

COMUNICAÇÃO SOCIAL   MEDIA   SOCIEDADE   CORONAVÍRUS   SAÚDE PÚBLICA  SAÚDE   JOÃO RENDEIRO   CASO BPP   BANCA   ECONOMIA

 COMENTÁRIOS:

José Pedro Correia: Sempre lúcida. Obrigado          Tiddly Winks: Mas esta senhora julga que ainda há jornalistas em Portugal?  Vive em que planeta?           Pontifex Maximus: A questão dos directos com crianças nos vacidrómos é simples de explicar: estando a generalidade dos media falidos por falta de clientela, se o não fizerem não têm nada para passar nas notícias. E eles são os principais responsáveis, pois tratam os assuntos de que nada sabem pela rama e evidenciando garbosamente a sua ignorância o que leva a quem “andou na escola” a não ter paciência para essas tretas e a ligar o botão do Netflix… felizmente que existe e a preço módico!           Tiddly Winks > Pontifex Maximus: Outra solução é não ligar a TV.  Não o faço há meses e recomenda-se.           joão reis: RA parece que a sua crónica ficou ao 'lado' do propósito de informar. Será que essa sua 'teoria' também se aplica quando as crianças/jovens são interpeladas acerca da educação/escola ou falar nesse tema já não dá para atingir os objetivos da crítica pura ?            João Ramos: Tudo certo!          Ediberto Abreu: Quanto ao Rendeiro, talvez seja a hora de o Observador fazer mea culpa, não?           Artur Mendes > Ediberto Abreu: Enquanto render "havemus" rendeiro              Nuno Pê: A Raquel  abriu a boca quando os donos de escolas privadas com contratos de associação meteram criancinhas vestidas de amarelo a protestar contra os cortes nos referidos contratos? Era o abrias...             José Paulo C Castro > Nuno Pê: Donde conclui que isso justifica os outros a fazerem o quê ?          Elvis Wayne > Nuno Pê: A lógica da esquerdalha. Mas o outro menino também fez! E o que aconteceu aos Direitos das Crianças? Só importam enquanto não beliscarem a sua ideologia não é? Nada que não me surpreenda, vindo de quem vem... advoga diabo: Está claro que para RA e afins as crianças deviam pura e simplesmente ser ignoradas, mesmo sabendo-se que, uma vez juntas, falam uns com os outros e fazem comparações. É por estas e por outras, como ainda no domingo HM, os extremos tocam-se, a defender o "chicote", que esta gente é cada vez mais deixada para trás pelas novas gerações.        José Miguel Pereiraa > advoga diabo: Está claro que RA acha que "Entrevistar crianças de 10 anos como se fossem adultos informados e capazes de tomar decisões com base em conhecimento científico..." não é o melhor caminho. Também está clara a má-fé da sua interpretação do que RA disse.            bento guerraJosé > Miguel Pereira: O "diabo" é o chato do contraditório. Uma espécie de onanismo           Elvis Wayne > advoga diabo: Não foram ignoradas na implementação da catequese comuna também conhecida como "educação para a cidadania (xuxa)"? Não foram os fetos ignorados aquando da legalização do aborto? A xuxaria não gosta do "chicote"... excepto quando são eles que o têm na mão, claro. Artur Mendes > advoga diabo: O sacana do diabo... não podia ter escolhido melhor advogado!           Quinta Sinfonia:  “Quem achou que era boa ideia tirar aquela fotografia e divulgá-la não tem sentido ético nem respeita os direitos humanos,…” O problema não foi tirar, foi divulgar. Nalguns países de influência anglo-saxónica é prática comum tirar ao detido uma foto no momento da captura para defender o arguido e também quem prende, no fundo protege o detido de possíveis agressões que receba após a detenção e os captores de possíveis futuras acusações de violência. A foto significa tão só isto: foi assim que o encontrámos.  Já agora faça-se justiça ao Expresso que não divulgou a fotografia, lamentavelmente o Observador  não está nesse grupo.  bento guerra: A comunicação social está preenchida por brutos, que tratam os consumidores como brutos. Os menos maus são hipócritas ,ou vendidos.          JB Dias: Subscrevo com aclamação.           João Floriano Completamente de acordo. Os telejornais comportam-se como os reality shows que na noite de domingo entram em feroz competição pelas audiências. O sensacionalismo passou a ser mais importante do que a averiguação dos factos. Nem sei como é permitido explorar imagens de menores na vacinação. Muitas vezes vemos imagens com filtros no rosto de menores. Aqui não se aplica?    Artur Mendes > João Floriano: Lá chegarão: Apresentarem os telejornais directamente dos "cuidados intensivos" dos hospitais...             Dali ou Picasso ?Artur Mendes: Boa ideia.. isso dava um incremento brutal de audiências, então se calha a um politico nos "intensivos" a  com aquela voz de Darth Vader, do Star Wars, ainda mais!

 

II- Astrónomos identificam 70 novos planetas "errantes" na Via Láctea

Estudo publicado na revista da especialidade Nature Astronomy sugere que poderão existir milhares de milhões destes planetas gigantes a "vaguearem" pela Via Láctea sem estrela hospedeira.

 

Astrónomos identificaram pelo menos 70 novos planetas “errantes”, sem estrela hospedeira, na Via Láctea, o “maior grupo” destes planetas alguma vez descoberto, divulgou esta quarta-feira o Observatório Europeu do Sul (OES).

Os planetas errantes são planetas que não orbitam nenhuma estrela e no caso estudado apresentam massas comparáveis à de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, localizando-se numa região de formação de estrelas próxima do Sol, na direção das constelações de Escorpião e Ofiúco.

Os astrónomos utilizaram dados de vários telescópios do OES, no Chile, e do satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia, tirando partido do facto de “alguns milhões de anos após a sua formação estes planetas estarem ainda suficientemente quentes para brilharem, o que os torna diretamente detectáveis pelas câmaras sensíveis dos grandes telescópios”, refere o OES em comunicado.

O estudo, publicado na revista da especialidade Nature Astronomy, sugere que poderão existir milhares de milhões destes planetas gigantes a “vaguearem” pela Via Láctea sem estrela hospedeira.

Não se sabe exatamente o que leva ao aparecimento dos planetas errantes. Uma das hipóteses é que nasceram do colapso de uma nuvem de gás demasiado pequena para a formação de uma estrela. Outra hipótese é que terão sido ejectados do seu sistema planetário progenitor.

A equipa de astrónomos espera estudar com mais detalhe estes planetas com o telescópio ELT, o maior telescópio ótico do mundo em construção no Chile, com a participação de empresas e cientistas portugueses.

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