Face a um estranho futuro de construção… destruição?
Desumanização, também …
Dois textos distantes no tempo, o primeiro já com
avanços vários, em relação ao segundo…
I - Um robô a explorar o planeta
vermelho e (muita) areia: as fotos de Marte, pela lente do Perseverance, mais
votadas pelo público em 2021
O Perseverance poisou em fevereiro em
Marte e, desde aí, tira fotos que são semanalmente partilhadas pela NASA, para
que o público possa escolher as suas favoritas. Veja as vencedoras.
OBSERVADOR, 29 dez 2021 :Texto
As câmaras do veículo robótico podem tirar imagens a cores e têm um
campo de visão amplo.
NASA/JPL-Caltech/ASU
43 fotos
“A minha paixão por coleccionar rochas é
correspondida apenas pelo meu amor pela fotografia”. A frase é atribuída, no
Twitter, ao Perseverance Mars Rover, o veículo robótico que poisou em
fevereiro deste ano em Marte para recolher amostras físicas do planeta
vermelho, procurando sinais de vida por lá.
Não
só de exploração espacial se fazem os dias do Perseverance, fazem-se também de
captação de imagens, que são partilhadas todas as semanas no site da NASA, onde
o público pode votar nas suas favoritas. Na mesma publicação, agradece-se a
participação das pessoas na escolha, com uma garantia: “Muito mais está
para vir!”.
As
suas câmaras podem tirar imagens a cores e têm um campo de visão amplo, como se
vê na galeria, onde estão as 43 fotografias escolhidas pelo público — as da
semana 34 e 35 não estão disponíveis.
ESPAÇO CIÊNCIA MARTE
EXPLORAÇÃO ESPACIAL
II -Sim, podemos viver em Marte. Mas devemos?
Este artigo tem mais
de 5 anos
É uma questão
de tempo até que a Humanidade se estabeleça no Planeta Vermelho: nós vamos,
resta apenas saber quando. A dúvida já não é se conseguimos ir a Marte. É se
devemos ir. Perguntámos à ESA.
MARTA LEITE
FERREIRA: TEXTO
OBSERVADOR, 13
nov 2016,
Invasores.
É o apelido de qualquer ser humano. Exploradores que do medo fazem uma
curiosidade poderosa demais para ser ignorada. Foi esse o ímpeto que nos pôs a
bordo de caravelas para dar novos mundos ao mundo. Foi esse o ímpeto com que
nos sentámos no primeiro avião e ganhámos asas. Subimos as montanhas mais altas
do planeta, mergulhámos nas profundezas. Quando nada disso já nos bastava,
quando o horizonte já não era uma fronteira, olhámos para o céu. E víamos
as estrelas quando Iuri Gagarin
nos olhou a todos de cima avisando que dali não via Deus. Víamos as
estrelas quando Kennedy prometeu levar-nos à Lua “não porque era fácil, mas
exatamente porque era difícil” e depois Neil Armstrong deu aquele “pequeno
passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade”. Passados
quarenta e sete anos, Barack Obama pôs-nos outra vez a deambular pelas
estrelas, dizendo que nos íamos “impulsionar pelo Sistema Solar fora, não
apenas para o visitar, mas para ficar”. Disse que o faríamos, em
território marciano, na próxima década. Mas e, agora, será que de tanto
sonhar com as estrelas, começámos a sonhar alto demais?
Um grande passo da Lua para Marte
Está
(quase) tudo ao nosso alcance, confessa Emmet
Fletcher, porta-voz da
Agência Espacial Europeia, ao Observador após a apresentação na embaixada dos
Estados Unidos em Portugal da nova série “Marte”, que estreia este domingo
na National Geographic às 22h30. A série, que pode chegar à RTP em seis
meses, junta o conhecimento científico da revista com o know-how do
entretenimento da 21st Century Fox e imagina o mundo em 2033, quando as
agências espaciais se juntam para levar a missão Daedalus a Marte. Pura ficção?
Estamos
tecnologicamente mais preparados agora para chegar a Marte algures nos próximos
dez anos do que estávamos de chegar à Lua em 1961, quando John F. Kennedy deu
aquele pequeno grande passo. Mas
os planos de hoje, embora igualmente ambiciosos, são diferentes: “Ir a Marte
depende mais da quantidade de recursos que temos veiculadas para esse
projeto. Quando Kennedy disse que enviaria astronautas à Lua e que os
traria de volta e em segurança, a percentagem de investimento do produto
interno bruto dos Estados Unidos era uma imensidão. Nada como é agora.
Esse é o nosso maior problema, porque a engenharia é algo que podemos criar. A
tecnologia que temos ao nosso dispor já não é motivo de preocupação. Os
recursos financeiros são”, explica Fletcher.
O
dinheiro é um problema, mas está a tentar ser ultrapassado através de uma
filosofia muito simples: a viagem a Marte não pode ser uma corrida
(como foi a ida à Lua nos tempos da Guerra Fria), tem de ser” um esforço
cooperativo”. Os recursos de que precisamos para chegar a Marte são
tão grandes que, neste momento, muitas das missões que se estão a desenrolar
no espaço são o resultado de parcerias entre agências nacionais e
internacionais e (até de) empresas privadas. A ExoMars,
por exemplo, que tenciona explorar alguns dos mistérios marcianos, é um projeto
conjunto entre a ESA (com os estados-membros europeus) e a Roscosmos, a
agência espacial russa. O Telescópio
Espacial James Webb, sucessor
do Telescópio Hubble, é uma missão conjunta da ESA, da NASA e da Agência Espacial
Canadiana. A falecida
Rosetta, uma sonda enviada ao cometa 67P para encontrar algumas respostas sobre
a origem da vida, era composta por materiais norte-americanos e alemães também.
“Tudo isto só é possível se houver um consenso político nesse sentido, principalmente
quando temos os olhos postos em Marte. Isso faz aliás parte da genética da
ESA, que é composta por 22 estados-membros. Todos os dias mostramos que vinte e
dois países a trabalharem juntos podem fazer coisas fantásticas. Porque no
fundo tudo se resume a Ciência“.
Uma conquista contra a morte
E
a Ciência reconhece que estamos a tentar entrar num mundo de facto agressivo. E
não queremos apenas entrar, mas viver. Da próxima vez que olhar para as
estrelas e encontrar um ponto vermelho intrémulo no céu, está na verdade a
encarar um mundo a 60 milhões de quilómetros de distância onde um ser humano
ficará exposto a uma dose de radiação duzentas vezes maior do que a que
está exposto num ano na Terra. É uma quantidade tão grande de radiação cósmica
que poderia alterar a cadeia de ADN e as células cerebrais.
Os
ossos começariam a definhar até perderem dez por cento da sua massa original. Os
músculos que suportam os nossos joelhos e o fémur minguariam na viagem até
Marte por não estarem sujeitos à força da gravidade. Os líquidos corporais não
seriam drenados. Estas são apenas alguns dos efeitos de uma longa estadia no
espaço, comprovadas depois de Scott Kelly, um astronauta norte-americano, ter
ficado um ano inteiro na Estação Espacial Internacional. O estudo serviu exactamente para dar mais respostas
sobre o que é necessário preparar para uma viagem saudável até Marte, um
planeta com apenas um por cento da atmosfera terrestre e um terço da gravidade
e que é tão agreste na primavera marciana como é a Sibéria no meio do
inverno terrestre. Estar em
Marte seria tão difícil como subir o monte Evereste sem uma máscara de
oxigénio. Ou seja, mortífero.
Veja aqui imagens da série "Marte", da National Geographic:
8 fotos
“Enfrentamos
riscos, absolutamente. É sempre um risco ir ao espaço, mas é um risco que
estamos dispostos a cometer. O perigo é necessário para fugir ao
comodismo: estamos fora do nosso ambiente natural, estamos sentados nas
máquinas mais complexas alguma vez construídas pelo ser humano. Estas máquinas
queimam duas centenas de toneladas de combustível em dois minutos, por isso há
um risco”, admite Emmet
Fletcher ao
Observador. A 23 de abril de 1967,
o soviético Vladimir Komarov
morreu quando a cápsula da missão Soyuz 1 explodiu ao reentrar na atmosfera
terrestre. Foi a primeira morte humana confirmada na história da exploração
espacial. A 28 de
janeiro de 1986 o vaivém Challenger explodiu 73 segundos depois de
descolar e toda a tripulação – sete astronautas – perdeu a vida. A 1 de fevereiro de 2003,
sete astronautas morreram quando vaivém o Columbia se desintegrou a dezasseis
segundos de pousar no chão. Estamos prontos para mais vítimas?
A
SpaceX acredita ter a resposta. A empresa de exploração espacial
privada de Elon Musk coloca todas as esperanças na retropopulsão sónica da Falcon 9, que
aterrou com segurança num navio em alto-mar em dezembro do ano passado depois
de ter sido lançado do Cabo Canaveral, Florida. Ainda este ano, a SpaceX pretende
levar um ser humano para o espaço a bordo deste veículo de lançamento
descartável: se tudo correr bem, a empresa fica ainda mais confiante de
que é possível levar o Homem a Marte em 2025 e com custos reduzidos:
apenas 1% do que actualmente é necessário para levar satélites ou objetos para
a Estação Espacial Internacional. Para Elon Musk, não há
outro remédio: é em solo marciano, garante, que vai morrer um dia,
mas só depois de ter dado “um passo essencial no caminho para a fundação de
uma colónia em Marte”.
A
NASA é um pouco menos ambiciosa: diz
que vamos a Marte, sim, mas que primeiro vamos só “farejar” o
planeta, enviando astronautas apenas para o orbitar. Nada parecido ao
entusiasmo e Vdon Braun em 1969, quando correu até Richard Nixon, ainda com a
imagem daqueles fatos brancos a caminhar pelo solo da Lua, a pedir que
rumássemos também a Marte logo em 1982. Hoje,
já é uma vitória termos conseguido pousar o veículo Curiosity no solo
avermelhado do planeta.
A
ESA também pensa num passo de cada vez, admite Emmet Fletcher. A missão
ExoMars provou ser necessário ter paciência: embora a sonda TGO tenha entrado
correctamente na órbita de Marte no mês passado, a plataforma Schiaparelli não
aterrou como era planeado: o pára-quedas soltou-se cedo demais e a máquina
entrou em queda livre mais cedo do que era suposto. Estilhaçou-se a 60 milhões
de quilómetros da Terra e transformou-se apenas numa mancha negra nas imagens
dos satélites que agora orbitam o planeta. Os cientistas já ultrapassaram a
amargura da falha: agora querem aprender com os erros até 2020, altura em que
os europeus vão lançar um Rover no solo marciano.
É
que antes de enviar humanos para Marte, há um desvio a fazer. Primeiro, vamos regressar à Lua: “Uma das propostas como parte da exploração é, na
verdade, ir à Lua
primeiro. Claro que isto
é tudo discutível e todas as agências espaciais têm as suas próprias opiniões,
mas uma das coisas que estamos a considerar seriamente é ensaiar a
nossa ida a Marte usando a Lua como uma base de testes“, explicou Emmet Fletcher ao Observador.
Vamos. Temos de ir. Devemos ir?
Tudo
isto existe e tudo isto parece ser o nosso fado. A SpaceX está tão certa que
a nossa permanência na Terra não pode ser eterna que alguns trabalhadores
vestem t-shirts com a mensagem “Ocupar Marte” para os motivar a
encontrarem uma nova casa – como se o tecto da actual estivesse prestes a
desabar. A verdade é que estarmos vivos de todo é um milagre
(cientificamente falando): todos os dias desafiamos a morte na Terra,
enfrentando bactérias e vírus que podem ser fatais. Um dia, talvez não
consigamos escapar ao sufoco provocado pela nossa exploração exagerada dos
recursos terrestres, nem escapar de um meteorito tão implacável como o que
extinguiu os dinossauros. Faltava-lhes um programa espacial, brincou uma vez
Larry Niven, escritor de ficção científica norte-americano.
A
cada milhão de anos, recorda Fletcher, a Terra é exposta a uma extinção em
massa e nós temos de estar prontos para sermos “os mais aptos” previstos por
Darwin na Lei da Sobrevivência. Mas
pode ser a nossa pequenez a rampa de lançamento para a grandeza dos nossos
feitos. Carl Sagan, o astrónomo e astrobiólogo que mais divulgou a Ciência
do espaço, disse que “em toda a sua caminhada, todas as civilizações
planetárias vão ser ameaçadas por impactos do espaço” e, por isso, “todas
as civilizações sobreviventes têm o dever de se tornarem exploradoras do espaço,
não por causa de “qualquer romantismo, mas por “uma razão mais prática que se
pode imaginar: permanecer
vivo”.
Claro
que hoje as coisas são diferentes, apazigua Emmet
Fletcher: temos
tecnologia suficiente para prever de onde vem o perigo e de como enfrentá-lo. Mas
é o desconhecido que mais assusta: “A verdade é que não sabemos como é que as
coisas vão correr no Sistema Solar. Mesmo em relação ao Sol, não sabemos tudo
sobre como é que ele se comporta. Neste momento, tem estado num período
bastante calmo, estável e compreensão para nós, mas há a possibilidade de isso
mudar. E nesse caso nós temos de saber como replicar a Terra noutro lado
qualquer”.
Sim, replicar. Porque a ideia de
explorar e colonizar Marte não passa apenas por aprendermos a viver num planeta
que não suportamos naturalmente: a ideia é transformá-lo numa Terra com oceanos
e uma atmosfera suportável. Sabemos que é possível porque temos provas de
que aconteceu em Vénus: lá, a atmosfera era em tudo semelhante à nossa, mas
depois alterou-se à medida que envelheceu. Em Marte, temos matéria-prima para
isso: há dióxido de carbono, há oxigénio, há água congelada e até metano
(embora não saibamos bem como). A colonização do planeta, por mais
distante que possa parecer, pode mesmo acontecer. Mas deve acontecer? Será
o nosso plano ético?
À
National Geographic, o cientista planetário Chris McKay diz que “a sugestão de
que os seres humanos podem encontrar refúgio em Marte depois de estragarem a
Terra é ética e tecnicamente absurda“. E prossegue: “Acho que precisamos de
perceber que o fracasso não é uma opção. A noção de Marte como barco
salva-vidas faz o final do Titanic parecer feliz”.
A
ESA ainda não pensa em viver em Marte, mas diz que ir lá é simplesmente
necessário: a vida na Terra só pode melhorar se conhecermos bem o que que se
passa lá fora. “Investir
tempo, energia e dinheiro em explorar o Universo é exactamente investir os
mesmos recursos na Terra. Temos muitos programas em andamento. Temos uma
direcção inteira completamente devota a observar a Terra: em reunião com a
Comissão Europeia, no âmbito do programa Copérnico, estamos a lançar missões
para estudar a Terra em vários campos, para que possamos entender, por exemplo,
como é que a agricultura muda em função das estações e dos anos, quais são as
tendências. Então, uma parte de tudo o que fazemos no espaço é para
explorar o Sistema Solar. Outra parte é para explorar a Terra“, explica Emmet
Fletcher. Ir a Marte é descobrir do que precisa o corpo humano para sobreviver.
Isso ajuda-nos a sobreviver na Terra.
Fletcher
afirma que é quase certo que um jovem na casa dos vinte anos ainda consiga
assistir a uma “amartagem” com os pais ao lado, que ainda eram crianças quando
o Homem chegou à Lua. Mas uma
chegada a Marte, se acontecer tal como a planeamos agora, prova que não é tarde
demais para explorar a Terra. Nem cedo demais para explorar o universo.
EXPLORAÇÃO ESPACIAL ESPAÇO CIÊNCIA
COMENTÁRIOS:
Alberto Sousa 14/11/2016:
Sem dúvida que esse vai ser o destino da humanidade,
enquanto não tivermos naves espaciais, de maior velocidade, para podermos fazer
voos mais largos. Acredito na ciência, e nas capacidades inventivas de alguns
humanos. Todo o resto são broncos e burros que nem calhaus, que provavelmente
serão mais inteligentes, apesar de serem rochas. Porém é necessário primeiro, modificar a sociedade,
pois ela encontra-se doente, desde há milénios. Curam-se tantas doenças, mas
esta, é renitente, e endémica. A loucura do homem, comum, a sua ganância, o seu
desprezo pela solidariedade. Poucos são os que a praticam, sem ser na mira de
proventos, futuros, ou imediatos. NOVA
ORDEM MUNDIAL, É PRECISA URGENTE
Tony Areias: 13/11/2016: Se devemos ir? Não consigo de momento responder mas há
muita coisa que temos de resolver em primeiro na Terra. Fernando Felipe Horn 13/11/2016: Óptima matéria! Estou ansioso para ver a estreia de
Mars hoje. É incrível pensar que temos muito mais noção de onde estamos a
pretender chegar em relação aos povos que colonizaram diferentes áreas do
planeta em tempos remotos, como os ameríndios ou mesmo espanhóis e portugueses
em épocas mais modernas, a arriscar ao partir em uma direcção sem saber o que
viria adiante, guiado apenas pelas estrelas. E aqui estamos, cada vez mais
perto delas. O homem ainda não pisou em Marte, a expectativa é mesmo conseguir
alcançar isto por volta de 2033, assim como Mars irá retratar na série. Mas
Robert Zubrin, engenheiro aeroespacial, disse que poderíamos conseguir isso até
antes. Disse também que, no momento, estamos mais preparados para chegar até Marte
do que o homem esteve para chegar à Lua em 1961. Isso mostra que os planos são
realmente de pisar em solo marciano e dar início a primeira colónia especial. Apenas
um porém... Quando Bush filho entrou na presidência, esperava-se conseguir
alcançar este objetivo em 2020, quando Obama assumiu a presidência, esta
possibilidade passou para 2030. Estes eram presidentes que apoiam e viam a Nasa
com bons olhos, mas Trump, já declarou que não vê a agência aeroespacial da
mesma forma e a considera como um gasto desnecessário ao governo... O que
esperar disso?
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