quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A Inês Pereira, pelo contrário


Desejava “buscar outro aviamento” e não “ficar sempre à janela, como panela sem asa”. A janela, neste caso, das conveniências, segundo conta Raquel Abecasiz, a respeito da CS, que parece não ter idênticas aspirações da Inesinha, e se fica à janela das suas conveniências de abordagem cómoda e acomodada das realidades sociais e políticas, preferindo, como Inês, afinal, após a experiência fatal, “o asno que a leva”, ao “cavalo que a derruba”… Como quase todos nós faríamos, de resto, nesta nossa difícil luta pela vida. E Costa sabe disso bem, tendo vivido experiências semelhantes, hoje saído da janela, bem montado no asno, mais as lousas do seu poder…

Contra tudo e contra todos

A melhor forma de apreender a realidade é auscultar as pessoas comuns, que andam nos transportes públicos, nos centros comerciais, nas vilas e nas aldeias. É aí que os jornalistas deixaram de andar.

RAQUEL ABECASIS, Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas

OBSERVADOR, 30 nov 2021

Esta é a frase que começa a fazer caminho de forma acelerada em Portugal. Dirige-se à forma como alguém vence eleições, apesar de ter sido declarado morto e enterrado por figuras proeminentes da sociedade: políticos, comentadores, jornalistas e respetivos meios de comunicação social.

Os erros nas sondagens foram o primeiro sinal desta descredibilização dos que, supostamente, ditam a opinião dominante. Neste cenário, a comunicação social tem vindo a ser alvo de duras críticas, pela forma como, através da sua acção, pode condicionar resultados. Os jornais, as rádios e as televisões têm vindo a ser acusados de não cumprirem o seu papel como veículo de informação, garante do debate de ideias e da diversidade de opiniões. São cada vez mais os que acusam os diversos meios de comunicação social de reflectirem predominantemente apenas um lado da história.

Carlos Moedas primeiro e agora também Rui Rio fizeram questão de verbalizar a crítica no momento da vitória. Quando dizem que ganharam contra tudo e contra todos estão a dirigir-se aos adversários políticos, mas também aos meios de comunicação social que objectivamente os prejudicaram em campanha. E os resultados eleitorais vieram provar que uns e outros estavam errados. Resultado: há a realidade virtual da elite de Lisboa e depois há o país real. Custe o que custar, a verdade é que as eleições provaram que têm razão.

Este é um fenómeno que devia obrigar a uma reflexão séria nas redacções, sob pena de começar a acontecer ao jornalismo o mesmo que já aconteceu na política. Os políticos são hoje olhados com desconfiança, acusados de só pensarem em lugares e de serem permeáveis à corrupção. Basta vestir a pele de jornalista e ouvir a opinião do cidadão comum para perceber que este é o juízo que começa também a ser feito sobre a comunicação social. As generalizações são sempre injustas, mas a verdade é que captam uma tendência que não deve ser ignorada.

O tema é grave e deve ser encarado de frente. Os meios de comunicação social não podem reflectir repetidamente um país ilusório que não tem correspondência com a realidade na hora de contar os votos. Para fazer o seu trabalho, não basta aos OCS fazerem o mesmo de sempre, ouvirem os mesmos de sempre e fazerem todos as mesmas perguntas aos mesmos protagonistas. A verdade é que cada vez é mais raro ouvirmos alguém, do jornalista ao comentador, dizer que “o rei vai nu”. Também é verdade que a melhor forma de apreender a realidade é auscultar as pessoas comuns e não apenas alguns eleitos que tendem a ser sempre os mesmos. Não falo dos célebres vox pop, falo da capacidade de saber perceber o que vai na alma das pessoas comuns que andam nos transportes públicos, nos centros comerciais, nas vilas e nas aldeias. É aí que os jornalistas deixaram de andar, preferindo ouvir os mesmos que estão mais à mão e que criam a ilusão de ditar a tendência.

Tenho muitas dúvidas sobre a pretensa isenção da comunicação social, sempre tive, mas à medida que o tempo passa sinto que a credibilidade do jornalismo se faz assumindo de forma transparente opções editoriais claras. A indefinição ajuda à confusão e a confusão limita a liberdade. Ao contrário, o contraste de opiniões, de abordagens e de linhas editoriais ajudam à clarificação, abrem novos caminhos, logo, aumentam a qualidade do jornalismo e da democracia.

O jornalismo livre, forte e responsável é um factor indispensável à democracia, por isso os sinais dos últimos tempos não podem nem devem passar ao lado dos jornalistas portugueses.

PAÍS

COMUNICAÇÃO SOCIAL   MEDIA   SOCIEDADE   RUI RIO   POLÍTICA   CARLOS MOEDAS   PAÍS

 COMENTÁRIOS:

Pedro Campos: Na verdade, as redações da generalidade dos órgãos de comunicação social são compostas por pseudojornalistas seguidores de António Costa e da geringonça!           bento guerra: Ainda temos jornalistas, ou só moços de recados?         Carlos Heitor: A Raquel está enganada o Rio só ganhou porque muitos portugueses ainda não aceitam ter um PM homossexual ... O Rio não vale nada, seria uma boa oportunidade para nomear Rangel VP  e obter uma visão de futuro para o partido. O Rio não passa de uma provinciano presunçoso.        Ping PongYang: Um bom artigo. Contrito. Parafraseando o nosso Excelentíssimo PR: Cidadãos Comuns somos nós TODOS, independentemente do cargo que ocupamos de momento. Humildade precisa-se (não só no Obs) ! Foi também um BOM "abre-olhos" para aqueles que se julgam os Marques Mendes, Henriques Raposos e os JM Tavares desta vida...        Harry Dean Stanton: A Raquel descobriu com a dolorosa derrota do Rangel o estado comatoso do jornalismo português que já não dá notícias do país real. Mostrando-se contra a séria deturpação da realidade promovida pelos mesmos opinion makers de sempre. E pelos vistos propõe-se regenerar o jornalismo no Observador que vive quase em exclusivo de uma facção desses célebres opinion makers. Também podia chamar o Rangel para encetar essa séria regeneração do jornalismo português. É só rir!          Helder Machado: O rei vai nu mas ainda não se constipou         Nuno Fonseca: Excelente crónica, tem toda a razão!          Pontifex Maximus: Para perceber o que vai na mente das pessoas comuns basta ver o que vale hoje o CHEGA, um partido político de um homem só e sem ideologia que se conheça para além de gritar contra tudo e contra todos. E depois há ainda o crescimento do partido onde passei a votar nos últimos vinte anos, o da abstenção, que a circunstância de viver a 300 metros da mesa de voto me não impede de as ignorar… E não, novamente erram os opinion makers desta vida, não é desinteresse, ignorância ou preguiça, é mesmo não acreditar no sistema, o que é substancialmente diferente. Um dia perceberão onde tudo isto nos levará.         manuel dossantos: Rui rio pode não ser o melhor, mas não conheço melhor que se esforce para o ser. Contra um... sistema que se nivela por acções do..pior que há.          Ema Gomes: Parabéns pela reportagem.         advoga diabo: A melhor forma de apreender a realidade é respeitar a expressão da vontade do povo no único acto que lhe exige reflexão e que conta, o seu voto. Mas para isso é preciso ter espírito verdadeiramente democrático!         Joaquim Moreira: Aqui está uma especial jornalista, também "contra tudo e contra todos", incluindo muito oportunista! De facto, esta análise de Raquel Abecasis, revela muito do que por aí se diz. Que é, como é o meu caso, que os jornalistas e comentadores a alguém andam a fazer favores. Mesmo sabendo que muitas vezes a sua situação precária, também não ajuda nada a sua conta bancária! O que deixa muitos jovens jornalistas, demasiado expostos à esperteza de muitos oportunistas. Mas, atenção, também são atingidos os mais próximos da minha geração. Portanto, e em conclusão, esta crónica de Raquel Abecasis pode e deve permitir que façam uma profunda reflexão! Sob pena de serem, como agora são, iguais aos políticos que não nos merecem a mínima consideração!        Ping PongYang >Joaquim Moreira: O "jovem" Balsemão ainda tem muito que aprender com o "velho", por exemplo.          José Paulo C Castro: Alguns media foram mauzinhos para Rio mas olhe que as empresas de sondagens não. Aquela sondagem a dois dias do voto pareceu uma encomenda.  Veremos se se confirma e continuam a apontar um empate técnico entre o PSD e PS com Rio na liderança.... Ou se vão voltar a colocar PS na frente, como diziam antes, também com Rio na liderança... Foi uma sondagem crucial e no momento necessário. Será que os media foram todos mauzinhos ou continuam a ser instrumentais?           João Ramos: Os sinais não devem passar ao lado dos jornalistas portugueses, totalmente de acordo, só que na realidade passam bem longe e já há muito tempo…          F C: E se a explicação for outra? E se Rio tiver feito o seu trabalho e o Paulo Rangel pensando que eram favas contadas não tivesse feito o mesmo, nomeadamente preocupando-se em alertar os seus apoiantes que só o voto decidia e que não havia ganhador antecipado? E se os apoiantes de Medina pensando que a distância eleitoral entre aquele e Moedas era tão grande que muitos não foram votar?          Luis Martinho: Leio o Observador desde o seu começo. Esta é a primeira vez que uso a faculdade de comentar um artigo. Faço-o para gritar: APOIADO! Martelo de Belem ....: Bom artigo e coragem de dizer o que se passa na comunicação social que pelos vistos uma grande maioria já não escuta. Os resultados eleitorais são a prova disso. O pensamento único hoje está em voga e a pandemia permitiu a muitos partidos no poder comprar indirectamente a comunicação social em troca de mensagens favoráveis. Falta em Portugal uma Jovem Pan, onde se ouvem sem complexo os dois lados e o politicamente correcto não existe. Leio o Observador, dos raros que ainda escapa à servidão actual.       Maria Mole: Excelente           João Floriano: Gosto de ler o que Raquel Abecasis escreve, mesmo quando não concordo integralmente com o seu ponto de vista. Desta vez  a articulista volta-se para o papel da CS. Não é segredo que a CS está  a ser usada de forma mais ou menos descarada para a propaganda política da esquerda e particularmente do PS. Não há dia nenhum em que não apanhemos com as deixas de Catarina, os empolgamentos de Jerónimo e as fanhosices de Costa. Quando dá os exemplos de Moedas e Rio para defender  a ideia principal da crónica, Raquel Abecasis devia no entanto distinguir as diferenças: no caso de Moedas, este bateu-se contra a esquerda, contra o PS de Medina, contra as sondagens da CS. Foi uma vitória épica. No caso de Rio este venceu no interior do seu partido e com um aliado de peso: António Costa. As vitórias são diferentes devido ao campo de batalha e aos opositores em jogo. Uma espécie de Aljubarrota ( Moedas) versus  Alfarrobeira (Rio). Finalmente Raquel fala-nos do cidadão comum, do que vai ao café, anda nos transportes, procura promoções no supermercado e desespera nas filas do SNS. Aí as coisas dividem-se: ou é um português esclarecido, politizado, inteligente se disser que vota PS ou aquelas coisas todas que  a gente sabe se vota à direita. Para a CS estes últimos não contam........enquanto não houver mudanças.         noah silva > João Floriano: Ora aí está um comentário que confirma na perfeição... aquilo que é e em que se tem tornado a CS portuguesa: não ouve nem percebe o que se passou e o que se está a passar à sua volta. Completamente desenquadrado da realidade tal como a CS está e chama a atenção para isso a jornalista.  E vai o sr. Floriano, qual Spin Docto,  tira um às de trunfo para cima da mesa: socorrendo-se de momentos inolvidáveis da n/ História para fazer comparações gratuitas e... não percebeu nada de nada! Com toda a certeza que estaria a ouvir a Marcha dos Desalinhados, dos Resistência, aquando do envio do comentário.           João Florianono > noah silva: Nunca ninguém me tinha chamado Spin doctor e não é de todo desagradável. E desde que o ás de trunfo não tenha sido tirado batoteiramente da manga do casaco ou de outro sítio mais secreto, nada a opor. Melhor jogar com ases do que com duques e melhor ainda saber «limpar» a mesa com eles. Conheço pessoas que até o ás de trunfo conseguem perder. Não estava  a ouvir a marcha dos desalinhados mas se tal acontecesse não estaria  a perder o meu tempo porque é um excelente momento musical. Possivelmente não percebi nada  ou então percebi coisas diferentes mas aí precisamente reside o interesse das crónicas. Várias abordagens são possíveis. Agradeço o seu comentário.          Alberico Lopes: Este artigo devia ser emoldurado e colocado em todas as redacções quer dos jornais quer das rádios e das Tvs. É que realmente, com tantos comentadores e comentadoras, tantos politólogos e politólogas e com tanta gente a opinar e a dar as suas sentenças, o POVO, contrariamente ao que eles pensam, sabe mais a dormir do que eles acordados! E o descrédito no jornalismo vai em crescendo! E acabará por condená-los à descrença total! Vejam bem a triste figura das sondagens, compradas a peso de ouro, manipuladas e sem qualquer vergonha quando vêem como falharam!             ivan Alberico Lopes: Bravo ! Obrigado !            Quinta Sinfonia: Embora tenha razão quanto à animosidade dos media sobre Rio, é preciso dizer que  paradoxalmente Rio foi beneficiado pela tal sondagem (ridícula) da Pitagórica para a TVI/CNN nas vésperas das eleições em que concluía que Rio poderia vencer Costa ao passo que Rangel obtinha uma votação nacional desastrosa  - limites mínimos de 14%!          Vitor Batista: Olhe que já vai tarde, há muito que existe a convicção na maioria da opinião pública de que os jornalistas são piores que os políticos rascas. Fique um pouco atenta e verá por si.          klaus muller > Vitor Batista: Subscrevo totalmente.          Ana Torres: Muito bem! Finalmente alguém admite que os meios de comunicação têm prejudicado o Rui Rio, principalmente aqui no Observador, foi vergonhoso de se ver! E continuam... É lamentável, espero que finalmente acordem e percebam que não estão a prejudicar o RR mas sim o PSD e a direita.          LJ ®Ana Torres: Gostaria de concordar consigo, mas infelizmente Rui Rio tem-se prejudicado a ele mesmo, o PSD, a direita e principalmente o país.  Hipo Tanso: Muito bom, impossível discordar.          Américo Silva: Cada qual vende os seus serviços ao melhor preço. Quando os proventos de um jornalista não têm nenhuma relação com o trabalho de informar, mas antes com as suas opções ideológicas e comerciais, o que vamos ter é propaganda. 

 

 

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