Desejava “buscar outro aviamento” e não
“ficar sempre à janela, como panela sem asa”. A janela, neste caso, das
conveniências, segundo conta Raquel
Abecasiz, a respeito da CS, que parece
não ter idênticas aspirações da Inesinha, e se fica à janela das suas
conveniências de abordagem cómoda e acomodada das realidades sociais e
políticas, preferindo, como Inês, afinal, após a experiência fatal, “o asno que a leva”, ao “cavalo que a derruba”… Como quase todos
nós faríamos, de resto, nesta nossa difícil luta pela vida. E Costa sabe disso
bem, tendo vivido experiências semelhantes, hoje saído da janela, bem montado
no asno, mais as lousas do seu poder…
Contra tudo e contra todos
A melhor forma de apreender a
realidade é auscultar as pessoas comuns, que andam nos transportes públicos,
nos centros comerciais, nas vilas e nas aldeias. É aí que os jornalistas
deixaram de andar.
RAQUEL ABECASIS, Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas
eleições autárquicas e legislativas
OBSERVADOR, 30 nov
2021
Esta
é a frase que começa a fazer caminho de forma acelerada em Portugal. Dirige-se
à forma como alguém vence eleições, apesar de ter sido declarado morto e
enterrado por figuras proeminentes da sociedade: políticos, comentadores,
jornalistas e respetivos meios de comunicação social.
Os
erros nas sondagens foram o
primeiro sinal desta descredibilização dos que, supostamente, ditam a opinião
dominante. Neste cenário, a comunicação social tem vindo a ser
alvo de duras críticas, pela forma
como, através da sua acção, pode condicionar resultados. Os jornais, as
rádios e as televisões têm vindo a ser acusados de não cumprirem o seu papel
como veículo de informação, garante do debate de ideias e da diversidade de
opiniões. São cada vez mais os que acusam os diversos meios de comunicação
social de reflectirem predominantemente apenas um lado da história.
Carlos
Moedas primeiro e
agora também Rui Rio fizeram questão de verbalizar a crítica no momento da
vitória. Quando dizem
que ganharam contra tudo e contra todos estão a dirigir-se aos adversários
políticos, mas também aos meios de comunicação social que objectivamente os
prejudicaram em campanha. E os resultados eleitorais vieram provar que uns e
outros estavam errados. Resultado: há
a realidade virtual da elite de Lisboa e depois há o país real. Custe o que
custar, a verdade é que as eleições provaram que têm razão.
Este
é um fenómeno que devia obrigar a uma reflexão séria nas redacções, sob pena
de começar a acontecer ao jornalismo o mesmo que já aconteceu na política. Os políticos
são hoje olhados com desconfiança, acusados de só pensarem em lugares e de
serem permeáveis à corrupção. Basta vestir
a pele de jornalista e ouvir a opinião do cidadão comum para perceber que este
é o juízo que começa também a ser feito sobre a comunicação social. As
generalizações são sempre injustas, mas a verdade é que captam uma tendência
que não deve ser ignorada.
O tema é grave e deve ser encarado de
frente. Os meios de comunicação social não podem reflectir repetidamente um país ilusório que
não tem correspondência com a realidade na hora de contar os votos. Para fazer o seu trabalho, não basta aos OCS fazerem o
mesmo de sempre, ouvirem os mesmos de sempre e fazerem todos as mesmas
perguntas aos mesmos protagonistas. A
verdade é que cada vez é mais raro ouvirmos alguém, do jornalista ao
comentador, dizer que “o rei vai
nu”. Também é
verdade que a melhor forma de apreender a realidade é auscultar as pessoas
comuns e não apenas alguns eleitos que tendem a ser sempre os mesmos. Não falo
dos célebres vox pop, falo da capacidade de saber perceber o que
vai na alma das pessoas comuns que andam nos transportes públicos, nos centros
comerciais, nas vilas e nas aldeias. É aí que os jornalistas deixaram de andar,
preferindo ouvir os mesmos que estão mais à mão e que criam a ilusão de ditar a
tendência.
Tenho muitas dúvidas sobre a pretensa
isenção da comunicação social, sempre tive, mas à medida que o tempo passa
sinto que a credibilidade do jornalismo se faz assumindo de forma transparente
opções editoriais claras. A indefinição ajuda à confusão e a confusão limita a
liberdade. Ao contrário, o contraste de opiniões, de abordagens e
de linhas editoriais ajudam à clarificação, abrem novos caminhos, logo,
aumentam a qualidade do jornalismo e da democracia.
O jornalismo livre, forte e
responsável é um factor indispensável à democracia, por isso os sinais dos
últimos tempos não podem nem devem passar ao lado dos jornalistas portugueses.
COMUNICAÇÃO
SOCIAL MEDIA SOCIEDADE RUI RIO POLÍTICA CARLOS MOEDAS PAÍS
COMENTÁRIOS:
Pedro Campos: Na verdade, as
redações da generalidade dos órgãos de comunicação social são compostas por
pseudojornalistas seguidores de António Costa e da geringonça! bento guerra: Ainda temos jornalistas, ou só moços de recados? Carlos Heitor: A Raquel está enganada o Rio só ganhou porque muitos
portugueses ainda não aceitam ter um PM homossexual ... O Rio não vale nada, seria uma boa oportunidade para
nomear Rangel VP e obter uma visão de futuro para o partido. O Rio não
passa de uma provinciano presunçoso. Ping PongYang: Um bom
artigo. Contrito. Parafraseando o nosso Excelentíssimo PR: Cidadãos
Comuns somos nós TODOS, independentemente do
cargo que ocupamos de momento. Humildade precisa-se (não só no Obs) ! Foi
também um BOM "abre-olhos" para aqueles que se julgam os Marques Mendes, Henriques
Raposos e os JM Tavares desta vida... Harry Dean Stanton: A Raquel descobriu com a dolorosa derrota do Rangel o
estado comatoso do jornalismo português que já não dá notícias do país real.
Mostrando-se contra a séria deturpação da realidade promovida pelos mesmos
opinion makers de sempre. E pelos vistos propõe-se regenerar o jornalismo no
Observador que vive quase em exclusivo de uma facção desses célebres opinion
makers. Também podia chamar o Rangel para encetar essa séria regeneração do
jornalismo português. É só rir! Helder Machado: O rei vai nu mas ainda não se
constipou Nuno
Fonseca: Excelente
crónica, tem toda a razão!
Pontifex Maximus: Para perceber o que vai na mente das pessoas comuns
basta ver o que vale hoje o CHEGA, um partido político de um homem só e sem
ideologia que se conheça para além de gritar contra tudo e contra todos. E
depois há ainda o crescimento do partido onde passei a votar nos últimos vinte
anos, o da abstenção, que a circunstância de viver a 300 metros da mesa de voto
me não impede de as ignorar… E não, novamente erram os opinion makers desta
vida, não é desinteresse, ignorância ou preguiça, é mesmo não acreditar no
sistema, o que é substancialmente diferente. Um dia perceberão onde tudo isto
nos levará. manuel
dossantos: Rui rio pode não
ser o melhor, mas não conheço melhor que se esforce para o ser. Contra um... sistema
que se nivela por acções do..pior que há. Ema Gomes: Parabéns pela reportagem. advoga diabo: A melhor forma de apreender a
realidade é respeitar a expressão da vontade do povo no único acto que lhe
exige reflexão e que conta, o seu voto. Mas para isso é preciso ter espírito
verdadeiramente democrático!
Joaquim Moreira: Aqui está uma especial jornalista, também "contra
tudo e contra todos", incluindo muito oportunista! De facto, esta análise
de Raquel Abecasis, revela muito do que por aí se diz. Que é, como é o meu
caso, que os jornalistas e comentadores a alguém andam a fazer favores. Mesmo
sabendo que muitas vezes a sua situação precária, também não ajuda nada a sua
conta bancária! O que deixa muitos jovens jornalistas, demasiado expostos à
esperteza de muitos oportunistas. Mas, atenção, também são atingidos os mais próximos da
minha geração. Portanto, e em conclusão, esta crónica de Raquel Abecasis pode e
deve permitir que façam uma profunda reflexão! Sob pena de serem, como
agora são, iguais aos políticos que não nos merecem a mínima consideração! Ping PongYang >Joaquim Moreira: O "jovem" Balsemão
ainda tem muito que aprender com o "velho", por exemplo. José Paulo C Castro: Alguns media foram mauzinhos
para Rio mas olhe que as empresas de sondagens não. Aquela sondagem a dois dias
do voto pareceu uma encomenda. Veremos se se confirma e continuam a apontar um empate
técnico entre o PSD e PS com Rio na liderança.... Ou se vão voltar a colocar PS
na frente, como diziam antes, também com Rio na liderança... Foi uma sondagem
crucial e no momento necessário. Será que os media foram todos mauzinhos ou continuam
a ser instrumentais?
João Ramos: Os sinais não devem passar ao lado dos jornalistas
portugueses, totalmente de acordo, só que na realidade passam bem longe e já há
muito tempo… F C: E se a explicação for outra? E se Rio tiver feito o seu trabalho e o Paulo Rangel
pensando que eram favas contadas não tivesse feito o mesmo, nomeadamente
preocupando-se em alertar os seus apoiantes que só o voto decidia e que não
havia ganhador antecipado? E se os
apoiantes de Medina pensando que a distância eleitoral entre aquele e Moedas
era tão grande que muitos não foram votar? Luis Martinho: Leio o Observador desde o seu começo. Esta é a primeira
vez que uso a faculdade de comentar um artigo. Faço-o para gritar: APOIADO!
Martelo de Belem ....: Bom
artigo e coragem de dizer o que se passa na comunicação social que pelos vistos
uma grande maioria já não escuta. Os resultados eleitorais são a prova disso. O
pensamento único hoje está em voga e a pandemia permitiu a muitos partidos no
poder comprar indirectamente a comunicação social em troca de mensagens
favoráveis. Falta em Portugal uma Jovem Pan, onde se ouvem sem complexo
os dois lados e o politicamente correcto não existe. Leio o Observador, dos
raros que ainda escapa à servidão actual. Maria Mole: Excelente João Floriano:
Gosto de ler o que Raquel Abecasis
escreve, mesmo quando não concordo integralmente com o seu ponto de vista.
Desta vez a articulista volta-se para o papel da CS. Não é segredo
que a CS está a ser usada de forma mais ou menos descarada para a
propaganda política da esquerda e particularmente do PS. Não há dia nenhum
em que não apanhemos com as deixas de Catarina, os empolgamentos de Jerónimo e
as fanhosices de Costa. Quando dá os exemplos de Moedas e Rio para
defender a ideia principal da crónica, Raquel Abecasis devia no
entanto distinguir as diferenças: no caso de Moedas, este bateu-se
contra a esquerda, contra o PS de Medina, contra as sondagens da CS. Foi uma
vitória épica. No caso de Rio este venceu no interior do seu partido e
com um aliado de peso: António Costa. As vitórias são diferentes devido ao
campo de batalha e aos opositores em jogo. Uma espécie de Aljubarrota ( Moedas)
versus Alfarrobeira (Rio). Finalmente Raquel fala-nos do cidadão
comum, do que vai ao café, anda nos transportes, procura promoções no
supermercado e desespera nas filas do SNS. Aí as coisas dividem-se: ou é um
português esclarecido, politizado, inteligente se disser que vota PS ou aquelas
coisas todas que a gente sabe se vota à direita. Para a CS estes últimos
não contam........enquanto não houver mudanças. noah silva > João Floriano: Ora aí está um comentário que confirma na perfeição...
aquilo que é e em que se tem tornado a CS portuguesa: não ouve nem percebe o
que se passou e o que se está a passar à sua volta. Completamente desenquadrado da realidade tal como a CS
está e chama a atenção para isso a jornalista. E vai o sr. Floriano, qual Spin Docto, tira um às
de trunfo para cima da mesa: socorrendo-se de momentos inolvidáveis da n/
História para fazer comparações gratuitas e... não percebeu nada de nada!
Com toda a certeza que estaria a ouvir a Marcha dos
Desalinhados, dos Resistência, aquando do envio do comentário. João Florianono > noah silva: Nunca ninguém me tinha chamado Spin doctor e não é de
todo desagradável. E desde que o ás de trunfo não tenha sido tirado
batoteiramente da manga do casaco ou de outro sítio mais secreto, nada a opor.
Melhor jogar com ases do que com duques e melhor ainda saber «limpar» a mesa
com eles. Conheço pessoas que até o ás de trunfo conseguem perder. Não
estava a ouvir a marcha dos desalinhados mas se tal acontecesse não
estaria a perder o meu tempo porque é um excelente momento musical.
Possivelmente não percebi nada ou então percebi coisas diferentes mas aí
precisamente reside o interesse das crónicas. Várias abordagens são possíveis.
Agradeço o seu comentário.
Alberico Lopes: Este
artigo devia ser emoldurado e colocado em todas as redacções quer dos jornais
quer das rádios e das Tvs. É que realmente, com tantos comentadores e
comentadoras, tantos politólogos e politólogas e com tanta gente a opinar e a
dar as suas sentenças, o POVO, contrariamente ao que eles pensam, sabe mais a
dormir do que eles acordados! E o descrédito no jornalismo vai em crescendo! E
acabará por condená-los à descrença total! Vejam bem a triste figura das
sondagens, compradas a peso de ouro, manipuladas e sem qualquer vergonha quando
vêem como falharam! ivan Alberico Lopes: Bravo ! Obrigado ! Quinta Sinfonia: Embora tenha razão quanto à animosidade dos media sobre
Rio, é preciso dizer que paradoxalmente Rio foi beneficiado pela tal
sondagem (ridícula) da Pitagórica para a TVI/CNN nas vésperas das eleições em
que concluía que Rio poderia vencer Costa ao passo que Rangel obtinha uma
votação nacional desastrosa - limites mínimos de 14%! Vitor Batista: Olhe que já vai tarde, há muito
que existe a convicção na maioria da opinião pública de que os jornalistas são
piores que os políticos rascas. Fique um pouco atenta e verá por si. klaus muller > Vitor Batista: Subscrevo totalmente. Ana Torres: Muito bem! Finalmente alguém
admite que os meios de comunicação têm prejudicado o Rui Rio, principalmente
aqui no Observador, foi vergonhoso de se ver! E continuam... É lamentável, espero que
finalmente acordem e percebam que não estão a prejudicar o RR mas sim o PSD e a
direita. LJ ®Ana Torres: Gostaria de concordar consigo,
mas infelizmente Rui Rio tem-se prejudicado a ele mesmo, o PSD, a direita e
principalmente o país. Hipo
Tanso: Muito bom,
impossível discordar.
Américo Silva: Cada qual vende os seus serviços ao melhor preço.
Quando os proventos de um jornalista não têm nenhuma relação com o trabalho de
informar, mas antes com as suas opções ideológicas e comerciais, o que vamos
ter é propaganda.
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