sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Conta, peso e medida


Muitas vezes, por conta do conhecido “Paulino”, que “tem olho”, pois, apesar das mudanças estruturais e comportamentais nas sociedades, de “in illo tempore”, para  “in hoc tempore”, se há coisas que nele não mudam - digo, no tempo – é a substância dos provérbios, captada com o rigor da experiência, que redundou em dogma e atravessará os tempos. No caso citado com risonha leveza pelo Sr. Embaixador Luís Soares de Oliveira – a arte da matreirice, do fazer batota, numa constância que atravessa os tempos indefinidamente, ao pontuar as dificuldades da luta pela vida, que abafam escrúpulos - se alguma vez estes existiram, ainda que num guarda necessariamente responsável pelos bons costumes…

Convivências e conivências

Ao tempo em que era estudante no ISCEF, (1945/49) aproveitei a proximidade do Tejo para praticar remo. Cheguei a participar numa regata universitária. O exercício fez-me bem simultaneamente à saúde e aos conhecimentos. Lidei com gente vária. João Santos, mais tarde Presidente do SLB, era o instrutor. Excelente pessoa. Francisco Pereira de Moura, o primeiro tratadista de Economia português, foi outro. Era o proa e remava bem.

Por esse tempo, a equipe de Shell de 4 do Sporting de Caminha vencia todas as provas nacionais da especialidade e disputou, chegando à final - julgo que até ao pódio - o campeonato europeu realizado na Suíça. Além de tais proezas, a equipe distinguia-se pela sua constituição: o timoneiro era sargento da Guarda Fiscal e comandante do posto fronteiriço de Caminha, enquanto os remadores tinham profissões indefinidas mas eram geralmente tidos por contrabandistas. Havia então uma certa afinidade entre a modalidade desportiva e a "profissão" pois, não tendo ainda sido divulgadas as lanchas a motor, o transporte fluvial fazia-se à força de braço.

O sargento-timoneiro era um personagem senhor de grande sabedoria. Ele mesmo dizia que quando saía nas emboscadas aos contrabandistas não prendia todos. Os remadores nunca, claro. E justificava-se. - "Se os prendo a todos acaba-se o contrabando aqui no Minho e o governo manda fechar o posto local da Guarda Fiscal. Lá se vai o meu ganha-pão." Pensava pois que o crime é para ser gerido e não abolido. Aqui, a cumplicidade foi gerida pelo controlador.

 

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