Muitas vezes, por conta do conhecido “Paulino”,
que “tem olho”, pois, apesar das mudanças estruturais e comportamentais nas
sociedades, de “in illo tempore”, para “in
hoc tempore”, se há coisas que nele não mudam - digo, no tempo – é a substância
dos provérbios, captada com o rigor da experiência, que redundou em dogma e
atravessará os tempos. No caso citado com risonha leveza pelo Sr. Embaixador Luís Soares de Oliveira – a arte da
matreirice, do fazer batota, numa constância que atravessa os tempos
indefinidamente, ao pontuar as dificuldades da luta pela vida, que abafam escrúpulos
- se alguma vez estes existiram, ainda que num guarda necessariamente responsável
pelos bons costumes…
Convivências e conivências
Ao tempo em que era estudante no ISCEF, (1945/49)
aproveitei a proximidade do Tejo para praticar remo. Cheguei a participar numa
regata universitária. O exercício fez-me bem simultaneamente à saúde e aos
conhecimentos. Lidei com gente vária. João Santos, mais tarde Presidente do
SLB, era o instrutor. Excelente pessoa. Francisco Pereira de Moura, o primeiro
tratadista de Economia português, foi outro. Era o proa e remava bem.
Por esse tempo, a equipe de Shell de 4 do Sporting de
Caminha vencia todas as provas nacionais da especialidade e disputou, chegando
à final - julgo que até ao pódio - o campeonato europeu realizado na Suíça.
Além de tais proezas, a equipe distinguia-se pela sua constituição: o timoneiro
era sargento da Guarda Fiscal e comandante do posto fronteiriço de Caminha,
enquanto os remadores tinham profissões indefinidas mas eram geralmente tidos
por contrabandistas. Havia então uma certa afinidade entre a modalidade
desportiva e a "profissão" pois, não tendo ainda sido divulgadas as lanchas
a motor, o transporte fluvial fazia-se à força de braço.
O sargento-timoneiro era um personagem senhor de
grande sabedoria. Ele mesmo dizia que quando saía nas emboscadas aos
contrabandistas não prendia todos. Os remadores nunca, claro. E justificava-se.
- "Se os prendo a todos acaba-se o contrabando aqui no Minho e o governo
manda fechar o posto local da Guarda Fiscal. Lá se vai o meu ganha-pão."
Pensava pois que o crime é para ser gerido e não abolido. Aqui, a cumplicidade
foi gerida pelo controlador.
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