segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

«Todo o mundo é composto de mudança»

No caso português houve também as “imigrações” forçadas, já lá vai quase uma mão cheia de décadas, e aqui estamos, os retornados, migrantes estremunhados, “buscando sempre novas qualidades”. Apesar de tudo, o fenómeno migratório é mais visível, hoje, creio que chegou por arrastamento… A Europa – e os States – sobretudo, abriram-se em flor, fraternalmente, democraticamente, para os que deixaram de se sentir bem onde estavam - connosco, em relativa segurança, coisa que se perdeu, juntamente com a sua estabilidade de vida - mau grado as condenações dos da fraternidade hodierna, contra os que longe, ajudavam a desenvolver, uns melhor outros pior, mas certamente que não tão mal como agora - que por isso fogem, alguns morrendo pelo caminho, como convém, na estrutura demográfica e ecológica de excessos. E a Europa e os States, vão-nos acolhendo – e a outros muitos, desse outro mundo vário, que a ambição colheu, que se alargam também em difusão dos seus credos, em reviravolta esmagadora, de fusão, miscigenação - ou talvez não - e à la longue, de expulsão dos fundadores e destruição das suas ricas e belas civilizações … De resto, tem bem razão o Dr. Salles, no que diz das tais diferenças migratórias, de todos os tempos …

LACRIMOSA - 3

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO,  26.12.21

O fenómeno migratório está directamente relacionado com a determinação de melhoria das condições de vidada guerra para a paz, do locacionismo para a liberdade de escolha de assentamento, dos condicionalismos económicos para a liberdade de estabelecimento, da autocracia para a democracia, da corrupção para a transparência, das sociedades fracturadas para as solidárias. Em suma, sempre no sentido da liberdade e da solidariedade.

Se tomarmos em conta que o conceito de solidariedade corresponde à miscigenação dos conceitos de igualdade e de fraternidade, lá estamos todos simbolicamente «virados» para a República Francesa que, grosso modo, é o modelo ocidental.

Independentemente da localização geográfica, o modelo ocidental é alvo de imigração; outros modelos são geradores de emigração.

* * *

Durante séculos, Portugal gerou grandes fluxos migratórios porque não proporcionava aos seus nacionais as condições por que muitos ambicionavam sobretudo no plano material, o palpável.

As questões relativas ao desenvolvimento facilmente formalizam extensos conteúdos (mesmo que abandonando o plano teórico e baixando a análises de casos concretos) pelo que, para o caso português, me limito a constatar que foi a progressiva atenção dada à melhoria das condições de vida da generalidade da população sem o equivalente zelo nas questões da produção, da produtividade e, sobretudo, da competitividade que vêm gerando sucessivos colapsos financeiros do país. Mas, paralelamente, o perfil do actual emigrante português é muito diferente do do emigrante de uma ou duas gerações anteriores: o actual emigrante português não busca a sobrevivência (emigrante definitivo), escolhe entre as várias opções que o livre estabelecimento europeu ou norte-americano proporciona ao nível mais ou menos sofisticado de uma determinada condição profissional (emigrante temporário).

Em paralelo, os imigrantes em Portugal são oriundos de países que não oferecem esperanças aos seus nacionais e vêm para cá em busca de segurança e de uma «tábua de salvação» sujeitando-se a fazer o que nós, já rodeados de mordomias, não queremos fazer. O quê? Todo o trabalho braçal ou cuja remuneração seja inferior aos subsídios públicos a mândria.

Sugiro aos meus leitores em «Portugal e nos Algarves d’Aquém e d’Além mar em África, na Guiné, Arábia, Pérsia e Índia…» que façam uma análise ao caso que se lhes aplique e tirem as consequentes conclusões já que toda a emigração é simultaneamente esperançosa e lacrimosa.

Dezembro de 2021

Henrique Salles da Fonseca

Tags: história; sociologia

COMENTÁRIOS:

 Anónimo  27.12.2021  09:08: Corrigir: os que combateram, à borla, por Portugal são "fascistas"... naturalmente. Élias Quadros

 Anónimo  27.12.2021  16:28: Bom dia...se me permites um reparo...quem conheço com RSI , é chamado periodicamente ao Instituto de Emprego e Formação sob pena de o perder, para ter acções de formação para um hipotético emprego que não existe. MJ

 Anónimo  27.12.2021  16:49: Apenas três linhas para te dizer, Henrique, que qualificaste muito bem a migração – esperançosa e lacrimosa –, que o digam as largas centenas de milhares de portugueses (um milhão?) que ao longo da década de 60 do século passado emigraram, legal ou ilegalmente (a salto), designadamente para França, ocupando alguns, nos arredores de Paris, as tristemente célebres “bidonvilles”. Permito-me aproveitar a ocasião para expressar duas preocupações: uma, refere-se à confusão, que por vezes existe (e nem sempre inocente) entre refugiados e migrantes económicos, chamemos assim; outra, se Portugal está a aceitar imigrantes em número e com perfil para as necessidades que possuímos. Abraço. Carlos Traguelho

 Adriano Miranda Lima  27.12.2021  23:14: Penso que o fenómeno migratório do tipo que hoje se verifica às portas do mundo Ocidental tem de ser levado muito a sério. Seja motivado por razões económicas ou de segurança, o seu efeito poderá ser o de uma autêntica invasão e esmagamento dos países de acolhimento, caso não forem tomadas medidas convenientes a nível global que passem fundamentalmente pela pacificação das regiões africanas e do médio Oriente em conflito e por um maciço apoio económico e financeiro aos países subdesenvolvidos. A instabilidade política e os conflitos bélicos regionais são a causa do êxodo e fuga de populações que assediam as fronteiras ocidentais e fazem do mar Mediterrâneo um cemitério, pelo que a segurança global e a harmonia planetária serão comprometidas se o Conselho de Segurança continuar a ser uma instância pouco mais que simbólica. Uma coisa é reagirmos às incidências do fenómeno migratório dentro das fronteiras nacionais, outra é olhar de uma forma bem mais alargada e comprometida para o que se passa no mundo.


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