No caso português houve também as “imigrações”
forçadas, já lá vai quase uma mão cheia de décadas, e aqui estamos, os
retornados, migrantes estremunhados, “buscando sempre novas qualidades”. Apesar
de tudo, o fenómeno migratório é mais visível, hoje, creio que chegou por
arrastamento… A Europa – e os States – sobretudo, abriram-se em flor,
fraternalmente, democraticamente, para os que deixaram de se sentir bem onde estavam
- connosco, em relativa segurança, coisa que se perdeu, juntamente com a sua estabilidade
de vida - mau grado as condenações dos da fraternidade hodierna, contra os que
longe, ajudavam a desenvolver, uns melhor outros pior, mas certamente que não
tão mal como agora - que por isso fogem, alguns morrendo pelo caminho, como
convém, na estrutura demográfica e ecológica de excessos. E a Europa e os
States, vão-nos acolhendo – e a outros muitos, desse outro mundo vário, que a
ambição colheu, que se alargam também em difusão dos seus credos, em reviravolta
esmagadora, de fusão, miscigenação - ou talvez não - e à la longue, de expulsão
dos fundadores e destruição das suas ricas e belas civilizações … De resto, tem bem razão o Dr. Salles, no que diz das tais diferenças migratórias, de todos os
tempos …
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 26.12.21
O
fenómeno migratório está directamente relacionado com a determinação de
melhoria das condições de vida –
da guerra para a paz, do locacionismo para a liberdade
de escolha de assentamento, dos condicionalismos económicos para a liberdade de
estabelecimento, da autocracia para a democracia, da corrupção para a
transparência, das sociedades fracturadas para as solidárias. Em suma, sempre no sentido da liberdade e da
solidariedade.
Se
tomarmos em conta que o conceito de solidariedade corresponde à miscigenação dos conceitos de igualdade e de fraternidade,
lá estamos todos simbolicamente «virados» para a República Francesa
que, grosso modo, é o modelo ocidental.
Independentemente da localização geográfica, o modelo ocidental é
alvo de imigração; outros modelos são geradores de emigração.
*
* *
Durante
séculos, Portugal gerou grandes fluxos migratórios porque não proporcionava aos
seus nacionais as condições por que muitos ambicionavam sobretudo no plano
material, o palpável.
As
questões relativas ao desenvolvimento facilmente formalizam extensos conteúdos
(mesmo que abandonando o plano teórico e baixando a análises de casos
concretos) pelo que, para o caso português, me limito a constatar que foi
a progressiva atenção dada à melhoria das condições de vida da generalidade da
população sem o equivalente zelo nas questões da produção, da produtividade e,
sobretudo, da competitividade que vêm gerando sucessivos colapsos financeiros
do país. Mas, paralelamente, o perfil do
actual emigrante português é muito diferente do do emigrante de uma ou duas gerações anteriores: o actual emigrante português não busca a sobrevivência
(emigrante definitivo), escolhe entre as várias opções que o livre estabelecimento
europeu ou norte-americano proporciona ao nível mais ou menos sofisticado de
uma determinada condição profissional (emigrante temporário).
Em paralelo, os imigrantes em Portugal são oriundos de países que
não oferecem esperanças aos seus nacionais e vêm para cá em busca de segurança
e de uma «tábua de salvação» sujeitando-se a fazer o que nós, já rodeados de
mordomias, não queremos fazer. O quê? Todo o trabalho braçal ou cuja
remuneração seja inferior aos subsídios públicos a mândria.
Sugiro
aos meus leitores em «Portugal e nos Algarves d’Aquém e d’Além mar em África,
na Guiné, Arábia, Pérsia e Índia…» que façam uma análise ao caso que se lhes
aplique e tirem as consequentes conclusões já que toda a emigração é
simultaneamente esperançosa e lacrimosa.
Dezembro
de 2021
Henrique
Salles da Fonseca
Tags:
história;
sociologia
COMENTÁRIOS:
Anónimo 27.12.2021 09:08: Corrigir: os que combateram, à borla, por Portugal
são "fascistas"... naturalmente. Élias Quadros
Anónimo 27.12.2021 16:28:
Bom dia...se me permites um reparo...quem
conheço com RSI , é chamado periodicamente ao Instituto de Emprego e Formação
sob pena de o perder, para ter acções de formação para um hipotético emprego
que não existe. MJ
Anónimo 27.12.2021 16:49: Apenas três linhas para te dizer, Henrique, que
qualificaste muito bem a migração – esperançosa e lacrimosa –, que o digam as
largas centenas de milhares de portugueses (um milhão?) que ao longo da década
de 60 do século passado emigraram, legal ou ilegalmente (a salto),
designadamente para França, ocupando alguns, nos arredores de Paris, as tristemente
célebres “bidonvilles”. Permito-me aproveitar a ocasião para expressar duas
preocupações: uma, refere-se à confusão, que por vezes existe (e nem sempre
inocente) entre refugiados e migrantes económicos, chamemos assim; outra, se
Portugal está a aceitar imigrantes em número e com perfil para as necessidades
que possuímos. Abraço. Carlos Traguelho
Adriano Miranda Lima 27.12.2021 23:14: Penso que o fenómeno migratório do
tipo que hoje se verifica às portas do mundo Ocidental tem de ser levado muito
a sério. Seja motivado por razões económicas ou de segurança, o seu efeito
poderá ser o de uma autêntica invasão e esmagamento dos países de acolhimento,
caso não forem tomadas medidas convenientes a nível global que passem
fundamentalmente pela pacificação das regiões africanas e do médio Oriente em
conflito e por um maciço apoio económico e financeiro aos países
subdesenvolvidos. A instabilidade política e os conflitos bélicos regionais são
a causa do êxodo e fuga de populações que assediam as fronteiras ocidentais e
fazem do mar Mediterrâneo um cemitério, pelo que a segurança global e a
harmonia planetária serão comprometidas se o Conselho de Segurança continuar a
ser uma instância pouco mais que simbólica. Uma coisa é reagirmos às
incidências do fenómeno migratório dentro das fronteiras nacionais, outra é
olhar de uma forma bem mais alargada e comprometida para o que se passa no
mundo.
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