quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Uma mulher com armas


De bondade, certamente, também. Não devemos ser ingratos e se acharmos que errou, atribuamo-lo ao facto de que o errar faz parte da imperfeita condição humana. Sempre a vi como alguém desejoso de provar que o seu país, não é particularmente alfobre de criminosos como esse chefe desequilibrado que manipulou as consciências, com o seu extraordinário poder. Admiro Angela Merkel, nesse sorriso triste de incompreensão sua, mas que é também a de todos os que revêem a história…

 

O que deve a Europa a Merkel

Esta é a semana em que os europeus se despedem de Angela Merkel. Personalidade popular no mundo sem deixar de ser controversa, merece dos europeus um obrigada.

HELENA GARRIDO

OBSERVADOR, 07 dez 2021

Chanceler durante dezasseis anos, num país em que as mulheres ainda têm dificuldade em aceder a cargos de topo, Angela Merkel deixa a liderança da Alemanha com uma história que nos faz acreditar que salvou o euro, enfrentou a crise dos imigrantes com coragem política e deu um passo nesta pandemia para que a Europa possa construir um orçamento comum. Foi o seu europeísmo que manteve a Europa da União e do Euro unida e em progresso. Com pequenos passos conseguiu que todos caminhassem em conjunto.

Sendo a política a arte do possível, Merkel revelou uma capacidade política ímpar ao longo dos dezasseis anos de mandato. Há dois testes que foram especialmente reveladores da sua capacidade de unir o que parecia impossível unificar. Um é a crise do euro, outro o recente acordo do New Generation EU ou, como o conhecemos, a “bazooka” europeia para combater os efeitos da pandemia.

Entre 2011 e 2012, a Zona Euro enfrentou um sério teste de sobrevivência. Não se pode dizer que a primeira abordagem de Merkel à crise das dívidas soberanas tenha sido construtiva. Em 2011, com Portugal a assinar o Programa de Ajustamento Económico e Financeiro com a troika, já depois de a Grécia e a Irlanda terem sido resgatados, Angela Merkel disse que os países periféricos tinham muitos dias de férias e uma idade da reforma demasiado baixa. Uma declaração que em nada contribuiu para se resolver o problema da dívida que estava apenas no seu início e a divisão entre os países do Norte e do Sul. Mais tarde ainda foi preciso ajudar a Espanha e o Chipre, com o risco de colapso do euro a desaparecer apenas em 2012 graças a Mario Draghi e à sua declaração de que o BCE faria o que fosse necessário para proteger a moeda única.

Aquela declaração de Merkel, criticando os países do Sul, não se pode dizer que fosse contraditória, mas não alinhava com a primeira abordagem que teve à crise grega, ainda 2009, quando em Dezembro disse: “O que acontece num Estado-membro influencia todos os outros, especialmente quando temos uma moeda comum”. Uma declaração que ia contra o que estavam a dizer, por exemplo, os suecos, que defendiam que a Grécia deveria resolver o seu problema sozinha.

Mais tarde, em Setembro de 2011, quem sabe se com maior consciência do efeito catastrófico que teria a queda financeira em dominó dos países do euro – a seguir poderia ser a Itália –, o registo da chanceler foi mudando. “Se o euro colapsar, a Europa colapsa”.

Nunca saberemos se estes zigue-zagues reflectiram essencialmente uma estratégia de ir convencendo os alemães para a inevitabilidade de apoiarem os financiamentos que, numa primeira fase, e na ausência de instituições europeias para o efeito, foram realizados de forma bilateral. Mas o certo é que a Alemanha de Merkel foi dando o seu aval às sucessivas medidas, que foram sendo adoptadas para apoiar os países em dificuldades financeiras, e à aprovação às novas instituições – como o Mecanismo Europeu de Estabilidadee às novas transferências de soberania – como a união bancária, mesmo que ainda apenas parcial por falta de acordo da Alemanha.

Mais recentemente, com a pandemia, o envelope de 750 mil milhões de euros do Next Generation EU, que será financiado com recurso a dívida e a novos impostos europeus, é concretizado também graças à aproximação que a Alemanha fez às posições da França e de mais oito países, entre os quais Portugal. Nessa carta dos nove pede-se que se recorra ao endividamento europeu – o tabu das euro-obrigações – para apoiar a economia e a sociedade europeias na pandemia. Foi a 18 de Maio de 2020, pouco mais de dois meses depois de a Organização Mundial de Saúde ter declarado que estávamos em pandemia, que a Alemanha e a França anunciam que vai haver apoio ao nível europeu e financiado com dívida. Um dia histórico que se consolidará na Cimeira de Julho, quando é criado o Next Generation EU que integra o Plano de Recuperação e Resiliência.

Tudo isto teria acontecido sem Merkel? Nunca saberemos. Como nunca saberemos se sem Merkel teria existido coragem para deixar entrar um milhões de imigrantes sírios em 2015. Aquilo que vemos ainda hoje com os imigrantes, que tentam melhorar as suas vidas na Europa, devia envergonhar-nos a todos. Só da Alemanha vimos uma actuação digna de uma grande país.

Sendo a construção europeia um processo de compromissos, estando hoje ainda bastante dividida entre Norte e Sul e constituindo a Alemanha um país chave nos progressos da integração, Angela Merkel ficará sempre na história como a chanceler que, nas crises, conseguiu reforçar a União Europeia e o euro incluindo todos. Olaf Scholz o novo chanceler tem uma boa herança. Merkel merece o nosso obrigada.

ALEMANHA   EUROPA   MUNDO   UNIÃO EUROPEIA  

COMENTÁRIOS: 22

Jorge Isidoro: Curiosamente, ou talvez não, apesar da evolução tecnológica, a mão-de-obra barata e o desrespeito pelas leis (?) de protecção ambiental têm sido a principal razão do lento - mas contínuo - avanço da China como fornecedor fundamental ao mercado europeu (e global). A escolha/decisão por sermos um espaço continental que prescinde do sector secundário, também se deve a Merkel. Claro que, como em tudo na vida, também teve decisões fundamentais e acertadas, como as que levaram ao garante da política monetária europeia.                João Afonso: A srª Merkel tem um antes e um depois da crise financeira. A de antes foi alvo da crítica feroz dos fascistas de esquerda por toda a Europa, (quem não se lembra da foto em que a srª aparecia com um bigode hitleriano?), especialmente dos periféricos do sul.  Depois mudou radicalmente, e iniciou a fase em que a UE se tornou mais dependente, mais endividada, mais fracturada e mais radicalizada.  Quem pode hoje afirmar que a "Europa" está mais coesa, mais forte e mais confiante no futuro?               TIM DO Ó > João Afonso: Está quase em guerra civil.          jorge costa: Acho que devia fazer a pergunta ao contrário..           Miguel Eanes: Deve a entrada da China na economia europeia, quando a Alemanha começou a fazer negócios com a China, à margem da UE.              TIM DO Ó: Uma senhora maternal fraca, estadista sem visão de futuro que, subserviente ao politicamente correcto do capitalismo selvagem dos mercados da globalização (e da esquerda colaborante com estes), destruiu a Alemanha e a Europa com a SUBSTITUIÇÃO DE POPULAÇÃO em curso, bem como os valores, a cultura e as nações da UE. Um desastre com conserto difícil, senão impossível, pois os africanos e muçulmanos já estão a tomar conta dos europeus pelo voto. Os "colonizadores" estão a ser e serão colonizados pelos filhos dos colonizados. Os europeus estão até a pagar para serem colonizados! Não há memória de isso alguma vez ter acontecido na História. Provavelmente até nem haverá História para julgá-la, pois a História será feita pelos novos colonizadores a que os europeus que restarem se sujeitarão. Chega!                 José Castro: Deve milhões de rapefugies.           José Fernandes: Foi devido à intransigência na política de emigração que foi convocado o referendo no Reino Unido e levou ao Brexit.               João Diogo: Esta senhora colunista tanto borra como limpa, a politica energética alemã é um desastre , depende de Putin , mas desde que venha o guito já é uma politica extraordinária, o legado dela está cheio de erros , que a história vai julgar.               Elvis Wayne: Merkel, obrigado por te ires embora.

Mario Guimaraes: Uma grande Estadista, que mudou a tempo em pensamento e acção. A Alemanha deve-lhe muito.              Antes pelo contrário: 6 milhões de migrantes quase todos islâmicos, fora os que continuam a chegar, em grande parte graças à impunidade das ONG  - muitas delas alemãs - que participam no tráfico indo buscar migrantes a 12 milhas das costas de África, e o fim da Cvilização Ocidental como a conhecemos, com o crescimento simultâneo do islão e de vários extremismos - e não apenas os de direita!!! Sem contar a crescente prepotência da Alemanha, que se atreve a impor os seus princípios não apenas dentro, mas fora da UE, criando tensões onde deveria procurar paz e colaboração. Pouca coisa. É o que dá termos mulheres estúpidas na liderança de algo com uma dimensão muito maior do que os limites da sua compreensão e inteligência. Eu até acredito que Merkel tenha sido sempre bem-intencionada, mas isso não altera o resultado. É um caso de "o caminho para o Inferno está pavimentado de boas João Diogo > Antes pelo contrário: Excelente, fora a política energética alemã que é um desastre.           João Amaro: Merkel obrigado por importares milhões de muçulmanos para a Europa e depois intenções".                ameaçares os países que não os querem com sanções económicas... É este o estado da suposta "direita"? Patéticos....               Tiddly Wink: Bom, uma bruxa que deixou entrar mais de um milhão de imigrantes ilegais em idade de tropa, de mim só merece desprezo e um pontapé no dito. A Helena fará o que entender!             bento guerra: Quando da crise do subprime e da decisão de impor regras monetárias rigidas,,a Merkel era caricaturada com bigodes hitlerianos,apesar do seu "low profile" e ar infantil-maternal.Mostrou ao mundo que a disciplina germânica associada a flexibilidade diplomática são a resposta.Chegou à alcunha de "mutti" ,a mãe e não tenho dúvida de que tem sido o mais importante estadista mundial do século XXI e sorte nossa ser europeia              José Fernandes: Helmut Kohl era capaz de não pensar assim.       Maria da Graça de Dias > José Fernandes: Helmut Kohl foi o maior estadista que a Alemanha alguma vez teve. Foi lamentável  e imperdoável o trato e o reconhecimento de Merkel , para com o seu "tutor" político               José Fernandes: Margarida Teixeira: por acaso discordo por inteiro e de mim merece somente o mais absoluto desprezo. Não é só o caso de não ter resolvido um único dos muitos problemas alemães e europeus, limitando-se a adiar, remediar e engonhar. A infeliz foi a ponto de criar com a sua acção problemas de gravidade extrema. Para nem ir mais atrás, basta atentar no acto criminoso, de irresponsabilidade suprema, de 2015, com os imigrantes ilegais islâmicos, que culminou directamente na causa do Brexit, e em muita da desgraça em que está convertida a Europa, e que ainda hoje, com a ajuda desse nojo totalitário que é a UE, é causa de toda a Europa se encontrar refém do sultão islâmo-fascista, usurpador de Constantinopola. Como se tal não fosse crime bastante, a desgraçada colocou-se também sob domínio energético do Putin e, com ela, dada a influência alemã no processo de decisão europeu, de novo, toda a Europa. Parece-me bem que aquilo de ser do Leste comunista lhe está entranhado na alma até ao tutano e que foi o que na verdade ditou muito da sua calamitosa conduta, que também especificamente em relação à destruição de Portugal pelo socialismo ladrão, corrupto e assassino de trabalhadores, teve altas responsabilidades. Em suma, uma miserável do piorio cuja conduta julgo criminosa. Curiosamente, os alemães, e nós também, vão ficar agora ainda muito pior com a mistela putrida que vai assumir o poder.              Madalena Magalhães Colaço >  Margarida Teixeira: Não esquecer que esta senhora, em Novembro de 2008, sai apressadamente de uma reunião no FMI e em conjunto com Sarkosy, em Paris, ambos asseguram à população que os depósitos que têm nos bancos estão seguros, porque eles estão ali para isso. Mas  Merkel, decidiu acrescentar "mas cada um por si", o que significa que revelava aos mercados financeiros a fragilidade de como o euro tinha sido criado. Logo os fundos de pensões, seguros...começaram a vender o que tinham em carteira de dívida portuguesa, espanhola, grega etc, porque para eles é como se tivessem escudos, pesetas e dracmas...a crise da dívida foi despoletada  por Merkel, pondo a Europa de rastos.  O rol de coisas a dizer sobre a incompetência é tão grande, que sugeria à Helena Garrido ver o que ela disse em Outubro de 2010 em Trouville em que falou que a dívida grega não ia ser paga mas se esqueceu que esta dívida tinha garantias agarradas, os CDS. Dois dias depois teve de vir corrigir, que a dívida não ia ser paga só a quem aceitasse, para os seguros não serem accionados, não se lembrando Merkel que a AIG, a maior seguradora do mundo teve de ser resgatada por causa desses CDS.  Merkel, que todos acham que representa a democracia, não foi ela que não gostando de Berlusconni, eleito pelo povo italiano, o tirou do governo e colocou Mario Monti? Então onde está a democracia? não gosta do Berlusconi e substitui-o por um burocrata de Bruxelas? Pensem na quantidade de erros que esta mulher fez, que até obrigou Kohl, o seu mentor, a vir a terreiro, já em cadeira de rodas dizer "esta não é a Europa que eu quiz".              Tiddly Winks > Margarida Teixeira: Magnífico comentário. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 Bem melhor do que o branqueamento que HG estranhamente faz a esta nefasta personalidade. Para mim, uma personagem que ajudou fortemente na destruição da Europa, suas gentes e cultura.             TIM DO Ó > Margarida Teixeira: Parabéns. Excelente comentário. Helena Garrido (HG), que tem vindo a subir de qualidade, especialmente com os seus irrepreensíveis artigos económicos, sentiu empatia com a mãe tonta Merkel. Aliás, HG não podia ter escrito um artigo como o do comentário da Margarida Teixeira, porque podia ser despedida, perseguida, censurada, acusada, punida, processada. Só pode seguir a cartilha permitida pelo poder totalitário europeu (no caso, o do capitalismo selvagem das grandes multinacionais e dos mercados com a colaboração exótica da esquerda). E porquê? porque não existe democracia na Europa. É uma fantasia dizer que há liberdade de expressão e democracia. A democracia é contra-natura e existiu apenas em curtíssimos períodos na História. No Ocidente de hoje (Europa, América do Norte e Austrália) já morreu e vigora uma ditadura disfarçada de democracia. Basta escrever um artigo que vá contra as vontades do poder instalado, que aparece logo um "emissário" do poder a dizer quem manda e o que não se pode fazer ou dizer e, a punir, claro. O ser humano acaba por organizar-se sempre em grupos com um chefe que manda. E ai de quem o desafiar. É assim que estamos.

 

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