Lembro-me, pelo contrário, de que foi dramático, lá por Moçambique. Grotesco, também. Tive colegas e amigos goeses, nos tempos do liceu, os rapazes mais nas correrias, as moças no basebol e no vólei e mais tarde colegas indianas foram parceiros de profissão. Por seu lado, também tínhamos amigas - de troca de receitas culinárias entre a minha mãe e as belas indianas com os seus saris vistosos. Foi dramático e apalhaçado, eu tinha retornado a Moçambique, nesse ano, onde iria leccionar, e senti, naturalmente, o descalabro da situação, com campos impostos, de refugiados (de Nehru), suponho que como forma de “retaliação” imposta pelo nosso governo, coisa que me deu engulhos de vergonha - todavia, de curta duração, os tais campos, de que o governo indiano da força socialista naturalmente imporia a ineficácia. Mas o texto do Dr. Salles veio recordar tudo isso, que o tempo tende a ultrapassar. De resto, não perturbará ninguém, essa tentativa patriótica do Dr. Salles de atrair a questão da “India portuguesa” para esses patrimónios, nesta altura em que os próprios cozinhados podem figurar como participantes na universalidade patrimonial…
Recordando: Texto da Internet:
EFEMÉRIDE
| ÚLTIMO COMBATE NAVAL NA ÍNDIA PORTUGUESA
18/12/2020
A 18
DE DEZEMBRO DE 1961 DEU-SE A INVASÃO DOS TERRITÓRIOS DE GOA, DAMÃO E DIU,
POR PARTE DE FORÇAS DA UNIÃO INDIANA, DURANTE A QUAL SE DESENROLARAM OS
COMBATES ONDE INTERVIERAM A LANCHA DE FISCALIZAÇÃO VEGA E O
AVISO AFONSO DE ALBUQUERQUE. A ACÇÃO DESTES NAVIOS E DAS SUAS GUARNIÇÕES
FICARAM PARA SEMPRE LIGADOS ÀQUELES QUE FORAM OS ÚLTIMOS COMBATES NAVAIS DA
MARINHA PORTUGUESA NO ORIENTE.
Desde
a sua independência, em 1947, que a União Indiana reclamava a integração de
Goa, Damão e Diu, o Estado Português da Índia, alegando que os mesmos
constituíam o prolongamento natural do seu território. No entanto, esta posição
foi rebatida por Portugal, uma vez que considerava aqueles territórios
possuidores de identidade cultural, social e religiosa própria, afirmando os
seus direitos e soberania sobre os mesmos.
As
posições irredutíveis por parte dos dois países quanto à soberania sobre estes
territórios, cedo afastaram a possibilidade de resolução pacífica para o
conflito, ainda que o caso tivesse sido objecto de apreciação pelo Tribunal
Internacional de Justiça. Registou-se assim o aumento da tensão política e
militar nos territórios portugueses, os quais, mantendo-se sob soberania
portuguesa, constituíram uma ameaça à coesão e integridade da União Indiana e
ao seu projecto de uma grande Índia, una e indivisível.
Nas
primeiras horas do dia 18 de dezembro de 1961, um enorme dispositivo militar
indiano, com meios navais, terrestres e aéreos, iniciou a invasão simultânea
dos territórios de Goa, Damão e Diu, ditando assim o fim, após 426 anos, da
presença Portuguesa no subcontinente indiano.
A proposta do Dr. Salles
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA A BEM DA
NAÇÃO, 18.12.21
18 DE DEZEMBRO DE 1961 Morte
do Estado Português da Índia
Os
efectivos militares portugueses em Goa, Damão e Diu nos finais de 1961 eram de 3500
homens[1] com armamento obsoleto, sem apoio
aéreo e com presença simbólica da Marinha.
O
então Tenente (mais tarde, General) Mário de Jesus Silva relata no seu livro «O sortilégio da
cobra – descolonização obrigatória» que os
poucos armamentos menos obsoletos foram retirados de Goa nos inícios de 1961 e
enviados para Angola, «pérola» a salvaguardar a todo o custo, por ordem do
então Subsecretário de Estado do Exército (?) Coronel (mais tarde,
Marechal) Francisco da Costa Gomes. Com
apoio aéreo e naval, as forças terrestres invasoras contavam com 45 mil
efectivos mais 25 mil de reserva e um «back support» que ultrapassava o milhão.
Não
farei aqui um tratado sobre os condicionalismos estratégicos e tácticos duma
putativa luta pela posse militar do território de Goa, do de Damão e muito
menos do de Diu, mas resumo
que o fim do Estado Português da Índia resultou da decisão da invasão militar
indiana e da decisão portuguesa de não opor resistência.
A
esterilidade da discussão sobre se se tratou de uma invasão ou de uma
libertação é ultrapassável pela evidência militar da invasão ficando a
libertação para perspectiva dos sathiagrahis.
Efeméride com 60 anos, tantos quantos em Portugal suportámos o jugo
filipino. Mas…
Contudo, foram quase cinco séculos de vida em comum e se não faz mais
qualquer sentido pensar em neocolonialismos, colhe, isso sim, alcandorar a
riquíssima Cultura Indo-Portuguesa a Património da Humanidade.
18
de Dezembro de 2021 Henrique
Salles da Fonseca
[1] - in «A queda da Índia Portuguesa»,
Cor. Carlos Alexandre Morais - informação bibliográfica fornecida pelo Coronel
Pedro Calado Gomes da Silva
Tags: história
COMENTÁRIOS:
ANÓNIMO 18.12.2021: Dr
Henrique. Concordo com o que diz. Quando eu quis dizer o mesmo penso que não
foi de agrado de muitos. Lembro me que nessas alturas o Timor Holandês estava
para ser invadida pela Indonésia . Mas a Holanda, um país com recursos
militares razoáveis, pôs a Indonésia nos eixos- Amândio
Coelho Pereira, Dr Bombaim ANTÓNIO
JOSÉ BARATA ALVES CAETANO 18.12.2021: Querido Amigo, Nunca as mãos lhe doam! Pessoalmente,
tenho memória viva desse "instante"! Forte abraço do muito amigo e
admirador António Alves Caetano (já estou a dar a 91ª volta ao Sol!) ANÓNIMO 18.12.2021:
Excelente
ideia a tua, Henrique, de alcandorar a Cultura Indo-Portuguesa a Património da
Humanidade. Com efeito,
já houve Requiem suficiente ao longo destes anos. Creio que já escrevi, a
título de comentário, no teu Blog, que no início da década de 90, quando
eram Primeiro-Ministro o Prof. Cavaco Silva e Presidente da República o Dr.
Mário Soares, foi
encerrado um dossier de contencioso com a Índia, que se materializou na
devolução aos legítimos donos de objectos que estavam depositados ou dados de
penhor, no BNU na Índia, aquando da invasão, e que a Filial do Banco,
liderada pelo Senhor
Anastácio,
transferiu esses bens, bem como tudo o que tivesse valor e fosse suscetível de
transferir. para Lisboa. O Banco
encarregou dessa tarefa de devolução o Director, Senhor Anastácio. Aliás, o
Museu de Arte Antiga promoveu há alguns anos (poucos) uma exposição sobre este
evento, ainda o Senhor Anastácio era vivo. Abrangendo
a Cultura Indo-Portuguesa tantos aspetos, desde a arquitectura até à língua,
passando, designadamente, pela pintura, mobiliário, escultura, ourivesaria,
literatura, música, culinária, põe-se a questão da constituição de uma task-force, devidamente liderada, que
leve a “carta a Garcia”. Vejo, para este
efeito, entidade públicas e privadas, pessoas coletivas e singulares,
devidamente credenciadas e qualificadas. Vêm-me à ideia o Instituto
Camões, a Fundação do Oriente (não estou
certo se a Índia está no seu scope) e a Universidade Católica
Portuguesa (esta por ter promovido a publicação,
segundo vi na internet, em agosto de 2015, no âmbito da Colecção Estudos e
Documentos 21, de “Portugal-Índia. Da herança portuguesa à Índia dos nossos
dias”, com a coordenação de Artur Teodoro de Matos e Guilherme Oliveira Martins”).
Outra entidade possível, seria a CGD,
atendendo a que absorveu o BNU. Por
coincidência, este Banco diligenciou, em 1995, a publicação de um belo livro
intitulado “Palácio de Goa. Modelos e Tipologias de Arquitetura Civil
Indo-Portuguesa”, de Helder Carita e edição da Quetzal. É óbvio
que para o projeto avançar tem de haver o concurso da Índia e de entidades
locais, mas isso seria tarefa do Ministério dos Negócios Estrangeiros e também
do Ministério da Cultura.
Poderia acompanhar-te, Henrique,
nestas tarefas iniciais se não fosse a minha actual situação, que é do teu
conhecimento. Mas certamente que, se pensares ir com a tua ideia avante, não
faltarão pessoas interessadas em te auxiliar a desbravar o caminho, o qual será certamente longo, mas não
necessariamente penoso. Abraço. Carlos Traguelho Henrique Salles da
Fonseca 19.12.2021 14:27: Obrigado, Carlos, pelo douto comentário prenhe de
perspectivas positivas. Precisamente por causa dos problemas de saúde de que
uns outros vamos padecendo, creio fundamental que o assunto da elevação da
Cultura Indo-Portuguesa a Património da Humanidade seja liderado mais por
Instituições do que por pessoas. Mas sem pessoas, não há Instituições e por
isso sugiro que tentemos agendar um encontro nos inícios de 2022 com o Carlos
Monjardino, Presidente da Fundação Oriente. Adriano Miranda
Lima 18.12.2021 19:04: Não
sei se, a nível do governo, houve efectivamente decisão de não opor resistência
ao invasor indiano. Segundo documentos e testemunhos disponíveis, Salazar
parece que esperava uma resistência, mesmo que calculadamente simbólica, mas
que devia representar um número suficiente de baixas que causasse algum impacto
na opinião pública internacional. O certo é que o governador e
comandante-chefe militar, general Vassalo e Silva, é que tomou a decisão de não
sacrificar inutilmente vidas humanas só para satisfazer o capricho político de
Oliveira Salazar. Esta atitude custou-lhe ser expulso do exército. Resta a
memória das marcas indeléveis da cultura indo-portuguesa que floresceu naquelas
longínquas paragens. Henrique Salles da
Fonseca 19.12.2021 16:25: Do livro do Coronel Carlos Alexandre de Morais que
cito em nota de rodapé, se extrai que os (poucos) praças da nossa escassa
guarnição militar estavam equipados com espingardas Kropashek (dúvida
ortográfica) adquiridas na década de 70 do séc. XIX e as Mauser estavam
obsoletas desde os finais da II Guerra Mundial. Do livro do General Jesus Silva se extrai
que em Goa havia 2 (ou 3?) autometralhadoras de modelo que não retenho na
memória mas que se o então Coronel Costa Gomes lhes visse utilidade, por certo
as teria enviado para Angola. Ou seja, tínhamos o equivalente a umas fisgas
de ir aos pardais. O desarmamento foi intencional e todos os discursos
políticos não passaram de bravata. As punições de militares foram uma bravata
fardada. Henrique Salles da
Fonseca 19.12.2021 18:22: O autor esqueceu-se de mencionar, ao dizer
"que o fim do Estado Português da Índia resultou da decisão da invasão
militar indiana e da decisão portuguesa de não opor resistência", quem foi
que decidiu não opor resistência (o que seria um massacre total da guarnição
portuguesa e não só!!!...). Essa decisão não partiria nunca de Salazar, até
porque na (sua) Constituição Portuguesa de 1933, havia um parágrafo único de um
artigo (o 1º?) em que se dizia que "Portugal não abdicaria dos direitos de
posse do seu actual território ou de outros que pudesse vir a ter"... De
quem partiu? Do lúcido governador português general Vassalo e Silva!!! (em
Portugal, carinhosamente apelidado general Vacila e Salva!). O seu gesto
valeu-lhe o fim da sua carreira, porque não cumpriu as ordens de Salazar para
que lutassem até à morte. Irmão da grande Maria Lamas, foi expulso das
forças armadas e apenas foi reentegrado após a Revolução dos Cravos (o 25 de
Abril de 1974). Curiosamente, ainda não vi citados conflitos anteriores... Graça Cravinho (PHD)
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