Quando a palavra se transforma num
instrumento de torpeza ou engano, ou de puro papaguear sem muito sentido, que
cansa ouvir. Mas concordo que uma conversa ilustrada por saberes ou
experiências, causa um impacto que desperta curiosidades e desenvolve,
naturalmente, interesses e capacidades. Não sei se a tese de André Abrantes Amaral, encaixa na
questão da vacina anti-covid para as crianças. Se eu tivesse filhos pequenos,
gostaria de saber primeiro – como se sabe a respeito das que são obrigatoriamente
administradas ao nascer, (que longa prática esclarece sobre a eficácia), se não
os estaria a prejudicar, ou a pôr em perigo as suas curtas vidas… Tão breve é,
julgo, o conhecimento de todo esse processo em torno da covid 19…
A discussão salva vidas
A pandemia suscitou dois desafios ao
Ocidente: salvar vidas e impedir a deterioração do Estado de Direito. Um não
exclui o outro. Pelo contrário, é nas sociedades abertas que se salvam mais
vidas.
André Abrantes Amaral
12 dez 2021, 00:149
Por
estes dias tenho lido ao meu filho quando se deita o ‘Cavaleiro da Dinamarca’.
A escrita de Sophia de Mello Breyner Andersen é belíssima, elegante,
escorreita, simples e devidamente descritiva. Para que a leitura não se alongue
muito combinámos passar por uma cidade de cada vez. Ao terceiro dia chegámos a
Florença onde sucedeu algo que me captou a atenção e que é importante para os
nossos dias e para o que vivemos actualmente: é que nessa cidade italiana o
anfitrião do cavaleiro recebe inúmeras pessoas que ficam na conversa durante
horas. O que me despertou a atenção, e impressionou também o cavaleiro, foi
que aquelas pessoas falavam de tudo: de filosofia, de ciências, de física,
de política, da natureza, de pintura. Conversava-se do passado, do presente e
sobre o futuro.
Se
a discussão é um exame de uma questão, a conversa pode ser uma tentativa sã em
converter o outro. Sã porque
quem conversa fala e ouve, e se quando fala quer convencer já quando ouve
aceita a possibilidade de ser convencido. Florença
era uma cidade rica, mais austera que Veneza (não fosse estar longe do mar),
instruída e de olhos postos no futuro porque se conversava; se duvidava, se
questionava, se respondia, se explicavam pontos de vista. Porque se escutava.
Quando
a presente pandemia surgiu muitos vaticinaram que as democracias seriam o ponto
fraco do Ocidente. É verdade
que por cá as ordens não se acatam como na China e, por esse motivo, a pandemia
propagou-se mais facilmente. Enquanto o governo chinês conteve eficazmente o vírus,
nos países ocidentais viveu-se o caos. Na
China acataram-se ordens enquanto na Europa e na América duvidou-se,
exigiram-se respostas, explicações. As pessoas manifestaram-se ou, se se
resignaram, fizeram-no contrariadas. Pouco ou nada no Ocidente foi planeado,
as economias caíram a pique e foram muitas as vidas que se perderam.
Mas
também foi no Ocidente que surgiram as melhores vacinas. Porque, apesar de todas as dúvidas, ou melhor, devido
a todas as dúvidas procuraram-se respostas. Estudou-se, investigou-se, fizeram-se perguntas. Os cidadãos quiseram saber e pesaram os prós e os
contras de cada decisão governamental. Entretanto, só daqui a muitos anos
teremos conhecimento dos horrores vividos na China.
Vem
este texto ao caso devido à relutância inicial da DGS em divulgar o parecer final
da Comissão Técnica de Vacinação relativa à administração da vacina da Covid-19
às crianças entre os 5 e os 12 anos de idade.
Graça Freitas justificou-se dizendo que o dito parecer é um “documento interno
preparatório do processo de decisão” e que “o habitual é não serem
divulgados”. Sucede que pandemias como as que vivemos há quase dois anos
também não são habituais, como não habitual passarmos por estas incertezas ou ouvirmos
a Ordem dos Médicos considerar desproporcionada a vacinação das crianças. Perante tantos pontos de vista tão diversos, o mínimo
que se pode exigir é a transparência que advém do conhecimento. Este só se obtém com acesso aos estudos, às
investigações, aos pareceres. É preciso que se discuta, se questione, se
duvide; não que se empurrem as pessoas para situações em que não têm outra
alternativa que não seja desistir de chatear quem decide. Felizmente, o
governo acabou por ceder e aceitou divulgar o parecer técnico para que os
especialistas o pudessem ler e explicar.
Infelizmente, tal aconteceu depois de António Costa ter referido, à laia de
autorização, que era favorável à sua divulgação, o que diz muito da nossa
Administração Pública em geral e da DGS em particular. Não fazia qualquer
sentido agendar para a próxima semana de forma o início da vacinação das
primeiras crianças e sujeitar os pais que queiram ser esclarecidos tivessem
oito dias para marcar uma consulta com o pediatra do seu filho, médico esse que
nem sequer poderia dar grande opinião pois lhe era negado o acesso a documentos
científicos sobre um assunto que é a sua especialidade médica e relativamente
ao qual deve actuar. Não foi essa a atitude que fez a nossa civilização.
Perante
as incertezas que nos assolam há (ou devia haver) um alicerce seguro,
permanente que nos afiança que o que era continuará a ser: a dúvida, a
discussão, a conversa, o contraponto como melhor garantia de que as nossas
escolhas foram as mais ponderadas e não obtidas à sorte, ao acaso. A
grande maioria das pessoas acreditou nas vacinas porque estas eram válidas e
também necessárias. Adequadas e proporcionadas. Também querem saber se vacinar
uma criança que não corre riscos sérios com a contracção da doença Covid-19,
que não contagia os outros como um adulto o faz, também é adequado e proporcionado.
Não foi a autoridade e a prepotência
que salvou vidas. Foi a dúvida e a busca incessante em lhe pôr termo. Fomos
nós, os que quisemos saber.
P.S.:
no passado fim-de-semana teve lugar no
Grémio Literário, em Lisboa, a apresentação de dois livros editados pela
Alêtheia. O primeiro foi ‘Milhões a Voar‘ de Carlos Guimarães Pinto e André Pinção Lucas
sobre as mentiras que nos contam sobre a TAP. O segundo, ‘Vai Ficar
Tudo Mal‘, é uma compilação das crónicas de Carlos M.
Fernandes no Observador. Os dois livros são extremamente
interessantes não só pelo que dizem, mas porque fazem esse contraponto às
narrativas dominantes que se impõem quando não se pergunta. Talvez por isso
mesmo as respectivas apresentações foram tão boas. Além de António Costa,
director do Eco, e de Helena Matos, colunista do Observador, os livros foram
apresentados por mais duas pessoas que se encontram fora da área política dos
respectivos autores. Nem Susana Peralta é liberal nem Sérgio Sousa Pinto
concordará com as conclusões do Carlos M. Fernandes. Mas os dois estiveram lá,
teceram louvores, falaram, ouviram, responderam a perguntas. Aceitaram
cumprimentos e receberam elogios. Num tempo de intolerância mental foi
saudável, por uma tarde, viver outra vez numa bolha de normalidade. Neste
sentido os que lá estiveram mereceram o lugar onde se encontravam.
PANDEMIA SAÚDE DEMOCRACIA SOCIEDADE
COMENTÁRIOS:
Jorge Reis: Não acredita na santificada DGS, a autoridade de saúde mais competente?
Gostava de ser chinês?
bento guerra: "Impedir"? Eu acho que foi "impor"
o Estado de direito, em obediência a Bruxelas (dizem que esta, em obediência à
China, mas é forte demais)
Ediberto Abreu: Uma pequena adenda, hoje não é só a DGS que se
comporta como o cão de trela de Costa, há muito mais organizações, que vão
desde os media às autoridades da concorrência passando por alguns sectores da
justiça...
FCE: Independentemente de concordar ou não com as suas
opiniões , gosto de o ler. (o comentário de Joaquim Albano Duarte terá de ser
tido em consideração ). FME: “Felizmente, o governo acabou
por ceder e aceitou divulgar o parecer técnico para que os especialistas o
pudessem ler e explicar. Infelizmente, tal aconteceu depois de António Costa
ter referido, à laia de autorização, que era favorável à sua divulgação...” Um engano muito acertado, que retrata na
perfeição o que é atualmente a DGS, e que diz tudo sobre a total subserviência
da sua diretora ao poder político.
Joaquim Albano Duarte: Cuid, há no final do texto
um erro grave, quando afirma que as crianças não propagam o vírus como os
adultos. Isso é falso e muito perigoso. No início da pandemia essa afirmação
era propagada para acalmar a sociedade e manter as escolas abertas. Depois
do que aconteceu em Janeiro e Fevereiro nunca mais ouvimos esse enorme
disparate. As crianças são dos principais vectores de transmissão deste vírus e
de quase todos os outros vírus respiratórios. esquerdopata
censurador > Joaquim Albano Duarte: Mas vacinar não impede a transmissão.....(OMS)....o
que impede são as máscaras, por isso os vacinados ainda as usam...então em que
ficamos? Cisca
Impllit: Falar e
ouvir. Lembra-me minha Mãe. Dizia-nos, quando discutimos
entre irmãos, "saber falar e saber ouvir". Que saudades!
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