Com o fenómeno educativo. Onde esse não
se impôs, as instituições tornam-se puramente extractivas. Extrair / ”extorquir” para reinar, o nosso lema.
Mais um texto-comentário (educativo) de Luis
Soares de Oliveira, que agradecemos.
(NOTA): Por enguiço do computador e prosseguimento dos comentários, acrescentei–os com muitas dificuldades e talvez incorrecções. Mas dá para entender…
PORQUE FALHAM AS NAÇÕES . (Recensão)
Graças aos confinamentos, consegui finalmente terminar
a leitura do mega livro
(603 páginas) de Daron Acemogou (Harvard)
e de James A Robinson (MIT) sobre o tema supra que sempre me preocupou:
Lembro que o Financial Times classificou
este livro "o melhor de 1917". Evidentemente que a minha preocupação com esta
matéria tem muito da
subjetividade do português que estudou a nossa história dos tempos modernos com
o mesmo propósito.
Para começar, o livro
ignora-nos o que me parece injusto. Fomos
apenas promotores do comércio no atlântico sul. De resto, o interesse dos
autores sobre a fenomenologia ibérica esgota-se em Espanha. Pecha americana. («Para quê duas capitais'»,
dizia Foster Dulles e omitia Lisboa nos seus trajectos diplomáticos pela
Europa.)
Vai tudo das instituições
políticas que cada nação cria , dizem os autores: - umas nações criam instituições
abertas á adesão e á inovação, outras aceitam que uma minoria nacional - auto
proclamada « elite» - se apodere do aparelho e o use exclusivamente para
benefício próprio. Às primeiras instituições chamam «inclusivas»
ás segundas «extratcivas». Os primeiros que teriam enveredado pelo caminho
certo teriam sido os ingleses. Os holandeses são aqui ignorados. (Não
surpreende pois o entusiasmo do Financial Times).
O bom-senso dos ingleses teria resultado de várias
circunstâncias críticas entre as quais a «peste negra», que matou metade da
população rural no século XIV e, por fim, da "gloriosa revolução" de
1680 que baniu definitivamente o absolutismo ainda que a favor de uma minoria
de terra tenentes - os whigh. Estes porém eram de mente aberta e inclinados
para a ciência. Acho injusto não mencionarem Henrique VIII, o rei que mandou o
povo discutir a Biblia nas igrejas. (Bem sei que se arrependeu, mas
a semente que lançou à terra medrou)
Também me surpreende a
exclusão do factor geográfico quando é comprovável que os povos sujeitos a
longos e rigorosos Invernos amadurecem mais depressa dos que os que vivem
próximos dos trópicos.
Surpresa final: - os autores
omitem completamente a fidúcia - a
confiança uns nos outros - instrumento básico do progresso. Talvez porque a considerem
inscrita nas «instituições inclusivas».
Estas omissões justificam-se pelo empenho dos autores
em demonstrar e acentuar que onde há instituições políticas «extractivas», a
pobreza será sempre a condição do povo.
AQUI FICA COMO AVISO AOS INCAUTOS
COMENTÁRIOS
Isabel
Themudo Gallego: Mais
um excelente artigo e uma perspicaz análise do Luís! Os americanos sempre se
especializaram neles próprios e por isso infantilizaram a sociedade que é a
deles e que conhecem bem. Muito obrigada Luís! Precisamos dos seus belos
artigos por aqui! Bravo!
Nuno Garoupa: Apesar dos defeitos de quem generaliza (atenção que o
Acemoglu não é USA, mas turco), a mensagem do livro aplica-se a Portugal e
explica o fracasso dos últimos 250 anos – um pequeno país dominado por elites
puramente extractivas (com intervalos pontuais que levam ciclicamente a uma economia estagnada e a uma sociedade
complacente. E, por isso, apesar da maior entrada de capital em Portugal da sua
história desde 1986, a economia está como está (estagnada, endividada,
envelhecida).
André Corrêa d'Almeida: E precisamente porque o modelo económico se baseava
nos impostos cobrados pela exportação do que se extraía/importava das colónias,
as elites de Lisboa nunca se preocuparam em libertar os factores de produção do
país (que poderiam por ventura taxar se o país tivesse embarcado numa revolução industrial do tipo lusófona). Assim,
a Europa tornou-se o nosso Brasil-a-Este.
Francisco G.
de Amorim: Sempre
análise clara. Gosto.
Antonio Coutinho: A lógica
extractiva-inclusiva coloca-se na vertente económica e política. Portanto,
teremos sempre 4 combinações possíveis, sendo que duas talvez sejam mais
frequentes ou tendentes. Quando falamos do caso português, será interessante
pensar qual o ovo…
Nuno Garoupa: Já Marx
defendia que as instituições políticas decorrem das económicas. As instituições
consubstanciam a natureza das elites. Não é sustentável elites políticas extractivas
e elites económicas inclusivas. Pela simples razão de que as elites políticas precisam
das elites económicas e viceversa. Há uma simbiose. No caso português, essa
simbiose parece-me total. A economia extractiva gerou uma classe política e um
conjunto de instituições que protege a extracção de rendas de qualquer
volatilidade eleitoral. Claro que há indivíduos produtivos na economia como há
gente na política que é séria. Mas as instituições estão desenhadas para favore… A China tem uma tradição de elites extractivas. Hoje
tem uma economia extractiva com imensas economias de escala que Portugal não
tem. O problema de Portugal hoje é que está no longo prazo - depois de 50 anos,
a extracção de rendas secou a economia. ….qual o ovo e a galinha entre
instituições políticas extractivas e económicas. Tenho por mim, sem grande
estudo e certeza, que em democracia, antes de termos instituições económicas
extractivas, temos instituições políticas extractivas.
Luis Soares de Oliveira: Henrique Borges, Sobre a China eles falam muito mas são cépticos. Quanto a Salazar, DISCORDO. Houve mudança de moscas mas o povo ficou na mesma. QUANTO À EUROPA, INCLINO-ME NA MESMA DIRECÇÃO do que tu. Só tem servido para agravar erros a começar pela dívida…
Henrique Borges: Excelente
comentário Luís. Não li o livro (li o mais recente dos dois autores - O
Equilíbrio do Poder na tradução portuguesa). Creio que o problema destas
análises binárias é a generalização (como já foi aqui apontado) e, neste caso,
a sua exclusiva pe…
Henrique Borges: Luis,
enquanto se mantiverem os actuais constrangimentos macroeconómicos - em
síntese, a liberalização indiscriminada face aos mercados externos (cf. fim do
Acordo Multifibras em meados dos anos 90), o euro e as suas regras….)
Henrique Borges: Chegámos a um
extremo de indigência em que é muito mais importante para o nosso futuro colectivo
a política monetária do BCE e o ministro das Finanças alemão do que qualquer PM
ou governo português. É também uma métrica da nossa indigência política e (…)
Henrique Borges: Quanto a
Salazar, a sua política externa durante a guerra devia ser um "case
study" da diplomacia de um pequeno Estado em situação de crise
internacional. Os anos 60 foram de longe o período de maior crescimento
económico nos últimos 100 anos. Emergiu nessa altura um núcleo de empresários
nacionais creio que único também no último século. Não significa isto
subscrever outros aspectos do regime. Não há saída sem destruição e
reconstrução de instituições. Como não é possível recorrer a soluções
anteriores, o país está bloqueado e suspenso no tempo. À espera.
Luis Soares de Oliveira > Henrique Borges: O procedimento dele durante a II GM é impecável e até sobrenatural. Mas cá dentro não fez o que prometeu.
Henrique Borges: Quanto à China - e ao cepticismo dos autores do livro
- isso só ajuda a corroborar a sua visão fortemente preconceituosa e
"ocidentalista". Mesmo que amanhã a China venha também a entrar em
crise - um desejo mal disfarçado do Ocidente - as últimas décadas testemunharam
sem sombra de dúvida uma das evoluções mais extraordinárias dos últimos dois
séculos no mundo. Não admira que os EUA pareçam e (…)
Frederica Cerqueira: Por duas
vezes comecei a ler, por duas vezes não consegui ultrapassar o desagrado das
primeiras páginas em que me parece que a análise é demasiado enviesada para o
meu gosto. Talvez dê uma outra hipótese, talvez não.
Luis Soares de Oliveira: Frederica Cerqueira: Vale sempre a pena. Tem muita informação. É o que eu chamo um livro de
reserva.
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