segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Tem tudo, pois, a ver


Com o fenómeno educativo. Onde esse não se impôs, as instituições tornam-se puramente extractivas. Extrair / ”extorquir” para reinar, o nosso lema. Mais um texto-comentário (educativo) de Luis Soares de Oliveira, que agradecemos.

(NOTA): Por enguiço do computador e prosseguimento dos comentários, acrescentei–os com muitas dificuldades e talvez incorrecções. Mas dá para entender…

 

PORQUE FALHAM AS NAÇÕES . (Recensão)

Graças aos confinamentos, consegui finalmente terminar a leitura do mega livro (603 páginas) de Daron Acemogou (Harvard) e de James A Robinson (MIT) sobre o tema supra que sempre me preocupou: Lembro que o Financial Times classificou este livro "o melhor de 1917". Evidentemente que a minha preocupação com esta matéria tem muito da subjetividade do português que estudou a nossa história dos tempos modernos com o mesmo propósito.

Para começar, o livro ignora-nos o que me parece injusto. Fomos apenas promotores do comércio no atlântico sul. De resto, o interesse dos autores sobre a fenomenologia ibérica esgota-se em Espanha. Pecha americana. («Para quê duas capitais'», dizia Foster Dulles e omitia Lisboa nos seus trajectos diplomáticos pela Europa.)

Vai tudo das instituições políticas que cada nação cria , dizem os autores: - umas nações criam instituições abertas á adesão e á inovação, outras aceitam que uma minoria nacional - auto proclamada « elite» - se apodere do aparelho e o use exclusivamente para benefício próprio. Às primeiras instituições chamam «inclusivas» ás segundas «extratcivas». Os primeiros que teriam enveredado pelo caminho certo teriam sido os ingleses. Os holandeses são aqui ignorados. (Não surpreende pois o entusiasmo do Financial Times).

O bom-senso dos ingleses teria resultado de várias circunstâncias críticas entre as quais a «peste negra», que matou metade da população rural no século XIV e, por fim, da "gloriosa revolução" de 1680 que baniu definitivamente o absolutismo ainda que a favor de uma minoria de terra tenentes - os whigh. Estes porém eram de mente aberta e inclinados para a ciência. Acho injusto não mencionarem Henrique VIII, o rei que mandou o povo discutir a Biblia nas igrejas. (Bem sei que se arrependeu, mas a semente que lançou à terra medrou)

Também me surpreende a exclusão do factor geográfico quando é comprovável que os povos sujeitos a longos e rigorosos Invernos amadurecem mais depressa dos que os que vivem próximos dos trópicos.

Surpresa final: - os autores omitem completamente a fidúcia - a confiança uns nos outros - instrumento básico do progresso. Talvez porque a considerem inscrita nas «instituições inclusivas».

Estas omissões justificam-se pelo empenho dos autores em demonstrar e acentuar que onde há instituições políticas «extractivas», a pobreza será sempre a condição do povo.

AQUI FICA COMO AVISO AOS INCAUTOS 

COMENTÁRIOS

Isabel Themudo Gallego: Mais um excelente artigo e uma perspicaz análise do Luís! Os americanos sempre se especializaram neles próprios e por isso infantilizaram a sociedade que é a deles e que conhecem bem. Muito obrigada Luís! Precisamos dos seus belos artigos por aqui! Bravo!

Nuno Garoupa: Apesar dos defeitos de quem generaliza (atenção que o Acemoglu não é USA, mas turco), a mensagem do livro aplica-se a Portugal e explica o fracasso dos últimos 250 anos – um pequeno país dominado por elites puramente extractivas (com intervalos pontuais que levam ciclicamente a uma economia estagnada e a uma sociedade complacente. E, por isso, apesar da maior entrada de capital em Portugal da sua história desde 1986, a economia está como está (estagnada, endividada, envelhecida).

André Corrêa d'Almeida: E precisamente porque o modelo económico se baseava nos impostos cobrados pela exportação do que se extraía/importava das colónias, as elites de Lisboa nunca se preocuparam em libertar os factores de produção do país (que poderiam por ventura taxar se o país tivesse embarcado numa revolução industrial do tipo lusófona). Assim, a Europa tornou-se o nosso Brasil-a-Este.

Francisco G. de Amorim: Sempre análise clara. Gosto.

Antonio Coutinho: A lógica extractiva-inclusiva coloca-se na vertente económica e política. Portanto, teremos sempre 4 combinações possíveis, sendo que duas talvez sejam mais frequentes ou tendentes. Quando falamos do caso português, será interessante pensar qual o ovo… 

Nuno Garoupa: Já Marx defendia que as instituições políticas decorrem das económicas. As instituições consubstanciam a natureza das elites. Não é sustentável elites políticas extractivas e elites económicas inclusivas. Pela simples razão de que as elites políticas precisam das elites económicas e viceversa. Há uma simbiose. No caso português, essa simbiose parece-me total. A economia extractiva gerou uma classe política e um conjunto de instituições que protege a extracção de rendas de qualquer volatilidade eleitoral. Claro que há indivíduos produtivos na economia como há gente na política que é séria. Mas as instituições estão desenhadas para favore…  A China tem uma tradição de elites extractivas. Hoje tem uma economia extractiva com imensas economias de escala que Portugal não tem. O problema de Portugal hoje é que está no longo prazo - depois de 50 anos, a extracção de rendas secou a economia. ….qual o ovo e a galinha entre instituições políticas extractivas e económicas. Tenho por mim, sem grande estudo e certeza, que em democracia, antes de termos instituições económicas extractivas, temos instituições políticas extractivas.

Luis Soares de Oliveira:  Henrique Borges, Sobre a China eles falam muito mas são cépticos. Quanto a Salazar, DISCORDO. Houve mudança de moscas mas o povo ficou na mesma. QUANTO À EUROPA, INCLINO-ME NA MESMA DIRECÇÃO do que tu. Só tem servido para agravar erros a começar pela dívida… 

Henrique Borges: Excelente comentário Luís. Não li o livro (li o mais recente dos dois autores - O Equilíbrio do Poder na tradução portuguesa). Creio que o problema destas análises binárias é a generalização (como já foi aqui apontado) e, neste caso, a sua exclusiva pe… 

Henrique Borges: Luis, enquanto se mantiverem os actuais constrangimentos macroeconómicos - em síntese, a liberalização indiscriminada face aos mercados externos (cf. fim do Acordo Multifibras em meados dos anos 90), o euro e as suas regras….)

Henrique Borges: Chegámos a um extremo de indigência em que é muito mais importante para o nosso futuro colectivo a política monetária do BCE e o ministro das Finanças alemão do que qualquer PM ou governo português. É também uma métrica da nossa indigência política e (…) 

Henrique Borges: Quanto a Salazar, a sua política externa durante a guerra devia ser um "case study" da diplomacia de um pequeno Estado em situação de crise internacional. Os anos 60 foram de longe o período de maior crescimento económico nos últimos 100 anos. Emergiu nessa altura um núcleo de empresários nacionais creio que único também no último século. Não significa isto subscrever outros aspectos do regime. Não há saída sem destruição e reconstrução de instituições. Como não é possível recorrer a soluções anteriores, o país está bloqueado e suspenso no tempo. À espera.

Luis Soares de Oliveira > Henrique Borges:  O procedimento dele durante a II GM é impecável e até sobrenatural. Mas cá dentro não fez o que prometeu.

Henrique Borges: Quanto à China - e ao cepticismo dos autores do livro - isso só ajuda a corroborar a sua visão fortemente preconceituosa e "ocidentalista". Mesmo que amanhã a China venha também a entrar em crise - um desejo mal disfarçado do Ocidente - as últimas décadas testemunharam sem sombra de dúvida uma das evoluções mais extraordinárias dos últimos dois séculos no mundo. Não admira que os EUA pareçam e (…)

Frederica Cerqueira: Por duas vezes comecei a ler, por duas vezes não consegui ultrapassar o desagrado das primeiras páginas em que me parece que a análise é demasiado enviesada para o meu gosto. Talvez dê uma outra hipótese, talvez não😉

Luis Soares de Oliveira: Frederica Cerqueira:  Vale sempre a pena. Tem muita informação. É o que eu chamo um livro de reserva.

 





 









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