sábado, 4 de dezembro de 2021

Mas contra o medo não há

 

Digo, vacina. Podia ser feita de desejo de escapar ao ridículo, de desejo de impor rebeldia, de mostrar coragem e valentia, de restaurar dignidade com essa tal liberdade tão bem falada em Abril… Parece que aconteceu isso, realmente, em 1640 e foi violento, com defenestrações vistosas até, e posteriormente com guerra. Agora não há “rapazes maus”, só lá para os lados da jihad, embora por cá também se pratique o bullying, mais a violência doméstica, e outras mais, da nossa cobardia habitual, mas na questão dos governos, o que eles querem é o nosso bem e o seu sossego e progresso pessoais, e daí a imposição das regras, além das vacinas e máscaras embrulhadas no maquiavelismo da amizade e doçura, transmissor do tal medo, contra o qual não há vacina nem psicólogos de jeito. Mas os Portas de que fala AG, ganham dinheiro a ponderar com muitos dados e desenhos condizentes sobre esses problemas assustadores, e a contribuir subtilmente e com elegância paternalista, para o estado de acomodação e medo, contra os quais não há vacina, como já disse.

A restauração da indecência

Os “especialistas”, que vão de virologistas que afinal são matemáticos a virologistas que afinal são o dr. Portas, passando por virologistas que afinal seguem o dr. Costa, também querem medo.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador          OBSERVADOR, 04 dez 2021 

O vídeo corre por aí, para galhofa de uns e pavor de outros. Um moço, que prestava uns serviços ao PS e agora é naturalmente enviado da CNN Portugal (é a TVI, julgo) à China ou assim, descreve, com os olhitos arregalados de excitação, as proezas do primeiro infectado com a nova e terrível “variante” da Covid em Hong-Kong. Sem sair do quarto onde o fecharam, o sujeito conseguiu contaminar o hóspede do quarto em frente: o vírus chinês, entretanto com trajes africanos e habilitações em vodu, desatou a atravessar portas e corredores. Em teoria, esta revelação acabaria com as restrições, dado que doravante nem um bunker para cada indivíduo nos salvará da morte certa. Na prática, a rábula mostra o ridículo a que a “informação” não se importa de descer para captar espectadores. Com raríssimas excepções, o tratamento “jornalístico” da Covid, desde o início um circo, está reduzido aos palhaços.

Se não for chalupa de todo, hipótese a debater, suponho que o repórter da TVI se limitava a cumprir ordens. E as ordens, as da televisão e as do governo, são sempre de sentido único: suscitar medo. Há dias, num quadro cómico que pelos vistos comete semanalmente num canal qualquer, Paulo Portas congratulou-se por a população andar assustada. Os “especialistas”, que vão de virologistas que afinal são matemáticos a virologistas que afinal são o dr. Portas, passando por virologistas que afinal seguem o dr. Costa e não a ciência, também querem medo. Os partidos, com a ocasional e insuficiente excepção da Iniciativa Liberal, estão alinhadíssimos com o PS na necessidade de manter elevados os níveis de pânico. E o prof. Marcelo é o prof. Marcelo. Em horas realmente difíceis, homens dignos dão exemplos de coragem. Nas dificuldades postiças, democratas de fancaria instigam o pânico. Os nossos palhaços são da estirpe assustadora.

A verdade é que o medo convém a quase todos. Antes de falecerem, os “media” tradicionais sonham cativar a derradeira amostra de audiências pasmadas e histéricas. Os “especialistas”, que seguramente levavam porrada na escola, deleitam-se com os holofotes e o estatuto. O governo agradece um bode expiatório para a miséria em que nos enfiou e uma população capaz de consentir a miséria. Os partidos da, digamos, oposição ou possuem vocação repressora ou receiam alienar eleitores se ousarem defender a liberdade dos eleitores. E o bom povo, ao que se depreende, prefere a subjugação mansa aos riscos da liberdade. Não há maior ironia do que, no dia em se despachou a pontapé o que restava do estado de direito, um país de súbditos celebrar a restauração da independência.

Por mim, nem sequer celebro a restauração. Disse-o e, desculpem lá, repito: não volto a nenhum tasco ou similar que exija atestado sanitário para efeitos de segregação. Aliás, não sendo crente, prometo converter-me à pressa para rezar pela respectiva falência. Em contrapartida, juro frequentar tanto quanto possa os restaurantes que se recusam a enxovalhar clientes. Vacinei-me porque achei razoável e não tenho certificado porque acho insultuoso. Nunca usei máscara na rua porque me ensinaram que gente honesta não esconde o rosto. Nunca besuntei as mãos porque a gosma suja o volante do carro. Nunca me testei porque nunca tive interesse. Nunca respeitei as “regras”. Daqui em diante, tenciono ignorar que existem: dar trela a fascistas é dar-lhes razão. Nas palavras da minha avó Luísa, o que é demais é moléstia.

Mesmo descontando o que ficou para trás, o salto entre os “melhores do mundo” na vacinação e a radical negação da eficácia das vacinas não se compreende nem se tolera. Não vou tolerar. Por vários motivos. Por egoísmo: embora um bocadinho hipocondríaco, não me apetece trocar os escassos prazeres da vida por cautelas impeditivas da dita. Por racionalidade: os factos provam que o perigo da Covid é infinitamente inferior ao perigo que a toleima vigente sugere. Por bom senso: confiar nas “medidas” expelidas pelo dr. Costa seria igual a copiar pelo teste de físico-química do macaco Adriano. Por princípio: apenas uma alforreca aceita sem hesitação a competência do Estado para decidir comportamentos ideais. Por feitio: se multidões de imbecis defendem X, eu tendo a ficar do lado de Y. Por decência: só velhacos acatam regras que discriminam o semelhante. Por exclusão de partes: não conheço uma pessoa instruída que não seja aquilo que os boçais chamam “negacionista”. Por obrigação: face à óbvia ilegalidade, afrontá-la é um dever, e aceitá-la é ser cúmplice.

A legalidade. Numerosos juristas alertam para o evidente abuso do actualestado de calamidade”, que a lei não prevê e a situação não justifica. Infelizmente, a lei e os juristas não constituem obstáculo aos apetites governamentais. Infelizmente, uns 95% dos partidos e dos “media” deixaram de entrar para as contas da democracia. Infelizmente, em vez de um presidente que cuidasse da Constituição elegemos um banhista. Infelizmente, ou não, estamos entregues a nós: contrariar a oportunidade de tirania oferecida por um surto de psicose colectiva depende de cada um. Eu farei a minha parte, nula para o país mas vital para mim. Gosto de dormir descansado, pelo menos enquanto a “variante” não me fura a parede.             CORONAVÍRUS   SAÚDE PÚBLICA   SAÚDE   DIREITO   JUSTIÇA   VÍRUS   CIÊNCIA

COMENTÁRIOS:

Paulo da Silva: Voltei a não ir a restaurantes. Estou vacinado mas se tenho que atestar a minha situação clínica para ir ao restaurante, no mínimo espero que todo o pessoal do restaurante faça o mesmo e já agora apresentem também a situação fiscal e criminal, pois não quero contribuir para qualquer ilegalidade. TheGreatDictator > TGD: Quanto mais lógica e racionalidade tentamos encontrar nestas medidas,  menos ética e moral vamos ver em quem as pratica. Se em época natalícia, de paz, amor e fraternidade nos conseguem impor estas parvoíces imaginem daqui para a frente. Temo que o ridículo ainda vá no adro...          Maria Francisca Mamede: Muito bom!!!          Alexandre Rainha: Bom artigo, parabéns!           Pedro Almeida: Os medos que os portugueses desenvolveram nos últimos anos: medo do Covid, medo do Chega, medo do Ventura, medo da Direita, medo da Extrema Direita, medo da Troika, medo de se falar bem do Passos, medo de se falar bem de Cavaco, medo de dizer mal do Costa, medo de dizer mal do PS, medo de se ter opinião sobre imigrantes, medo de falar de minorias, medo de não dizer o politicamente correcto em público e perante uma audiência. Excepção: redes sociais, comentários como aqui, e pouco mais. Só medos. A agência de comunicação do PS amestrou bem grande parte da comunicação social e dos portugueses. A democracia está amordaçada.            Alberto Borges de Sousa > Pedro Almeida: Excelente análise!           Lidia Santos > Pedro Almeida: Fantástico comentário! que análise tão lúcida!          Pedro Almeida: Um aluno tem Covid, vai toda a turma para casa 15 dias em isolamento. Um futebolista numa equipa de futebol tem Covid, só vai ele para casa, e os outros 23 do plantel continuam a ir aos treinos e no mesmo balneário. Não tem lógica! Vitor Batista: Este é para mim o melhor artigo que o AG já escreveu, tudo o que é demais chateia mas este povo manso adora a carneirice.  Já Vasco Pulido Valente fazia imensos reparos, afinal ele conhecia-os muito bem, sobre a CNN confesso que deixei de ver televisão, só dou uma espreitadela rápida e em modo "zapping ". Entretanto e a partir de hoje, a nomenclatura fará tudo para o sanear, esperemos que não.          Pedro Almeida: O problema é que só há uns números e não há outros. Exemplos: quantos alunos e turmas diariamente estão em casa por causa do Covid? Onde anda o Ministro da Educação? Desertou?       FME: Na estância de materiais onde vou regularmente buscar materiais de construção, a gerente é uma das maiores covidárias que conheci. Nunca se conformou que eu andasse por ali sem máscara, já que o escritório não ultrapassa certamente os 100 m2. No parque dos materiais, os empregados carregam sacos de cimento para as carrinhas com máscaras sebosas que são obrigados a usar. Os clientes, na sua maioria, com medo dela, também andam mascarados pelo parque e escritório. Eu tive que a confrontar com a Lei para que aceitasse que eu não era obrigado a usar máscara, nem ela o podia exigir. No dia seguinte ao anúncio destas novas restrições, passei pelo estaleiro, e mesmo antes de um bom dia, a gerente, com um indisfarçável sorriso nos olhos, avisou-me que a partir de segunda-feira só podia ali entrar de máscara. Tinha ganho. Respondi-lhe que já sabia, mas que no parque dos materiais (exterior) não era obrigado a usar máscara. Congelou. Respondeu que não era bem assim e que se ia informar melhor. Entretanto soube que já levou a 3ª dose antes de tempo, num dia de casa aberta em que andou pelo centro de vacinação a pedinchar a vacina. Para a gerente, o mundo pandémico é o seu mundo ideal. Talvez uma forma de vingança de algum trauma mal resolvido.  Um casal meu amigo, também covidários, já conseguiram levar a 3ª doses antes de tempo num dia de casa aberta. Apareceram por lá, pedincharam a vacina, e saíram de lá orgulhosamente com mais uma dose da pfizer que anunciaram nas redes sociais. Um deles estava constipado e disfarçou a constipação (o medo provoca a irracionalidade). Entretanto fecharam-se em casa, possivelmente mascarados, e só saem à rua em última necessidade. Vêem a pandemia como uma guerra e para eles a vacina tem a mesma importância das máscaras. Não serve para libertar, mas para ter o pacote completo de protecção. Uns por assuntos mal resolvidos, ou mesmo por maldade, vêem na máscara o castigo que a sociedade merece. Outros por medo, vivem como se tivéssemos sido invadidos por alienígenas imperialistas. A psicologia e a psiquiatria vão ter um grande trabalho pela frente com a reabilitação dos covidários. Não vamos conseguir livrar-nos disto tão cedo, se é que vamos conseguir libertar-nos deste novo mundo pandémico.           Vitor Batista > FME: Comentário certeiro! Os covidários trataram de fazer da nossa vida um autêntico inferno, coadjuvados pelas restrições governamentais que receio se irão perpetuar no tempo e para lá de qualquer ideia racional, a pandemia é um oásis de controle dos "carneiros" - veio para ficar.         Cupid Stunt: Certeiro! Nunca houve e continua a não haver pachorra para o que expele (LOL) o kosta.           Lourenço de Almeida: Muito bom. Ao nível das "Farpas" ou da "Funda"!

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