De João Diogo Barbosa, a respeito das intenções de chefia de Olaf Scholz, sucessor da doce Angela, nos destinos dos seus e dos outros. Mas esperemos que não seja tanto quanto deixa transparecer. A Alemanha virada à esquerda, seria coisa aberrante, mas a forma leviana em que os mundos da dependência económica - a que pertencemos com distinção, é certo – vão prosseguindo, deixa transparecer que estes já não estão preparados para uma tal fuga aos deveres dos países encarregados de os seguir, esses deveres que nos permitem continuar… a procurar, como o fez António Variações, um inconformado real, que só está bem onde não está e se cá estivesse ainda, também já se teria passado, coitado, como lá pela Alemanha e Cia.
Olaf Scholz, o futuro da esquerda europeia
Para Olaf
Scholz o risco mais evidente é o da transformação em François Hollande, também
ele um moderado improvavelmente eleito, promovido a “esperança” da esquerda
europeia e rapidamente derrotado.
JOÃO DIOGO BARBOSA
OBSERVADOR, 09 dez 2021
O
novo governo alemão chegou às notícias pela promessa de um acordo de coligação
capaz de agradar a sociais-democratas, verdes e liberais. Olaf Scholz, um
estadista improvável e chanceler de compromisso, apresentou-se em campanha como
a continuação de Merkel, mas arranca na chancelaria com planos
reformistas que surpreenderam a Europa.
A
súbita ambição de Scholz pode explicar-se pelas dificuldades de negociar uma
coligação entre partidos substancialmente diferentes, que passaram por
dificuldades nos últimos anos e não estariam necessariamente interessados na
participação num governo desinteressado em governar.
Um novo governo de esquerda que começa
por prometer mudança – e sobretudo mudanças de grande carga simbólica, como a
promessa de uns Estados Unidos da Europa, a diminuição da idade mínima para
votar ou a revisão das regras orçamentais – não é novidade. A história da última década pode escrever-se com as
optimistas capas de jornal e artigos de opinião a prometer a viragem da página
da austeridade com novos governos em França, na Grécia ou em Portugal. Para todos
eles, o tempo veio demonstrar que a realidade tem tendência a sobrepor-se à
revolução e nem sempre o mundo está disposto a seguir os ritmos de uma eleição
nacional.
Para Olaf Scholz, portanto, o risco
mais evidente é o da transformação em François Hollande, também ele um moderado
improvavelmente eleito que foi promovido a “esperança” da esquerda europeia e
acabou rapidamente derrotado nas políticas e na viabilidade eleitoral. A força de atracção desse abismo pode ser
substancial, porque a Alemanha não parece ter a tolerância francesa para
reformas – mesmo depois de 16 anos com Merkel – e porque os liberais e os
verdes terão de concordar entre si numa altura em que o debate político se
parece encaminhar para a discussão sobre o papel do Estado numa reconstrução da
economia por razões climáticas. O
paradoxo ficou eloquentemente exposto pela circunstância de aos verdes ter sido
atribuído o ministério da economia e do clima, com o propósito de gastar dinheiro
em várias “transições”, enquanto os liberais ficaram com as finanças,
presumivelmente com o objetivo de impedir a transição de dinheiro dos
contribuintes para o Estado.
A grande diferença entre Scholz e
Hollande parece ser contextual. O
ímpeto de todos esses líderes mediáticos esbarrava inexoravelmente no
consenso europeu que Merkel criou, moldou e foi sustentando. Grandes ideias de mudança à esquerda ou à direita
encontravam sempre uma hostilidade prática e aritmética, pelo facto de não ser
possível construir coligações transnacionais que lhes dessem força.
Já
não é esse o caso. A substituição da direita cautelosa de Merkel acontece
numa altura em que a esquerda perto do centro ganhou músculo nos governos
europeus. Hoje há
sete membros do Partido Socialista Europeu com assento no Conselho Europeu,
contra oito do Partido Popular Europeu. Àqueles há que juntar alguns
membros do grupo de liberais, uma massa heterogénea que tenderá a pender para a
esquerda com o atual ambiente político, sobretudo se as preocupações com o
défice e a dívida continuarem desaparecidas.
Scholz
não encontra uma União Europeia com medo de políticas de intervenção na
economia, aumentos de despesa ou promoção de valores progressistas. Entre os
líderes das maiores potências da União, Emmanuel
Macron (ministro de Hollande) em França e Mario Draghi em Itália têm uma
carreira estabelecida junto de governos da esquerda, enquanto Espanha tem um
governo que usa a pertença à esquerda como emblema identitário essencial. Com a saída do Reino Unido, a oposição mais relevante
nas discussões orçamentais encontra-se num enfraquecido governo dos Países
Baixos e, nas questões culturais, nos governos da Polónia e da Hungria.
À
partida, parece um combate desigual.
Ainda assim, seria um erro achar que agora o caminho do progresso é inevitável
e que amanhã viveremos no paraíso dos trabalhadores e do politicamente
correto. A política
europeia exige maiorias, é verdade, mas maiorias normalmente tão amplas que as
decisões se medem pela resistência dos vetos. Pode parecer difícil dizer não a
uma coligação funcional que inclua a Alemanha, a França, a Itália e a Espanha.
No entanto, é tentador ser o governo que aparece a bater o pé contra a aliança
de poderosos progressistas em nome do interesse nacional.
É provável que a política europeia
esteja prestes a mudar, mas adivinhar que essa mudança terá apenas um sentido é
não tirar lições de tudo o que nos trouxe até aqui.
João
Diogo Barbosa, jurista
(@jdiogospbarbosa no Twitter), é um dos comentadores residentes do Café Europa na Rádio Observador, juntamente com Henrique
Burnay, Madalena Meyer Resende e Bruno Cardoso Reis. O programa vai para o ar
todas as segundas-feiras às 14h00 e às 22h00.
CAFÉ EUROPA UNIÃO
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COMENTÁRIOS
ElFaz lembrar aquela célebre (e
infame) praga chinesa: que
possas viver em tempos interessantes.
noah silva: É
extraordinária, a "capacidade", a petulância de um insignificante
português, pelo menos sê-lo-á aos olhos dos alemães, que certamente não fazem a
mínima ideia de quem é o senhor José Diogo Barbosa, se arrogue a vaticinar
sobre o futuro não de um político qualquer alemão mas do novo Chanceller
alemão, Olaf Scholz. Dito
de outra forma: o sr. José Diogo Barbosa, atreve-se, ousa descrever e a
classificar a maioria dos alemães que acreditaram e votaram em Olaf Scholz,
como ignorantes e idiotas... E é
isto, tem que se dizer mal da esquerda, neste caso, de uma falsa esquerda, pois
como toda a gente sabe o SPD é um partido do centro-esquerda/centro-direita, no
fundo, é um verdadeiro partido social-democrata na senda do grande Willy Brandt
que tanto incomoda os "observadorianos" thatecharistas...
Mas
para escrever no Observador tem que se ser alinhado senão lá se vai a avença.
Elvis Wayne
> noah silva: Porquê a bandeira de Israel? É
judeu?
David Pinheiro: Para nós portugueses, pedintes, o importante é que ele seja um mãos largas.
Onde vai buscar o dinheiro pouco interessa.
João Diogo: Vamos ver se o Messias da
esquerda, não se transforma num Hollande de motoreta a fugir aos fotógrafos.
João Ramos: Perspectivas: pobre Europa…
Rogerio Russo: Li esquerda? Escreveu esquerda mesmo. Acudam à Europa.
Valha-nos Endovélico. Nunca mais nos livramos do socialismo! Nem precisaremos
mais de governo. Todos para a fila do Sidónio...
Maria Jose Amaro: interessante como uma mulher praticamente 20 anos no
poder é considerada de "cautelosa" .... que democratas estes europeus,
heim?
Mario Guimaraes: Para já o grande objectivo é combater a pandemia que
na Alemanha é catastrófica. O êxito do governo vai depender um bocado disso.
Dizem que o novo chanceler é um homem cinzento. Veremos.
bento guerra: De que se queixa a "esquerda" europeia ,com
governos em Itália, Espanha e Portugal?
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