Do ouro ou da inércia conservadora – a par
do dinamismo da imperícia, na doce paz da ignorância com que se foi apanhado na
surpresa de uma revolução traiçoeira – lá no sul, ontem, como cá hoje, esta em
povos do nordeste europeu, que isto de traição se faz sem nos darmos conta, num
repente inesperado, ontem como hoje, sejam os povos mais letrados – caso dos da
traição de hoje, a nós alheia – ou menos
letrados, como os da traição de ontem, toda nossa. O mesmo traço comum, é o da
idêntica fonte motriz, na sua origem, sem tanto dispêndio, por cá, contudo, de
forças opositoras a demonstrar coragem e amor pátrio, como é o caso dos povos
de hoje, de um heroísmo de admirável calibre, bem diverso do nosso, desprovido
de ideal, embora acolhedor dos compatriotas chutados daquele tal espaço que
julgavam seu, que Henrique Salles
da Fonseca escolhera para se fixar, também crente na sua continuidade…
REFLEXÃO COLONIAL - 4
O peso
do almirantado
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 27.02.22
O
espírito desenvolvimentista que se vivia em Moçambique durante a minha comissão
de serviço militar fez com que, uma vez passado à disponibilidade em Lisboa, me
metesse num avião de regresso à Lourenço Marques (hoje, Maputo), já como civil.
E
foi lá do fundo do mapa do Império que vi como a «evolução» do
Professor Marcelo Caetano ia sendo torpedeada pela «continuidade» do Almirante
Américo Tomás e seus apoiantes, o «Almirantado».
Numa
primeira observação, levei a crédito as já referidas 800
toneladas de oiro e a débito uma tonelagem de inércia ultra conservadora que
não consegui quantificar.
Mas
– e lá vem o tal «mas» que nos baralha os parâmetros - em 1972 o oiro foi
(internacionalmente) desmonetarizado, ou seja, deixou de servir para saldar
contas entre Bancos Centrais passando a ser um activo em mercado livre
(privado) controlado por relativamente poucos «especialistas» que não brincam
em serviço. Quer isto dizer que ao primeiro sinal de que um banco
pretende comprar oiro, a cotação sobe à estratosfera e ao primeiro sinal de que
um banco quer vender oiro, a cotação desce às profundezas infernais. Daqui resultou que as tais
reservas de oiro serviam para muito menos do que poderíamos imaginar e menos
ainda do que poderíamos desejar.
Portanto, mais valendo tê-lo do que não tê-lo, havia que
encontrar soluções de viabilização do modelo económico sem chegarmos a
insolvências e, se tal acontecesse mais uma vez, não contássemos com essa
«pesada herança» amarela[1].
E
se com o oiro as habilidades não seriam muitas, com o «deadweight» do
Almirantado, a inércia faria esticar o reboque e a deriva passar a desnorte.
Contudo e apesar do «deadweight» do Almirantado, Portugal conseguiu durante o
consulado marcelista alcançar taxas de crescimento raras na nossa história
económica e que deixariam saudades.
Entretanto,
não tive a confirmação da notícia que então circulou de que o Professor Marcelo
Caetano, já então Presidente do Conselho, tinha estado
confinado durante uma semana no Palácio de Queluz às «ordens» de Américo Tomás[2].
A ideia da
evolução controlada das colónias para uma autonomia progressiva e uma futura
independência cordata com a Metrópole acabou por ser um fiasco depois dos
entorces impostos pelo Almirantado e foi já em clima de pré-ruptura com o
«Estado Novo» que o General Spínola, se montou na ideia do Professor
Marcelo Caetano publicou esse sucesso editorial que foi «Portugal e o
futuro».
A
partir daqui, o «caldo entornou-se» cada vez mais e foi só esperar
pelo golpe comunista em 25 de Abril de 1974.
Passadas as colónias portuguesas para
o domínio soviético, cesso aqui este enquadramento e passo-me para uma reflexão
pós-colonial.
Fevereiro
de 2022
[1] - Um agradecimento especial ao meu colega António Palhinha
Machado pela memorização deste ponto
[2] O Professor António Alves Caetano apenas
me confirmou que o seu irmão gostava muito de trabalhar no Palácio de Queluz
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história
COMENTÁRIOS
Anónimo 27.02.2022: Concordo
com tudo menos com o golpe comunista do 25 de Abril. A esquerda foi tomando
conta do poder porque a direita não foi capaz de se organizar a tempo. Direi
melhor que o centro não se soube organizar a tempo. Mas é assunto que merece
mais conversa presencial porque escrever no telemóvel é complicado. Abraço José
Diogo Themudo
Adriano Miranda Lima 27.02.2022: Estou com o anterior comentador, quando concorda com
tudo menos com o classificar de golpe comunista o que foi desencadeado em 25 de
Abril. Embora o partido comunista tenha tentado apoderar-se do golpe, com
muitas vicissitudes e sobressaltos de permeio, sua autoria só pode ser
creditada aos militares. Se entre estes sugiram alguns que desgraçadamente
se deixaram manipular ingenuamente, isto é outra coisa. E no que respeita às
colónias, curiosamente estou de acordo com Salazar quando denuncia que a
descolonização dos territórios africanos foi precipitada e atabalhoada e
obedeceu apenas aos interesses geopolíticos da Rússia. Repare-se que privar
os países europeus dos recursos provenientes das suas colónias significou
enfraquecer o poder económico e político daqueles, que era o objectivo
estratégico da Rússia. Em todo o processo Moscovo agiu simplesmente em
função dos seus interesses, jamais inspirado por ideais libertários e
humanitários, até porque a sua própria política interna se traduzia em perfeita
negação desses ideais, Não me esqueço desta curiosa afirmação do Samora Machel
a seguir à independência de Moçambique: "os portugueses ao menos nos
tratavam como pretos, enquanto os russos como macacos".
Henrique Salles da Fonseca 28.02.2022 10:12:
Não foi um golpe
comunista!!! E isto digo-te eu, que o fiz no Terreiro do Paço e entrei no seu
planeamento. Os comunistas , únicos que estavam organizados, rapidamente
tomaram conta do processo, porque muito embora estivessem na sombra, tinham os
seus pontas metidos no Movimento. Disso não há a mínima dúvida. Mas o 25 de
Abril em si, NÃO FOI um golpe comunista. Podes ter a certeza. E isto digo-te
eu, que até estive preso em Caxias depois do 11 de Março de 75. Grande abraços A. José Henriques
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