Tenebroso, o
contado por Teresa
Côrte-Real, de uma História acidentada, (sobre
um país cuja odisseia oceânica, amorosamente e exemplarmente exposta por Luís de Camões, há cerca de 450 anos, foi “Em Outubro traduzida e editada na Turquia”, segundo informação que colho em epígrafe da reportagem de Manuel Luís Queirós, do Público de 29/1/22 – “Camões chega aos leitores
muçulmanos com 450 anos de atraso”, epígrafe
complementada com “Há quinze dias, a Livralia Lello lançou uma tradução árabe (no Dubai”, (tradução feita pelo professor tunisino
Abdeljelil Larbi).
“Em Março, sai uma versão indonésia” (em 12 de Março, em tradução pelo professor Danny Susanto, da Universidade da Indonésia) –
para transmissão em youtube.)
Um texto que denota
amor por Portugal e a sua História, o de Teresa Côrte-Real, naturalmente de
mágoa crítica, o que nos aquece a alma - que o texto sobre as traduções em
árabe dessa obra monumental camoniana, que tanto e há tanto tempo mereceria ser
divulgada - reforçou, no prazer da sua recente expansão literária.
Mas a figura de D. Carlos sai enobrecida no seu patriotismo e coragem de estadista, que oxalá
servisse de estímulo a uma valorização deste espaço territorial hoje ínfimo,
mas que deixou obra.
D. Carlos e nós
Sem a visão de D.
Carlos, a presença portuguesa em África teria sido absorvida pelos interesses
das grandes potências europeias e grande parte do que é hoje a comunidade
lusófona não existiria.
TERESA CÔRTE-REAL, Dirigente associativa
OBSERVADOR, 01 fev 2022
Num 1 de
Fevereiro um homem que não tinha medo foi morto ao chegar a Lisboa por quem
pensava que com ele desapareceria uma dada ideia de país e de sociedade. E a
verdade é que, como disse o Professor Adriano Moreira, depois do seu
assassinato o país nunca mais se reconciliou em pleno com a figura do chefe de
estado. Sabe-se o porquê (ou parte dele), conhecem-se alguns dos apoios externos, a
actuação da Carbonária e a ligação ao Hospital Inglês, nomes de mandantes e
actuantes, alguns deles directamente relacionados com a República que viria
dois anos depois.
O perigo era
conhecido mas o sentido de dever deste homem, mais forte. Tal como agora, o
país precisava de confiança. E D. Carlos, neto do unificador de Itália, sabia a
importância de cada gesto e de cada posição a tomar.
Exemplar na forma plena com que
desempenhou o seu papel constitucional de Rei moderador, quis mudar o país, deu
exemplo e pagou com a vida o seu amor a Portugal. Muito para além do seu
tempo, impulsionou o conhecimento do Mar e da Ciência, promoveu a Cultura e as
relações diplomáticas e uma dada forma de ser português. Foi um espírito livre
e aberto que quis fazer um país diferente. O primeiro dos portugueses, como gostava
de ser conhecido. Não ficou por aquilo que dele era esperado, foi muito mais do
que isso.
Percebendo a importância do Portugal Atlântico, do
reforço da soberania e do equilíbrio geopolítico que se desenhava a nível
mundial, contribuiu para a reestruturação do Exército e da Marinha e escolheu
entre os melhores aqueles que enviou para os territórios africanos em missões
de reconhecimento que se viriam a revelar decisivas ao longo de todo o século
XX. Sem o seu impulso e a sua visão, a presença portuguesa
em África teria sido absorvida pelos interesses das grandes potências europeias
e grande parte do que é hoje a comunidade lusófona não existiria. Talvez seja também essa uma das chaves para
compreender as verdadeiras razões do seu assassinato. Sem um chefe de estado em
Portugal com as características de D. Carlos ficava o caminho mais facilitado
para que as colónias portuguesas fossem divididas entre Inglaterra e Alemanha,
num efeito semelhante ao que se verificará mais tarde entre os EUA e a URSS.
Independentemente da nossa posição ideológica, é
evidente a necessidade de uma liderança cuja capital seja capaz de reposicionar
Portugal no plano mundial. Quem matou o Rei contribuiu para a perda do rumo do
país no último século mas não destruiu o desígnio nacional de elo de ligação
entre a Europa e o resto do mundo que é o nosso. O verdadeiro legado do
português que foi o Rei Dom Carlos continua vivo. Para que, como num dos seus
mais bonitos quadros, a Noite se torne Dia. Como ele gostaria de ser
lembrado: ao leme, olhando em frente. Ouvindo todos, percebendo o presente e
preparando o futuro. D. Carlos e nós.
HISTÓRIA CULTURA LUSOFONIA MUNDO MONARQUIA SOCIEDADE
COMENTÁRIOS:
Maria Nunes:
Um Rei muito à frente do seu
tempo e cuja obra não é praticamente conhecida dos portugueses.
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