Colado à esquerda, a um tal partido que atraiçoara
o país e que Rio não questionou na sua traição, substituindo-se ele
próprio a um lutador patriota que foi Passos Coelho - desaparecido, esse, na
teia desprezível forjada por um partido que assim embalou o país na falta de escrúpulos
da sua geringonça de “doutrinação” amaciadora e branqueadora dos modelos mais escrupulosos
de comportamento, numa pseudo doutrina acarinhadora dos necessitados e destruidora
da produtividade, por conta impudente do amparo exterior. Isso não retirou a Rio os seus
afectos interesseiros à esquerda, em atitude dúbia da sua conveniência, que é
claro, não enganou Costa, nem os de direita a que ele se quis colar finalmente - infrutiferamente, de resto. Confiados que estamos todos, no conforto palavroso de um Costa vencedor. E convencedor.
Vae victis.
PSD: um partido sem identidade e sem doutrina
O PSD é um partido perdido, sem rumo
político, sem orientação ideológica e sem doutrinas. Não sabe para que
eleitores fala nem quem são os seus principais adversários ou os seus
principais aliados.
JOÃO MARQUES DE ALMEIDA Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 09 fev 2022
Hoje,
ninguém sabe o que é o PSD. É um partido do centro? Muitos dizem que
sim. É um partido do centro esquerda? O ainda líder Rui Rio situa-se aí
e jura que o partido não ganha eleições sem os votos do centro esquerda.
Aparentemente, esses eleitores não confiam no PSD mesmo com um líder da sua
área política. É um partido de centro direita? Muitos também dizem que
sim. Na verdade, os dirigentes e militantes do PSD querem convencer os
portugueses que o partido vai do centro esquerda ao centro direita. Como se viu
no dia 30 de Janeiro, os portugueses não estão convencidos.
Esta
ambiguidade ideológica costuma ser acompanhada por um enorme pragmatismo. Ainda de
acordo com muitos dos seus dirigentes, o PSD adopta as políticas que são
positivas para Portugal, sejam de esquerda ou de direita. Vamos
assumir que a ambiguidade e o pragmatismo funcionaram no passado, mas a questão
central hoje é saber se essa mistura funciona no futuro.
No
pensamento dominante no PSD, o apogeu da ambiguidade entre o centro
esquerda e o centro direita e o pragmatismo das políticas públicas funcionaram durante
as maiorias de Cavaco (não foi totalmente assim, mas é uma interpretação
plausível). No entanto,
na segunda metade da década de 1980 e na década de
1990, o mundo, a Europa e Portugal eram muito diferentes. Foi um período sem grandes debates ideológicos e que assistiu ao triunfo do pragmatismo do centro, desde as
maiorias de Cavaco e as vitórias centristas de Chirac, mais à direita, até à
terceira via de Clinton, Blair, Gonzalez e Schroeder, mais à esquerda. Dos Estados Unidos à Europa, vivia-se num consenso
centrista (as extremas esquerdas falavam do “consenso neo-liberal”), que
permitiu ao PSD o luxo do pragmatismo e de não ter que escolher onde estava. De resto, em termos de posicionamento político, o PSD é
um caso único na Europa. Foi criado como partido “social democrata” logo após o
25 de Abril; quando Portugal entrou nas Comunidades Europeias, o PSD aderiu ao
grupo liberal; e agora está sentado no Parlamento Europeu ao lado dos
democratas cristãos e dos conservadores. Foi esta ambiguidade radical que permitiu a muitos no
PSD simplesmente afirmarem que o partido estava ao serviço do desenvolvimento
económico do país, sem preocupações ideológicas ou doutrinais.
Esse
mundo, essa Europa e esse Portugal acabaram, e o PSD não notou. Aliás, para
Rui Rio, que ignora absolutamente as questões de cultura e doutrina
políticas, seria impossível notar. Muita
coisa mudou desde o apogeu político do PSD, durante a década das maiorias
absolutas Cavaquistas. No início do século, assistimos aos ataques
terroristas nos Estados Unidos e às subsequentes guerras no Afeganistão e no
Iraque. Poucos anos
depois, tivemos a crise
financeira global e a crise da zona Euro.
Estas crises sucessivas e as respostas dadas por governos e por partidos
políticos levaram a uma radicalização da política e ao regresso das
ideologias. A
ideologia nunca foi tão importante desde meados do século XX como é hoje.
Em Portugal, as esquerdas perceberam
e ajustaram-se mais rapidamente a este novo mundo mais ideológico. A troika e
a receita da austeridade viraram o PS à esquerda. Mas a maioria absoluta de Janeiro não levou o PS da
esquerda para o centro. As esquerdas radicais juntaram-se ao PS para conquistar
a maioria absoluta. Pelo contrário, o PSD ficou parado. Mesmo nos
consulados de Durão Barroso e de Passos Coelho, o partido teve grandes
dificuldades para combater a radicalização das esquerdas contra o “Iraque” e
contra a “troika”. Mas com Rio, o PSD perdeu definitivamente a sua
identidade política. Apesar do seu sucesso, o pragmatismo centrista do
Cavaquismo já não serve para o século XXI, e Rio nunca soube encontrar um novo
rumo.
O
regresso da ideologia cativa os eleitores na Europa e em Portugal. Na
Europa, tem sido visível desde a coligação das esquerdas em Espanha, até ao
Brexit no Reino Unido passando pelo crescimento de partidos populistas e dos
Verdes em vários países europeus. Os
eleitores portugueses estão também mais abertos a argumentos ideológicos. Hoje
em dia a maioria dos eleitores está ligado ao que se passa no resto do mundo e
da Europa, e os debates ideológicos chegam a Portugal. Isso foi
claro nas direitas com o apelo do Chega e da IL a diferentes eleitorados. Mas também se nota no eleitorado centrista, aquele que
oscila entre o PS e o PSD. Rio e os dirigentes sociais-democratas cometeram outro
erro ao julgar que centrismo significa um discurso não-ideológico. Veja-se o caso de Macron em França. Criou um movimento político centrista
mas com uma dimensão ideológica muito forte. Em
Portugal, o eleitorado do centro virou à esquerda porque o PSD e Rio deixaram o
PS, o Bloco e o PCP imporem a sua visão do que aconteceu em Portugal
entre 2011 e 2015. Hoje, a maioria dos portugueses acredita na interpretação
das esquerdas sobre a “austeridade”. Mais
uma vez, Rio perdeu por falta de comparência. E não
podia ser de outro modo. A vontade e o empenho em construir uma interpretação
da história exige compromisso ideológico. Foi
o que as esquerdas fizeram em relação à “austeridade”, e o que o PSD de Rio
nunca foi capaz de sequer começar a fazer. Do ponto da vista da direita, não se consegue defender
a herança do governo PSD-CDS de 2011-2015 sem recorrer a argumentos ideológicos. A última campanha eleitoral foi impressionante. Todos
os partidos usaram uma linguagem ideológica, com excepção do PSD. Parecia um
partido do século XX a fazer campanha no século XXI.
Hoje,
o PSD é um partido perdido, sem rumo político, sem orientação ideológica e sem
doutrinas. Não sabe
para que eleitores fala, não consegue explicar as políticas públicas que
defende, desistiu de defender a sua história recente, e nem sequer sabe quem
são os seus principais adversários (o PS ou o Chega?), nem quem são os seus
principais aliados (o PS, a IL ou o CDS?). A
identificação de aliados e de adversários é o primeiro passo da vida política. Como é que o PSD pode crescer se não sabe o básico
e o essencial? Se o PSD quiser voltar a ser um grande partido, terá que
encontrar uma identidade, uma orientação ideológica que sirva como um guia para
as políticas públicas e um posicionamento partidário que faça sentido. Duvido que neste momento o partido esteja preparado
para esses debates e que haja algum dos candidatos à liderança que entenda os
grandes desafios que o PSD enfrenta. Espero estar enganado, mas estou muito
pessimista em relação ao futuro do PSD. Parece-me que o partido precisa de um
grande trabalho de educação política, cultural e histórica.
COMENTÁRIOS
Pedro Eiras Antunes: Belo artigo, com análise fina e acutilante. Parabéns! Vitor Batista: O PSD precisa de se desfazer
dos condes e Barões, ouvir os militantes de base afirmar-se como um
partido de direita que capta votos ao centro, e não ter vergonha de defender os
seus antigos líderes que foram primeiros ministros ,os únicos que souberam
fazer crescer e modernizar Portugal, não pode continuar a dar a mão a um
partido miserável como é o ps. António Lamas: Brilhante. RR é um contabilista capaz de
governar uma Câmara, nunca um país Sandra Ramalhais: Muito de acordo com a sua
análise. Ao contrário do que muitos pensam, da imensidão de coisas erradas e
ignorantes feitas pelo rioísmo, nenhuma tem a gravidade ou é mais danosa para a
Direita, no curto, no médio e no longo prazo, do que a sua passividade e
mesmo colaboracionismo com a vigarice histórica e o reescrever da História
pelas esquerdas em relação ao branqueamento da bancarrota socialista e à fábula
da 'austeridade'. Cipião
Numantino: Sun Tzu, na sua Arte da Guerra, explicou há muitos
anos que o combate político tem de ser feito elegendo um inimigo concreto.
Foi justamente por isso que, por exemplo o Chega, deu este salto tremendo em
tão acentuado e escasso limite de tempo, elegendo um adversário, bem concreto e
definido que oscilou entre aquela etnia que não se pode mencionar e a
omnipresente subsídio-dependência. Repare-se: eu não estou a elaborar e
ainda menos a concordar com tal conceito limitando-me, tão só, a esclarecer o
consequente efeito. Ora, o PSD, já há muitos anos que não tem um adversário definido. E
numa espécie de abrangente albergue espanhol vai oscilando entre trejeitos
marialvistas e omissões perigosas num partido de tipo fofinho que quer agradar
a todos e, por consequência, nunca poderá agradar a ninguém. De resto como
é sabido e consabido, essa é a praia exclusiva do PS. O que se seguiu ao consulado de
Passos é mesmo de bradar aos céus. Creio ser caso único na História recente
semelhante e tão tremendista inépcia. Conseguir encaixar a acusação de que o
Passos cortou a reforma de pensionistas, é obra. Deixando igualmente por
arrasto convencer o povão que foram eles os malfeitores que chamaram a troika,
nem sequer ocorreria ao careca arcar com semelhante anátema. Já na era Passista se fez pouca
ou nenhuma oposição, logo que ficaram arredados do poder após a golpada
geringoncista. Agora, com Rio, foi mais que inépcia ausentar-se de fazer oposição.
Foi, para mim, um autêntico crime e será um "case study" que os
politólogos irão escalpelar até ao tutano. A táctica Rioísta foi simples. Fazer-se de morto foi
uma delas. Esperar por um Godot imaginário, outra. Aguardar que o povão
interessado e interesseiro esquecesse as "afrontas da troyka" foi
mais uma que só a teimosia aparentemente suicida de Rio e seus comparsas não
anteviram. Finalmente poderia ter aprendido algo com Talleyrand, que referindo-se aos fidalgos
que regressavam após a queda de Napoleão logo balbuciou para pessoas próximas
" eles, não aprenderam nada e não esqueceram nada". Rio esqueceu-se que as pessoas têm
memória. Uma memória de elefantes especialmente quando lhes atacam os seus
interesses, sejam este justos ou espúrios. E falhou! Se a lógica não é mesmo uma batata podre, só
podia mesmo falhar. Não é mesmo?... josé maria: PSD: um partido sem identidade
e sem doutrina. Só agora é que reparou nisso, JMA ? Essa indefinição
ideológica já vem de muito longe, pelo menos do tempo em que você foi assessor
político do ex-marxista-leninista-maoísta-estalinista Durão Barroso.
Não deixa de ser curioso que um
partido, que Sá Carneiro tentou inscrever na Internacional Socialista, depois
tenha integrado o PPE....
Óscar Alhinho > josé maria: Durão Barroso, o cherne-maçon. Óscar Alhinho: O partido dos bilderberguers,
maçons, judeus e sabe Deus que mais. Era uma questão de tempo, o fim chegou.
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