quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Manobras para apocalipse?


Eles lá a Leste, talvez precisem de uma nova revelação de Jesus Cristo. Nós, os de cá, contentávamo-nos com uma nova aparição, lá, na azinheira… Da Nossa Senhora, mais branda, segundo os nossos costumes … Até recordo o Fernando Pessoa da brincadeira com as palavras e os sons, que também nos quadram, numa conjuntura danada em perspectiva:

Em horas inda louras, lindas
Clorindas e Belindas, brandas,
Brincam no tempo das berlindas,
As vindas vendo das varandas,
De onde ouvem vir a rir as vindas
Fitam a fio as frias bandas.

Mas em torno à tarde se entorna
A atordoar o ar que arde
Que a eterna tarde já não torna!
E o tom de atoarda todo o alarde
Do adornado ardor transtorna
No ar de torpor da tarda tarde.

E há nevoentos desencantos
Dos encantos dos pensamentos
Nos santos lentos dos recantos
Dos bentos cantos dos conventos....
Prantos de intentos, lentos, tantos
Que encantam os atentos ventos.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

A difícil escolha de Putin

A propaganda russa faz-me lembrar o seguinte ditado soviético: “Não irá haver guerra, mas terá lugar uma luta tão intensa pela paz que não ficará pedra sobre pedra”.

JOSÉ MILHAZES, Colunista do Observador. Jornalista e investigador       OBSERVADOR, 08 fev 2022

Vladimir Putin deverá sentir-se um dirigente feliz, um autocrata que impõe medos dentro e fora do seu país, que obrigou todo o mundo a ouvir José Milhazes, a sua voz de trovão.

Diariamente, ele recebe um ou vários telefonemas de dirigentes de outros países a propósito do alargamento da NATO, da situação em torno da Ucrânia, sucedem-se as visitas a Moscovo de presidentes e primeiros-ministros para se encontrarem com ele e abordarem os mesmos temas. Nunca antes Putin se sentiu um líder tão temido (recuso-me a empregar o adjectivo respeitado, pois ele não se adequa à política do autocrata russo) como actualmente. A sua política de “pressão permanente” está a surtir efeito, criando uma atmosfera de histeria na Rússia e no Ocidente.

Não faltam na Rússia cabeças delirantes que apelam não só a uma invasão da Ucrânia e muito mais. Margarita Simonyan,  chefe do canal propagandístico Rússia Today, perguntou, em nome dos seus seguidores nas redes sociais, a Serguei Lavrov, dirigente da diplomacia, quando é que a Rússia irá “fazer Washington ir pelos ares?”. O ministro russo respondeu, utilizando a fórmula oficial: “Não queremos guerra. Mas também não permitiremos que espezinhem os nossos interesses, que os ignorem”.

Serguei Soloviov, que dirige um dos programas onde mais se ataca a Ucrânia na televisão russa, não quer ficar atrás no discurso e, durante uma discussão sobre um possível ataque da NATO contra Kalininegrado, grita: “Nós abriremos imediatamente fogo e nada lá restará. Golpe imediato. Putin disse uma vez que atacaremos tanto os quarteis-generais como os lugares onde são tomadas semelhantes decisões”.

O líder palhaço-nacionalista, Vladimir Jirinovskii, que diz aquilo que realmente vai na cabeça de alguns dirigentes russos, afirma em mais um programa televisivo: “Como resultado das acções militares, passaremos a ser a única superpotência no mundo. Só Moscovo ditará as condições… Utilizaremos todos os nossos armamentos, mesmo aqueles que vocês não conhecem… Arderá metade da Europa, metade da América… Nós também iremos sofrer, mas será o vosso fim… A destruição das vossas forças armadas, do sistema financeiro, da vossa direcção. Não existirá qualquer Ucrânia. Esqueçam essa palavra… Vamos ter todo o mundo ajoelhado a nossos pés… É preciso fazer isso imediatamente…”.

A propaganda russa faz-me lembrar o seguinte ditado soviético: Não irá haver guerra, mas terá lugar uma luta tão intensa pela paz que não ficará pedra sobre pedra”.

Deste lado saem também expressões semelhantes da boca de alguns políticos, comentadores e jornalistas, pois nesta crise não há santos e pecadores.

Foram cometidos muitos erros de parte a parte e devem ser emendados. Nesse sentido, seria importante dar ouvidos às vozes sensatas. Uma delas é o general-coronel na reserva Leonid Ivashov, que, entre 1996 e 2001, esteve à frente da Direcção Principal de Cooperação Militar Internacional do Ministério da Defesa da Rússia. Trata-se de um militar nacionalista, o que mostra que não é só a fraca oposição liberal que critica a política de Putin face à Ucrânia e à NATO.

Em nome da União dos Oficiais da Rússia, organização que reúne militares na reserva, Ivashov,  dirigiu a Vladimir Putin uma dramática mensagem.

Peço desculpa ao leitor, mas vou traduzi-la integralmente para que não seja acusado de má-fé. Esta organização afirma: “Hoje, a humanidade vive na expectativa de uma guerra. E a guerra significa inevitáveis vítimas humanas, destruições, sofrimentos de um grande número de pessoas, o fim do modo de vida normal, a destruição de sistemas vitais de funcionamento de Estados e povos. Uma guerra grande é uma enorme tragédia e um crime grave. Acontece que no centro desta ameaçadora catástrofe está a Rússia. E pela primeira vez na sua história.

Antes, a Rússia (URSS) conduziu guerras inevitáveis (justas) e, guerra geral, quando não havia outra saída, quando estavam sob ameaça os interesses vitais do Estado e da sociedade.

E o que é que hoje ameaça a existência da própria Rússia, há semelhantes ameaças? Pode-se afirmar que, realmente, as ameaças estão à vista: o país está no limiar de terminar a sua história. Todas as esferas vitalmente importantes, incluindo a demografia, degradam-se constantemente e os ritmos de redução da população batem recordes mundiais. E a degradação tem um carácter sistémico e, em qualquer sistema complexo, a destruição de um dos elementos pode conduzir à queda de todo o sistema. E, pensamos nós, esta é a principal ameaça para a Federação da Rússia. Mas esta ameaça tem uma natureza interna, que parte do modelo de Estado, da qualidade do poder e da situação da sociedade. E as causas do seu aparecimento são internas: a inviabilidade do modelo estatal, a total incapacidade e falta de profissionalismo do sistema de poder e administração, a passividade e desorganização da sociedade. Nenhum país viverá muito nestas condições.

No que respeita às ameaças externas, elas estão incondicionalmente presentes. Mas, segundo peritagens nossas, elas, actualmente, não são críticas, não ameaçam directamente o Estado da Rússia, os seus interesses vitalmente importantes. Em geral, conserva-se a estabilidade estratégica, as armas nucleares estão seguras, os contingentes da NATO não aumentam, não há sinais de actividade ameaçadora.

Por isso, a situação crescente de tensão em torno da Ucrânia tem, antes de tudo, um carácter artificial, mesquinho para algumas formas internas, nomeadamente da Rússia. Como resultado da desintegração da URSS, em que a Rússia (Ieltsin) teve uma participação decisiva, a Ucrânia tornou-se um Estado independente, membro da ONU, e, em conformidade com o artigo Nº 51 da Carta da ONU, goza do direito à defesa individual e colectiva. A direcção da Federação da Rússia não reconheceu até agora os resultados do referendo sobre a independência da República Popular de Lugansk e da República Popular de Donetsk, nomeadamente no processo do Processo de Transição de Minsk, sublinhou a pertença desses territórios e da população à Ucrânia. Também nada se disse a alto nível sobre o desejo de manter relações normais com Kiev, não destacando relações especiais com Donetsk e Lugansk.

A questão do genocídio por parte de Kiev nas regiões do sudeste não foi levantada nem na ONU, nem na OSCE. Claro que para que a Ucrânia se mantivesse um vizinho amigo da Rússia, seria necessário demonstrar-lhe o poder atractivo do modelo russo de Estado e de sistema de poder.

Mas a Rússia não fez isso, o seu modelo de desenvolvimento e o mecanismo político de cooperação internacional afastam praticamente todos os vizinhos, e não só. A inclusão da Crimeia e de Sebastopol pela Rússia e o não reconhecimento disso pela comunidade internacional (ou seja, a esmagadora maioria dos Estados do mundo continua a considerá-los parte da Ucrânia) mostra claramente o falhanço da política externa russa e a falta de atracção da interna.

As tentativas, através de ultimatos e ameaças de emprego da força, de obrigar a “amar” a Federação da Rússia e os seus dirigentes não têm sentido e são extremamente perigosas.

O emprego da força militar contra a Ucrânia, primeiro, põe em causa a existência da Rússia como Estado; segundo, fará para sempre dos russos e ucranianos inimigos mortais. Terceiro, haverá de ambos os lados milhares (dezenas de milhares) de jovens mortos, o que se reflectirá incondicionalmente na nossa futura situação demográfica nos nossos países em extinção. No campo de batalha, se tal acontecer, as tropas russas enfrentarão não só militares ucranianos, entre os quais haverá muitos jovens russos, mas também soldados e armamentos de muitos países da NATO e os Estados membros da Aliança deverão declarar guerra à Rússia. Erdogan, Presidente da Turquia, declarou claramente de que lado irá a Turquia combater. E pode-se prever que à Turquia será ordenado “libertar” a Crimeia e Sebastopol e, possivelmente, invadir o Cáucaso.

Além disso, a Rússia será evidentemente incluída na categoria dos países que ameaçam a paz e a segurança internacional, sofrerá sanções pesadíssimas, transformar-se-á num pária da comunidade internacional, e, provavelmente, ver-se-á privada do estatuto de Estado independente.

O Presidente, o Governo e o Ministério da Defesa não serão tão tontos para não compreenderem essas consequências”.

Isto deveria fazer pensar os analistas políticos que justificam a limitação da soberania da Ucrânia e a invasão deste país pela Rússia. Vladimir Putin, ao apresentar o ultimato aos Estados Unidos e NATO, como que subiu a uma árvore muito alta e agora não sabe como descer. Esperemos que desça de forma a não provocar estragos ao seu país e ao mundo.                         UCRÂNIA   EUROPA   MUNDO    VLADIMIR PUTIN 

COMENTÁRIOS

maria ribeiro: A direita portuguesa deve tornar-se nacionalista como está a acontecer em toda a Europa e no Sul Global. A Rússia derrotou o comunismo e o internacionalismo.  Agora não queremos ser vassalos de ninguém, não somos pela Eurásia nem pelo Atlântico, somos por Portugal. Devemos ter um olhar de Janus, olhar para os dois lados e, caso a caso, escolhermos o que é melhor para o nosso país. Os nossos pais, na 1ª ou na 2ª Republicas, foram, com todos os seus defeitos, defensores de Portugal , parece que a 3ª República abdicou da soberania e quer atrelar-se automaticamente aos interesses estrangeiros. Vai chegar o momento em que "a direita" voltará a ser nacionalista.     Carlos Caseiro Казейру Карлуш: Acho estranho que pessoas com conhecimento directo da forma como os direitos e as garantias dos cidadãos ucranianos são ignorados pelo governo ucraniano, continuem a achar que o que a Ucrânia precisa é de armamento.  Se o Canadá ou a Suíça, por exemplo, são países com mais uma língua oficial, que mal faria que a Ucrânia procedesse da mesma maneira, unindo toda a população, em vez de proibir o uso desse idioma hostilizando um terço da sua população. Se existe um documento assinado entre os representantes oficiais do Governo ucraniano e os separatistas de Donetsk e Lugansk (sob a supervisão de Berlim, Paris e Moscovo, por que razão Kiev insiste em resolver a questão por meio da força? Toda esta propaganda, com origem do outro lado do Atlântico, tem apenas como finalidade destabilizar a paz na Europa. Daí as visitas constantes de representantes Franceses e Alemães a Moscovo e a recusa do Governo alemão em fornecer armamento à UcrâniaEnquanto nos obrigam a acreditar que a Rússia e a Ucrânia estão em guerra, os ucranianos em geral já desligaram de toda e qualquer informação e propaganda e continuam a fazer uma vida normal. Já perceberam que não têm futuro naquele país e procuram uma vida melhor no estrangeiro, inclusive na Rússia. No fundo a guerra está relacionada com um assunto que nos afecta a todos: desde Janeiro do ano passado os combustíveis ficaram mais caros cerca de 30%. Isto porque, por causa das sanções à Rússia, a Europa teve que procurar alternativas mais caras para se poder aquecer no Inverno, acabando a própria Rússia por ganhar com isso ao vender o seu gás mais caro através dos contratos a curto prazo                PortugueseMan > Carlos Caseiro Казейру Карлуш: Você é ucraniano ou tem familiares? Pergunto isto pelo nome que aparece.        Vasquez da Gama: Força Putin, o defensor do Cristianismo e da palavra de Jesus no Séc XXI!             Alberto Rei: quer dizer, temos todos de viver debaixo do diktat americano, os bons da história, os democratas, etc, etc. Milhazes, julgo que se deve ver as coisas de um outro prisma, o da desconfiança, isto sem prejuízo de criticar Putin, mas os americanos só dão um presunto a quem lhes dê um porco. gente imperialista, a sério.         Carlos Dias: Obrigado pelo texto deste comentário porque me fez pensar. É tempo de os ideólogos perceberem que cada um pensa por si e quanto mais pensar melhor para todos nós, As revoluções não trazem mudança se forem impostas Trazem imobilismo, injustiça e desigualdade mesmo quando são feitas com propósitos contrários. Só a liberdade política, económica e social de cada cidadão pode trazer um dia o homem novo. As utopias políticas quando impostas a uma sociedade durante muito tempo deixam uma descendência de súbitos órfãos e carentes de maior submissão. Alguns países elegem democraticamente a mesma pessoa muitas vezes por receio de mudar para pior. Os autocratas adoram sociedades com maioria de cidadãos avessos à mudança e alheios aos princípios que definem o homem livre, os princípios da honra. É caricato que um país como a Rússia que foi berço de uma revolução tão inspiradora como a comunista seja hoje governada por um Autocrata mais poderoso que um Kzar e o seu povo seja tão mansinho e obediente. Se calhar a revolução falhou. Ou então pariu um rato.             Vasquez da Gama > Carlos Dias: Inspiradora? Para quem? Não foi prós Russos de certeza!          Carlos Dias: Estava a ser irónico, A Rússia é hoje uma autocracia pura e como se não bastasse, o autocrata supremo é gatuno, megalómano, vaidoso e com sinais evidentes de distúrbios. É preocupante e espero que o Putin tenha azar com a saúde dele antes de lixar a nossa.          Julius Evola: Então o Putin não quer ficar cercado por todos os lados pela NATO? Que malvado, ele não vê o paraíso que a NATO criou na Jugoslávia, Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão, etc.??           Filipe Costa: Dentro da minha humildade, lhe digo que tento perceber este conflito, a sua sabedoria acerca da vida Russa, ajuda-me a entender melhor. Tenho lido mais dois opinadores, de cujo nome não me lembro, mas escrevem na Sábado e no DN. A sua análise vai sempre mais além, tenho uma pergunta. A Rússia ficando um estado pária, não será um incentivo a usar as armas nucleares?    Rui MendesFilipe Costa: Excelente pergunta!!!          Milhazes JoséAUTOR > Filipe Costa: Tudo é possível.             Rui Mendes > Milhazes José: Por tudo eventualmente ser possível, a abordagem incendiária q tem sido feita da "crise ucraniana" e da "invasão iminente", nomeadamente pelos USA, pelo UK, pelo secretário-geral da NATO prova que são de uma irresponsabilidade sem paralelo na história recente (e não só). Basta recordar a crise dos mísseis em Cuba, para que se tornem evidentes as diferenças.            Miguel Nobre Leitão > Filipe Costa: Duvido muito que a Rússia ouse utilizar armas nucleares contra um País que não possui isso e que não está em guerra com a Rússia. Se a Rússia fizer isso, fica sem economia em 3 tempos e sem territórios. Putin sabe disso, e se calhar, seria a primeira cabeça a rolar.        Rui Mendes: Lamento dizer mas o texto do José Milhazes é de uma desonestidade intelectual flagrante. O José Milhazes é apenas um entre as muitas centenas de portugueses que falam russo (de esquerda, de direita, ou mesmo sem preferências ideológicas "demasiado cristalizadas") e que acompanham diariamente as televisões/jornais e/ou a Internet/redes sociais russas (mt plurais, em q há mt espaço para o "contraditório"). O texto do general-coronel na reserva Leonid Ivashov que o José Milhazes traduz parcialmente sendo autêntico (não contesto) representa uma ínfima parte da população russa, e uma parte ainda mais ínfima do que pensam os militares russos (no activo e na reserva). É ou não é verdade o que estou a afirmar, caro José Milhazes? Uma parte mt significativa da população da Ucrânia (seguramente mais de 30%) tem noção de que a interrupção da "continuidade constitucional" que houve em 2014 tem tido custos mt pesados para a Ucrânia e o povo ucraniano. A "revolução laranja" de 2004 foi derrotada nas urnas uns anos (poucos) mais tarde de ter ocorrido. Entretanto houve o golpe de 2014. Parte dos caminhos q têm sido seguidos não são facilmente reversíveis. As clivagens, nomeadamente étnicas, que sempre caracterizaram a Ucrânia (desde q foi institucionalizada como uma República da URSS, e passou a incluir território historicamente russo) e que até há poucos anos eram um elemento mt enriquecedor e com mt potencial para estabelecer pontes entre o Ocidente e a Rússia passaram a funcionar como "fracturas" mt perigosas (um dos mts indicadores desta evolução é, por exemplo, a chacina de dezenas de ucranianos de etnia russa que foram queimados vivos num edifício emblemático de Odessa em 2 de  Maio de 2015 por nacionalistas radicais ucranianos, representou uma experiência só comparável com massacres q tiveram lugar na 2-Guerra Mundial). Para os ocidentais pode custar a perceber, mas de facto os povos russo, ucraniano e bielorrusso são povos irmãos. O q se tem passado desse o golpe de 2014 é um trauma mt profundo. Muitos milhões de ucranianos estão incondicionalmente com os russos. Já foi assim em séculos passados, os polacos sabem e o José Milhazes tb sabe... e não foi por acaso  que a "revolução laranja" foi derrotada em eleições. Actualmente não são a maioria - mas existe quase um equilíbrio entre estes aliados dos russos, os partidários do actual regime/"nacionalistas beligerantes", e os que estão completamente desgastados com o percurso dos últimos 8 anos e querem um retorno ao relacionamento entre ucranianos e russos q existia nos anos 60/70/80. Não foi só no Afeganistão que o "super exército" formado/armado/financiado pelos USA/UK/NATO não disparou um tiro qd surgiram as dificuldades. Na Crimeia (onde houve um referendo +...) os milhares de soldados ucranianos que aí estavam estacionados tb não resistiram. Não se comenta mt, mas os motivos são evidentes, mts passaram (quase) directamente a fazer parte do exército russo!          Milhazes JoséAUTOR > Rui Mendes: Eu não escrevi que o texto publicado na íntegra do general-coronel Ivashov reflecte a opinião da maioria da população, mas é um aviso importante. Quanto ao resto, já comentei muitas vezes.            Rui Mendes > Milhazes José: Fica registado q a opinião do general-coronel Ivashov não reflecte a opinião da maioria da população (penso q agora é claro, embora implicitamente). Seria interessante ouvir a opinião do Gorbatchov e do Kissinger (ambos são ainda vivos e insuspeitos de serem comunistas...) sobre a situação. Seria um excelente contributo para apaziguar os espíritos mais entusiasmados em insultar/ameaçar diariamente os russos. É de louvar o esforço, actualmente real, dos alemães e dos franceses em convencer os ucranianos em cumprir os Acordos de Minsk. Recomendo q analisem as intervenções mais recentes do Macron e do novo chanceler alemão (q não por acaso era quase o braço direito da Merkel no governo alemão anterior).        Rui MendesRui Mendes: Recomendo que se ouça/ leia o q opinam sobre o assunto (aqui no Observador! ou em excelentes programas da Rádio Observador) o Jaime Nogueira Pinto e o Jaime Gama. Nenhum deles é suspeito de "agitação comunista"! 😉       Dizem (praticamente) o mesmo que o... Kissinger e o Gorbatchov! São realmente excelentes programas da Rádio Observador! Estão disponíveis em podcast. Podem ser ouvidos em qq altura: ou em filas de trânsito, ou a viajar de comboio, ou em noites de insónia, ou a praticar jogging, ... Os meus agradecimentos e parabéns sinceros aos dois Jaimes!! Recomendo todos os programas em q participam os dois. Não apenas os q abordam a Rússia, a Ucrânia, o Putin, o Dostoiévski, a Itália, .... 😉      Hugo c: sim, energeticamente é dependente da Tal Rússia. que negócio foi este feito após o fim da URSS? Querem mesmo decriptar um dos países mais fortes actualmente no Mundo? Já se esqueceram qua foram os Tzares que empurraram os Muslims pro Médio Oriente, formatando toda a fronteira Europeia? Mas qual das partes estão a omitir que a Rússia é parte da Europa?         Paulo Neves: Ou seja, o amigo Putin inicia uma fuga para a frente, em busca do prestígio perdido por uma nação cada vez mais decadente à beira da irrelevância económica. Nâo será nem o primeiro, nem o último.         O Serrano: Parabéns, Dr José Milhazes pelo seu conhecimento profundo do que é a Rússia actual e passada (de quando lá viveu e ficou vacinado), pela sua honestidade intelectual, pelo amor pela verdade e pela clareza com que trata os assuntos do ditador Putin, que ou mata ou envenena ou prende os seus opositores, tudo numa verdadeira democracia popular, aquela em que ele serviu como agente do KGB e de que nunca se retratou. Que têm a dizer os comentadores esquerdistas que inundam as caixas de comentários do Observador, quando o deviam ir fazer para o Avante, pois este jornal não é nenhum vazadouro de lixo, nem nenhum vomitório.           Censurado Censurado: O Milhazes já falhou o primeiro prognóstico da invasão que devia ter coincidido com a abertura dos JO. Talvez ainda ninguém lhe tenha dito que nem com o triplo das forças à volta da Ucrânia. Que parece que nem se alteraram nada por aí além nos últimos anos. Então vai de tentar caricaturar o processo de decisão do Kremlin com meia dúzia de Trumps russos. E o oposicionista Ivashov que até admite coisas impensáveis para o Milhazes como:    “Antes, a Rússia (URSS) conduziu guerras inevitáveis (justas) e, guerra geral, quando não havia outra saída, quando estavam sob ameaça os interesses vitais do Estado e da sociedade.”   Talvez para dar um toque de credibilidade ao resto da mensagem. A velha táctica do fundo de verdade. Já reconhecer o alargamento da Nato completamente irracional na Europa depois da queda do muro está de chuva. Muito menos meter o dedo na ferida dos interesses de quem está verdadeiramente a dramatizar a situação do lado ocidental. Ainda não deve cheirar nada a gaz ao Milhazes. E como também não fuma vai continuando a malhar na mesma psicose de sempre           Hugo c: boa fé, criar e suportar a criação de um País, sem as mínimas condições de sobrevivência estarem adquiridas. será de doidos mas não é, é a política na Nato e do mundo West, suportar o inconcebível e impossível. Faz lembrar as Pickot Lines, países criados em todo o mundo Muslim, sem o mínimo de preocupação para as realidades dos terrenos. klaus muller > Hugo c: A Ucrânia é um país "sem as mínimas condições de sobrevivência"! Tem dó...          mário Unas: A meu ver, o exército russo está junto da fronteira com a Ucrânia em modo de prevenção e protecção às repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk na região de Donbass. Fico com a ideia que os EUA e alguns países da NATO estão dispostos a apoiar a iniciativa ucraniana de tomada daquela região o que só pode trazer problemas ao espaço europeu. Não estou em crer que a Rússia arrisque contrariar a incursão de Kiev sem antes resolver a Polónia e a Roménia…            Clavedesol: A O.N.U., essa central da hipocrisia mundial, assiste impávida e serena! A invasão consolida-se a olhos vistos com a passividade e até aceitação de toda a esquerdalha mundial e o ditador Putin continuará a ser recebido com passadeira vermelha nos palcos internacionais ! Mas, não foi sempre assim na URSS? Não era Putin um agente da PIDE soviética? Era, mas a PIDE de lá (KGB) para os esquerdalhos de cá, era libertadora e revolucionária! e pelos vistos continua a ser!  A O.N.U. virá depois apoiar na alimentação bla, bla. bla, bla...o pântano não sei quê...bla bla bla bla ! O costume.           Maria Ribeiro: Os americanos (isto é, a equipa Biden já com pouco apoio no país, mesmo entre os magnatas) têm uma difícil escolha: dizem que vai haver um ataque inexistente, querem sangrar o urso e sancionar, os europeus começam a dividir-se, o Irão já não teme as sanções porque vende o petróleo fora do sistema SWIFT, a Rússia assinou um tratado de fornecimento de gás á China, por 30 anos, que chegará aos 48 m m de m3/ano e que não usa o dólar. Milhazes vai ter uma difícil escolha.          …Francisco Tavares de Almeida > Hugo c: Se a Rússia estivesse de boa fé, também daria à Crimeia a possibilidade de escolher entre independência, e integração na Rússia ou na Ucrânia. Lugansk, Donetsk e, se tiver de ser, a Ucrânia, apenas traduzem a vontade da Rússia obter portos, e portos em águas que não gelem no Inverno. Do lado contrário, Biden está sobre pressão dos seus almirantes e generais que a última coisa que querem é que a Rússia obtenha um acesso fácil ao Mediterrâneo, sobretudo agora que as relações com a Turquia estão congeladas.          …Miguel Nobre Leitão > Paulo F.: O porto de Sebastopol é fácil de bloquear, pela Turquia, por causa do estreito de Bósforo. Independentemente do querer de cada um, o porto de Sebastopol é da Ucrânia. Se a Rússia quisesses o porto de Lisboa, tb teríamos de dar? É esse o seu conceito? Em relação à democracia e liberdade, é fácil identificar quem o promove, a ditadura da Rússia ou a democracia dos EUA.  Mais vale o dollar que o Yuan ou o Rublo. Enfim..cospe no prato onde come.         PortugueseMan > Miguel Nobre Leitão: ...O porto de Sebastopol é fácil de bloquear, pela Turquia... Fácil? A Turquia nada pode bloquear coisa nenhuma, a não ser que esteja em guerra com a Rússia. ...Independentemente do querer de cada um, o porto de Sebastopol é da Ucrânia... Era. Independente do querer de cada um. Não estou a ver a Rússia a devolver o território, nem a Ucrânia a reconquistá-lo.       Miguel Nobre Leitão > PortugueseMan: A travessia de navios de guerra pelo estreito de Bósforo requer a autorização da Turquia. Por isso é que escrevi que o Porto de Sebastopol é fácil de bloquear.  Em relação à Crimeia, muita coisa irá passar. A ver vamos, mas acredito que seja devolvida ao seu legítimo dono.        PortugueseMan > Miguel Nobre Leitão: ...A travessia de navios de guerra pelo estreito de Bósforo requer a autorização da Turquia... Para a Rússia não.           Francisco Tavares de Almeida > Miguel Nobre Leitão: Tenho imensas dúvidas sobre esse "legítimo dono". A Rússia integrou a Crimeia na Ucrânia em 1954 por decisão unilateral, aliás unipessoal de Khruschev. Tanto quanto sei a população da Crimeia só manifestou vontade de autonomia. Se levada a referendo acredito que escolha a independência. Se apenas lhe for dada a opção de escolher entre a Rússia e a Ucrânia, acho que escolheria a Rússia.       Miguel Nobre Leitão > Francisco Tavares de Almeida: A decisão de Khruschev está validada porque era o Putin da altura. Nem a Rússia defende essa tese. Também já li que Khruschev estava bêbado. Tiveram muito tempo, desde 1954 a 1990 para reverter a situação, mas como estavam convictos do que foi assinado, nada fizeram. A Crimeia não quer ser da Rússia, isso lhe garanto. Desde a ocupação têm ocorrido perseguições e abusos à população.  Já é a 2ª vez que os ucranianos sofrem da ocupação russa!       PortugueseMan > Miguel Nobre Leitão: ...A Crimeia não quer ser da Rússia, isso lhe garanto... Baseado em...? É que nem o Milhazes faz essas afirmações.         Francisco Tavares de Almeida > Miguel Nobre Leitão: Não pode garantir nada porque a população da Crimeia nunca foi auscultada nem existem sondagens sobre isso. Claro que agora, com a quantidade de russos que se mudaram para a Crimeia desde 1954 ninguém pode prever nada. A questão, como já identificada, são os portos. Mesmo com Sebastopol, todos vimos - foi transmitido por todas as televisões - há três anos ou quatro, um cruzador russo e uma fragata de apoio que deram a volta pelo canal da Mancha para se dirigirem ao Mediterrâneo. E, ao contrário do que afiança Portuguese Man, a Turquia é um problema grande para a Rússia e creio que foi para evitar ter de pedir autorização que o cruzador russo não atravessou o Bósforo. Basta lembrar que a Turquia tem interesses políticos nos países que têm população de origem ou afinidade étnica turca e são na zona de influência russa. Quando foi a última guerra em Nagorno-Karabakh em 2020 a Turquia apoiou activamente o Azerbeijão contra a Arménia que era aliada da Rússia. A grande questão, como a vejo, está relacionada com a dependência energética europeia da Rússia, para a qual a alternativa a curto-médio prazo não dispensa os hidro-carbonetos do Médio-Oriente. Se os EUA permitirem uma forte presença russa no Mediterrâneo com linhas de abastecimento curtas pelo Mar Negro, a Rússia fica em situação de poder bloquear enorme parte do fornecimento de energia à Europa. Nessa situação, se assim desejar, em menos de um mês até pode vir beber uns vodka tonic a Cascais. A ÚNICA possibilidade de acordo que seria possível, seria a garantia de desmilitarização total, sem acesso a navios militares dos portos do Donbass e da limitação do número de navios militares russos que podiam atravessar o Bósforo, contra a retirada dos mísseis americanos de médio e curto alcance nas fronteiras russas. Até a mim parece fantasia. Finalmente, comparo a entrega da Crimeia por Khruschev à decisão de Salazar de fazer Cabinda um distrito de Angola. Portugal tinha um tratado escrito com Cabinda desde 1885 e um tratado "de facto" desde o séc. XVI. Mesmo sendo Salazar o "Putin" de Portugal, foi uma violência política e legal. Se quer mais exemplos, apesar da decisão do Tribunal Internacional de Haia, Mário Soares ofereceu Goa à Índia, que a tinha de facto mas não de direito.  A questão é que eu não aprovo os "Putin" deste mundo nem desculpo as suas decisões ilegítimas sobre populações não ouvidas, sejam eles Khruschev, Salazar ou o "Rei da democracia portuguesa" Mário Soares.       PortugueseMan > Francisco Tavares de Almeida: ...E, ao contrário do que afiança Portuguese Man, a Turquia é um problema grande para a Rússia e creio que foi para evitar ter de pedir autorização que o cruzador russo não atravessou o Bósforo... O cruzador atravessou o Bósforo dias depois de a Turquia ter abatido o SU-24 russo. E estacionou em frente à Siria. Não parece ter havido grandes problemas e não me pareceu que os turcos o tenham atacado como o fez com o SU-24.   PortugueseMan > Francisco Tavares de Almeida: Se os EUA permitirem uma forte presença russa no Mediterrâneo com linhas de abastecimento curtas pelo Mar Negro, a Rússia fica em situação de poder bloquear enorme parte do fornecimento de energia à Europa. Os EUA não têm como não permitir. Neste momento o cruzador da frota do Norte já entrou no Mediterrâneo, o cruzador da frota do Pacífico está prestes a chegar e possivelmente se vai juntar o cruzador da frota do Mar Negro. Está uma frota americana neste momento no Mediterrâneo e não estou a ver a impedir o quer que seja.   Francisco Tavares de Almeida > PortugueseMan: Não houve problemas porque a Rússia pediu licença e/ou porque a Turquia estava exposta pelo abate do SU-24. Ninguém, nesta fase do campeonato, quer uma guerra.           Francisco Tavares de Almeida > PortugueseMan: Cruzadores, sobretudo se apenas dispuserem de uma fragata de apoio, estão mais expostos a submarinos e, muito mais a ataques aéreos, do que um grupo aero-naval com 8 ou nove navios de apoio. Não conheço como o sr. o poderio naval russo mas sei que os EUA têm 13 grupos aeronavais com médias de 100 mil toneladas e de 80 aviões transportados e propulsão nuclear e que agora com a estupidez do AUKUS têm mais 2 porta-aviões ingleses (a que faltavam os navios de apoio por restrições financeiras inglesas). Apenas para comparar, a China tem 4, com tonelagens entre as 60 e 80 mil, transportando em média 60 aviões e de propulsão clássica. E o que a história me ensina é que em conflitos, a potência continental perde sempre com a potência naval. Desde Castela e Inglaterra, Napoleão e Inglaterra, Alemanha e Áustria contra Inglaterra e EU, Hitler contra os mesmos. Lembro particularmente a frota russa que deu a volta ao mundo para ser praticamente toda afundada pelos japoneses em 1905. É minha opinião, insisto opinião, que o sr. tem um forte viés anti-americano que o leva a posições sistemáticas pró-russas. Não vejo assim grande utilidade em discutirmos aspectos pontuais.        Nuno Chambel Lima: Muito obrigado, José Milhazes! A impossibilidade de acesso directo a uma língua faz-nos perder a compreensão do que se passa do "outro lado" dos falantes dessa língua (todo um mundo de nuances e de "delicadezas" nem sequer suspeitadas), o que, no caso vertente, é tão perfeitamente obviado tanto pela sua tradução quanto pela escolha do personagem, de que decidiu traduzir as palavras, situação que nos alarga inevitavelmente os horizontes e nos permite "desmistificar" o outro e entrar em diálogo com ele. Isso é "serviço público".           Miguel Nobre Leitão: Excelente artigo. A Rússia tenta mostrar e ser aquilo que não é.  A economia Russa está debilitada e duvido que consiga sobreviver a uma longa guerra com a Ucrânia.  Considero que a Ucrânia deve entrar na NATO de modo a que o Mundo mostre ao Putin que os Estados são soberanos e livres nas suas escolhas!               Julius Evola > Miguel Nobre Leitão: Deixe de ser ingénuo, quem quer aderir à NATO não é a Ucrânia, mas sim os fantoches que a NATO/EUA pôs em Kiev em 2014.         Miguel Nobre Leitão > Julius Evola: Deixe de ser fantasista. Não foram colocados nenhuns fantoches pela Nato em Kiev de 2014. A população Ucraniana revoltou-se contra o seu ditador.  

 

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