Eles lá a Leste, talvez precisem de uma
nova revelação de Jesus Cristo. Nós, os de cá, contentávamo-nos com uma nova
aparição, lá, na azinheira… Da Nossa Senhora, mais branda, segundo os nossos
costumes … Até recordo o Fernando Pessoa da brincadeira com as palavras e os
sons, que também nos quadram, numa conjuntura danada em perspectiva:
Em horas inda louras, lindas
Clorindas e Belindas, brandas,
Brincam no tempo das berlindas,
As vindas vendo das varandas,
De onde ouvem vir a rir as vindas
Fitam a fio as frias bandas.
Mas em torno à tarde se entorna
A atordoar o ar que arde
Que a eterna tarde já não torna!
E o tom de atoarda todo o alarde
Do adornado ardor transtorna
No ar de torpor da tarda tarde.
E há nevoentos desencantos
Dos encantos dos pensamentos
Nos santos lentos dos recantos
Dos bentos cantos dos conventos....
Prantos de intentos, lentos, tantos
Que encantam os atentos ventos.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
A difícil escolha de Putin
A propaganda russa faz-me lembrar o
seguinte ditado soviético: “Não irá haver guerra, mas terá lugar uma luta tão
intensa pela paz que não ficará pedra sobre pedra”.
JOSÉ MILHAZES, Colunista do
Observador. Jornalista e investigador OBSERVADOR, 08 fev 2022
Vladimir
Putin deverá sentir-se um dirigente feliz, um
autocrata que impõe medos dentro e fora do seu país, que obrigou todo o mundo a
ouvir José Milhazes, a sua voz de trovão.
Diariamente, ele recebe um ou vários
telefonemas de dirigentes de outros países a propósito do alargamento da NATO,
da situação em torno da Ucrânia, sucedem-se as visitas a Moscovo de presidentes
e primeiros-ministros para se encontrarem com ele e abordarem os mesmos temas.
Nunca antes Putin se sentiu um líder tão temido (recuso-me a empregar o
adjectivo respeitado, pois ele não se adequa à política do autocrata russo)
como actualmente. A sua política de “pressão permanente” está a surtir efeito,
criando uma atmosfera de histeria na Rússia e no Ocidente.
Não
faltam na Rússia cabeças delirantes que apelam não só a uma invasão da Ucrânia
e muito mais. Margarita
Simonyan,
chefe do canal propagandístico Rússia
Today,
perguntou, em nome dos seus seguidores nas redes sociais, a Serguei Lavrov,
dirigente da diplomacia, quando é que a Rússia irá “fazer Washington ir pelos ares?”. O ministro russo respondeu, utilizando a fórmula
oficial: “Não queremos
guerra. Mas também não permitiremos que espezinhem os nossos interesses, que os
ignorem”.
Serguei
Soloviov, que dirige
um dos programas onde mais se ataca a Ucrânia na televisão russa, não quer
ficar atrás no discurso e, durante uma discussão sobre um possível ataque da
NATO contra Kalininegrado, grita: “Nós
abriremos imediatamente fogo e nada lá restará. Golpe imediato. Putin disse uma
vez que atacaremos tanto os quarteis-generais como os lugares onde são tomadas
semelhantes decisões”.
O
líder palhaço-nacionalista, Vladimir
Jirinovskii, que diz
aquilo que realmente vai na cabeça de alguns dirigentes russos, afirma em mais
um programa televisivo: “Como resultado das acções militares, passaremos a ser
a única superpotência no mundo. Só Moscovo ditará as condições… Utilizaremos
todos os nossos armamentos, mesmo aqueles que vocês não conhecem… Arderá metade
da Europa, metade da América… Nós também iremos sofrer, mas será o vosso fim… A
destruição das vossas forças armadas, do sistema financeiro, da vossa direcção.
Não existirá qualquer Ucrânia. Esqueçam essa palavra… Vamos ter todo o mundo ajoelhado
a nossos pés… É preciso fazer isso imediatamente…”.
A
propaganda russa faz-me lembrar o seguinte ditado soviético: “Não
irá haver guerra, mas terá lugar uma luta tão intensa pela paz que não ficará
pedra sobre pedra”.
Deste lado saem também expressões
semelhantes da boca de alguns políticos, comentadores e jornalistas, pois nesta
crise não há santos e pecadores.
Foram
cometidos muitos erros de parte a parte e devem ser emendados. Nesse sentido, seria importante dar ouvidos às vozes sensatas. Uma delas é o general-coronel na reserva Leonid Ivashov,
que, entre 1996 e 2001, esteve à frente da Direcção Principal de Cooperação
Militar Internacional do Ministério da Defesa da Rússia. Trata-se de um militar nacionalista, o que mostra
que não é só a fraca oposição liberal que critica a política de Putin face à
Ucrânia e à NATO.
Em nome da União dos Oficiais da
Rússia, organização que reúne militares na reserva, Ivashov, dirigiu a
Vladimir Putin uma dramática mensagem.
Peço
desculpa ao leitor, mas vou traduzi-la integralmente para que não seja acusado
de má-fé. Esta organização afirma: “Hoje,
a humanidade vive na expectativa de uma guerra. E a guerra significa
inevitáveis vítimas humanas, destruições, sofrimentos de um grande número de
pessoas, o fim do modo de vida normal, a destruição de sistemas vitais de
funcionamento de Estados e povos. Uma guerra grande é uma enorme tragédia e um
crime grave. Acontece que no centro desta ameaçadora catástrofe está a
Rússia. E pela primeira vez na sua história.
Antes,
a Rússia (URSS) conduziu guerras inevitáveis (justas) e, guerra geral, quando
não havia outra saída, quando estavam sob ameaça os interesses vitais do
Estado e da sociedade.
E
o que é que hoje ameaça a existência da própria Rússia, há semelhantes ameaças?
Pode-se afirmar que, realmente, as ameaças estão à vista: o país está no
limiar de terminar a sua história. Todas as esferas vitalmente importantes,
incluindo a demografia, degradam-se constantemente e os ritmos de redução da
população batem recordes mundiais. E a degradação tem um carácter sistémico e,
em qualquer sistema complexo, a destruição de um dos elementos pode conduzir à
queda de todo o sistema. E, pensamos nós, esta é a principal
ameaça para a Federação da Rússia. Mas esta ameaça tem uma natureza interna,
que parte do modelo de Estado, da qualidade do poder e da situação da sociedade. E as causas do seu aparecimento são internas:
a inviabilidade do modelo estatal, a total
incapacidade e falta de profissionalismo do sistema de poder e administração, a
passividade e desorganização da sociedade. Nenhum país viverá muito nestas
condições.
No
que respeita às ameaças externas,
elas estão incondicionalmente presentes. Mas, segundo peritagens nossas, elas,
actualmente, não são críticas, não ameaçam directamente o Estado da Rússia, os
seus interesses vitalmente importantes. Em geral, conserva-se a estabilidade
estratégica, as armas nucleares estão seguras, os contingentes da NATO não
aumentam, não há sinais de actividade ameaçadora.
Por
isso, a situação crescente de tensão em torno da Ucrânia tem, antes de tudo,
um carácter artificial, mesquinho para algumas formas
internas, nomeadamente da Rússia. Como
resultado da desintegração da URSS, em que a Rússia (Ieltsin) teve uma
participação decisiva, a Ucrânia tornou-se um Estado independente, membro da
ONU, e, em conformidade com o artigo Nº 51 da Carta da ONU, goza do direito à
defesa individual e colectiva. A
direcção da Federação da Rússia não reconheceu até agora os resultados do
referendo sobre a independência da República Popular de Lugansk e da República
Popular de Donetsk, nomeadamente no processo do Processo de Transição de Minsk,
sublinhou a pertença desses territórios e da população à Ucrânia. Também nada
se disse a alto nível sobre o desejo de manter relações normais com Kiev, não
destacando relações especiais com Donetsk e Lugansk.
A
questão do genocídio por parte de Kiev nas regiões do sudeste não foi levantada
nem na ONU, nem na OSCE. Claro que para que a Ucrânia se mantivesse um vizinho
amigo da Rússia, seria necessário demonstrar-lhe o poder atractivo do modelo
russo de Estado e de sistema de poder.
Mas
a Rússia não fez isso, o seu modelo de desenvolvimento e o mecanismo político
de cooperação internacional afastam praticamente todos os vizinhos, e não só. A
inclusão da Crimeia e de Sebastopol pela Rússia e o não reconhecimento disso
pela comunidade internacional (ou seja, a esmagadora maioria dos Estados do
mundo continua a considerá-los parte da Ucrânia) mostra claramente o falhanço
da política externa russa e a falta de atracção da interna.
As tentativas, através de ultimatos e
ameaças de emprego da força, de obrigar a “amar” a Federação da Rússia e os
seus dirigentes não têm sentido e são extremamente perigosas.
O emprego da força militar contra a Ucrânia,
primeiro, põe em causa a existência da Rússia como Estado; segundo, fará para
sempre dos russos e ucranianos inimigos mortais. Terceiro, haverá de ambos os
lados milhares (dezenas de milhares) de jovens mortos, o que se reflectirá
incondicionalmente na nossa futura situação demográfica nos nossos países em
extinção. No campo de batalha, se tal acontecer, as tropas russas enfrentarão
não só militares ucranianos, entre os quais haverá muitos jovens russos, mas
também soldados e armamentos de muitos países da NATO e os Estados membros da
Aliança deverão declarar guerra à Rússia. Erdogan,
Presidente da Turquia, declarou claramente de que lado irá a Turquia combater.
E pode-se prever que à Turquia será ordenado “libertar” a Crimeia e Sebastopol
e, possivelmente, invadir o Cáucaso.
Além
disso, a Rússia será evidentemente incluída na categoria dos países que
ameaçam a paz e a segurança internacional, sofrerá sanções pesadíssimas,
transformar-se-á num pária da comunidade internacional, e, provavelmente, ver-se-á
privada do estatuto de Estado independente.
O
Presidente, o Governo e o Ministério da Defesa não serão tão tontos para não
compreenderem essas consequências”.
Isto deveria fazer pensar os analistas
políticos que justificam a limitação da soberania da Ucrânia e a invasão deste
país pela Rússia. Vladimir Putin, ao apresentar o ultimato aos Estados
Unidos e NATO, como que subiu a uma árvore muito alta e agora não sabe como
descer. Esperemos que desça de forma a não provocar estragos ao seu país e ao
mundo. UCRÂNIA EUROPA MUNDO VLADIMIR PUTIN
COMENTÁRIOS
maria ribeiro: A direita portuguesa deve tornar-se nacionalista como
está a acontecer em toda a Europa e no Sul Global. A Rússia derrotou o
comunismo e o internacionalismo. Agora não queremos ser vassalos de
ninguém, não somos pela Eurásia nem pelo Atlântico, somos por Portugal. Devemos
ter um olhar de Janus, olhar para os dois lados e, caso a caso, escolhermos o
que é melhor para o nosso país. Os nossos pais, na 1ª ou na 2ª Republicas,
foram, com todos os seus defeitos, defensores de Portugal , parece que a 3ª
República abdicou da soberania e quer atrelar-se automaticamente aos interesses
estrangeiros. Vai chegar o momento em que "a direita" voltará a ser
nacionalista. Carlos Caseiro Казейру
Карлуш: Acho estranho que pessoas com conhecimento directo da
forma como os direitos e as garantias dos cidadãos ucranianos são ignorados
pelo governo ucraniano, continuem a achar que o que a Ucrânia precisa é de armamento.
Se o Canadá ou a Suíça, por exemplo, são países com mais uma língua oficial,
que mal faria que a Ucrânia procedesse da mesma maneira, unindo toda a
população, em vez de proibir o uso desse idioma hostilizando um terço da sua
população. Se existe um documento assinado entre os representantes oficiais do
Governo ucraniano e os separatistas de Donetsk e Lugansk (sob a supervisão de
Berlim, Paris e Moscovo, por que razão Kiev insiste em resolver a questão por
meio da força? Toda esta propaganda, com origem do outro lado do Atlântico, tem
apenas como finalidade destabilizar a paz na Europa. Daí as visitas
constantes de representantes Franceses e Alemães a Moscovo e a recusa do
Governo alemão em fornecer armamento à Ucrânia. Enquanto nos
obrigam a acreditar que a Rússia e a Ucrânia estão em guerra, os ucranianos em
geral já desligaram de toda e qualquer informação e propaganda e continuam a
fazer uma vida normal. Já perceberam que não têm futuro naquele país e procuram
uma vida melhor no estrangeiro, inclusive na Rússia. No fundo a guerra está
relacionada com um assunto que nos afecta a todos: desde Janeiro do ano passado os combustíveis ficaram
mais caros cerca de 30%. Isto porque,
por causa das sanções à Rússia, a Europa teve que procurar alternativas mais
caras para se poder aquecer no Inverno, acabando a própria Rússia por ganhar
com isso ao vender o seu gás mais caro através dos contratos a curto prazo PortugueseMan > Carlos Caseiro Казейру Карлуш: Você é ucraniano ou tem familiares? Pergunto isto pelo
nome que aparece. Vasquez da Gama: Força Putin, o defensor do Cristianismo e da palavra de
Jesus no Séc XXI! Alberto Rei:
quer dizer, temos todos de viver debaixo
do diktat americano, os bons da história, os democratas, etc, etc. Milhazes,
julgo que se deve ver as coisas de um outro prisma, o da desconfiança, isto sem
prejuízo de criticar Putin, mas os americanos só dão um presunto a quem lhes dê
um porco. gente imperialista, a sério. Carlos Dias: Obrigado pelo texto deste comentário porque me fez
pensar. É tempo de os ideólogos perceberem que cada um pensa por si e quanto
mais pensar melhor para todos nós, As revoluções não trazem mudança se forem
impostas Trazem imobilismo, injustiça e desigualdade mesmo quando são feitas
com propósitos contrários. Só a liberdade política, económica e social de cada
cidadão pode trazer um dia o homem novo. As utopias políticas quando impostas a
uma sociedade durante muito tempo deixam uma descendência de súbitos órfãos e carentes
de maior submissão. Alguns países elegem democraticamente a mesma pessoa muitas
vezes por receio de mudar para pior. Os autocratas adoram sociedades com
maioria de cidadãos avessos à mudança e alheios aos princípios que definem o
homem livre, os princípios da honra. É caricato que um país como a Rússia que
foi berço de uma revolução tão inspiradora como a comunista seja hoje governada
por um Autocrata mais poderoso que um Kzar e o seu povo seja tão mansinho e
obediente. Se calhar a revolução falhou. Ou então pariu um rato. Vasquez da Gama > Carlos Dias: Inspiradora? Para quem? Não foi
prós Russos de certeza! Carlos
Dias: Estava a ser irónico, A Rússia é hoje uma autocracia
pura e como se não bastasse, o autocrata supremo é gatuno, megalómano, vaidoso
e com sinais evidentes de distúrbios. É preocupante e espero que o Putin tenha
azar com a saúde dele antes de lixar a nossa. Julius Evola: Então o Putin não quer ficar cercado por todos os lados
pela NATO? Que malvado, ele não vê o paraíso que a NATO criou na Jugoslávia,
Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão, etc.?? Filipe
Costa: Dentro da minha humildade, lhe digo que
tento perceber este conflito, a sua sabedoria acerca da vida Russa, ajuda-me a
entender melhor. Tenho lido mais dois opinadores, de cujo nome não me lembro,
mas escrevem na Sábado e no DN. A sua análise vai sempre mais além, tenho uma
pergunta. A Rússia ficando um estado pária, não será um incentivo a usar as
armas nucleares? Rui MendesFilipe Costa: Excelente
pergunta!!! Milhazes
JoséAUTOR > Filipe Costa: Tudo é possível. Rui Mendes > Milhazes José: Por tudo eventualmente ser possível, a abordagem
incendiária q tem sido feita da "crise ucraniana" e da "invasão
iminente", nomeadamente pelos USA, pelo UK, pelo secretário-geral da NATO prova
que são de uma irresponsabilidade sem paralelo na história recente (e não só).
Basta recordar a crise dos mísseis em Cuba, para que se tornem evidentes as
diferenças. Miguel
Nobre Leitão > Filipe Costa: Duvido
muito que a Rússia ouse utilizar armas nucleares contra um País que não possui
isso e que não está em guerra com a Rússia. Se a Rússia fizer isso, fica sem
economia em 3 tempos e sem territórios. Putin sabe disso, e se calhar, seria a
primeira cabeça a rolar. Rui Mendes: Lamento dizer mas o texto do José Milhazes é de uma
desonestidade intelectual flagrante. O José Milhazes é apenas um entre as
muitas centenas de portugueses que falam russo (de esquerda, de direita, ou
mesmo sem preferências ideológicas "demasiado cristalizadas") e que
acompanham diariamente as televisões/jornais e/ou a Internet/redes sociais
russas (mt plurais, em q há mt espaço para o "contraditório"). O
texto do general-coronel na reserva Leonid Ivashov que o José Milhazes traduz
parcialmente sendo autêntico (não contesto) representa uma ínfima parte da
população russa, e uma parte ainda mais ínfima do que pensam os militares
russos (no activo e na reserva). É ou não é verdade o que estou a afirmar,
caro José Milhazes? Uma parte mt significativa da população da Ucrânia
(seguramente mais de 30%) tem noção de que a interrupção da "continuidade
constitucional" que houve em 2014 tem tido custos mt pesados para a
Ucrânia e o povo ucraniano. A "revolução laranja" de 2004 foi
derrotada nas urnas uns anos (poucos) mais tarde de ter ocorrido. Entretanto
houve o golpe de 2014. Parte dos caminhos q têm sido seguidos não são
facilmente reversíveis. As clivagens, nomeadamente étnicas, que sempre
caracterizaram a Ucrânia (desde q foi institucionalizada como uma República da
URSS, e passou a incluir território historicamente russo) e que até há poucos
anos eram um elemento mt enriquecedor e com mt potencial para estabelecer
pontes entre o Ocidente e a Rússia passaram a funcionar como "fracturas"
mt perigosas (um dos mts indicadores desta evolução é, por exemplo, a
chacina de dezenas de ucranianos de etnia russa que foram queimados vivos num
edifício emblemático de Odessa em 2 de Maio de 2015 por nacionalistas
radicais ucranianos, representou uma experiência só comparável com massacres q
tiveram lugar na 2-Guerra Mundial). Para
os ocidentais pode custar a perceber, mas de facto os povos russo, ucraniano e
bielorrusso são povos irmãos. O q se
tem passado desse o golpe de 2014 é um trauma mt profundo. Muitos milhões de ucranianos
estão incondicionalmente com os russos. Já foi assim em séculos passados, os
polacos sabem e o José Milhazes tb sabe... e não foi por acaso que a
"revolução laranja" foi derrotada em eleições. Actualmente não
são a maioria - mas existe quase um equilíbrio entre estes aliados dos
russos, os partidários do actual regime/"nacionalistas beligerantes",
e os que estão completamente desgastados com o percurso dos últimos 8 anos e
querem um retorno ao relacionamento entre ucranianos e russos q existia nos anos
60/70/80. Não foi só no Afeganistão que o "super exército"
formado/armado/financiado pelos USA/UK/NATO não disparou um tiro qd surgiram as
dificuldades. Na Crimeia (onde houve um referendo +...) os milhares de soldados
ucranianos que aí estavam estacionados tb não resistiram. Não se comenta mt,
mas os motivos são evidentes, mts passaram (quase) directamente a fazer parte
do exército russo! Milhazes
JoséAUTOR > Rui Mendes: Eu
não escrevi que o texto publicado na íntegra do general-coronel Ivashov
reflecte a opinião da maioria da população, mas é um aviso importante. Quanto
ao resto, já comentei muitas vezes. Rui Mendes > Milhazes José: Fica
registado q a opinião do general-coronel Ivashov não reflecte a opinião da
maioria da população (penso q agora é claro, embora implicitamente). Seria interessante ouvir a opinião do Gorbatchov e do
Kissinger (ambos são ainda vivos e insuspeitos de serem comunistas...) sobre a
situação. Seria um
excelente contributo para apaziguar os espíritos mais entusiasmados em
insultar/ameaçar diariamente os russos. É de louvar o esforço, actualmente
real, dos alemães e dos franceses em convencer os ucranianos em cumprir os
Acordos de Minsk. Recomendo q analisem as intervenções mais recentes do
Macron e do novo chanceler alemão (q não por acaso era quase o braço direito da
Merkel no governo alemão anterior).
Rui MendesRui Mendes: Recomendo
que se ouça/ leia o q opinam sobre o assunto (aqui no Observador! ou em
excelentes programas da Rádio Observador) o Jaime
Nogueira Pinto e o Jaime Gama. Nenhum
deles é suspeito de "agitação comunista"! 😉 Dizem
(praticamente) o mesmo que o... Kissinger e o Gorbatchov! São
realmente excelentes programas da Rádio Observador! Estão disponíveis em
podcast. Podem ser ouvidos em qq altura: ou em filas de trânsito, ou a viajar
de comboio, ou em noites de insónia, ou a praticar jogging, ... Os meus
agradecimentos e parabéns sinceros aos dois Jaimes!! Recomendo todos os
programas em q participam os dois. Não apenas os q abordam a Rússia, a Ucrânia,
o Putin, o Dostoiévski, a Itália, .... 😉 Hugo c: sim, energeticamente é dependente da Tal Rússia. que
negócio foi este feito após o fim da URSS? Querem mesmo decriptar um dos países
mais fortes actualmente no Mundo? Já se esqueceram qua foram os Tzares que
empurraram os Muslims pro Médio Oriente, formatando toda a fronteira Europeia?
Mas qual das partes estão a omitir que a Rússia é parte da Europa? Paulo
Neves: Ou seja, o amigo Putin inicia uma fuga
para a frente, em busca do prestígio perdido por uma nação cada vez mais
decadente à beira da irrelevância económica. Nâo será nem o primeiro, nem o
último. O
Serrano: Parabéns, Dr José Milhazes pelo seu
conhecimento profundo do que é a Rússia actual e passada (de quando lá viveu e
ficou vacinado), pela sua honestidade intelectual, pelo amor pela verdade e
pela clareza com que trata os assuntos do ditador Putin, que ou mata ou
envenena ou prende os seus opositores, tudo numa verdadeira democracia popular,
aquela em que ele serviu como agente do KGB e de que nunca se retratou. Que têm
a dizer os comentadores esquerdistas que inundam as caixas de comentários do
Observador, quando o deviam ir fazer para o Avante, pois este jornal não é
nenhum vazadouro de lixo, nem nenhum vomitório. Censurado
Censurado: O Milhazes já
falhou o primeiro prognóstico da invasão que devia ter coincidido com a
abertura dos JO. Talvez ainda ninguém lhe tenha dito que nem com o triplo das
forças à volta da Ucrânia. Que parece que nem se alteraram nada por aí além nos
últimos anos. Então vai de tentar caricaturar o processo de decisão do Kremlin
com meia dúzia de Trumps russos. E o oposicionista Ivashov que até admite
coisas impensáveis para o Milhazes como: “Antes, a Rússia (URSS)
conduziu guerras inevitáveis (justas) e, guerra geral, quando não havia outra
saída, quando estavam sob ameaça os interesses vitais do Estado e da
sociedade.” Talvez para dar um toque de credibilidade ao resto da
mensagem. A velha táctica do fundo de verdade. Já reconhecer o alargamento da
Nato completamente irracional na Europa depois da queda do muro está de chuva.
Muito menos meter o dedo na ferida dos interesses de quem está verdadeiramente
a dramatizar a situação do lado ocidental. Ainda não deve cheirar nada a gaz ao
Milhazes. E como também não fuma vai continuando a malhar na mesma psicose de
sempre. Hugo
c: boa fé, criar e suportar a criação de um
País, sem as mínimas condições de sobrevivência estarem adquiridas. será de
doidos mas não é, é a política na Nato e do mundo West, suportar o inconcebível
e impossível. Faz lembrar as Pickot Lines, países criados em todo o mundo
Muslim, sem o mínimo de preocupação para as realidades dos terrenos. klaus muller > Hugo c: A
Ucrânia é um país "sem as mínimas condições de sobrevivência"! Tem
dó... mário Unas: A meu ver, o exército russo está junto da fronteira com
a Ucrânia em modo de prevenção e protecção às repúblicas separatistas de
Lugansk e Donetsk na região de Donbass. Fico com a ideia que os EUA e alguns
países da NATO estão dispostos a apoiar a iniciativa ucraniana de tomada
daquela região o que só pode trazer problemas ao espaço europeu. Não estou em
crer que a Rússia arrisque contrariar a incursão de Kiev sem antes resolver a
Polónia e a Roménia… Clavedesol: A O.N.U., essa central da hipocrisia mundial, assiste
impávida e serena! A invasão consolida-se a olhos vistos com a passividade e
até aceitação de toda a esquerdalha mundial e o ditador Putin continuará a ser
recebido com passadeira vermelha nos palcos internacionais ! Mas, não foi sempre
assim na URSS? Não era Putin um agente da PIDE soviética? Era, mas a PIDE de lá
(KGB) para os esquerdalhos de cá, era libertadora e revolucionária! e pelos
vistos continua a ser! A O.N.U. virá
depois apoiar na alimentação bla, bla. bla, bla...o pântano não sei quê...bla
bla bla bla ! O costume. Maria
Ribeiro: Os americanos (isto
é, a equipa Biden já com pouco apoio no país, mesmo entre os magnatas) têm uma
difícil escolha: dizem que vai haver um ataque inexistente, querem sangrar o
urso e sancionar, os europeus começam a dividir-se, o Irão já não teme as
sanções porque vende o petróleo fora do sistema SWIFT, a Rússia assinou um
tratado de fornecimento de gás á China, por 30 anos, que chegará aos 48 m m de
m3/ano e que não usa o dólar. Milhazes vai ter uma difícil escolha. …Francisco Tavares de
Almeida > Hugo c: Se a Rússia
estivesse de boa fé, também daria à Crimeia a possibilidade de escolher entre
independência, e integração na Rússia ou na Ucrânia. Lugansk, Donetsk e, se
tiver de ser, a Ucrânia, apenas traduzem a vontade da Rússia obter portos, e
portos em águas que não gelem no Inverno. Do lado contrário, Biden está sobre
pressão dos seus almirantes e generais que a última coisa que querem é que a
Rússia obtenha um acesso fácil ao Mediterrâneo, sobretudo agora que as relações
com a Turquia estão congeladas. …Miguel
Nobre Leitão > Paulo F.: O
porto de Sebastopol é fácil de bloquear, pela Turquia, por causa do estreito de
Bósforo. Independentemente do querer de cada um, o porto de Sebastopol é da
Ucrânia. Se a Rússia quisesses o porto de Lisboa, tb teríamos de dar? É esse o
seu conceito? Em relação à democracia e liberdade, é fácil identificar quem o
promove, a ditadura da Rússia ou a democracia dos EUA. Mais vale o dollar
que o Yuan ou o Rublo. Enfim..cospe no prato onde come. PortugueseMan > Miguel Nobre Leitão: ...O porto de Sebastopol é fácil de bloquear, pela Turquia...
Fácil? A Turquia nada pode bloquear coisa nenhuma, a não ser que esteja em
guerra com a Rússia. ...Independentemente do querer de cada um, o porto de Sebastopol
é da Ucrânia... Era. Independente do querer de cada um. Não estou a ver a
Rússia a devolver o território, nem a Ucrânia a reconquistá-lo. Miguel Nobre Leitão > PortugueseMan: A
travessia de navios de guerra pelo estreito de Bósforo requer a autorização da
Turquia. Por isso é que escrevi que o Porto de Sebastopol é fácil de
bloquear. Em relação à Crimeia, muita coisa irá passar. A ver vamos, mas
acredito que seja devolvida ao seu legítimo dono. PortugueseMan > Miguel Nobre
Leitão: ...A travessia de navios de guerra pelo estreito de
Bósforo requer a autorização da Turquia... Para a Rússia não. Francisco Tavares de Almeida > Miguel Nobre
Leitão: Tenho imensas dúvidas sobre esse "legítimo
dono". A Rússia integrou a Crimeia na Ucrânia em 1954 por decisão
unilateral, aliás unipessoal de Khruschev. Tanto quanto sei a população da
Crimeia só manifestou vontade de autonomia. Se levada a referendo acredito que
escolha a independência. Se apenas lhe for dada a opção de escolher entre a
Rússia e a Ucrânia, acho que escolheria a Rússia.
Miguel Nobre Leitão > Francisco
Tavares de Almeida: A decisão de Khruschev está
validada porque era o Putin da altura. Nem a Rússia defende essa tese.
Também já li que Khruschev estava bêbado. Tiveram muito tempo, desde 1954 a
1990 para reverter a situação, mas como estavam convictos do que foi assinado,
nada fizeram. A Crimeia não quer ser da
Rússia, isso lhe garanto. Desde a ocupação têm ocorrido perseguições e abusos à
população. Já é a 2ª vez que os ucranianos
sofrem da ocupação russa! PortugueseMan > Miguel Nobre
Leitão: ...A
Crimeia não quer ser da Rússia, isso lhe garanto... Baseado em...? É que nem o Milhazes faz essas
afirmações. Francisco
Tavares de Almeida > Miguel Nobre
Leitão: Não pode garantir nada porque a
população da Crimeia nunca foi auscultada nem existem sondagens sobre isso.
Claro que agora, com a quantidade de russos que se mudaram para a Crimeia desde
1954 ninguém pode prever nada. A questão, como já
identificada, são os portos. Mesmo com Sebastopol, todos vimos - foi
transmitido por todas as televisões - há três anos ou quatro, um cruzador russo
e uma fragata de apoio que deram a volta pelo canal da Mancha para se dirigirem
ao Mediterrâneo. E, ao contrário do que
afiança Portuguese Man, a Turquia é um problema grande para a Rússia e
creio que foi para evitar ter de pedir autorização que o cruzador russo não
atravessou o Bósforo. Basta lembrar que a Turquia tem
interesses políticos nos países que têm população de origem ou afinidade étnica
turca e são na zona de influência russa. Quando foi a última guerra em
Nagorno-Karabakh em 2020 a Turquia apoiou activamente o Azerbeijão contra a
Arménia que era aliada da Rússia. A grande questão, como a vejo,
está relacionada com a dependência energética europeia da Rússia, para a qual a
alternativa a curto-médio prazo não dispensa os hidro-carbonetos do
Médio-Oriente. Se os EUA permitirem uma forte presença russa no Mediterrâneo com linhas
de abastecimento curtas pelo Mar Negro, a Rússia fica em situação de poder
bloquear enorme parte do fornecimento de energia à Europa. Nessa situação, se
assim desejar, em menos de um mês até pode vir beber uns vodka tonic a Cascais. A ÚNICA possibilidade de acordo que seria possível, seria a garantia de
desmilitarização total, sem acesso a navios militares dos portos do Donbass e
da limitação do número de navios militares russos que podiam atravessar o Bósforo,
contra a retirada dos mísseis americanos de médio e curto alcance nas
fronteiras russas. Até a mim parece fantasia. Finalmente, comparo a entrega da Crimeia por Khruschev à decisão de Salazar
de fazer Cabinda um distrito de Angola. Portugal tinha um tratado escrito com Cabinda
desde 1885 e um tratado "de facto" desde o séc. XVI. Mesmo sendo
Salazar o "Putin" de Portugal, foi uma violência política e legal.
Se quer mais exemplos, apesar da decisão do Tribunal Internacional de Haia, Mário
Soares ofereceu Goa à Índia, que a tinha de facto mas não de direito. A questão é que eu não aprovo os "Putin" deste mundo nem desculpo
as suas decisões ilegítimas sobre populações não ouvidas, sejam eles Khruschev,
Salazar ou o "Rei da democracia portuguesa" Mário Soares. PortugueseMan >
Francisco
Tavares de Almeida: ...E,
ao contrário do que afiança Portuguese Man, a Turquia é um problema grande para a Rússia e creio
que foi para evitar ter de pedir autorização que o cruzador russo não
atravessou o Bósforo... O cruzador atravessou o Bósforo dias depois de a
Turquia ter abatido o SU-24 russo. E estacionou em frente à Siria. Não parece ter havido grandes
problemas e não me pareceu que os turcos o tenham atacado como o fez com o
SU-24. PortugueseMan > Francisco
Tavares de Almeida: Se os
EUA permitirem uma forte presença russa no Mediterrâneo com linhas de
abastecimento curtas pelo Mar Negro, a Rússia fica em situação de poder
bloquear enorme parte do fornecimento de energia à Europa. Os EUA não têm como não
permitir. Neste momento o cruzador da frota do Norte já entrou
no Mediterrâneo, o cruzador da frota do Pacífico está prestes a chegar e
possivelmente se vai juntar o cruzador da frota do Mar Negro. Está uma frota americana neste
momento no Mediterrâneo e não estou a ver a impedir o quer que seja. Francisco Tavares de Almeida > PortugueseMan: Não houve problemas porque a
Rússia pediu licença e/ou porque a Turquia estava exposta pelo abate do SU-24.
Ninguém, nesta fase do campeonato, quer uma guerra. Francisco Tavares de
Almeida > PortugueseMan: Cruzadores, sobretudo se apenas
dispuserem de uma fragata de apoio, estão mais expostos a submarinos e, muito
mais a ataques aéreos, do que um grupo aero-naval com 8 ou nove navios de
apoio. Não conheço como o sr. o poderio naval russo mas sei que os EUA têm 13
grupos aeronavais com médias de 100 mil toneladas e de 80 aviões transportados
e propulsão nuclear e que agora com a estupidez do AUKUS têm mais 2
porta-aviões ingleses (a que faltavam os navios de apoio por restrições
financeiras inglesas). Apenas para comparar, a China tem 4, com tonelagens
entre as 60 e 80 mil, transportando em média 60 aviões e de propulsão clássica. E o que a história me ensina é
que em conflitos, a potência continental perde sempre com a potência naval.
Desde Castela e Inglaterra, Napoleão e Inglaterra, Alemanha e Áustria contra
Inglaterra e EU, Hitler contra os mesmos. Lembro particularmente a frota russa
que deu a volta ao mundo para ser praticamente toda afundada pelos japoneses em
1905. É minha opinião, insisto opinião, que o sr. tem um
forte viés anti-americano que o leva a posições sistemáticas pró-russas. Não
vejo assim grande utilidade em discutirmos aspectos pontuais. Nuno
Chambel Lima: Muito obrigado, José Milhazes! A impossibilidade de
acesso directo a uma língua faz-nos perder a compreensão do que se passa do
"outro lado" dos falantes dessa língua (todo um mundo de nuances e de
"delicadezas" nem sequer suspeitadas), o que, no caso vertente, é tão
perfeitamente obviado tanto pela sua tradução quanto pela escolha do
personagem, de que decidiu traduzir as palavras, situação que nos alarga inevitavelmente
os horizontes e nos permite "desmistificar" o outro e entrar em
diálogo com ele. Isso é "serviço público". Miguel Nobre Leitão: Excelente artigo. A Rússia tenta
mostrar e ser aquilo que não é. A economia Russa está debilitada e duvido que consiga sobreviver
a uma longa guerra com a Ucrânia. Considero que a Ucrânia deve entrar na NATO de modo a
que o Mundo mostre ao Putin que os Estados são soberanos e livres nas suas
escolhas!
Julius Evola > Miguel Nobre
Leitão: Deixe de ser ingénuo, quem quer aderir à NATO não é a
Ucrânia, mas sim os fantoches que a NATO/EUA pôs em Kiev em 2014. Miguel Nobre Leitão > Julius Evola: Deixe de ser fantasista. Não
foram colocados nenhuns fantoches pela Nato em Kiev de 2014. A população
Ucraniana revoltou-se contra o seu ditador.
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