Diz-se, para nos desculparmos da falta de
auxílio, que a Ucrânia não pertence à Nato, e é por isso que ficou sozinha em
casa, sem a tal chave da Nato. Mas o Ocidente mandou-lhes armas, aos Ucranianos,
para se desenrascarem e vai mandar tropas para os países limítrofes, dos que
pertencem à Nato, sempre parece mais resguardado. Mas talvez não tenhamos ocasião de ver bem esses feitos, se é que
se vão cumprir os desígnios de um chefe poderoso que tem o nuclear no sangue. Este
texto de Jaime Nogueira Pinto bem o
explicita, descrevendo as inépcias dos de cá e os poderosos desígnios dos de
lá, que, pelos vistos, são muitos e fundos, sem falar na China ainda, que aguarda.
Filhos da Guerra Fria
O conflito russo-ucraniano veio, mais uma vez, mostrar o perigo das
cruzadas ideológicas. A Ucrânia foi encorajada pelos “aliados” a desafiar a
Rússia mas, na hora da verdade, ficou sozinha.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista
do Observador
OBSERVADOR,26
fev 2022,
Os
poetas, mais que os comentadores políticos, têm às vezes um sexto ou sétimo
sentido que adivinha o tempo que vem. Sarhiy
Zhadan é um poeta ucraniano, nascido em Starobilsk, no
Lugansk (agora república separatista), autor de Catálogo de Barcos, um livro
cujos poemas espelham um clima de tensão e guerra que parece profetizar as
imagens das cidades da Ucrânia invadida que agora nos entram em casa. Zhadan parte da Ilíada, do mítico Catálogo
dos Barcos da expedição contra Troia, mas não é de Troia que fala:
“Então vou falar disto
Do olho verde de um demónio no céu colorido
Um olho que espreita do lado de fora do sono de uma criança.”
…
“Ucrânia Oriental, no fim do Segundo Milénio
O mundo transborda de música e fogo
Peixes voadores e animais que cantam vozeiam na
escuridão
Entretanto, quase todos os que aqui se casaram
morreram
Entretanto, os pais da gente da minha cidade morreram
Entretanto, muitos heróis morreram.”
Foi este o tempo que chegou à Ucrânia
na quinta-feira de manhã, quando os mísseis e a artilharia russa bombardearam
as bases militares e as cidades, e os tanques entraram, à desfilada, em eixos
de invasão que cortam o país a meio, de Norte a Sul. E com os mísseis e os
tanques chegam as imagens das tragédias e dos desastres da guerra que, quem a
eles foi poupado, se habituou a ver em Bruegel, em Goya ou em filmes e documentários:
gente que sofre, gente que foge, gente que leva crianças pela mão, gente que
morre para vir depois a engrossar a lista das “vítimas colaterais”.
O grande irmão americano
Segundo o Politico, os rumores do
ataque iminente chegaram a Washington em primeira mão. O Presidente Biden disse aos aliados europeus que Putin atacaria a
16 de Fevereiro e deu instruções aos americanos na Ucrânia para abandonarem o
país o mais depressa possível. Nos
dias seguintes, os jornais e televisões do outro lado do Atlântico foram
repetindo os avisos, com Biden a insistir que os russos não brincavam e que iam
mesmo atacar; e que, em caso de ataque, a América não lutaria contra a Rússia,
mas imporia sanções.
O
modo como o Presidente dos Estados Unidos foi sucessivamente anunciando datas
para uma invasão russa da Ucrânia lembra os pueris “Não és homem,
não és nada …” dos tempos
em que parecia mal não ser “homem” e se esperava que o acicatado, ofendido na
sua masculinidade e sem olhar a consequências, provasse desvairadamente que o
era. E quanto mais provocável, belicoso e susceptível de perder a cabeça fosse
o desafiado, melhor (ou pior). Muitas vezes, o provocador, o que dizia “Não
és homem não és nada”, era também o que, aparentemente preparado para uma luta
em que não fazia tenção de se arriscar, pedia aos que o rodeavam: “Agarrem-me que eu vou-me a ele”.
O trágico resultado ficou à vista na quinta-feira, 24 de fevereiro.
A
insistência e o ruído da “informação programada”, numa escalada com velhos
processos de desinformação de parte a parte, serviu para alimentar um clima de
suspeição e desafio que contribuiu para que o Presidente russo ficasse na
confortável alternativa diabólica de “invadir ou perder a face”. E como o Presidente russo é um “artista”, tratou de
reconhecer as “repúblicas” de Donetsk e Lugansk, na região do Donbass,
arranjando um pretexto e deixando ao “Ocidente” o ónus da resposta. E a resposta veio em coro de Washington e das
capitais europeias: haveria retaliações económicas, mas o uso de força
armada estava fora de questão. Moscovo interpretou a mensagem como um sinal
verde, ou, quando muito, amarelo, e sentiu-se confiante para avançar.
Embora
a História nos ensine que há sempre o risco de que a razão – e até o interesse
próprio – fiquem esquecidos em processos de escalada e jogadas de prestígio, hoje, com armas nucleares, uma guerra global seria
totalmente irracional. As declarações euro-americanas de que a NATO não
iria intervir militarmente vêm também nesse sentido – mas talvez fosse melhor
que não tivessem sido tão veementemente declaradas.
Conhece o teu inimigo
Em
1815, no Congresso de Viena, os vencedores da guerra contra o Império
napoleónico tiveram o cuidado de não humilhar a França, de fazer de conta que a
Revolução e Napoleão eram os únicos culpados dos 25 anos de guerra na Europa,
que esses anos de guerra e sofrimento não tinham nada a ver com o povo francês
e que a restauração dos Bourbon curava as feridas passadas.
Cem
anos depois, os vencedores da Grande Guerra fizeram do Tratado de Versalhes uma
paz punitiva para a Alemanha e para o povo alemão, pondo a primeira pedra para
o que seria a vertiginosa ascensão de Adolf Hitler.
Em
1945, as políticas seguidas com a Alemanha e o Japão vencidos foram diferentes.
A Alemanha ficou dividida, mas como a Guerra Fria começou logo a seguir,
soviéticos e ocidentais, depois dos primeiros tempos de brutal ocupação,
tiveram o cuidado de tratar bem os “seus” alemães.
A
vitória do Ocidente na Guerra Fria resultou da aliança de uma tríade – Reagan,
Thatcher, João Paulo II – que, alimentando a resistência polaca, rearmando
militarmente e usando o bluff da SDI-Guerra das Estrelas, forçou Gorbachev a
“reformar” o sistema, retirando-lhe aquilo que o sustentava – o medo.
Assim, as Repúblicas Soviéticas,
usando as suas constituições “independentes”, abandonaram uma estrutura que era
mantida pela hegemonia do Partido Comunista e pelo sistema securitário. Porém, uma
das preocupações nas negociações finais entre americanos e soviéticos foi a
salvaguarda de um certo espaço livre entre as fronteiras da NATO e da Rússia.
O Presidente George H. Bush e os seus
colaboradores, especialmente o Conselheiro Nacional de Segurança, general Brent
Scowcroft, homens de formação realista, avessos a paixões ideológicas e
conhecedores da História e da mentalidade russas, prepararam com toda a cautela
o soft landing da URSS, percebendo que um Estado com semelhante poder militar e
nuclear tinha de ser respeitado e bem tratado para não dar origem a fenómenos
de ressentimento nacional de tipo hitleriano.
Fenómenos
que não estiveram longe de vingar. No
princípio dos anos 90, o líder do Partido Liberal Democrático da Rússia (PLDR),
Vladimir Zhirinovski, um radical populista que prometia nos seus discursos dar
“um homem a cada mulher e uma garrafa de vodka a cada homem”, lançou-se numa
corrida ao poder, apelando aos sentimentos de frustração e vingança do povo
russo.
O
PLDR teve um certo sucesso eleitoral em 1993, o que levou ao aparecimento de
outras formações semelhantes, uma das quais a do general Alexandre Lebed, que
criou o movimento Pátria e Honra e ficou em terceiro lugar na eleição
presidencial de 1996, ganha por Yeltsin, logo seguido pelo candidato comunista Zingarov.
Entretanto,
Bill Clinton, na
euforia da vitória da Guerra Fria, de
que fora herdeiro e não artífice, e daquilo que então foi chamado pelos optimistas
“o fim da História” (a Era em que
o capitalismo e a democracia iam estender-se urbi et orbe) estimulou a avançada para Leste da NATO e da
influência americana, numa espécie de grande cruzada democrática.
Mas, na América, nem todos ficaram eufóricos.
Em
1998, numa entrevista a George Friedman para o New York Times, George Kennan,
o grande inspirador da estratégia de contenção dos Estados Unidos face à URSS
durante a primeira Guerra Fria, foi claro no aviso, quanto à política da
Administração Clinton de expansão da NATO para Leste:
“Penso
que é o princípio de uma nova Guerra Fria. Os russos vão reagir, gradualmente,
de modo hostil, porque esta expansão vai afectá-los. Penso que é um erro
trágico. Ninguém agora ameaça ninguém. E este nosso expansionismo faria os
nossos Founding Fathers revirarem-se nas sepulturas. Comprometemo-nos
a proteger uma série de países, embora não tenhamos nem os recursos nem a
intenção de o fazer de um modo sério. A expansão da NATO foi uma decisão tomada de ânimo
leve por um Senado que não se interessa particularmente por política externa.”
Kennan
acrescentava que o que mais o irritava era a manifesta “superficialidade” e “falta de informação”
da discussão no Senado. Com lucidez
e liberdade, o autor do “Longo Telegrama”, que tinha sido embaixador em
Moscovo, lembrava que a política de expansão para Leste mostrava falta de
conhecimento e compreensão da História da Rússia. Kennan estava certo de que, quando confrontados com
a reação de Moscovo no futuro, os responsáveis ocidentais iriam dizer que a
culpa era dos russos, que eram assim, maus e imperialistas, mas que a
provocação vinha dos “ocidentais”.
Infelizmente
o seu aviso não foi seguido. No mesmo sentido, mas em relação à Ucrânia,
escreveu Henry
Kissinger em 2014:
“O
Ocidente deve perceber que, para a Rússia, a Ucrânia nunca pode ser apenas um
país estrangeiro. A História da Rússia começou no que foi a chamada Rússia de
Kiev. A religião russa disseminou-se dali. A Ucrânia fez parte da Rússia
durante séculos e as duas histórias estiveram entrelaçadas desde então. Algumas
das mais importantes batalhas pela liberdade da Rússia, a começar pela batalha
de Poltava, em 1709, foram travadas em solo ucraniano. A frota do Mar Negro, o instrumento de projeção do
poder russo no Mediterrâneo, está baseada, por um aluguer de longo prazo, em
Sebastopol, na Ucrânia. Mesmo
dissidentes famosos, como Alexandre
Soljenitsin e Jozeph Brodski,
insistiram que a Ucrânia é parte integrante da História da Rússia e, na
verdade, da Rússia.”
“Never
corner an opponnent”
Nos
últimos vinte anos, as guerras da América no Médio Oriente, da invasão do
Iraque à guerra do Afeganistão e sua humilhante conclusão, deviam servir de
lição para presentes e futuros entusiasmos e pretextos ideológicos, sobretudo
em conflitos que podem, pela primeira vez na História, envolver potências
nucleares. O realismo não é de esquerda nem de direita e, neste momento, faz
muita falta. Perante alguém como Putin, um
jogador de xadrez, com sentido estratégico, os apelos à retórica nunca iriam contar muito.
Vladimir Putin tem – ou, pelo
menos, tinha – um retrato
de Nicolau I na
antecâmara do seu gabinete e há, por isso, quem sublinhe o seu perfil
nacional-autoritário e de defensor do cristianismo ortodoxo para o comparar com
o Czar que reprimiu os Dezembristas, defendeu a autocracia e foi para a guerra
da Crimeia contra turcos, ingleses e franceses. É também
conhecida a sua afirmação de que o desmantelamento da União Soviética foi o
maior desastre geopolítico do séc XX. E apesar de a Rússia de hoje não ter nada
que ver com a ideologia marxista-leninista, persiste em Putin, como noutros
contemporâneos e servidores da URSS, a nostalgia do que era também um grande
Império. Os dados estavam todos lá.
O
pôr de parte, à cabeça, a dissuasão militar (embora não se visse na Europa
nem nos Estados Unidos grande vontade popular em morrer por Kiev) foi uma espécie
de garantia de imunidade. Para as sanções económicas, Putin está
preparado, com a quarta maior reserva financeira do mundo, parte em ouro e uma
“opinião pública” autocraticamente controlada.
Na
crise de Cuba, John Kennedy foi firme mas foi também inteligente e subtil,
metendo-se na pele de Kruschev e pondo-se no lugar dos russos. No fim, trocaram-se os mísseis de Cuba pelos mísseis
americanos na Turquia. Kennedy percebera bem a recomendação de B. H. Liddell
Hart, outro realista e um dos grandes historiadores militares e mestres de
Estratégia do século XX, sobre a atitude que um líder político na idade nuclear
deveria ter; recomendação que o Presidente citaria no Saturday Review of
Literature:
“Keep
strong if possible. In any case, keep cool. Have unlimited patience. Never
corner an opponent and always assist him to save his face. Put yourself in his
shoes – so as to see the thing through his eyes. Avoid self-righteousness like
the devil – nothing is so self-blinding.”Os
conselheiros do Presidente Biden deviam ter-lhe recomendado a leitura deste
texto. Agora, é tarde, mas pode sempre vir a servir para o futuro.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS:
servus inutilis: Lamentavelmente o autor tem muita informação mas pouquíssimo conhecimento.
Como a Ucrânia faz parte da Rússia, ambas fazem parte da Europa, da Europa que
as rejeitou. Esta, a europa minúscula dos eurocratas e das maçonarias, nos anos
noventa queria integrar a Turquia, mas nem sequer considerava as três rússias.
JNP devia ler menos as revistazecas da direita americana - também as leio, e
ler mais literatura especializada. A história não se aprende em revistas com
opinadores e jornalistas. Ah, e devia ter lido o que a propósito escreveu Bento
XVI. Atacaram-no violentamente mas quanto à Turquia e às Rússias estava cheio
de razão, como agora se vê. Que JNP apoie discretamente um tirano comunista não
é de admirar, toda a extrema direita faz o mesmo. Francisco
Moutinho: Grande artigo. Gil Lourenço: Excelente artigo! Completamente
diferente daquilo que os "tudólogos" cá do burgo andam a dizer. Agora
temos uma nova espécie de comentadores: "ucranólogos" e
"putinólogos"... todos sabem de tudo e sobre tudo. Francisco
Correia: Esta narrativa
tem um problema: não encaixa no discurso de Putin, realizado na segunda-feira.
O objectivo de Putin é
reconstituir o império russo. A desculpa de que a Rússia está ameaçada pela NATO é
apenas isso: uma desculpa. Quem tem milhares de ogivas nucleares, mísseis
hipersónicos para as transportar e, alegadamente, armamento XPTO que o mundo
nunca viu, não tem razão para se sentir ameaçado. A prova do algodão será ver
se Putin fica só pela Ucrânia. Rui Mendes: Excelente! Sem qualquer tipo de receio de
"sair do alinhamento" do discurso único e simplificações que
pretendem condicionar o chamado "cidadão comum". E, como sempre, o rigor, a
elegância na escrita e a "passagem de testemunho" da memória. Tenho
uma dívida de gratidão, que é impossível de quantificar, em relação a muitos
dos seus "textos"/intervenções (e da Maria José Nogueira Pinto) desde
os anos 80. Neste momento tão tragicamente triste, tentando desanuviar, e
homenageando esses textos que para mim foram frequentemente
"iniciáticos", recordo, qd mt jovem, li as suas descrições (e da
Maria José) das igrejas, museus, praças, ruas, livrarias, "rotinas"
de Roma. Antes de me "apaixonar" em anos recentes pela cidade de
Roma, tive os vossos textos deslumbrantes que a tornavam quase palpável. Esta
referência a Roma é igualmente uma homenagem ao papel que o Papa Francisco tem
tido nesta crise (agora guerra entre irmãos tão próximos), nomeadamente à
visita q fez hoje à Embaixada Russa no Vaticano. Fazendo um paralelismo entre
os anos 60/70 e os tempos atuais, o Papa Francisco é um muito digno sucessor
dos Papas Paulo VI e João XXIII, o mesmo não se passa, tragicamente, com os
políticos/lideranças do mundo ocidental (que diferença abissal de níveis
culturais, exigência, valores, "substância"). Muito obrigado por
tudo... e por Roma (e peço desculpa por este texto embaraçoso, em parte importante,
muito pessoal, uma homenagem à minha Mãe que faz hoje 88 anos). Gil Lourenço > Rui Mendes: Escreveu um texto bonito e
sentido! Parabéns à sua mãe! Vashny
Karpouzis: O insuspeito Dr.
André Thomashausen também ‘alinha’ por esta ‘bitola’: “Minutes of the March 6,
1991 meeting of US, UK, France and German diplomats to discuss NATO and Eastern
Europe: “NATO should not expand eastwards, Esther officially or unofficially.”
Document was found in the National Archives of the United Kingdom by Joshua
Schiffrinson.” E publica no seu Twitter um ‘fac-simile’ do referido documento. Filipe Brandao:
Excelente, como
sempre. Obrigado. PortugueseMan: ...Na
crise de Cuba, John Kennedy foi firme mas foi também inteligente e subtil,
metendo-se na pele de
Khrushchev e pondo-se no lugar dos russos. No fim,
trocaram-se os mísseis de Cuba pelos mísseis americanos na Turquia. Kennedy
percebera bem a recomendação de B. H. Liddell Hart, outro realista e um dos
grandes historiadores militares e mestres de Estratégia do século XX, sobre a
atitude que um líder político na idade nuclear deveria ter...
Precisamos de mais artigos como este.
Tem que haver gente na Europa que pense o mesmo.
O ultimato da Rússia não é sobre a Ucrânia.
A Europa vai ser palco de novo conflito se
continuarmos por este caminho.
Os americanos não vão arriscar o nuclear, porque não
têm protecção contra isso.
Os americanos vão atirar a Europa para a fogueira.
A Europa não tem como parar os mísseis convencionais.
O nosso modo de vida está em perigo.
Sioux Boumerang: Era isto o que os americanos queriam, aliás sonhavam,
foi um sonho que se tornou realidade, chama-se politica de terra queimada, já
que a tomada da Ucrânia não lhes adiantou no terreno o que almejavam, a sua
destruição lançou nos braços destes genocidas o resto da alcateia que estava
renitente em segui-los, no entanto há sonhos que se tornam pesadelos, e eles lá
tão longe e com tudo e nós aqui tão perto e com absolutamente nada.
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