sábado, 12 de fevereiro de 2022

Soma e segue


Na detracção. Alberto Gonçalves o faz. Com muito humor, com muita impiedade. Com muito sabor, com muita animosidade. Quem dera, contudo, que pudesse corrigir, mas os seus escritos só atingem os que o lêem – que são ínfimos, e não os que ele descreve, que somos todos, aparentemente. Contudo, a Amália só se sentia bem no seu país. Porque seria? Julgo que todos nós, de resto. Olhamo-nos com desconfiança, por vezes com desprezo, ou condenação, mas também com simpatia. Somos o povo que tem pena, o povo do “coitadinho”, e da sopinha, das batatinhas, do diminutivo carinhoso, do muito sentimento, que o fado encerra. Apesar de sermos o país do desenrasca, de preferência ao país da competência… Não, não nos vamos corrigir. Condenaríamos os nossos humoristas  detractores à pobreza temática do seu humor.

A hiena que ri, ou as origens da portugalidade

Mais de metade dos portugueses inquiridos acham as condições económicas “fracas” ou “muito fracas”. Praticamente dois terços acreditam que a economia vai piorar. E três quartos sentem-se felicíssimos.

ALBERTO GONÇALVES ,Colunista do Observador

OBSERVADOR, 12 fev 2022

Um estudo da Universidade Católica apurou que os portugueses estão contentes. Dos 1001 sujeitos inquiridos, 80% declaram-se “felizes” ou “muito felizes”, percentagem superior ao que sucedia em 2019. Ou seja, após dois anos em que foram tratados abaixo de cão a pretexto de um vírus respiratório, para não falar dos abusos governamentais que nem se desculparam com o vírus, os cidadãos quase rebentam de alegria.

O estudo não esclarece se a felicidade decorre desse tratamento humilhante ou se existe apesar dele. Quer dizer, é possível que os portugueses rejubilem por causa dos confinamentos, das limitações de circulação, da imposição de cobrir o rosto, das zaragatoas, dos certificados, das multas por comer sandes no carro, da proibição em comprar água em take-away. Ou então o entusiasmo dos meus compatriotas deve-se a outros motivos, que não devem ser os retumbantes sucessos do Benfica e que o estudo não revela. O estudo revela que motivos “materiais” não pesam em tão intensa satisfação. Mais de metade dos inquiridos acham as condições económicas “fracas” ou “muito fracas”. E praticamente dois terços acreditam que a economia ainda vai piorar. E três quartos, repito, sentem-se felicíssimos. Tudo isto é altamente misterioso e tudo isto lembra a velha graçola da hiena, que apenas copula uma vez por ano, alimenta-se de fezes alheias e ri imenso. A hiena ri de quê? E os portugueses?

Uma primeira hipótese é a amostra seleccionada pela Católica ter resultado de um erro grotesco e recaído em indivíduos com graves perturbações mentais. Uma segunda hipótese é a amostragem ser correcta e o erro encontrar-se na cabeça de inúmeros portugueses, incapazes de estabelecer o nexo entre a supressão das liberdades e do dinheiro e uma vida miserável sob quaisquer perspectivas. A ser assim, é tempo de actualizar a canção: “A alegria da pobreza/está nessa grande riqueza/de calar, obedecer, ver sumir o salário a meio do mês para pagar os impostos do combustível, patrocinar vereadores sem pelouro da câmara de Lisboa/e ficar contente”. Todos juntos, agora: “E se à porta, humildemente, bate alguém/cumpra as regras da DGS/coloque o açaimo, mantenha o distanciamento social e não abra”. E venha o refrão: “É uma casa portuguesa, com certeza/é com certeza uma casa que para nosso azar não se confunde com uma casa norueguesa, irlandesa ou sequer luxemburguesa”.

Cantigas à parte, permanece o enigma acerca de uma gente que leva pancada e, de seguida, apressa-se a agradecer aos carrascos. Receio que a tentativa de uma teoria adequada implique o recuo, não de décadas ou séculos, mas de milénios. E mexa com questões delicadas. Os argutos já adivinharam que é o momento de falar do Chega. A recente consagração eleitoral do dr. Ventura recuperou o tema da “raça”, que o partido imagina “pura”, “branca” e “caucasiana”. Ridículo? Sem dúvida, e os justos correram a recordar ao dr. Pacheco de Amorim, ele próprio difícil de confundir com um islandês, as migrações ancestrais que determinaram o que vulgarmente se convencionou designar por “povo português”.

Foi portanto com a melhor das intenções que se ensinou aos senhores do Chega a marca local de celtas, assírios, fenícios, árabes, judeus, romanos, visigodos, negros e demais variedades disponíveis. O que esse triunfalismo mestiço e ecuménico não especifica são os atributos, ou falta deles, desses particulares celtas, assírios, fenícios e etc. Dito de maneira diferente: não se defende o carácter benigno das imigrações contemporâneas através da aceitação cega da doçura, da inteligência e da lucidez dos imigrantes de outrora. Antes de festejar a miscigenação de que somos feitos, convinha apurar a qualidade, um a um, dos espécimes que a originaram. Numa época em que o controlo fronteiriço era escasso, e o SEF da altura raramente interrogava imigrantes até à morte, não havia maneira de conhecer as criaturas que entravam pelo território adentro. A verdade é que podia entrar quem calhava. E é legítimo começarmos a desconfiar que só nos calhavam duques – embora não no sentido aristocrático do termo.

Pensem comigo. Um suevo, por exemplo um suevo, instala-se no que é hoje o Norte de Portugal, cerca de 410 d.C.. Não há tradição balnear. Não há alojamentos locais. Não há receitas de bacalhau. Não há cerveja barata. Não há certames patentes. Há pouquíssimas rotundas. Porque é que o suevo apareceu aqui? Porque, provavelmente, não regulava bem. E a probabilidade alarga-se aos demais fulanos que, ao longo de uma vasta cronologia, literalmente montaram tenda no rectângulo que se tornaria um país: não regulavam bem. Resta perceber se desembocaram por cá depois de se perderem, ou se os seus conterrâneos vinham à fronteira despejar os taralhoucos.

Garantido é que, durante milhares de anos, os taralhoucos se reproduziram, marinaram a taralhouquice e nos deixaram exactamente onde estamos em 2022: pobres como sempre e felizes como nunca, a celebrar um presente sombrio e um futuro negro, mesmo que com “brancos” à mistura. O absurdo português não se explica pela História, e sim pela psiquiatria. Infelizmente, o manicómio funciona em auto-gestão.

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COMENTÁRIOS:

Cabral Paula: Acima de um limiar - que em Portugal deve ser bastante baixo - o bem-estar económico deixa de estar relacionado com a felicidade. Especialmente nestes anos sem inverno...            bento guerra: Serão colaterais do Covid-síndroma de cérebro inconsciente?           Eduardo L: Análise brutal deste país! Confesso que já perdi a esperança de que um dia isto possa melhorar. Não somos capazes ou, mesmo que fôssemos, parece que nem queremos. Muito triste!           Vitor Batista:  Caro Alberto, você é dos poucos com coragem neste rectângulo mal frequentado.  Gabo-lhe a coragem por estes dias, não deve ser fácil escrever estas crónicas e viver no meio de uma chusma imensa de lambe-botas e profissionais de dar palmadinhas nas costas, não sei até quando irá permanecer por aqui, mas o meu receio de ser saneado é real a cada dia que passa, porque o rolo compressor dos xuxas absolutos vai começar a rolar sem parar, ainda assim espero que continue firme e hirto.  Manuel Martins: Relativamente à questão da "raça portuguesa ", parece-me óbvio que hoje em dia, com o regabofe que são as nossas leis de Imigração e de nacionalidade, dificilmente alguém conseguirá vir a identificar um português, num aeroporto pela sua aparência. A nacionalidade portuguesa e O passaporte português são dados ao desbarato, sem critérios fidedignos de origem,  cultura ou sequer língua,  ao contrário da maioria dos países europeus. Existe riqueza na diversidade, mas a perda de identidade é irreversível. Esperemos que,  tal como ocorre em França,  não sejamos compelidos a negar aspectos culturais, valores e tradições,  por imposição, do "respeito " e para não ofender "minorias "... Caro AG, não imaginaria ver uma crónica sua a basear-se em estudos da Católica,  depois da vergonha que foram as sondagens nestas eleições.  Parece-me evidente que os governos,  sobretudo os de uma certa cor política,  descobriram há anos que a manipulação psicológica dos cidadãos é mais importante que a melhoria efectiva e real da sua vida, e bem mais fácil de alcançar. É mais eficaz,  com a ajuda da comunicação social,  convencer o povinho que são felizes,  os melhores do  mundo,  que vivem num paraíso,  tudo graças ao melhor governo do mundo,  do que tornar isso realidade através de uma boa governação.             Carlos Vito: Muito boa crónica que põe "o dedo" no grande mistério que é Portugal. Já houve tempos em que se via neste torrão pátrio características únicas, geográficas e humanas, uma individualidade que nos distinguia dos "outros". Até pelo tipo de crâneo. Éramos então os sucessores dos heróicos lusitanos, que apenas através da traição foram vencidos pelos romanos. A coisa foi depois sendo apurada, afinal éramos, como diz bem, fruto de uma grande miscigenação. Entrámos agora numa terceira fase. Portugal, um país de colonizadores e exploradores dos seus irmãos africanos e outros semelhantes. O passado é motivo de opróbio, de vergonha e arrependimento. O país definha em comparação com os seus vizinhos europeus e até à escala mundial. Mas o povo é cada vez mais feliz e grato! Só há duas explicações. Ou isto é um manicómio, como alvitra, ou fomos todos "gaseados" com a vacina, sem disso nos termos apercebido! Possivelmente uma versão em estado líquido e de última geração do gás hilariante!           Gustavo Lopes: Que belo Ensaio sobre as origens Tugas!!! Mistela de preguiça, inveja, e saloiice mental, que acabou num patamar de “Inteligência Colectiva” plasmada nos resultados eleitorais e nos resultados do inquérito a que se refere… resta aguentar. Obrigado por mais este texto magnífico, AG!           eduardo oliveira: Somos de facto um povo incompreensível,  com laivos de masoquismo e esquizofrenia bem temperados com uma tremenda falta de autoestima e a visão de uma toupeira míope. No entanto, ou se calhar por causa disso mesmo, estamos convencidos de que somos os melhores do mundo e não há factos ou evidências que nos consigam convencer da realidade. Só quando damos com os burrinhos na água e um governo socialista nos leva novamente à bancarrota, então aí,  lá vem um raro momento de lucidez e resolvemos interromper temporariamente o forrobodó ...               Coronavirus corona: O estudo revela que motivos “materiais” não pesam em tão intensa satisfação. Mais de metade dos inquiridos acham as condições económicas “fracas” ou “muito fracas”. E praticamente dois terços acreditam que a economia ainda vai piorar. E três quartos, repito, sentem-se felicíssimos. Tudo isto é altamente misterioso Não fui um dos inquiridos mas seria um dos que responderia exactamente dessa forma. Acho que somos humilhados, explorados e enxovalhados por um poder político que é arrogante até à medula. Não consigo perceber o que levou os portugueses a voltar a votar no PS. Mas apesar de tudo sou uma pessoa extremamente feliz. Feliz por Cristo, com Cristo e em Cristo. Para o Alberto é um mistério. É de facto um mistério: o mistério da fé.  Deus, o Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis,  encarnou para ser traído, torturado, humilhado e crucificado. Podendo ser glorioso, rico e poderoso, não foi esse o caminho que escolheu. Eu sei que é difícil de entender. Se o foco estiver exclusivamente preso a questões materiais é muito difícil de entender. Mas quem tem esse foco, o futuro é-lhe sempre sombrio. Tenha essa pessoa o que tiver, consiga a pessoa o que conseguir.  (os que se humilham serão exaltados e os que se exaltam serão humilhados: não é um cliché cristão; é uma verdade viva).           Carlos Vito > Coronavirus corona: A sua explicação, infelizmente, não cobre a maior parte dos cidadãos, que, pelo menos estatisticamente, não se assumem como militantes católicos.           Manuel Brito: Parabéns, magistral e genial Alberto Goncalves. O Sol, sardinhas e vinho barato também ajudam o povo mas estes risos de hienas maltratadas explicam-se pela Matrix Xuxalista na comunicação social sempre a lavar o cérebro dos papalvos felizes e contentes que apesar de sem cheta no bolso (especialmente quando vão atestar o carro) acreditam na RTP, SIC e CNN. Estas incutem a religião socialista e constroem uma Matrix xuxalista que ensina que apesar de sermos pobrezinhos somos amedrontados muito bem governadinhos por um sr. que nos protege do mal como o Covid ou o Chega (apesar de nos fogos morrerem mais de 100 e no Covid termos sido dos que morreram mais na Europa)  e é para eles muito competente o Sr. Costa. " Portugal ou o medo de existir" de José Gil  também explica bem porque a malta medrosa e pobre e maltratada cá é feliz.          Francisco Correia: Muito bom AG! Isto, de facto, é cada vez mais uma anedota pegada.           Pedra Nussapato: Se há alguém que trata os portugueses abaixo de cão todos os sábados é você, AG!!! A pretexto de um vírus respiratório...tsss...            Raquel Moreira: Ai Alberto Gonçalves o que eu me ri já aqui com a sua prosa! Realmente só recuando e convocando essas raízes taralhoucas se pode entender o actual grau de chalupice que condena Portugal à miséria económica e à indignidade existencial. Infelizmente as notícias que tenho para si em relação ao futuro que nos aguarda tornam a coisa ainda muito mais negra. Com a importação contemporânea de novos eleitores estrangeiros, imposta pela extrema-esquerda terrorista e pelo socialismo corrupto e ladrão, por via da imigração islamita-africana, o que se verifica é a introdução maciça de gerações e gerações de procriação consanguínea e de mãe solteira. Quem tiver tempo e quiser abrir uma janela para o grau de atraso e chalupice que se avizinha, só tem que ir dar uma vista de olhos às estatísticas detalhadas e discriminadas dos imbecis medicamente diagnosticados, e de quem os produziu, nos países onde a invasão se iniciou há já mais algum tempo, como por exemplo o Reino Unido e a França.           Paulo Silva: De facto, bem-pensantes e adiantados mentais, detractores do Amorim, têm toda a razão. Pelo retrato do repórter Alberto Gonçalves somos tudo menos caucasianos… (sarcasmo).

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