Na detracção. Alberto Gonçalves o faz. Com muito humor, com muita impiedade. Com muito sabor, com muita animosidade. Quem dera, contudo, que pudesse corrigir, mas os seus escritos só atingem os que o lêem – que são ínfimos, e não os que ele descreve, que somos todos, aparentemente. Contudo, a Amália só se sentia bem no seu país. Porque seria? Julgo que todos nós, de resto. Olhamo-nos com desconfiança, por vezes com desprezo, ou condenação, mas também com simpatia. Somos o povo que tem pena, o povo do “coitadinho”, e da sopinha, das batatinhas, do diminutivo carinhoso, do muito sentimento, que o fado encerra. Apesar de sermos o país do desenrasca, de preferência ao país da competência… Não, não nos vamos corrigir. Condenaríamos os nossos humoristas detractores à pobreza temática do seu humor.
A hiena que ri, ou as origens da portugalidade
Mais de metade dos portugueses
inquiridos acham as condições económicas “fracas” ou “muito fracas”. Praticamente
dois terços acreditam que a economia vai piorar. E três quartos sentem-se
felicíssimos.
ALBERTO GONÇALVES ,Colunista do Observador
OBSERVADOR, 12 fev
2022
Um
estudo da Universidade Católica apurou que os portugueses estão contentes. Dos
1001 sujeitos inquiridos, 80% declaram-se “felizes” ou “muito felizes”,
percentagem superior ao que sucedia em 2019. Ou seja, após dois anos em que
foram tratados abaixo de cão a pretexto de um vírus respiratório, para não
falar dos abusos governamentais que nem se desculparam com o vírus, os cidadãos
quase rebentam de alegria.
O
estudo não esclarece se a felicidade decorre desse tratamento humilhante ou se
existe apesar dele. Quer dizer, é possível que os portugueses rejubilem por
causa dos confinamentos, das limitações de circulação, da imposição de cobrir o
rosto, das zaragatoas, dos certificados, das multas por comer sandes no carro,
da proibição em comprar água em take-away. Ou então o entusiasmo dos meus
compatriotas deve-se a outros motivos, que não devem ser os retumbantes
sucessos do Benfica e que o estudo não revela. O estudo revela que motivos “materiais”
não pesam em tão intensa satisfação. Mais de metade dos inquiridos acham
as condições económicas “fracas” ou “muito fracas”. E praticamente dois
terços acreditam que a economia ainda vai piorar. E três quartos, repito,
sentem-se felicíssimos. Tudo isto é altamente misterioso e tudo isto lembra
a velha graçola da hiena, que apenas copula uma vez por ano, alimenta-se de
fezes alheias e ri imenso. A hiena ri de quê? E os portugueses?
Uma
primeira hipótese é a amostra seleccionada pela Católica ter resultado
de um erro grotesco e recaído em indivíduos com graves perturbações
mentais. Uma segunda hipótese é a amostragem ser correcta e o erro
encontrar-se na cabeça de inúmeros portugueses, incapazes de estabelecer o
nexo entre a supressão das liberdades e do dinheiro e uma vida miserável sob
quaisquer perspectivas. A ser assim, é tempo de actualizar a canção: “A
alegria da pobreza/está nessa grande riqueza/de calar, obedecer, ver sumir o salário
a meio do mês para pagar os impostos do combustível, patrocinar vereadores sem
pelouro da câmara de Lisboa/e ficar contente”. Todos juntos, agora: “E
se à porta, humildemente, bate alguém/cumpra as regras da DGS/coloque o açaimo,
mantenha o distanciamento social e não abra”. E venha o refrão: “É uma
casa portuguesa, com certeza/é com certeza uma casa que para nosso azar não se
confunde com uma casa norueguesa, irlandesa ou sequer luxemburguesa”.
Cantigas
à parte, permanece o enigma acerca de uma gente que leva pancada
e, de seguida, apressa-se a agradecer aos carrascos. Receio que a
tentativa de uma teoria adequada implique o recuo, não de décadas ou séculos,
mas de milénios. E mexa com questões delicadas. Os argutos já adivinharam que é
o momento de falar do Chega. A recente consagração eleitoral do dr.
Ventura recuperou o tema da “raça”, que o partido imagina “pura”, “branca” e
“caucasiana”. Ridículo? Sem dúvida, e os justos correram a recordar ao dr.
Pacheco de Amorim, ele próprio difícil de confundir com um islandês, as migrações
ancestrais que determinaram o que vulgarmente se convencionou designar por
“povo português”.
Foi
portanto com a melhor das intenções que se ensinou aos senhores do Chega a marca
local de celtas, assírios, fenícios, árabes, judeus, romanos, visigodos, negros
e demais variedades disponíveis. O que esse triunfalismo mestiço e
ecuménico não especifica são os atributos, ou falta deles, desses particulares
celtas, assírios, fenícios e etc. Dito de maneira diferente: não se
defende o carácter benigno das imigrações contemporâneas através da aceitação
cega da doçura, da inteligência e da lucidez dos imigrantes de outrora.
Antes de festejar a miscigenação de que somos feitos, convinha apurar a
qualidade, um a um, dos espécimes que a originaram. Numa época em que o
controlo fronteiriço era escasso, e o SEF da altura raramente interrogava
imigrantes até à morte, não havia maneira de conhecer as criaturas que entravam
pelo território adentro. A verdade é que podia entrar quem calhava. E é
legítimo começarmos a desconfiar que só nos calhavam duques – embora não no
sentido aristocrático do termo.
Pensem
comigo. Um suevo, por exemplo um suevo, instala-se no que é hoje o Norte de
Portugal, cerca de 410 d.C.. Não há tradição balnear. Não há alojamentos
locais. Não há receitas de bacalhau. Não há cerveja barata. Não há certames
patentes. Há pouquíssimas rotundas. Porque é que o suevo apareceu aqui? Porque,
provavelmente, não regulava bem. E a probabilidade alarga-se aos demais fulanos
que, ao longo de uma vasta cronologia, literalmente montaram tenda no
rectângulo que se tornaria um país: não regulavam bem. Resta perceber se
desembocaram por cá depois de se perderem, ou se os seus conterrâneos vinham à
fronteira despejar os taralhoucos.
Garantido
é que, durante milhares de anos, os taralhoucos se reproduziram, marinaram a
taralhouquice e nos deixaram exactamente onde estamos em 2022: pobres como
sempre e felizes como nunca, a celebrar um presente sombrio e um futuro negro,
mesmo que com “brancos” à mistura. O absurdo português não se explica pela
História, e sim pela psiquiatria. Infelizmente, o manicómio funciona em
auto-gestão.
SOCIEDADE PAÍS ECONOMIA HISTÓRIA CULTURA
COMENTÁRIOS:
Cabral Paula: Acima de um
limiar - que em Portugal deve ser bastante baixo - o bem-estar económico deixa
de estar relacionado com a felicidade. Especialmente nestes anos sem
inverno... bento
guerra: Serão
colaterais do Covid-síndroma de cérebro inconsciente? Eduardo L: Análise brutal deste país! Confesso que já perdi a
esperança de que um dia isto possa melhorar. Não somos capazes ou, mesmo que
fôssemos, parece que nem queremos. Muito triste! Vitor Batista: Caro Alberto,
você é dos poucos com coragem neste rectângulo mal frequentado. Gabo-lhe a coragem por estes dias, não deve ser fácil
escrever estas crónicas e viver no meio de uma chusma imensa de lambe-botas e
profissionais de dar palmadinhas nas costas, não sei até quando irá permanecer
por aqui, mas o meu receio de ser saneado é real a cada dia que passa, porque o
rolo compressor dos xuxas absolutos vai começar a rolar sem parar, ainda assim
espero que continue firme e hirto. Manuel Martins: Relativamente à questão da "raça portuguesa
", parece-me óbvio que hoje em dia, com o regabofe que são as nossas leis
de Imigração e de nacionalidade, dificilmente alguém conseguirá vir a
identificar um português, num aeroporto pela sua aparência. A nacionalidade
portuguesa e O passaporte português são dados ao desbarato, sem critérios
fidedignos de origem, cultura ou sequer língua, ao contrário da
maioria dos países europeus. Existe riqueza na diversidade, mas a perda de
identidade é irreversível. Esperemos que, tal como ocorre em
França, não sejamos compelidos a negar aspectos culturais, valores e
tradições, por imposição, do "respeito " e para não ofender
"minorias "... Caro AG, não
imaginaria ver uma crónica sua a basear-se em estudos da Católica, depois
da vergonha que foram as sondagens nestas eleições. Parece-me evidente
que os governos, sobretudo os de uma certa cor política,
descobriram há anos que a manipulação psicológica dos cidadãos é mais
importante que a melhoria efectiva e real da sua vida, e bem mais fácil de
alcançar. É mais eficaz, com a ajuda da comunicação social, convencer o
povinho que são felizes, os melhores do mundo, que vivem num
paraíso, tudo graças ao
melhor governo do mundo, do que tornar isso realidade através de uma boa
governação. Carlos
Vito: Muito boa crónica que põe "o
dedo" no grande mistério que é Portugal. Já houve tempos em que se via
neste torrão pátrio características únicas, geográficas e humanas, uma
individualidade que nos distinguia dos "outros". Até pelo tipo de
crâneo. Éramos então os sucessores dos heróicos lusitanos, que apenas através
da traição foram vencidos pelos romanos. A coisa foi depois sendo apurada,
afinal éramos, como diz bem, fruto de uma grande miscigenação. Entrámos agora
numa terceira fase. Portugal, um país de colonizadores e exploradores dos seus
irmãos africanos e outros semelhantes. O passado é motivo de opróbio, de
vergonha e arrependimento. O país definha em comparação com os seus vizinhos
europeus e até à escala mundial. Mas o povo é cada vez mais feliz e grato! Só
há duas explicações. Ou isto é um manicómio, como alvitra, ou fomos todos
"gaseados" com a vacina, sem disso nos termos apercebido!
Possivelmente uma versão em estado líquido e de última geração do gás
hilariante! Gustavo
Lopes: Que belo Ensaio sobre as origens
Tugas!!! Mistela de preguiça, inveja, e saloiice mental, que acabou num patamar
de “Inteligência Colectiva” plasmada nos resultados eleitorais e nos resultados
do inquérito a que se refere… resta aguentar. Obrigado por mais este texto
magnífico, AG! eduardo
oliveira: Somos de facto um povo incompreensível, com
laivos de masoquismo e esquizofrenia bem temperados com uma tremenda falta de
autoestima e a visão de uma toupeira míope. No entanto, ou se calhar por
causa disso mesmo, estamos convencidos de que somos os melhores do mundo e não
há factos ou evidências que nos consigam convencer da realidade. Só quando
damos com os burrinhos na água e um governo socialista nos leva novamente à
bancarrota, então aí, lá vem um raro momento de lucidez e resolvemos
interromper temporariamente o forrobodó ... Coronavirus corona: O
estudo revela que motivos “materiais” não pesam em tão intensa satisfação. Mais
de metade dos inquiridos acham as condições económicas “fracas” ou “muito
fracas”. E praticamente dois terços acreditam que a economia ainda vai piorar.
E três quartos, repito, sentem-se felicíssimos. Tudo isto é altamente
misterioso Não fui um dos inquiridos mas seria um dos que responderia
exactamente dessa forma. Acho que somos humilhados, explorados e enxovalhados
por um poder político que é arrogante até à medula. Não consigo perceber o que
levou os portugueses a voltar a votar no PS. Mas apesar de tudo sou uma pessoa
extremamente feliz. Feliz por Cristo, com Cristo e em Cristo. Para o Alberto é
um mistério. É de facto um mistério: o mistério da fé. Deus, o Criador de
todas as coisas visíveis e invisíveis, encarnou para ser traído,
torturado, humilhado e crucificado. Podendo ser glorioso, rico e poderoso, não
foi esse o caminho que escolheu. Eu sei que é difícil de entender. Se o foco
estiver exclusivamente preso a questões materiais é muito difícil de entender.
Mas quem tem esse foco, o futuro é-lhe sempre sombrio. Tenha essa pessoa o que
tiver, consiga a pessoa o que conseguir. (os que se humilham serão
exaltados e os que se exaltam serão humilhados: não é um cliché cristão; é uma
verdade viva). Carlos
Vito > Coronavirus corona:
A sua explicação,
infelizmente, não cobre a maior parte dos cidadãos, que, pelo menos
estatisticamente, não se assumem como militantes católicos. Manuel Brito: Parabéns, magistral e genial
Alberto Goncalves. O Sol, sardinhas e vinho barato também ajudam o povo mas
estes risos de hienas maltratadas explicam-se pela Matrix Xuxalista na
comunicação social sempre a lavar o cérebro dos papalvos felizes e contentes
que apesar de sem cheta no bolso (especialmente quando vão atestar o carro)
acreditam na RTP, SIC e CNN. Estas incutem a religião socialista e constroem
uma Matrix xuxalista que ensina que apesar de sermos pobrezinhos somos
amedrontados muito bem governadinhos por um sr. que nos protege do mal como o
Covid ou o Chega (apesar de nos fogos morrerem mais de 100 e no Covid termos
sido dos que morreram mais na Europa) e é para eles muito competente o
Sr. Costa. " Portugal ou o medo de existir" de José Gil
também explica bem porque a malta medrosa e pobre e maltratada cá é
feliz. Francisco
Correia: Muito bom AG! Isto,
de facto, é cada vez mais uma anedota pegada. Pedra Nussapato: Se há alguém que trata os
portugueses abaixo de cão todos os sábados é você, AG!!! A pretexto de um vírus
respiratório...tsss...
Raquel Moreira: Ai Alberto Gonçalves o que eu me ri já aqui com a sua prosa! Realmente só
recuando e convocando essas raízes taralhoucas se pode entender o actual grau
de chalupice que condena Portugal à miséria económica e à indignidade existencial.
Infelizmente as notícias que tenho para si em relação ao futuro que nos aguarda
tornam a coisa ainda muito mais negra. Com a importação contemporânea de novos
eleitores estrangeiros, imposta pela extrema-esquerda terrorista e pelo
socialismo corrupto e ladrão, por via da imigração islamita-africana, o que se
verifica é a introdução maciça de gerações e gerações de procriação consanguínea
e de mãe solteira. Quem tiver tempo e quiser abrir uma janela para o grau de
atraso e chalupice que se avizinha, só tem que ir dar uma vista de olhos às
estatísticas detalhadas e discriminadas dos imbecis medicamente diagnosticados,
e de quem os produziu, nos países onde a invasão se iniciou há já mais algum
tempo, como por exemplo o Reino Unido e a França. Paulo Silva: De facto, bem-pensantes e
adiantados mentais, detractores do Amorim, têm toda a razão. Pelo retrato do
repórter Alberto Gonçalves somos tudo menos caucasianos… (sarcasmo).
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