Das estátuas e da História. A História Antiga que o “Padrão
dos Descobrimentos "ratifica, na visão de um médico e historiador
angolano – CARLOS
MARIANO MANUEL.
Agradeço a João Sena, que enviou, para o meu email, o texto seguinte, como introdução ao texto publicado no OBSERVADOR, em 16/12/21 escrito por Xavier Figueiredo, sobre “A
história de Angola na perspectiva de um historiador angolano”:
«Joao Afonso
Bento Soares <soares.jab@gmail.com>
escreveu no dia quarta, 5/01/2022 à(s) 19:52:
«Recebido
de um meu colega de Liceu (link
tb em anexo). Leitura aconselhada a ex-deputados (Joacine, Ascenso S. e
quejandos):
«Envio um
artigo de Xavier de Figueiredo (link em baixo) publicado no jornal
Observador, sobre a História de Angola escrita pelo médico e historiador
angolano Carlos Mariano Manuel. Creio que
os defensores da demolição de estátuas de colonizadores sentir-se-ão ridículos
e desacreditados depois de lerem o artigo em causa, mais ainda se lerem a obra
desse historiador.
Um
abraço Adriano
https://observador.pt/opiniao/a-licao-de-carlos-mariano-manuel/»:
«A lição
de Carlos Mariano Manuel»
Carlos Mariano Manuel exalta o Padrão
dos Descobrimentos na visão serena que cultiva da História do seu país, Angola.
É uma “carapuça” na cabeça dos que vêem na história de Portugal um infame
buraco negro
XAVIER DE FIGUEIREDO Jornalista,
especialista em assuntos africanos
OBSERVADOR, 16 dez 2021
Foi
por vontade própria que o lançamento da sua obra ocorreu no auditório do Padrão
dos Descobrimentos – “nobre local”, como lhe chamou quando chegou a sua
vez de falar naquele acto. A
obra, em três grossos volumes (Ed. Perfil Criativo), mais de 2.000 páginas no
total, é uma história de Angola.
Ao título “Angola”, juntou um sugestivo subtítulo “Desde
Antes da sua Criação pelos Portugueses até ao Êxodo destes por Nossa Criação”.
Carlos Mariano Manuel
Carlos Mariano Manuel, é dele que se trata, é um angolano de 64 anos
nascido num lugar do norte do território, Negage no tempo colonial
especialmente conhecido por estar aí instalada uma Base Aérea. A sua
vida, contada pelo próprio, no primeiro volume da obra, ajuda a compreender a
serena visão que tem da História do seu país, que estuda/analisa vai para 25
anos. Uma conversa pessoal de umas duas horas robustece a impressão.
O
rigor e a profundidade que a narrativa histórica da sua obra deixam
transparecer (dois dos seus méritos),
é seguramente fruto da observância de critérios em que assenta a sua visão da
História. Entre eles o de olhar para o passado tendo sempre presente
realidades que o foram marcando. “Não é honesto”, diz, sujeitar tempos antigos
a apreciações inspiradas em referências e lógicas do presente.
Para Carlos Mariano Manuel também faz fé que as fontes documentais e
bibliográficas são as que melhor preservam a integridade da substância da
história. Foi guiado
por esse princípio que a pesquisa a que se entregou para escrever a sua obra
tenha feito dele um grande frequentador de vários arquivos históricos – Berlim,
Lisboa e Luanda. Ou leitor de obras fundamentais – com a de António Cadornega à
cabeça.
O
subtítulo da sua obra encerra duas ideias fortes. Uma, a de que
Angola, tal como a conhecemos, no seu território, nas suas fronteiras, é obra
de portugueses; outra, a de que a debandada dos portugueses por
alturas da descolonização não foi estranha a influências dos angolanos. A este desfecho da conturbada transição de Angola
do período colonial para a independência chama “lamentável, lamentável, lamentável”.
A
data escolhida por Carlos Mariano Manuel para lançamento público da sua obra,
em Lisboa, foi o dia 29 de
Outubro. Uma maneira
de evocar uma batalha que nesse mesmo dia de 1665 se feriu entre uma hoste do
rei do Congo, D. António, e outra, constituída por portugueses e potentados
locais, seus aliados, para os quais a sorte pendeu. Na sua interpretação, foi por via de feitos como o
de Ambuíla, que a autoridade central de Luanda se foi alargando àquele que
viria a ser o actual território de Angola.
Na
mesa de honra do pequeno auditório do Padrão dos Descobrimentos está outro
angolano, Marcolino
Moco,
prefaciador de um dos volumes da obra, que partilha integralmente do pensamento
do autor. O que os portugueses encontraram quando chegaram
àquelas partes de África foi uma amálgama de potentados, muitos deles rivais entre si, cada com uma identidade
própria. Juntá-los a todos, num esforço que se arrastou até ao
dealbar do século XX, isso foi obra de portugueses.
A apresentação no Padrão dos Descobrimentos
O entendimento que ambos têm das
origens remotas de Angola afasta-se nitidamente de outras versões da História
de Angola, estas ainda a fazer carreira, nitidamente sujeitas a reduções
políticas, ideológicas ou simplesmente de conveniência. Angola é apresentada nessas versões como uma
entidade pré-existente à chegada dos portugueses, que a ocuparam e colonizaram
até ao seu resgate por efeito de um rasgo libertador protagonizado “pelo
partido”. A história
ao partido pertence….
O
tão celebrado rei Mandume, que a historiografia oficial angolana apresenta como
um incansável resistente à ocupação do seu potentado Cuanhama pelos
portugueses, estava, afinal, feito com os alemães do antigo South West Africa, a Namíbia actual. Se
tivesse conseguido levar a sua resistência até às últimas consequências – claudicou e rendeu-se aos portugueses no seguimento da
derrota da Alemanha na Grande Guerra – as terras
do seu potentado teriam sido incorporadas na então colónia alemã.
A
lição de Carlos Mariano Manuel ou Marcolino Moco não é inédita entre
intelectuais e pensadores africanos. A
Leopold Senghor ouvi benevolentes considerações acerca de Portugal,
dos portugueses e da história da sua secular passagem por África numa
entrevista que lhe fiz em Bissau, vai para 40 anos. A Luiz
Cabral, Aristides Pereira e Jonas Savimbi, em diferentes circunstâncias, ouvi coisas parecidas.
A
honraria de “nobre
local” conferida
por Carlos
Mariano Manuel ao local
onde lançou a sua obra, sentiu-a ele devida pelo facto de ter sido dali (o cais
do Restelo ou de Belém, como no passado foi conhecido) que partiram as naus que
deram corpo à expansão marítima portuguesa – um grande número delas nunca mais
fazendo a “torna viagem”, sepultadas, elas e os homens nelas embarcados, no
fundo de mares.
Mas também à consciência de que os
malefícios da expansão marítima são apenas parte de um todo que também
compreende muito de bom. A começar pelo seu valor científico. Foi por via da expansão marítima portuguesa que o
Atlântico Sul e suas bordas, na América e em África, entraram na história do
mundo, fazendo assim cair por terra lendas e mitos de Santo Agostinho ou de
Ptolomeu, que era tudo o que sabia sobre aquelas ignotas paragens.
A obra em três
volumes
A
dimensão e o estatuto que é hoje o da língua portuguesa, falada em vários
pontos do mundo por mais de 250 milhões, é também obra da expansão marítima. Em
muitos dos Estados nos quais se implantou como língua oficial, a língua
portuguesa tem o incomensurável valor de um factor de identidade e de unidade
nacional – agregando o que línguas e falares diversos tendiam a desunir. Não
fora a expansão e a língua portuguesa não valia seguramente mais do que vale o
catalão.
Médico
e académico de profissão, dedicado à História quando há 25 anos se abalançou na
obra agora concluída, Carlos Mariano Manuel exalta o Padrão dos Descobrimentos simplesmente levado
pela visão serena que cultiva da História antiga do seu país. A lição nisso
implícita não deixa de ser uma “carapuça” enfiada na cabeça de portugueses que
vêem na história de Portugal um infame buraco negro. Como aquele deputado que um dia viu o Padrão dos
Descobrimentos como legado de um passado sinistro, fácil de extirpar com a
ajuda de um camartelo que o reduzisse a escombros.
HISTÓRIA CULTURA ANGOLA ÁFRICA MUNDO
COMENTÁRIOS:
António Mesquita, 16/12/2021:
2000 páginas é muito... Mas ainda vou pensar em ler. O
saber só ocupa o lugar da ignorância.
Rui Guimarães, 16/12/2021: Mas que grande chapada na cara de alguns idiotas que
pululam na Assembleia da República.
Nenhum comentário:
Postar um comentário