sábado, 19 de fevereiro de 2022

Fleuma


No esclarecimento. Por Jaime Nogueira Pinto. Esclarecimento abortável, nestes tempos de tanto saber cacarejante, visto que já poucos se debruçam sobre o saber livresco, mais trabalhoso e obscuro. Só se pede ao Dr. JAIME NOGUEIRA PINTO que não desista de no-lo fornecer, esse esclarecimento viageiro no tempo, que tanto prazer concede, tanto mais que sobressai nessa sua fleuma – talvez de modéstia, talvez de superioridade - indiferente ao vozear da convicção palavrosa. O que se prova, nestas páginas de serena análise, é que os dogmas sempre singraram no mundo, quer de origem mais espiritual, quer de origem mais ideológica, partindo de realidades que a moral – unilateral – condenava. O Terror em França, foi prova disso, como hoje o são as teorias do igualitarismo social, causadoras de tanto atropelo. Veremos (não é o meu caso) como vai tudo evoluir na ondulação dos tempos, as tais teorias de bondade, semeadoras de tanto Mal…

Religião e ideologia, Cristianismo e Marxismo

Quer na teoria, quer na prática, o Marxismo e os marxistas sempre combateram a Religião, o grande entrave à consagração da sua “Ideologia científica”. Agora, não é diferente.

JAIME NOGUEIRA PINTO, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 17/2/22

Dizia Karl Marx que o ponto de partida de toda a crítica era a crítica da Religião. Só assim se emancipava e disciplinava o espírito analítico para dissecar com liberdade a História, a Sociedade e a realidade do mundo. E para Marx, fundador do Materialismo Dialéctico com Friedrich Engels, seu amigo e mecenas, o grande crítico e coveiro da Religião era o seu patrício e contemporâneo Ludwig Feuerbach que, em 1841, publicara A Essência do Cristianismo.

N’A Essência do Cristianismo, Feuerbach contrapunha a abstracção de Deus e da Religião à realidade do Homem e da Natureza. Deus era uma “representação fantasmagórica” do género humano, criada, inventada e imaginada pelos próprios homens. Entre a perspectiva teológicaque secundarizava o homem e priorizava Deus – e a perspectiva antropológicaque secundarizava Deus e privilegiava o homem –, Feuerbach optava pela visão antropológica: não fora Deus que criara o homem, fora o homem que criara Deus.

A crítica da Religião tinha começado em grande força com a guerra cultural dos Ilustrados do século XVIII contra a Igrejacom a Enciclopédia, com Voltaire, com Sade. E durante a Revolução Francesa, sobretudo no período do Terror, entre Setembro de 1793 e Setembro de 1794, a luta para erradicar a religião da Nação Cristianíssima tornar-se-ia particularmente feroz. A 5 de Novembro de 1793 abolia-se o calendário gregoriano e impunha-se todo um novo e pitoresco calendário: na revolucionária contagem do tempo, o nascimento de Cristo, que antes rasgava as Eras, dava lugar ao advento da República Francesa e à consagração do seu inaugural primeiro dia. Foi também em Novembro de 93 que começaram a mudar-se nomes de localidades e a destruir igrejas ou a transformá-las em “templos da Ciência e da Razão”. Todas as igrejas parisienses foram fechadas e a catedral de Notre Dame, passada a “Templo da Razão”, albergou uma grande “festa cívica”.

Tornaram-se comuns as pantominas de cerimónias religiosas e a diversão teve aspectos sádicos: em Nantes, o famoso Carrier, que se notabilizou por afogar no Loire os presos políticos, monárquicos e católicos, instituiu os “casamentos republicanos”: um padre e uma freira eram amarrados a pedras e atirados, aos pares, para o fundo do rio. E na província monárquica e católica da Vendeia as tropas republicanas praticaram um dos primeiros genocídios de inspiração ideológica ou “cultural” da História europeia, matando 200.000 “inimigos da Razão” – homens, mulheres e crianças.

Marx, que foi um pensador fundamental do século XIX e da modernidade, com contribuições importantes para a Sociologia e para a interpretação da História, como o conceito de Classe, ainda não era nascido quando da Revolução e dos seus desmandos; e nem a Revolução nem o Terror chegariam, no seu tempo, à Alemanha.

Marx, Engels e outros dos seus discípulos e seguidores quiseram fazer do Marxismo (e no século XX, depois da Revolução Bolchevique, do marxismo-leninismo) uma Ciência da História, que se desenvolveria de acordo com determinadas leis, dependentes das forças de produção. Assim, tal como o modo de produção feudal determinara um certo tipo de superestrutura político-social, o modo de produção capitalista determinaria outra. Entre estes dois tempos históricos ficava, para embaraço dos sábios, um longo interregno de séculos, a que alguns intelectuais orgânicos depois chamariam “Idade do Comércio”.

Onde o Comunismo venceu e se instalou o “socialismo real”, quis construir-se uma “Utopia sem Deus”, capaz de se sobrepor à Religião e de a substituir, trocando o “ópio do povo” por uma analgésica utopia, mais moderna e científica, que a violência tornaria particularmente eficaz. Por isso, na Rússia, depois do triunfo dos bolcheviques, a Igreja cristã ortodoxa foi perseguida, os templos fechados ou incendiados, os padres assassinados, os cristãos marginalizados. Os soviéticos anunciavam-se como arautos e portadores da Ciência, e era em nome da Ciência que se empenhavam em ridicularizar as crenças religiosas para melhor as poderem aniquilar. Logo nos primeiros anos da Revolução, deram-se ao trabalho e à despesa de enfiar camponeses em aviões e de os levar “ao céu”, para que vissem que ali não havia nada. Mais tarde, nos tempos de Kruschev, um poster muito difundido mostrava o Sputnik a bater na cabeça careca de Deus Pai, enquanto, numa reunião do Partido, o próprio Kruschev dizia, num assomo de lucidez científica, que “Gagarin voara no espaço e não vira lá Deus nenhum”.

E ainda que, na Segunda Guerra Mundial, durante a invasão alemã, o pragmático Estaline tivesse fechado temporariamente os olhos a alguma prática religiosa e até reprimido as actividades da “Liga dos Sem Deus”, a fim de apelar ao patriotismo popular, as perseguições religiosas e a violência contra as Igrejas nunca deixariam de definir os regimes comunistas. Em 1936, na Espanha da Frente Popular, foram detidos e fuzilados milhares de sacerdotes e religiosos, incluindo bispos. Na Europa de Leste, a perseguição à Igreja foi sistemática e brutal, e seria da renitente Polónia católica que partiria a resistência que iria contribuir para o fim do Comunismo.

Quer na teoria, quer na prática, o Marxismo e os marxistas-leninistas sempre combateram a Religião, o grande entrave à vitória da “Ciência” ou à consagração da sua Ideologia.

Então como e porque é que se sublinha a coincidência entre os ideais comunistas e os do Cristianismo? Talvez pela tentativa de transplantação compulsiva de alguns ideais cristãos, devidamente laicizados e expurgados de liberdade e transcendência, para os “paraísos na terra” comunistas; ou também porque, como muitas vezes acontece com interpretações do mundo e dos homens antagónicas, houvesse ocasionais inimigos, e até causas, comuns.

No século XIX, os comunistas e a Primeira Internacional criticavam e revoltavam-se contra o chamado capitalismo selvagem, o laissez-faire, laissez-passer que tiranizava as massas rurais que migravam para as grandes cidades, o capitalismo do trabalho sem horários, da exploração do trabalho infantil e das formas de escravatura branca, num tempo em que se abolia a escravatura negra. Essa indignação era partilhada por muitos cristãos e foi precisamente nessa época que o pensamento cristão-social deu os primeiros passos. E quer nos escritos de Dickens, de Tolstoi, de Victor Hugo ou de Zola, quer nas reflexões dos Papas Sociais, se condenavam o pecado e a culpa máxima das sociedades da opulência, construídas sobre as primeiras máquinas, mas também sobre a exploração sem freio de parte da população, garantida pela força do Estado Liberal.

A justa cólera perante a injustiça e o aviltamento da condição humana (simbolizados pelo Scrooge de Dickens e pela ordem social burguesa de Oitocentos e contra os quais Marx escreveu e lutou) foi também sentida pelos pensadores e activistas do Cristianismo Social; e, nos finais do século XIX, em França, a mesma cólera apareceria ligada ao nacionalismo identitário e anti-burguês, que mais tarde se cristalizaria nas correntes da chamada direita revolucionária. Afinal, as primeiras legislações sociais sobre horários e regulamentos do trabalho, seguros de saúde e pensões de velhice tinham surgido na Alemanha de Bismarck, que não era propriamente um homem de esquerda.

Uma das grandes forças do Marxismo foi o facto de a sua formulação utópica igualitária se aproximar em versão justicialista do Cristianismo das Bem-aventuranças do Sermão da Montanha; e uma das suas virtudes foi conseguir pressionar as sociedades burguesas no sentido de melhorarem a condição dos trabalhadores, para evitar a temida Revolução.

Só que, sempre que os nobres ideias e as justas lutas dos arautos da “Ciência” se traduziram em experiências de “socialismo real”e na União Soviética houve mais de 70 anos de experimentalismo – não trouxeram nada que se assemelhasse a uma sociedade justa, igual e equilibrada. Antes, trouxeram os piores defeitos e pecados das religiões organizadas e uma oligarquia de zelotas iluminados que se entretinham a sujeitar o povo às suas experiências colectivas e colectivistas (o Holodomor ucraniano e a China do Grande Salto em Frente são disso exemplos paradigmáticos). E, no final, construíram sociedades geridas por nomenclaturas de burocratas privilegiados, em tudo iguais a qualquer oligarquia aristocrática ou burguesa, excepto na retórica do melhor dos mundos.

Um dos problemas de Marx e do marxismo foi que os seus discípulos, sobretudo quando vencedores, transformaram um pensamento analítico numa série de dogmas equivalentes aos das religiões reveladas. E aquilo que é compreensível numa religião que admite a transcendência da Revelação – e, por isso, o dogma – é particularmente irracional numa ideologia que, mais que uma interpretação da realidade, sempre se quis impor como uma verdadeira Ciência do Homem e da História, declaradamente fundada na Razão mas insusceptível de ser abalada pela contraprova dos factos.

Porque é que o zelo de grande parte dos discípulos e continuadores de Marx tende a fazer das suas teses e cânones de interpretação verdadeiros e indiscutíveis dogmas para-religiosos? Porque, aparentemente, a persistência da natureza humana, com a sua “mistura de trevas e brilho” e a sua continuada ânsia de transcendência, ora impede a morte das religiões, ora tende a transformar a mais “científica” das ideologias numa religião em fundamentalista e furiosa cruzada.

Talvez por isso, para os zelotas e os inquisidores que, munidos de novas “verdades científicas”, voltam hoje em força para retraçar o mundo a régua e esquadro, tornar a fazer do passado tábua rasa e refundar à força a humanidade num qualquer delírio para-humano, as igrejas em geral (e o Cristianismo em particular, com tudo o que representa e defende) continuem a ser o alvo a abater.

COMENTÁRIOS:

josé maria: Pessoa, nota-se bem, foi um "perigoso marxista"... Como ele, existiram muitos "perigosos marxistas" de direita, que criticaram a Igreja Católica e a Religião... Darwin também deve ter sido um "perigoso marxista", tal como Galileu e Giordano Bruno.            Antonio Mendes: Excelente ensaio. Um erro crasso do Marxismo foi assumir que por Deus ser criado pelo homem não era necessário. Semelhante ao erro de assumirem que o dinheiro também não era necessário. A que podemos somar a sua teoria sobre o lucro, etc. Ainda estou para descobrir uma ideia certa no Marxismo, por isso fico estupefacto pela sua disseminação tão ampla.           Paulo Silva > Antonio Mendes: O Marxismo é o ópio dos intelectuais; é a grande ilusão da era da orfandade espiritual dos homens. Karl Marx foi um mestre da invectiva, e acima de tudo um grande retórico, (para não dizer o nome que Eric Voegelin lhe chamava).            Meliodas Da Silva > Antonio Mendes: Não sou marxista mas acho que a religião não faz falta nenhuma, seja ela qual for.            Gabriel Moreira: Brilhante.          Pedro Cunha: Obrigado Jaime pelo excelente e elucidativo artigo!            Censurado Censurado: Grande crónica sobre a Sta. Inquisição! Sem dúvida o pico da civilização.           manuel soares Martins: É verdade, mas não é necessário ser cristão ou professar alguma religião para se detestar o marxismo... que, de resto, já passou de moda.            Ilídio Neves: As grandes aspirações colectivas que estão na origem do Iluminismo (liberdade de pensamento e de expressão), da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) e da revolução marxista (justiça social para os marginalizados e oprimidos) são, em si, aspirações genuinamente cristãs, mas que foram concretizadas fora do cristianismo, por movimentos seculares e até anticristãos. Isto quer dizer que nesse aspecto se pode falar de um fracasso histórico do cristianismo, bem visível na sociedade actual, dominada pelo indiferentismo religioso e pelo materialismo. Como é que isso aconteceu? A história, que é mestra da vida explica-nos isso. As propostas de Jesus, que estão no evangelho (que quer dizer em grego «boa notícia») de mudança de mentalidade e de prática social concreta na vida (amai-vos uns aos outros; a paz seja convosco; bem-aventurados os que defendem os marginalizados; Deus como Pai de todos os homens, etc.) foi progressivamente ultrapassada pela prática da Igreja na organização de uma estrutura ideológica e dogmática rígida, hierarquizada, ritualista, por vezes politizada. Por isso, o combate às injustiças sociais foi substituído pelo debate teológico, pelo combate das heresias e pelo apego ao «poder» da Igreja. Os pobres tiveram que esperar e esperaram, até aparecerem os «redentores laicos» (os falsos profetas de que o próprio Jesus fala).          Sebastião > Ilídio Neves: Exactamente. A cristalização institucional desvirtua sempre a base de pensamento na qual se fundamenta. Mas a raiz do pensamento está lá. A prática da igreja desvirtua a pureza cristã como a forma institucional do comunismo torna aberrante o marxismo. Sem a ideia fundamental da igualdade humana do Cristianismo nunca haveria filosofia Marxista. Mas há cabeças duras que não querem ver isso nem por nada. E compreende-se porquê: andar a semana inteira a pensar exclusivamente na bolsa e em como sacar com egoísmo o máximo ao próximo e depois ir à missa ouvir apregoar  a moral da igualdade, o apreço ao próximo como seu igual e a condenação da usura não quadra com nada...             Joaquim Almeida: Lição eloquente e cristalina. Os neo-marxistas já proclamaram o sofisma que salvará os  "factos" marxistas de naufragar na contradição: se há contradição, dizem eles, é porque a realidade é contraditória, cabendo à Razão respeitar o real contraditório. - o real contrabandeado -  e admitir a contradição; acaba-se com o princípio da não- contradição  e deixa-se à relação de forças (dominação) resolver o dilema , tomando o cuidado de mobilizar  os velhos e novos média em apoio das patrulhas   do cancelamento e da censura, ao serviço dos populismos das "causas fracturantes" e do globalismo. Já ouviram falar de marxismo cultural?...       José Miranda: Grande crónica!            Paulo Mauritti > josé maria: Pessoa era um ser humano com defeitos e virtudes. ……….            José Ramos > josé maria De facto, Fernando Pessoa estava longe de ser "um perigoso marxista". «Ao contrário do catolicismo, o comunismo não tem uma doutrina. Enganam‑se os que supõem que ele a tem. O catolicismo é um sistema dogmático perfeitamente definido e compreensível, quer teologicamente, quer sociologicamente. O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema — o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós. O comunismo não é uma doutrina porque é uma antidoutrina, ou uma contradoutrina. Tudo quanto o homem tem conquistado, até hoje, de espiritualidade moral e mental — isto é de civilização e de cultura — tudo isso ele inverte para formar a doutrina que não tem.»  In Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando Pessoa.  Coronavirus corona: Feuerbach optava pela visão antropológica: não fora Deus que criara o homem, fora o homem que criara Deus Este assunto foi desenvolvido de forma brilhante por Chesterton no seu livro "O Homem Eterno".            José Pinto de Sá:  Excelente texto, mais filosófico que "O ópio dos intelectuais" de Raymond Aron, mas na mesma linha de raciocínio             Vitor Batista: Abomino o marxismo,tolero o cristianismo, mas o que eu adoro mesmo são estas lições de Jaime Nogueira Pinto.  Qualquer crónica sua vale uma assinatura do observador.            Rogério Russo: Feuerbach era um tonto e o papa Francisco é um marxista encapotado da teologia libertação. Há lá maior tolice que seguir um bispo que se confessa ateu? Faz lembrar as aulas de matemática no liceu dadas pelo professor de religião e moral quando faltava o prof. de matemática. O melhor professor de matemática -excelente- que tive era cónego. Sempre duvidei daquele longo celibato em prol da igreja. A questão é que sabíamos o que valia como professor mas nunca soubemos quem era como representante de Deus. Há esse problema de alguns terem o dom de falar com a divindade... no caso devia ser a matemática porque falava a mesma língua.            Vitor BatistaRogério Russo: Feuerbach e outros acólitos foram os responsáveis directos pelo aparecimento de Hitler, do partido Nacional socialista, e do nascimento do Nazismo.  É este o legado tenebroso dessa gente.           Francisco Tavares de Almeida > Rogério Russo: Tive um professor de matemática que me incentivou fortemente a ouvir as "Quatro Estações" de Vivaldi. Na semana seguinte, disse-me que alguma música, alguma matemática e alguma poesia, eram a mesma coisa. Como eu então entendi, teriam a mesma natureza. Esse professor era ateu mas anos mais tarde, um professor de Filosofia, explicou-me que músicos, poetas, escritores, escultores, pintores, coreógrafos, etc., etc. às vezes tocavam em Deus, porque o que faziam era Criação e assim transcendiam a limitação humana. De não aceitar a transcendência não vem mal ao mundo mas as utopias que ignoram ou negam a transcendência, se levadas à prática, resultam em distopias.           David Pinheiro: As religiões moderadas são importantes para a humanidade, juntamente com os livros de ficção.           Tomás: O Cristianismo conferiu um estatuto moral à vítima ao incutir no cristão o dever de se preocupar com ela. O Cristianismo apela, nesse sentido, a uma revolução no interior de cada cristão. A ênfase não está na vítima, mas na responsabilidade do cristão. Poderia dizer-se que há um dever do cristão, mas não um direito da vítima. Isto é o que está expresso nas bem-aventuranças e no sermão da montanha. Utopias como o marxismo invertem este princípio. A centralidade é colocada na vítima. A vítima tem direitos e é enquadrada como oprimida e injustiçada. Por isso, pode impor-se a denominados opressores, que ficam incumbidos de cuidar da vítima à força. Ao contrário do Cristianismo, parte dos direitos e impõe deveres. Não há revolução interior, não há verdadeira caridade: apenas o exercício de poder e força. Há parecenças entre o Cristianismo e o marxismo, mas porque este é parasitário daquele. Não é surpreendente que o marxismo se tenha desenvolvido em sociedades cristãs. Afinal, parece uma heresia cristã. Sebastião: O Marxismo enquanto filosofia política é mera extensão do pensamento cristão. É digamos assim, a pragmática política do pensamento igualitário e salvífico do cristianismo.  As pessoas da direita torcem-se todas com isto mas têm estudar e ler muito e debater para compreender. Senão viverão na eterna ignorância.     Tomás >  Sebastião: Extensão, não. Distorção. O marxismo não segue da mensagem cristã. Aproveita sim alguns ideais cristãos, elevando-os ao absoluto, ignora outros ideais cristãos e procura fazer uma revolução social.            Carminda Damiao: Excelente artigo. Obrigada por esta lição de história tão esquecida e deturpada nos últimos tempos.          Manuel Lourenço: Pequeno texto mas enorme conteúdo. Para mim, o marxismo é uma "heresia" do Cristianismo.  O céu na terra, criado por uma vanguarda de iluminados - que acabou sempre num inferno na terra. Quanto mais não seja,  é uma verdade cientifica e um facto obvio que o comunismo acaba sempre (ou melhor nem sequer é quando acaba, é mesmo quando começa) numa enorme trapalhada em que só uma ditadura com mão de ferro (e armas com balas reais na nuca) consegue manter. Já a criação divina, como ninguém pode dizer que lá esteve, pode-se acreditar ou não ....           bento guerra: As religiões foram invenções (boas) para responder ao drama do pós-morte, o marxismo é uma concepção política que tentava responder a uma teoria materialista do confronto entre o capital e o trabalho. Com o tele-trabalho perde o romantismo. Nada a ver uma coisa com outra……………………………………………………………..

 

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