No esclarecimento.
Por Jaime Nogueira Pinto. Esclarecimento abortável,
nestes tempos de tanto saber cacarejante, visto que já poucos se debruçam sobre
o saber livresco, mais trabalhoso e obscuro. Só se pede ao Dr. JAIME NOGUEIRA
PINTO que não desista de no-lo fornecer, esse esclarecimento viageiro no tempo,
que tanto prazer concede, tanto mais que sobressai nessa sua fleuma – talvez de
modéstia, talvez de superioridade - indiferente ao vozear da convicção
palavrosa. O que se prova, nestas páginas de serena análise, é que os dogmas
sempre singraram no mundo, quer de origem mais espiritual, quer de origem mais
ideológica, partindo de realidades que a moral – unilateral – condenava. O Terror
em França, foi prova disso, como hoje o são as teorias do igualitarismo social,
causadoras de tanto atropelo. Veremos (não é o meu caso) como vai tudo evoluir
na ondulação dos tempos, as tais teorias de bondade, semeadoras de tanto Mal…
Religião e ideologia, Cristianismo e Marxismo
Quer na teoria, quer na prática, o
Marxismo e os marxistas sempre combateram a Religião, o grande entrave à
consagração da sua “Ideologia científica”. Agora, não é diferente.
JAIME NOGUEIRA
PINTO, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 17/2/22
Dizia Karl Marx que o ponto de
partida de toda a crítica era a crítica da Religião. Só assim se emancipava e
disciplinava o espírito analítico para dissecar com liberdade a História, a
Sociedade e a realidade do mundo. E para Marx, fundador do Materialismo Dialéctico com Friedrich Engels, seu amigo e mecenas, o grande crítico e coveiro da Religião era o seu patrício e contemporâneo Ludwig Feuerbach que, em 1841, publicara A Essência do Cristianismo.
N’A Essência do Cristianismo, Feuerbach contrapunha
a abstracção de Deus e da Religião à realidade do Homem e da Natureza. Deus era uma “representação fantasmagórica” do
género humano, criada, inventada e imaginada pelos próprios homens. Entre a perspectiva teológica – que secundarizava o homem e
priorizava Deus – e a perspectiva antropológica – que secundarizava Deus e privilegiava o homem
–, Feuerbach
optava pela visão antropológica: não fora Deus que criara o homem, fora o homem
que criara Deus.
A crítica da Religião tinha começado em grande força com
a guerra cultural dos Ilustrados do século XVIII contra a Igreja – com a Enciclopédia, com Voltaire, com Sade. E durante a Revolução Francesa, sobretudo no período do Terror, entre Setembro de 1793 e Setembro
de 1794, a luta para erradicar a religião da Nação Cristianíssima tornar-se-ia
particularmente feroz. A 5 de Novembro de 1793 abolia-se o calendário gregoriano e impunha-se todo um novo e pitoresco
calendário: na revolucionária contagem do tempo, o nascimento de Cristo, que antes rasgava as Eras, dava
lugar ao advento da República Francesa e à consagração do seu inaugural primeiro dia. Foi também em Novembro de 93 que começaram a mudar-se nomes
de localidades e a destruir igrejas ou a transformá-las em “templos da Ciência
e da Razão”. Todas as igrejas parisienses foram fechadas e a catedral de Notre Dame, passada a “Templo da Razão”,
albergou uma grande “festa cívica”.
Tornaram-se comuns as pantominas de cerimónias
religiosas e a diversão teve aspectos sádicos: em Nantes, o famoso Carrier, que se notabilizou por afogar
no Loire os presos políticos, monárquicos e católicos, instituiu os “casamentos
republicanos”: um padre e uma freira eram amarrados a pedras e atirados, aos
pares, para o fundo do rio. E na província monárquica e católica da
Vendeia as tropas republicanas praticaram um dos primeiros genocídios de
inspiração ideológica ou “cultural” da História europeia, matando 200.000
“inimigos da Razão” – homens, mulheres e crianças.
Marx, que foi um pensador fundamental do século XIX e
da modernidade, com contribuições importantes para a Sociologia e para a
interpretação da História, como o conceito de Classe, ainda não era nascido
quando da Revolução e dos seus desmandos; e nem a Revolução nem o Terror
chegariam, no seu tempo, à Alemanha.
Marx, Engels e outros dos seus discípulos e seguidores quiseram fazer do Marxismo (e no
século XX, depois da Revolução Bolchevique, do marxismo-leninismo) uma Ciência
da História, que se desenvolveria de acordo com determinadas leis, dependentes
das forças de produção. Assim, tal como o modo de produção
feudal determinara um certo tipo de superestrutura político-social, o modo de
produção capitalista determinaria outra. Entre estes dois tempos históricos ficava, para
embaraço dos sábios, um longo interregno de séculos, a que alguns intelectuais
orgânicos depois chamariam “Idade do Comércio”.
Onde o Comunismo venceu e se instalou o “socialismo real”, quis construir-se uma “Utopia sem Deus”, capaz de se sobrepor à Religião e
de a substituir, trocando o “ópio do povo” por uma analgésica utopia, mais moderna e científica, que a
violência tornaria particularmente eficaz. Por isso, na Rússia, depois do triunfo dos bolcheviques, a Igreja cristã
ortodoxa foi perseguida, os templos fechados ou incendiados, os padres
assassinados, os cristãos marginalizados. Os soviéticos anunciavam-se como arautos e portadores da Ciência, e era em nome da Ciência que se
empenhavam em ridicularizar as crenças religiosas para melhor as poderem
aniquilar. Logo nos primeiros anos da Revolução, deram-se ao trabalho e à despesa de
enfiar camponeses em aviões e de os
levar “ao céu”, para que vissem que ali não havia nada. Mais tarde, nos tempos
de Kruschev, um poster muito difundido mostrava o Sputnik a bater na
cabeça careca de Deus Pai, enquanto, numa reunião do Partido, o próprio
Kruschev dizia, num assomo de lucidez científica, que “Gagarin voara no espaço
e não vira lá Deus nenhum”.
E ainda que, na Segunda Guerra Mundial, durante a invasão alemã, o
pragmático Estaline tivesse fechado temporariamente os olhos a alguma prática religiosa e até reprimido
as actividades da “Liga dos Sem Deus”, a fim de apelar ao patriotismo
popular, as perseguições religiosas e a violência contra as Igrejas nunca deixariam
de definir os regimes comunistas. Em 1936, na Espanha da Frente Popular, foram detidos e fuzilados milhares
de sacerdotes e religiosos, incluindo bispos. Na Europa de Leste, a perseguição à Igreja foi sistemática e brutal, e
seria da renitente Polónia católica que partiria a resistência que iria
contribuir para o fim do Comunismo.
Quer na teoria, quer na prática, o Marxismo e os
marxistas-leninistas sempre combateram a Religião, o grande entrave à vitória
da “Ciência” ou à consagração da sua Ideologia.
Então como e porque é que se sublinha a coincidência
entre os ideais comunistas e os do Cristianismo? Talvez pela tentativa de
transplantação compulsiva de alguns ideais cristãos, devidamente laicizados e
expurgados de liberdade e transcendência, para os “paraísos na terra”
comunistas; ou também porque, como muitas vezes acontece com interpretações do
mundo e dos homens antagónicas, houvesse ocasionais inimigos, e até causas,
comuns.
No século XIX,
os comunistas e a Primeira
Internacional criticavam e revoltavam-se contra o
chamado capitalismo selvagem,
o laissez-faire, laissez-passer que tiranizava as massas rurais
que migravam para as grandes cidades, o capitalismo do trabalho sem horários,
da exploração do trabalho infantil e das formas de escravatura branca, num
tempo em que se abolia a escravatura negra. Essa indignação era partilhada por muitos cristãos e foi precisamente nessa
época que o pensamento cristão-social deu os primeiros passos. E quer nos escritos de Dickens, de Tolstoi, de Victor
Hugo ou de Zola, quer nas reflexões dos Papas Sociais, se condenavam o pecado e a culpa
máxima das sociedades da opulência, construídas sobre as primeiras máquinas,
mas também sobre a exploração sem freio de parte da população, garantida pela
força do Estado Liberal.
A justa cólera perante a injustiça e o aviltamento da condição humana (simbolizados pelo Scrooge de Dickens e pela ordem
social burguesa de Oitocentos e contra os quais Marx escreveu e lutou) foi
também sentida pelos pensadores e activistas do Cristianismo Social; e, nos
finais do século XIX, em França, a mesma cólera apareceria ligada ao
nacionalismo identitário e anti-burguês, que mais tarde se cristalizaria nas
correntes da chamada direita revolucionária. Afinal, as primeiras legislações sociais
sobre horários e regulamentos do trabalho, seguros de saúde e pensões de
velhice tinham surgido na Alemanha de Bismarck, que não era propriamente
um homem de esquerda.
Uma das grandes forças do Marxismo foi o facto de a
sua formulação utópica igualitária se aproximar em versão justicialista do
Cristianismo das Bem-aventuranças do Sermão da Montanha; e uma das suas virtudes foi
conseguir pressionar as sociedades burguesas no sentido de melhorarem a
condição dos trabalhadores, para evitar a temida Revolução.
Só que, sempre
que os nobres ideias e as justas lutas dos arautos da “Ciência” se traduziram
em experiências de “socialismo real” – e na União Soviética houve mais de 70 anos de experimentalismo – não trouxeram
nada que se assemelhasse a uma sociedade justa, igual e equilibrada. Antes, trouxeram os piores defeitos e pecados das religiões organizadas e
uma oligarquia de zelotas iluminados que se entretinham a sujeitar o povo às
suas experiências colectivas e colectivistas (o Holodomor ucraniano e a China do Grande Salto em Frente são disso exemplos paradigmáticos).
E, no final, construíram sociedades
geridas por nomenclaturas de burocratas privilegiados, em tudo iguais a
qualquer oligarquia aristocrática ou burguesa, excepto na retórica do melhor dos
mundos.
Um dos
problemas de Marx e do marxismo foi que os seus discípulos, sobretudo quando
vencedores, transformaram um pensamento analítico numa série de dogmas equivalentes aos das religiões
reveladas. E aquilo que é compreensível numa religião que admite a transcendência da Revelação – e, por isso, o dogma – é particularmente irracional numa ideologia que, mais
que uma interpretação da realidade, sempre se quis impor como uma verdadeira
Ciência do Homem e da História, declaradamente fundada na Razão mas insusceptível de
ser abalada pela contraprova dos factos.
Porque é que o
zelo de grande parte dos discípulos e continuadores de Marx tende a fazer das
suas teses e cânones de interpretação verdadeiros e indiscutíveis dogmas
para-religiosos? Porque, aparentemente, a persistência da natureza humana, com a sua
“mistura de trevas e brilho” e a sua continuada ânsia de transcendência, ora
impede a morte das religiões, ora tende a transformar a mais “científica” das
ideologias numa religião em fundamentalista e furiosa cruzada.
Talvez por
isso, para os zelotas e os inquisidores que, munidos de novas “verdades
científicas”, voltam hoje em força
para retraçar o mundo a régua e esquadro, tornar a fazer do passado tábua rasa
e refundar à força a humanidade num qualquer delírio para-humano, as
igrejas em geral (e o Cristianismo em particular, com tudo o que representa e
defende) continuem a ser o alvo a abater.
COMENTÁRIOS:
josé maria: Pessoa, nota-se bem, foi um "perigoso marxista"... Como ele, existiram muitos "perigosos
marxistas" de direita, que criticaram a Igreja Católica e a Religião... Darwin
também deve ter sido um "perigoso marxista", tal como Galileu e
Giordano Bruno. Antonio Mendes: Excelente ensaio. Um erro
crasso do Marxismo foi assumir que por Deus ser criado pelo homem não era
necessário. Semelhante ao erro de assumirem que o dinheiro também não era
necessário. A que podemos somar a sua teoria sobre o lucro, etc. Ainda estou
para descobrir uma ideia certa no Marxismo, por isso fico estupefacto pela sua
disseminação tão ampla. Paulo Silva
> Antonio
Mendes: O Marxismo é o ópio dos intelectuais; é a grande
ilusão da era da orfandade espiritual dos homens. Karl Marx foi um mestre da
invectiva, e acima de tudo um grande retórico, (para não dizer o nome que Eric
Voegelin lhe chamava). Meliodas Da Silva
> Antonio
Mendes: Não sou marxista mas acho que a religião não faz falta
nenhuma, seja ela qual for. Gabriel
Moreira: Brilhante. Pedro Cunha: Obrigado Jaime pelo excelente e
elucidativo artigo! Censurado
Censurado: Grande crónica
sobre a Sta. Inquisição! Sem dúvida o pico da civilização. manuel
soares Martins: É verdade, mas não é necessário ser cristão ou
professar alguma religião para se detestar o marxismo... que, de resto, já
passou de moda. Ilídio Neves:
As grandes aspirações colectivas
que estão na origem do Iluminismo (liberdade de pensamento e de expressão), da
Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) e da revolução
marxista (justiça social para os marginalizados e oprimidos) são, em si,
aspirações genuinamente cristãs, mas que foram concretizadas fora do
cristianismo, por movimentos seculares e até anticristãos. Isto quer dizer que nesse aspecto
se pode falar de um fracasso histórico do cristianismo, bem visível na
sociedade actual, dominada pelo indiferentismo religioso e pelo materialismo.
Como é que isso aconteceu? A história, que é mestra da vida explica-nos isso.
As propostas de Jesus, que estão no evangelho (que quer dizer em grego «boa
notícia») de mudança de mentalidade e de prática social concreta na vida
(amai-vos uns aos outros; a paz seja convosco; bem-aventurados os que defendem
os marginalizados; Deus como Pai de todos os homens, etc.) foi
progressivamente ultrapassada pela prática da Igreja na organização de uma
estrutura ideológica e dogmática rígida, hierarquizada, ritualista, por vezes
politizada. Por isso, o combate às injustiças sociais foi substituído pelo
debate teológico, pelo combate das heresias e pelo apego ao «poder» da Igreja.
Os pobres tiveram que esperar e esperaram, até aparecerem os «redentores
laicos» (os falsos profetas de que o próprio Jesus fala). Sebastião
> Ilídio Neves: Exactamente. A cristalização institucional desvirtua sempre a base de
pensamento na qual se fundamenta. Mas a raiz do pensamento está lá. A
prática da igreja desvirtua a pureza cristã como a forma institucional do
comunismo torna aberrante o marxismo. Sem
a ideia fundamental da igualdade humana do Cristianismo nunca haveria filosofia
Marxista. Mas há cabeças duras que não querem ver isso nem por nada. E
compreende-se porquê: andar a semana inteira a pensar exclusivamente na bolsa e
em como sacar com egoísmo o máximo ao próximo e depois ir à missa ouvir
apregoar a moral da igualdade, o apreço ao próximo como seu igual e a condenação
da usura não quadra com nada... Joaquim
Almeida: Lição eloquente e
cristalina. Os neo-marxistas já proclamaram o sofisma que salvará os
"factos" marxistas de naufragar na contradição: se há contradição,
dizem eles, é porque a realidade é contraditória, cabendo à Razão respeitar o
real contraditório. - o real contrabandeado - e admitir a contradição;
acaba-se com o princípio da não- contradição e deixa-se à relação de
forças (dominação) resolver o dilema , tomando o cuidado de mobilizar os
velhos e novos média em apoio das patrulhas do cancelamento e da
censura, ao serviço dos populismos das "causas fracturantes" e do
globalismo. Já ouviram falar de marxismo cultural?... José
Miranda: Grande crónica! Paulo
Mauritti > josé maria:
Pessoa era um ser
humano com defeitos e virtudes. ……….
José Ramos > josé maria De facto, Fernando Pessoa estava longe de ser
"um perigoso marxista". «Ao contrário do catolicismo, o comunismo não
tem uma doutrina. Enganam‑se os que supõem que ele a tem. O catolicismo é um
sistema dogmático perfeitamente definido e compreensível, quer teologicamente,
quer sociologicamente. O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem
sistema — o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de
lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com
ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo
supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos
instintos que se escondem em cada um de nós. O comunismo não é uma doutrina
porque é uma antidoutrina, ou uma contradoutrina. Tudo quanto o homem tem
conquistado, até hoje, de espiritualidade moral e mental — isto é de civilização
e de cultura — tudo isso ele inverte para formar a doutrina que não tem.» In Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando
Pessoa. Coronavirus corona: Feuerbach optava pela visão
antropológica: não fora Deus que criara o homem, fora o homem que criara Deus
Este assunto foi desenvolvido
de forma brilhante por Chesterton no seu livro "O Homem Eterno". José Pinto de Sá: Excelente texto, mais filosófico que "O ópio dos intelectuais" de
Raymond Aron, mas na mesma linha de raciocínio Vitor Batista: Abomino o marxismo,tolero o
cristianismo, mas o que eu adoro mesmo são estas lições de Jaime Nogueira
Pinto. Qualquer crónica sua vale uma assinatura do observador. Rogério Russo: Feuerbach era um tonto e o papa
Francisco é um marxista encapotado da teologia libertação. Há lá maior tolice
que seguir um bispo que se confessa ateu? Faz lembrar as aulas de matemática no
liceu dadas pelo professor de religião e moral quando faltava o prof. de
matemática. O melhor professor de matemática -excelente- que tive era cónego.
Sempre duvidei daquele longo celibato em prol da igreja. A questão é que
sabíamos o que valia como professor mas nunca soubemos quem era como
representante de Deus. Há esse problema de alguns terem o dom de falar com a
divindade... no caso devia ser a matemática porque falava a mesma língua. Vitor BatistaRogério Russo:
Feuerbach e
outros acólitos foram os responsáveis directos pelo aparecimento de Hitler, do
partido Nacional socialista, e do nascimento do Nazismo. É este o legado
tenebroso dessa gente. Francisco
Tavares de Almeida > Rogério Russo: Tive um professor de matemática
que me incentivou fortemente a ouvir as "Quatro Estações" de Vivaldi.
Na semana seguinte, disse-me que alguma música, alguma matemática e alguma
poesia, eram a mesma coisa. Como eu então entendi, teriam a mesma natureza. Esse
professor era ateu mas anos mais tarde, um professor de Filosofia, explicou-me
que músicos, poetas, escritores, escultores, pintores, coreógrafos, etc., etc.
às vezes tocavam em Deus, porque o que faziam era Criação e assim transcendiam
a limitação humana. De não aceitar a transcendência não vem mal ao mundo mas as
utopias que ignoram ou negam a transcendência, se levadas à prática, resultam
em distopias. David
Pinheiro: As religiões
moderadas são importantes para a humanidade, juntamente com os livros de
ficção. Tomás:
O Cristianismo conferiu um
estatuto moral à vítima ao incutir no cristão o dever de se preocupar com ela.
O Cristianismo apela, nesse sentido, a uma revolução no interior de cada
cristão. A ênfase não está na vítima, mas na responsabilidade do cristão.
Poderia dizer-se que há um dever do cristão, mas não um direito da vítima. Isto
é o que está expresso nas bem-aventuranças e no sermão da montanha. Utopias como o marxismo
invertem este princípio. A centralidade é colocada na vítima. A vítima tem
direitos e é enquadrada como oprimida e injustiçada. Por isso, pode impor-se a
denominados opressores, que ficam incumbidos de cuidar da vítima à força. Ao
contrário do Cristianismo, parte dos direitos e impõe deveres. Não há revolução
interior, não há verdadeira caridade: apenas o exercício de poder e força. Há parecenças entre o
Cristianismo e o marxismo, mas porque este é parasitário daquele. Não é
surpreendente que o marxismo se tenha desenvolvido em sociedades cristãs.
Afinal, parece uma heresia cristã. Sebastião: O Marxismo enquanto filosofia
política é mera extensão do pensamento cristão. É digamos assim, a pragmática
política do pensamento igualitário e salvífico do cristianismo.
As pessoas da
direita torcem-se todas com isto mas têm estudar e ler muito e debater para
compreender. Senão viverão na eterna ignorância. Tomás > Sebastião: Extensão, não. Distorção. O
marxismo não segue da mensagem cristã. Aproveita sim alguns ideais cristãos,
elevando-os ao absoluto, ignora outros ideais cristãos e procura fazer uma
revolução social. Carminda
Damiao: Excelente artigo.
Obrigada por esta lição de história tão esquecida e deturpada nos últimos
tempos. Manuel
Lourenço: Pequeno texto mas
enorme conteúdo. Para mim, o marxismo é uma "heresia" do
Cristianismo. O céu na terra, criado por uma vanguarda de iluminados -
que acabou sempre num inferno na terra. Quanto mais não seja, é uma
verdade cientifica e um facto obvio que o comunismo acaba sempre (ou melhor nem
sequer é quando acaba, é mesmo quando começa) numa enorme trapalhada em que só
uma ditadura com mão de ferro (e armas com balas reais na nuca) consegue
manter. Já a criação divina, como ninguém pode dizer que lá esteve, pode-se
acreditar ou não .... bento
guerra: As religiões
foram invenções (boas) para responder ao drama do pós-morte, o marxismo é uma
concepção política que tentava responder a uma teoria materialista do confronto
entre o capital e o trabalho. Com o tele-trabalho perde o romantismo. Nada a
ver uma coisa com outra……………………………………………………………..
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