Que enche e se esvazia, por efeito de uma
espetadela de agulha, ou outro processo que seja, estranha afirmação esta que segue,
que recebi por email, do facebook de Luis Soares de Oliveira. É de Branquinho da Fonseca, que admiro como estranho
autor de “O Delfim”, um estranho livro com uma estranha personagem central, que
bem gostei de ler:
« “ELES
DISSERAM-NOS:”
(gentil
colaboração do Luís, filho)
“[…] sou uma pessoa em que ainda se pode ter esperança… Começo
a vida em cada dia: ao nascer do Sol, não sei nada do mundo; à noite sei tudo;
no dia seguinte de manhã não sei outra vez nada, estou de novo purificado e
deslumbrado.” Branquinho da Fonseca»
Cansou-me a afirmação, ao imaginar-me em
idêntico percurso existencial de enche-vaza, caso também das marés marítimas,
podendo estas duplicar a dose do enche-vaza diário, em cada litoral marulhante.
Ao mar, poderoso que é, deu o mesmo Jeová que criou os nossos pais primeiros, o
Céu e a Terra, a categoria de algo sem “anima”, inconsciente e automático, remetendo
a razão apenas para o bicho-homem - tomado este na sua prerrogativa de macho e fêmea,
já que de Eva partiu a atitude esclarecida de conduzir Adão ao pecado da gula e
da curiosidade pelo saber.
Fora o Homem esse enche-vaza sugerido
pelo texto de Branquinho da Fonseca, e nunca ele poderia obter esse estatuto
extraordinário de força progressiva que revelou, é certo que imprudentemente,
numa ambição de domínio que o conduzirão à destruição, bem como à do próprio
espaço que habita.
Mas fora ele esse tal dos solavancos alternados
de inocência-sapiência diárias, e a vida seria coisa insossa e monocórdica, que
não permitiria nunca a perfeição dos grandes artistas, obtida através do esforço
e da insistência no trabalho e no estudo. Na do requinte do Mal também não, é
bem verdade. Mas, como nos presenteou Pandora, primeira mulher segundo outros
mitos, com a Esperança, que conseguiu reter na sua caixa dos Males, enviada por
Zeus aos Homens, que Prometeu animara com o fogo sagrado roubado àquele,
continuemos vivendo de esperança, intercalada das dores que o Mal vai semeando.
Até ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário