quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Como um balão


Que enche e se esvazia, por efeito de uma espetadela de agulha, ou outro processo  que seja, estranha afirmação esta que segue, que recebi por email, do facebook de Luis Soares de Oliveira. É de Branquinho da Fonseca, que admiro como estranho autor de “O Delfim”, um estranho livro com uma estranha personagem central, que bem gostei de ler:

« “ELES DISSERAM-NOS:”

(gentil colaboração do Luís, filho)

Luis Branquinho Oliveira

Ontem às 12:03  · 

“[…] sou uma pessoa em que ainda se pode ter esperançaComeço a vida em cada dia: ao nascer do Sol, não sei nada do mundo; à noite sei tudo; no dia seguinte de manhã não sei outra vez nada, estou de novo purificado e deslumbrado. Branquinho da Fonseca»

 

Cansou-me a afirmação, ao imaginar-me em idêntico percurso existencial de enche-vaza, caso também das marés marítimas, podendo estas duplicar a dose do enche-vaza diário, em cada litoral marulhante. Ao mar, poderoso que é, deu o mesmo Jeová que criou os nossos pais primeiros, o Céu e a Terra, a categoria de algo sem “anima”, inconsciente e automático, remetendo a razão apenas para o bicho-homem - tomado este na sua prerrogativa de macho e fêmea, já que de Eva partiu a atitude esclarecida de conduzir Adão ao pecado da gula e da curiosidade pelo saber.

Fora o Homem esse enche-vaza sugerido pelo texto de Branquinho da Fonseca, e nunca ele poderia obter esse estatuto extraordinário de força progressiva que revelou, é certo que imprudentemente, numa ambição de domínio que o conduzirão à destruição, bem como à do próprio espaço que habita.

Mas fora ele esse tal dos solavancos alternados de inocência-sapiência diárias, e a vida seria coisa insossa e monocórdica, que não permitiria nunca a perfeição dos grandes artistas, obtida através do esforço e da insistência no trabalho e no estudo. Na do requinte do Mal também não, é bem verdade. Mas, como nos presenteou Pandora, primeira mulher segundo outros mitos, com a Esperança, que conseguiu reter na sua caixa dos Males, enviada por Zeus aos Homens, que Prometeu animara com o fogo sagrado roubado àquele, continuemos vivendo de esperança, intercalada das dores que o Mal vai semeando. Até ver.

 

 

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