Um texto de definições impecáveis, não
transcrevo os 172 comentários que, certamente, na sua maioria. não poupam AG com as patacoadas mal alinhavadas do costume, tantas
vezes inundadas dos costumeiros solecismos. A primeira pessoa do título
reporta-se, é claro, a Alberto
Gonçalves, que o disse com a mestria de sempre. Em elegância e clareza de pensamento.
Mas sempre coloco dois comentários
comprovativos de que o pudor – e a educação - ainda existem por cá,
comprovativos de que há por aqui quem reconheça a hediondez humana subjacente à
monstruosidade do que estamos a viver – (nós, por enquanto, à distância ,,,) e
o demonstre na coragem do seu louvor a Alberto
Gonçalves.
«Pedromi: Obrigado por
me proporcionar mais um momento de lucidez jornalística, tão em desuso nos dias
que correm.»
«Pedro Campos: Parabéns pela coragem de dizer verdades nuas e cruas sobre o PCP e o BE que infelizmente na comunicação social portuguesa é algo raro!»
Falta um cordão sanitário em redor de PCP e BE
Nunca falha: se amanhã a Noruega
entrasse em guerra com a Coreia do Norte, ninguém duvida para que lado
tombariam os discursos do PCP e os corações do BE.
ALBERTO GONÇALVES.
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 26
fev 2022
As juventudes partidárias do PS e do
PSD organizaram para amanhã uma manifestação em prol da Ucrânia à porta da
embaixada russa. Convidaram os restantes partidos. Menos um. O Chega não vai
porque não está na lista. O BE e o PCP não vão porque não querem.
Este
minúsculo episódio resume na perfeição o ar que se respira na política
nacional. A fim de
condenar a agressão a uma democracia europeia, a ortodoxia vigente, ou aquilo
que aqui se convencionou chamar “centro”, excluiu um partido que meio aos
solavancos condena a agressão e incluiu dois partidos que, assumida ou
disfarçadamente, a apoiam. É notável que, independentemente dos interesses e
estratégias de cada um, o primitivismo comunista continue a merecer o respeito
“institucional” que, por boas ou más razões, não se estende a uma
“extrema-direita” errática.
O
PCP, valha a verdade, não disfarça.
Dias antes da invasão, o futuro ex-deputado António Filipe, cuja
ausência da próxima legislatura suscitou lamentos pungentes à direita, escreveu
no Twitter: “Biden decidiu
que a Rússia tem de invadir a Ucrânia quer queira quer não queira. Se não
invadir a bem terá de invadir a mal.”
Entretanto, os camaradas do dr. Filipe produziram diversos argumentos,
oficiais e oficiosos, para demonstrar que a Rússia, por instigação dos EUA e da NATO, é a
solitária vítima desta história. A única
crítica a Putin veio de Jerónimo de Sousa, que o acusou de “capitalismo” e de “atacar a União Soviética” [sic]. É
possível que o chefe do PCP ainda habite em 1989. Ou em 1917.
O
Bloco de Esquerda, que também celebra 1917 e também não celebra 1989, optou
pela habitual dissimulação no que toca à Ucrânia, que com cinismo exige
“neutral”. A
canalhice é típica e só convence perturbados: na semana
passada, o BE citava Putin para explicar que o governo ucraniano resultara de
um golpe da “extrema-direita”; anteontem, a fim de simular “solidariedade”, o
BE desatou a explicar que Putin é que é de “extrema-direita”. Em gente
comum, tamanho contorcionismo provocaria hérnias danadas. Os sacristões do BE não são gente comum. Por
flagrante hipocrisia, o BE condena a invasão. Por
convicção, tempera a condenação com as inevitáveis referências aos EUA e à
NATO, que, à semelhança do que acontece com o PCP, representam tudo o que o BE
abomina.
À semelhança do PCP, o BE abomina o
Ocidente e os regimes democráticos em que o Ocidente se estrutura. Isto não significa que as nossas democracias não tenham
defeitos. Têm imensos, nalguns casos a ponto de já nem se parecerem muito com
democracias. A diferença é que um democrata gostaria de democracias melhores,
mais sólidas, mais abertas, mais justas. E os comunistas do PCP e do BE querem
acabar com elas.
É
infantil discutir se Putin, antigo agente do KGB, é ou não é comunista. A simpatia, franca ou mastigada, de PCP e BE pelas
acções do homem não advém daí. Conforme sucede com os aplausos que
chegam a Moscovo por exemplo da Venezuela, de Cuba e do PT brasileiro (e,
mediante silêncio, do sr. Bolsonaro: o Brasil é um país felizardo), PCP e BE apreciam o que quer que ameace o modo de vida
ocidental. E a culpa da Ucrânia passa por ter erguido o modo de
vida ocidental a uma referência a seguir. Nunca
falha: se amanhã a Noruega entrasse em guerra com a Coreia do Norte, ninguém
duvida para que lado tombariam os discursos do PCP e os corações do BE. Quem
acha a hipótese caricatural que recorde a escolha de Cunhal na guerra das
Falkland, que opôs o Reino Unido aos fascistas argentinos. Onde há liberdade,
os comunistas de todos os sabores são contra. E isso vale tanto para a
liberdade na Ucrânia como para a liberdade em Portugal, que corroem
regularmente há décadas.
A
propósito das polémicas em volta do Chega, ouvi não sei quantos idiotas inúteis
garantirem que, ao invés daquele partido, PCP e BE pertencem ao “quadro
democrático”. Aí é que
está: não pertencem. A violência
que defendem ou relativizam na Ucrânia é evidentemente a mesma que defenderiam
ou relativizariam em Portugal. Embora a cobardia e a traição dos EUA e da NATO no
conflito em questão se denunciem sozinhas (da UE nem falo), são apesar disso as
forças que militarmente nos resguardam, esperamos, do caos no mundo. Hoje e sempre, o PCP e o BE aspiram ao caos. Hoje e sempre, e à imagem das extremas-direitas
autênticas, PCP e BE são inimigos dos EUA e da NATO e de qualquer nação aliada
dos EUA ou membro da NATO. PCP e BE são inimigos de Portugal, que se pudessem
submeteriam ao projecto de ditadura que os move.
Continuem, então. Continuem a convidar
comunistas de ambas as seitas para protestos. Continuem a chorar a escassez de
comunistas no Parlamento. Continuem a convocá-los para sustentar governos.
Continuem a pendurá-los no Conselho de Estado. Continuem a oferecer-lhes espaço
de comentário televisivo. Continuem a tratá-los com a civilidade que eles, nas
circunstâncias adequadas, jamais retribuiriam. Continuem, no horrendo jargão da
época, a “normalizá-los”. Apenas
não se esqueçam de que estão a “normalizar” cúmplices dos maiores criminosos
deste tempo. Se as discussões com porcos nos deixam imundos, o convívio jovial
transforma-nos na própria porcaria. Numa sociedade limpa, o comunismo não é
normal e carece do célebre “cordão sanitário”. Mas as “linhas vermelhas” que
por cá se traçam são demasiado vermelhas e demasiado sujas, decerto de sangue.
BLOCO DE ESQUERDA POLÍTICA PCP RÚSSIA-UCRÂNIA MUNDO
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