Antónima de caquistocracia, também não foi muito competente na questão da civilidade e da justiça, pelo menos por cá, na condução das regras, estabelecendo desmandos e desigualdades sociais relevantes, embora cumprisse cuidadosamente o estatuto de defensora da nação, que respeitava, respeito que os seus estudiosos ajudavam a impor. . Mas hoje a sociedade empobreceu deveras, sem lei, nem rei, nem roque, indiferente e aplicada a salientar apenas novos conceitos de falsa tolerância atoleimada, de uma pequena virtude ignorante e pretensiosa. Ai de quem se sujeita ao seu ostracismo puramente idiota e destruidor. Ler Pascal, tornou-se um luxo, o Dr. Salles é excepção, vive-se o presente, a droga, a diversão, em liberdade, o que resultará em vilezas e zangas, naturalmente, com as greves do espectáculo e da anarquia democraticamente comandados.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 20.06.23
ou
REVISITANDO PASCAL
Das duas, uma: Deus existe ou Deus não existe.
* * *
A
caminho de visitar o René, passei pelo dicionário e extraí que pecado é tudo
o que ofende a Deus e, uma vez chegado ao meu destino, decidi glosar o
argumento ontológico do dono da casa:
O ateu, não temendo a ira divina, não se coíbe de
pecar mas se, afinal, Deus existe, por certo o punirá;
Existindo
Deus, não será o ateísmo que ilibará o ateu da ira divina;
Mais vale, pois, ao ateu que não peque para que,
seguramente, não padeça.
* * *
Vem esta charla pascaliana a propósito do desmando
generalizado de que dão conta os telejornais que diariamente nos dão cabo do
juízo e da mais remota placidez.
A ser
como os jornalistas narram, já chegámos por certo à caquistocracia, a governança pelos piores, mais incompetentes e mais corruptos.
Nesta terrível hipótese, resta-nos ir para o Inferno,
como diria Karl Popper. Mas talvez
possamos poupar o custo da viagem por, afinal, já termos chegado ao infernal 7º círculo dantesco.
Mas… e
que tal pensarmos um pouco sobre as causas desse caos?
Baixos níveis globais de escolaridade apesar da
«democratização» do ensino depois de um certo elitismo durante o salazarismo,
fazem surgir o neo-riquismo escolástico nas elites profissionais. Rodeados de iliteracia e até
mesmo de analfabetismo, conseguiram chegar ao topo das aspirações familiares
(«trabalhei muito para a minha filha ser doutora») e, agradecidamente, querem
exibir esse novo estatuto. Sobe-lhes o «podium» à cabeça e
inebriam-se com as luzes da ribalta. Paralelamente,
os «blasés» filhos-família perdem-se nos jogos de canasta e de ténis, não têm
pachorra para os livros e acabam «licenciados em 5º ano de praia».
Eis como acabam a mandar os que estudaram tudo menos o
«savoir faire» e outros que se vêem mandados «sans savoir quoi faire»; uns,
clamam sempre por cada vez mais liberdade, mais direitos e mais posses; outros,
bradam que chega de libertinagem.
E
assim rodam os alcatruzes da nora social.
Mas há
mais… e esse «mais» é a inveja.
Eu não
acredito que a sociedade seja tão má como os telejornais apregoam. Eu acredito
que a maioria das pessoas está de boa-fé neste mundo em que Vivemos.
A
humildade das origens não é sinónimo de deslumbramentos e tropelias e os
iludidos pelo «glamour» do sucesso académico são uma minoria que desperta a
atenção dos invejosos mas é imprescindível que se lembrem do conselho de
Pascal!
(continua)
Junho de 2023 Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Adriano Miranda Lima 21.06.2023 23:08
Sr. Dr. Salles da Fonseca, precisamos das suas
profundas reflexões para nos convencermos de que ainda não reunimos o somatório
suficiente de pecados para justificar as sentenças dos sapientes jornalistas e
ter de tirar o passaporte para o inferno. Os jornalistas que se entendam com a
jurisprudência divina porque alguém provavelmente terá de acertar a bitola da
condenação, seja ela forjada na terra, no céu ou no inferno de Dante. Pascal
terá muito trabalhinho de casa a fazer lá onde esteja, e onde certamente já
terá concluído que mais teria valido levar as suas meninges ao limite máximo
estudando a geometria projectiva e a teoria das probabilidades do que a tentar
encontrar Deus.
Quanto ao que se passa com os nossos jornalistas
sentenciadores do alto das suas mentes luminárias, há muitas maneiras de os
contraditar, assim haja vontade e possibilidade de os confrontar com a sua
iliteracia, mesmo que tentem ocultá-la com os estratagemas e subterfúgios que
conhecemos. E a melhor forma é fazer-lhes ver que a sociedade não será assim
tão má que tenha conseguido gerar uma classe assim tão boa.
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