quarta-feira, 21 de junho de 2023

A aristocracia


Antónima de caquistocracia, também não foi muito competente na questão da civilidade e da justiça, pelo menos por cá, na condução das regras, estabelecendo desmandos e desigualdades sociais relevantes, embora cumprisse cuidadosamente o estatuto de defensora da nação, que respeitava, respeito que os seus estudiosos ajudavam a impor. . Mas hoje a sociedade empobreceu deveras, sem lei, nem rei, nem roque, indiferente e aplicada a salientar apenas novos conceitos de falsa tolerância atoleimada, de uma pequena virtude ignorante e pretensiosa. Ai de quem se sujeita ao seu ostracismo puramente idiota e destruidor. Ler Pascal, tornou-se um luxo, o Dr. Salles é excepção, vive-se o presente, a droga, a diversão, em liberdade, o que resultará em vilezas e zangas, naturalmente, com as greves do espectáculo e da anarquia democraticamente comandados.

CAQUISTOCRACIA - 1

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 20.06.23

ou

REVISITANDO PASCAL

Das duas, uma: Deus existe ou Deus não existe.

* * *

A caminho de visitar o René, passei pelo dicionário e extraí que pecado é tudo o que ofende a Deus e, uma vez chegado ao meu destino, decidi glosar o argumento ontológico do dono da casa:

O ateu, não temendo a ira divina, não se coíbe de pecar mas se, afinal, Deus existe, por certo o punirá;

Existindo Deus, não será o ateísmo que ilibará o ateu da ira divina;

Mais vale, pois, ao ateu que não peque para que, seguramente, não padeça.

* * *

Vem esta charla pascaliana a propósito do desmando generalizado de que dão conta os telejornais que diariamente nos dão cabo do juízo e da mais remota placidez.

A ser como os jornalistas narram, já chegámos por certo à caquistocracia, a governança pelos piores, mais incompetentes e mais corruptos.

Nesta terrível hipótese, resta-nos ir para o Inferno, como diria Karl Popper. Mas talvez possamos poupar o custo da viagem por, afinal, já termos chegado ao infernal 7º círculo dantesco.

Mas… e que tal pensarmos um pouco sobre as causas desse caos?

Baixos níveis globais de escolaridade apesar da «democratização» do ensino depois de um certo elitismo durante o salazarismo, fazem surgir o neo-riquismo escolástico nas elites profissionais. Rodeados de iliteracia e até mesmo de analfabetismo, conseguiram chegar ao topo das aspirações familiares («trabalhei muito para a minha filha ser doutora») e, agradecidamente, querem exibir esse novo estatuto. Sobe-lhes o «podium» à cabeça e inebriam-se com as luzes da ribalta. Paralelamente, os «blasés» filhos-família perdem-se nos jogos de canasta e de ténis, não têm pachorra para os livros e acabam «licenciados em 5º ano de praia».

Eis como acabam a mandar os que estudaram tudo menos o «savoir faire» e outros que se vêem mandados «sans savoir quoi faire»; uns, clamam sempre por cada vez mais liberdade, mais direitos e mais posses; outros, bradam que chega de libertinagem.

E assim rodam os alcatruzes da nora social.

Mas há mais… e esse «mais» é a inveja.

Eu não acredito que a sociedade seja tão má como os telejornais apregoam. Eu acredito que a maioria das pessoas está de boa-fé neste mundo em que Vivemos.

A humildade das origens não é sinónimo de deslumbramentos e tropelias e os iludidos pelo «glamour» do sucesso académico são uma minoria que desperta a atenção dos invejosos mas é imprescindível que se lembrem do conselho de Pascal!

(continua)

Junho de 2023          Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS:

Adriano Miranda Lima 21.06.2023 23:08

Sr. Dr. Salles da Fonseca, precisamos das suas profundas reflexões para nos convencermos de que ainda não reunimos o somatório suficiente de pecados para justificar as sentenças dos sapientes jornalistas e ter de tirar o passaporte para o inferno. Os jornalistas que se entendam com a jurisprudência divina porque alguém provavelmente terá de acertar a bitola da condenação, seja ela forjada na terra, no céu ou no inferno de Dante. Pascal terá muito trabalhinho de casa a fazer lá onde esteja, e onde certamente já terá concluído que mais teria valido levar as suas meninges ao limite máximo estudando a geometria projectiva e a teoria das probabilidades do que a tentar encontrar Deus.

Quanto ao que se passa com os nossos jornalistas sentenciadores do alto das suas mentes luminárias, há muitas maneiras de os contraditar, assim haja vontade e possibilidade de os confrontar com a sua iliteracia, mesmo que tentem ocultá-la com os estratagemas e subterfúgios que conhecemos. E a melhor forma é fazer-lhes ver que a sociedade não será assim tão má que tenha conseguido gerar uma classe assim tão boa.

 

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