Parece antes aparato cénico bem cínico. Ou
brincalhão, provocador de falsas esperanças, enganadoramente aventureiro e
corajoso, próprio destes tempos de espectáculo e desrespeito humano.
O ódio às chefias militares e um
mercenário ambicioso: o que se passou para o grupo Wagner começar uma
"rebelião armada"?
OBSERVADOR,
24/6/23
Críticas de Prigozhin a
Ministério da Defesa multiplicaram-se nos últimos meses. Líder do grupo Wagner
jogou o tudo ou nada e revoltou-se contra aqueles que vê como adversários —Shoigu
e Gerasimov.
Foi a gota de água num copo que transbordou. Nos últimos
meses, o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, desdobrou-se
em críticas e insultos (e até publicou fotografias com cadáveres) contra o
Ministério da Defesa russo, chefiado por Sergei Shoigu, e contra o comandante
das tropas russas, Valery Gerasimov. A frustração era visível, mas quase ninguém estava à espera que, esta
sexta-feira, a milícia paramilitar decidisse entrar por território russo, num
movimento que o Serviço Federal de Segurança equiparou a um apelo à guerra
civil.
Na
cabeça de Yevgeny Prigozhin, aqueles dois responsáveis militares, em quem o
Presidente russo confia quase de olhos fechados, são a causa dos insucessos
militares russos na Ucrânia, que, na versão do chefe da milícia paramilitar, já
originou a morte mais de 100 mil pessoas. “Incompetentes”, chegou a descrever o
líder do grupo Wagner. Assistindo a este cenário, Vladimir Putin aparentava
ignorar o que se passava, nunca se pronunciando sobre a tensão entre as duas
fações.
Fundado em 2014 após a anexação da Crimeia, a milícia paramilitar Wagner, que
combateu em vários pontos de África,
nunca se assumiu como braço armado do regime russo. Havia desconfianças,
mas nunca comprovadas. Até que, no final de 2022, o grupo armado — considerado uma organização criminosa pelos
Estados Unidos — deu um sinal inequívoco de que estaria ligado ao Kremlin
ao defender a cidade de Bahkmut.
Foi
naquela localidade que se desenvolveu um dos combates mais sangrentos desde que
a guerra na Ucrânia começou — e que durou mais de seis meses. Após os desaires
das forças armadas russas em Kharkiv e em Kherson, Vladimir Putin permitiu que
a milícia paramilitar lutasse em Bahkmut, no rigoroso inverno ucraniano. Apesar
da forte resistência de Kiev, o grupo Wagner foi obtendo algumas vitórias — até controlar quase por completo a cidade, em maio
de 2023.
Ganhando grande protagonismo com a
batalha de Bakhmut, Yevgeny Prigozhin anunciou que o grupo Wagner
abandonaria a localidade no início de junho de 2023. Nessa altura, a milícia
paramilitar parecia caminhar para a dissolução ou para a integração nas forças
armadas russas. Nenhum dos cenários agradava ao mercenário que, durante
este mês, intensificou as críticas ao Ministério da Defesa russo. Tanto assim
foi que, esta sexta-feira, chegou a colocar em causa as razões invocadas por
Vladimir Putin para iniciar a invasão (mas nunca o culpou, antes disse que o
Chefe de Estado foi mal informado).
Ciente da animosidade, ainda este mês, Sergei
Shoigu tentou absorver a milícia nas forças armadas russas, mas foi confrontado
com a esperada oposição cerrada dos mercenários. A situação ficou indefinida
durante semanas. Nas últimas horas, Yevgeny Prigozhin tentou elucidá-la
e — com 25 mil dos seus mercenários, segundo aquilo que relatou num dos vários
áudios divulgados durante esta sexta-feira — entrou território russo adentro.
“Estamos prontos para lutar e para morrer”, anunciou.
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Sergei Shoigu tentou absorver grupo Wagner nas tropas russas
RUSSIAN DEFENCE MINISTRY PRESS SERVICE /
HANDOUT/EPA
A substituição do aliado de Prigozhin
que motivou as críticas
No final de 2022, surgiram os primeiros
rumores que o grupo paramilitar Wagner começaria a combater em Bakhmut, algo
que se veio a confirmar mais tarde. Inicialmente, parecia haver uma certa
sintonia entre o comando militar e os mercenários — afinal, Sergey Surovikin, o antigo comandante das tropas
russas na Ucrânia, era um dos aliados de
Yevgeny Prigozhin, que mantinha, ainda assim, tensões com Sergei Shoigu.
Tudo mudou no início de 2023. Com o objectivo
de melhorar o comando e controlo das forças armadas russas e após os falhanços
em Kherson, Vladimir Putin decide
substituir Sergey Surovikin no cargo por Valery Gerasimov, que já então era
chefe do Estado Maior das Forças Armadas Russas. A partir daqui, a atmosfera
alterou-se e aumentou a tensão — mais ainda.
Yevgeny Prigozhin estava a
tornar-se uma espécie de celebridade de guerra com uma grande base de apoiantes
nas redes sociais, onde partilhava as atualizações na linha da frente.
Em declarações ao Observador no passado mês de janeiro, Dmitry Gorenburg, especialista
na área da política russa no David Center pertencente à Universidade de
Harvard, notava que existiam esforços de Yevgeny Prigozhin para “aumentar a sua
influência e o seu estatuto dentro do círculo restrito de Putin”.
Aliás, a tese de que o líder do grupo Wagner queria aspirar a uma
carreira política ganhou mais credibilidade na altura. Falava-se mesmo na
hipótese de que Yevgeny Prigozhin desejava suceder a Vladimir Putin, ainda que
o líder do grupo Wagner tivesse rejeitado esse cenário em várias entrevistas. Ainda assim,
o cargo que talvez o mercenário mais
almejaria era de o ministro da Defesa da Rússia — e isso justificaria as
desavenças com Sergei Shoigu.
Ora,
a decisão de
Vladimir Putin em nomear Valery Gerasimov, um aliado de Sergei Shoigu, foi
encarado como uma forma de esvaziar as aspirações políticas e o papel do chefe
do grupo Wagner na guerra.
A reacção de Yevgeny Prigozhin não tardou, atacando a “luta entre ramos,
burocracia, corrupção e dirigentes políticos que se querem manter no lugar” nas
forças armadas — numa crítica destinado ao seu maior adversário.
Numa verdadeira luta pelo poder, o
Presidente russo privilegiou a facção do Ministério da Defesa. Em parte, a decisão
teve como objectivo centralizar a hierarquia militar russa na tutela que tem
como responsabilidade geri-la. Mas também foi, de acordo a visão do
Instituto do Estudo da Guerra num relatório de janeiro, “para dar um sinal —
quer internacional, quer domesticamente — que o Kremlin continua dedicado a
manter as mesmas estruturas de poder do Ministério da Defesa russo.”
O relatório foi ainda mais longe e
defendeu mesmo que a remodelação nas altas patentes das Forças Armadas da
Rússia era um “gesto político” para “fortalecer o Ministério da Defesa russo
dos desafios dos bloggers russos e de outros críticos, como o financiador do
grupo Wagner Yevgeny Prigozhin”.
A batalha de Bakhmut e o seu fim
Depois desta remodelação, Yevgeny
Prigozhin foi ainda mais vocal nas críticas endereçadas ao ministério da Defesa.
Ao longo dos meses, o conflito na
localidade de Bakhmut foi evoluindo favoravelmente para o lado das milícias
paramilitares — e, por conseguinte, para a Rússia, — mas havia sempre um clima
de guerra interna entre os mercenários e as chefias militares de Moscovo.
Um dos episódios que mais marcou as
relações entre as duas facções teve a ver com a suposta falta de munições. Num vídeo
publicado nas redes sociais no final de abril, o líder do grupo Wagner acusou o Ministério da Defesa de não
fornecer equipamentos para que os mercenários combatessem. Yevgeny Prigozhin chegou mesmo a ameaçar que abandonaria Bakhmut caso
Sergei Shoigu não aceitasse enviar munições para a linha da frente. O ministro
terá cedido — pelo menos, as queixas do chefe paramilitar diminuíram de tom.
Quinze dias depois deste episódio, Yevgeny
Prigozhin anunciava que
Bakhmut fora conquistada pelo grupo Wagner, adiantando que abandonaria a
localidade nos dias seguintes. As forças armadas russas confirmaram a
informação, passando a estar encarregadas de proteger a cidade, missão que o
chefe paramilitar indicou ter várias dúvidas que será bem sucedida.
Terminada aquela que foi uma das batalhas
mais longa da guerra, o chefe da milícia paramilitar anunciou que os seus
mercenários não iam combater, pelo menos nos próximos tempos, e saíam da linha
da frente. Ao mesmo tempo, a Rússia tentava incluir nas suas tropas o grupo
Wagner, ainda que sem sucesso.
O Presidente russo, a única voz que
Yevgeny Prigozhin parecia confiar, insistiu na necessidade de os mercenários se
juntarem às tropas russas, argumentando com os benefícios de que passariam a
usufruir. Mas o chefe paramilitar voltou a rejeitar. “Quando a pátria estava
com problemas, quando era necessária a ajuda do Wagner e fomos todos defendê-la,
o Presidente prometeu-nos todas as garantias sociais”, lembrou , ironizando que
igualmente registou “20 mil mortos”. “Eles deveriam também assinar um contrato
com o Ministério da Defesa?”, questionou.
O pós-Bakhmut até dia 23 de junho
Nas semanas que se seguiram à retirada de
Bakhmut, Yevgeny Prigozhin não se remeteu ao silêncio. Muito pelo contrário.
Começou a criticar o facto de as tropas russas terem deixado de controlar
algumas zonas da cidade onde lutou durante meses e, depois, relativamente à contraofensiva
ucraniana, considerava que os balanços das enormes perdas ucranianas
reivindicadas pela Rússia eram “fantasias”.
Na passada quarta-feira, Yevgeny
Prigozhin desmentiu os alegados sucessos da Rússia em suster a contraofensiva
ucraniana. “Bocados enormes do território foram entregues de mão beijada ao
inimigo, [e] tudo isto está a ser totalmente escondido de toda a gente”,
declarou o líder dos Wagner. “Um dia a Rússia vai acordar e descobrir que
a Crimeia também foi entregue à Ucrânia”, ironizou.
Horas antes de entrar em território russo
adentro, o líder do grupo Wagner colocou um vídeo, em que falava durante 30
minutos sobre o estado do conflito da Ucrânia. Nunca culpabilizando Vladimir
Putin, Yevgeny Prigozhin acusou o Ministério da Defesa de “mentir” à população.
A guerra, reforça, começou devido a uma ameaça de invasão da Ucrânia e da
NATO, mas sim “para que um grupo de canalhas triunfassem e mostrassem a
força do seu exército, para que Shoigu subisse a Marechal”.
“Para a vitória da Rússia é preciso parar
de mentir, de roubar, de parar de pensar apenas em si mesmos e no seu bem-estar
e nos seus lugares, mas pensar nos soldados e nas suas vidas”, declarava ainda
o chefe paramilitar russo.
Por volta das 19h00 em Lisboa (mais duas
horas em Moscovo), surgiam as primeiras notícias de que um campo
militar dos Wagner teria sido atacado pelos grupo Wagner. Minutos
depois, Yevgeny Prigozhin declarou o início de uma insurreição contra as
chefias militares russas, se bem que ressalvasse que não queria alterar a
presidência. Certo é que o poder de Vladimir Putin está este sábado mais frágil
— e o líder do grupo Wagner pode ficar numa posição muito confortável, se
obtiver uma vitória do que diz ser uma “marcha pela justiça”, ou
perder tudo, arricando-se numa pena de prisão até 20 anos por “rebelião armada”.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO RÚSSIA
COMENTÁRIOS (de 25):
Nuno Carvalho: Seria um espectáculo delicioso de ver este fraticídio de loucos, não fosse
o pormenor de a Rússia estar cheia de armas nucleares / material radioactivo
perigosíssimo .... Esperemos que a Europa tenha a noção da enorme necessidade
de controlar ferozmente as fronteiras por forma a tentar impedir o tráfico de
material radioactivo (e a infiltração por criminosos de guerra em fuga) para
dentro de seus limites ....
Alexandre Arriaga e Cunha: Escalada descontrolada do
conflito! Oxalá isto não tenha efeitos colaterais demasiado destrutivos para a
Ucrânia (que já está num caos) nem para a Europa. Enquanto o Putin estiver vivo
estará sempre tudo em risco. Parece-me que, desta vez, é importante que o
Prigozhin tenha sucesso. No fundo, é preciso acabar com o Putin antes que ele
acabe connosco 🤞 João
Floriano: Será que
Prigozhin começou a deitar contas à vida e chegou à conclusão que o melhor que
pode fazer é ir fazer ainda mais guerra em África? Será que as suas
expectativas de uma campanha rápida na Ucrânia como também Putin visionava,
foram defraudadas porque a guerra arrasta-se num impasse, o ocidente apoia
Zelenski e as fragilidades russas são evidentes? Prigozhin não é melhor do que Putin. A única grande vantagem que o
ocidente pode para já tirar é que uma guerra civil na Rússia vai abrandar a
ofensiva contra a Ucrânia. Mesmo que o chefe dos Wagner tenha de fugir
derrotado, a porta da contestação a Putin está escancarada e a nível externo
não é bom para o prestígio do presidente russo. O colapso da Rússia é extremamente perigoso para o ocidente com tantos senhores
da guerra em conflito e com acesso a armas nucleares. Rui Brandao: Não me parece que se não for
bem-sucedido, a pena seja de 20 anos... Margarida Rosa: A guerra civil está a começar
será que isso é bom ou mau para nós? Vitor Batista
> Margarida Rosa: É bom para a humanidade. Francisco Sousa
Guedes: Eu gostava de
perceber o que é que o Autor terá querido dizer quando escreveu: A guerra, reforça,
começou devido a uma ameaça de invasão da Ucrânia e da NATO, mas sim “para que
um grupo de canalhas triunfassem e mostrassem a força do seu exército, para que
Shoigu subisse a Marechal”. Por volta das 19h00 em Lisboa (mais duas horas em
Moscovo), surgiam as primeiras notícias de que um campo militar dos Wagner
teria sido atacado pelos grupo Wagner. No Observador não há quem reveja os
textos que são publicados para que, pelo menos, sejam intelegíveis? Jorge Rodrigues Valente: O idiota e desmiolado do
molusco ladrão corrupto, Lula, já vai a caminho de Moscovo para propor o seu
plano de paz ao Prigozhin e o Carniceiro de Moscovo. Tudo será resolvido à mesa
de uma tasca como gosta o bêbado (presidente do Brasil). Vai pedir ao Carniceiro
de Moscovo que aceite ficar sem uma parte da Rússia para ser possível alcançar
a paz. Margarida Rosa: Guerra civil na Rússia era o pior que podia acontecer armas atómica por
todos os lados Um homem destes com tanto ódio é perigoso MGLA Age Of Excuse > Margarida Rosa: Já o seu amigo Putin é um
santinho !!! Manuel
Ribas: Por favor
poupem-nos de tantos especialistas em relações internacionais (não sabia que
havia tantos - deve ser um curso com média baixa para entrada), analistas
militares falhados que perderam uma guerra com movimentos de guerrilha de
maltrapilhos, etc. Todos falharam e continuarão a falhar. Porque não se calam? João Floriano
> Manuel Ribas: Alguns até me divertem. Veja só o Major General
Agostinho Costa. Estava a tomar o meu café e a ouvi-lo indignadíssimo contra o
dissidente Prigozhin, um rufia comparado com o Putin que é um verdadeiro
cavalheiro. A certa altura para explicar melhor o que tinha motivado esta
revolta militar, foi buscar o exemplo do 25 de Novembro, que como se sabe é um
osso de frango espetado na garganta de um bom comunista que se preze. Aí eu
engasguei-me a rir e já não ouvi o resto. Henrique Frazão: Está-se a abrir a janela que a Ucrânia precisava para
vencer o conflito. Jorge
Rodrigues Valente: Boas
notícias. Finalmente a implosão na terra dos assassinos. Estou sentado na
varanda a assistir. Estrondosa e estridente gargalhada sarcástica. J. Lombardo: Libertem a Rússia já! Abilio Silva: As “viúvas negras” (aranhas) preparam-se para se devorar
umas às outras. Neste momento o cozinheiro vai em direcção a moscovo a 60
kms/h. Jaime
Fernandes: Prigozhin afinal significa Perigo para o
Kremlin. O filho da Putin, tem agora dois inimigos, Zelensky e Prighozin.
Grande Salada Russa que o seu cozinheiro lhe preparou. Virou-se o Feitiço contra
o Feiticeiro. Este era um exército êartificial. Isto é, parecido, com o que
pode acontecer com a Inteligencia Artificial. Vitor Batista: Carrega primo gozin, "os bentos e os
liberales" até espumam de raiva. Eheheheh!! Abilio Silva > Vitor Batista: ...e o agostinho costa. António
Abreu > Vitor Batista: O general da naftalina "ventos de guerra", o
exquisite, e o falecido Berto Monarca, estão a ser vítimas do fim do programa
de avenças putínicas... Agora só se dediquem à questão da TAP e outras
minudências tugas. Vitor
BatistaVitor Batista: Eu
nunca vejo esse tipo, conheci-o quando estive na tropa, e era aquilo que
costumávamos chamar de lambe-botas.
Vitor Batista > António Abreu: Caro António, o sr deve saber como eu que essa gente é
paga pelo kremlin, e não é piada, é a verdade, como se chama aquile tipo novo
de óculos, que estava a favor da Rússia e comentava na sic? um Alexandre não
sei quê, essa gente tanto em Portugal como noutros países é paga para fazer
passar a propaganda putinesca, e os respectivos governos sabem isso, e não
fazem nada! João Floriano > Vitor Batista:Permita que lhe avive a memória, caro Vitor Batista: a
criatura chama-se Alexandre Guerreiro e foi tão descaradamente pró Putin que eu
nunca mais o vi a comentar na SICN, se bem que raras vezes perca tempo com o
irmão do Costa. Mal por mal a CNN é de mais fácil digestão. MGLA Age Of Excuse Vitor Batista: Esses
devem andar com medo de cair de uma janela ehhehehe
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