domingo, 18 de junho de 2023

Orientação pedagógica

 

A partir da Bíblia. Um texto curioso de P. Gonçalo Portocarrero de Almada, demonstrador, simultaneamente, da sua coragem contra alguma perversidade denunciada em alguns comentários, das opostas pessoas.

O grande segredo de Jesus de Nazaré

Como escreveu G. K. Chesterton, “a alegria, que era a pequena publicidade do pagão, é o gigantesco segredo do cristão”.

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA Colunista

OBSERVADOR, 17 jun. 2023, 00:1713

O mês de Junho é tradicionalmente dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, uma devoção que ontem foi celebrada universalmente e que evoca o mandamento novo da caridade, pelo qual são conhecidos todos os verdadeiros discípulos de Cristo (Jo 13, 34-35).

Portugal tem uma especial responsabilidade neste culto, porque a Basílica da Estrela, em Lisboa, é a primeira igreja do mundo dedicada ao Coração de Jesus. Esta devoção expressa a humanidade de Cristo que, enquanto consubstancial ao Pai, é perfeito Deus e, enquanto filho de Maria, é homem perfeito. Nele, a natureza humana alcançou o seu maior esplendor: é o exemplo que, com êxito, imitaram todos os santos. Ida Görres, ao ver uma fotografia de Santa Teresinha do Menino Jesus, cuja biografia escreveu, disse que era a face de Cristo no rosto de uma mulher.

Como gostava de dizer Bento XVI, na origem da fé cristã não está um conjunto de dogmas, ou um código moral, mas alguém: Jesus de Nazaré. Todos os seres humanos são chamados à comunhão com Deus, não por via da negação da natureza, mas pela sua perfeição e sublimação. Não há contradição entre a natureza e a santidade, porque o Criador da espécie humana é também o autor da graça, que é participação na natureza divina. Por isso, os santos são exemplo das virtudes sobrenaturais – como a fé, a esperança e a caridade – mas também expoentes máximos da natureza humana: não é por acaso que os bem-aventurados são as pessoas mais felizes do mundo.

Jesus de Nazaré veio ensinar que só se pode ser inteiramente feliz se se for santo. Ele é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14, 6). Não veio ao mundo para limitar a liberdade humana, mas para dar a vida na abundância (Jo 10, 10). Embora o ideal da perfeição humana seja inalcançável para quem só conta com as suas próprias forças (Jo 15, 5), é acessível através dos dons e graças que Deus, por meio da Igreja, concede. O exemplo perfeito da humanidade é Jesus de Nazaré, cujo coração é modelo para todos os cristãos. Só assim é possível, como sugere São Paulo, ter os seus mesmos sentimentos (Fl 2, 5), ou, como repete o refrão de um piedoso cântico litúrgico, “amar como Jesus amou”. Mas, como amou Jesus?

Tempos houve em que se entendeu que era pouco masculina qualquer manifestação sensível de afecto. Reservavam-se para as mulheres as expressões mais carinhosas e aos homens pedia-se uma atitude reservada, se não mesmo distante, até para com os mais próximos parentes. Não era bem-visto um pai que trouxesse ao colo um filho pequeno, nem eram adequadas à virilidade certas manifestações de ternura. Como então se dizia, ‘um homem não chora’.

Felizmente, esses estereótipos foram ultrapassados em Cristo, embora seja conveniente não dissolver a maternidade e a paternidade numa ambígua parentalidade, como pretende a moderna ideologia de género, ou a cultura woke. Ser pai é diferente de ser mãe e a mãe não é outro pai: os seus papéis, no seio da família, não são idênticos, mas complementares e devem conjugar-se na educação e formação da personalidade dos filhos. Mulheres e homens são iguais em natureza e dignidade, têm igual capacidade afectiva, que devem expressar segundo a respectiva feminilidade e masculinidade.

Os relatos evangélicos sublinham a virilidade de Jesus. Sobressai a sua masculinidade na expulsão dos vendilhões do templo (Jo 2, 13-22), ou nas suas invectivas contra os fariseus (Mt 23, 1-39). Mas o filho de Maria é também exemplo de uma extraordinária delicadeza com os mais fracos, como a adúltera apanhada em flagrante (Jo 8, 3-11), ou as crianças (Mt 19, 13-15). É também de uma comovedora proximidade com os seus mais chegados seguidores: João, o apóstolo que se identifica como “o discípulo que (o Senhor) amava” (Jo 19, 26), protagoniza um gesto de grande intimidade, que era tão intensa quanto pura, ou seja, sem nada de sensual, quando, na última Ceia, reclina a sua cabeça sobre o peito do Mestre (Jo 13, 23) e, assim, ausculta o seu coração.

Não era só no círculo dos seus mais próximos colaboradores que Jesus cultivava relações de grande amizade. Para além do grupo dos doze apóstolos (Mt 10, 1-4) e mais de setenta discípulos (Lc 10, 1-12), Cristo tinha muitos amigos. Um deles, Lázaro, irmão de Marta e de Maria (Lc 10, 38-42), adoeceu e morreu. Quando as suas irmãs o chamaram, Jesus foi ao seu encontro e, mal viu Maria chorar a morte do irmão, “comoveu-se profundamente e perturbou-se” e, também ele, “chorou. Os judeus, por isso, disseram: Vede como ele o amava!” (Jo 11, 33. 35-36).

Nesta confissão da ‘fraqueza’ do coração de Jesus está, afinal, toda a sua grandeza. Um coração impassível à dor alheia, ou indiferente, é um pobre coração. Só quem sofre as dores alheias, porque as faz próprias, tem um coração cristão. Cristo é capaz de sofrer e de se alegrar, porque sabe amar. Como disse G. K. Chesterton, “a alegria, que era a pequena publicidade do pagão, é o gigantesco segredo do cristão”.

Foi também este publicista inglês quem, na conclusão da sua Ortodoxia, revelou o grande segredo do coração de Jesus: “a tremenda figura que enche os Evangelhos eleva-se – neste aspecto como em todos os outros – acima de todos os pensadores que alguma vez se consideraram elevados. A sua compaixão era natural, quase descontraída. Os estóicos, quer os antigos, quer os modernos, sentem-se orgulhosos pelo facto de conseguirem esconder as lágrimas. Mas Cristo nunca escondeu as suas: mostrou-as, claramente, no rosto aberto, à luz do dia, diante da sua cidade. Mas escondia alguma coisa. Super-homens solenes e diplomatas imperiais mostraram-se orgulhosos do facto de conseguirem conter a ira. Mas Cristo nunca conteve a sua: atirou as mesas e bancas pelas escadas do templo abaixo, e perguntava às pessoas como esperavam escapar à condenação do inferno. Mas escondia alguma coisa. Digo-o com reverência: havia naquela personalidade devastadora algo a que temos de chamar timidez. Havia qualquer coisa que ele escondia aos homens quando subia à montanha para orar. Havia qualquer coisa que ele ocultava permanentemente, por meio de silêncios abruptos, ou de isolamentos impetuosos. Havia uma coisa que era grandiosa de mais para que Deus a mostrasse quando andou sobre a terra; e eu tenho imaginado, de quando em vez, que era a sua alegria.

JESUS CRISTO   CATOLICISMO   CRISTIANISMO   RELIGIÃO   SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

Ana Silva:  “Estás contente?”, perguntei eu. ”Não - respondeu-me - estou feliz” Contente, contentado significa cheio, satisfeito. Feliz, quer dizer aberto e fecundo, capaz de amar e ser amado, virado para o futuro. Contente só é possível, um dia, ao fim. Feliz posso ser já e cada vez mais” (citação a partir de um texto do P. Vasco Pinto de Magalhães sj)                      bento guerra: Tu. cá, tu lá com Jesus, deve ser do "streaming"                Pedra Nussapato: É sempre interessante ver alguém utilizar texto bíblico como se de um documento histórico se tratasse                    Alberto Pereira: Excelente artigo.              Maria Emília Santos Santos: Antes da guerra, a Ucrânia era o país mais corrupto da Europa, não sei se do mundo! Mas esse país, está a conseguir reunir os recursos de todos os países, para quê? Ou será que outros querem que ele os reúna para que ninguém tenha nada e todos sejam muito felizes? Quando será que vamos abrir os olhos e perceber que estamos numa terrível encruzilhada, debaixo da pata de poderosos e estranhos ditadores que mandam em nós, no nosso país e nos nossos inclassificáveis governantes!                Maria Emília Santos Santos: Na Ucrânia, o grande homem, acabou de proibir a religião Ortodoxa! Fechou conventos, igrejas e proibiu de se falar em nome de Deus! Aterrador! O governante que recolhe dinheiro de todo o mundo para as suas coisas, proíbe a religião mais antiga do seu país! Ah! e também proibiu 10 partidos políticos de se manifestarem! Que extraordinária democracia! Estamos a mandar os nossos recursos para onde?               Viktor > Maria Emília Santos Santos: Que lhe deu? Porque vem escrever isto aqui?                Francisco Almeida: Como gostava de dizer Bento XVI, na origem da fé cristã não está um conjunto de dogmas, ou um código moral, mas alguém: Jesus de Nazaré. Bento XVI, sempre ele. E não digo só ele, porque os antecessores são Santos e o sucessor a caminho de o ser e não quero ser blasfemo.                    José Miranda: Deu-me alegria ler este hino ao Coração Sacratíssimo e Misericordioso de Jesus.                 António Costa: Na realidade a vida reveste-se de alegria tanto para o mamífero como para o homem e acredito que sempre foi assim, mesmo nas gerações passadas. Só o medo e a doença anula a alegria natural de ter saído do limbo. O comportamento das antigas gerações foi condenado por Deus que as arrasou por completo, não eram, os que provocaram a sua ira, seres tristes mas sim bastante alegres, "onde estão os estrangeiros que chegaram à nossa cidade? Vai chamá-los que queremos ter relações com eles". Sobre os "santos" (só Deus é santo) ninguém o pode ser se não orar, pois é a matemática das coisas, a natureza do nosso mundo que se esconde para lá da cortina. Ser santo é ser alegre mas de uma alegria que se estende para além da satisfação das necessidades, é" ter por companheiro" (Florbela Espanca) a confiança de quem não viaja sozinho, colhe em cada confronto uma vitória e daí obtém satisfação, o mal, o pecado e se subsequente medo é anulado pela natural alegria da vida. Ser santo é sair-se bem nas provas do subconsciente. Ninguém pode ser santo, ou aspirar a tal, se daquele que faz a parte do Espírito Santo não disser basta, no momento da tentação e esse basta está directamente relacionado com a oração.                  António CostaAntónio Costa: Por outro o animal Homem é um ser que quer mais do que lhe foi dado, ao não ter, o que quer, transforma-se num animal triste e melancólico, vitimiza-se pelo seu infortúnio e encontra consolação no infortúnio alheio.            Américo Silva: Em todo o lado há sofrimento, com amor pode ser aliviado, não eliminado, se os políticos amarem o povo, os patrões os empregados, os vizinhos os vizinhos, mas o que vemos é só negócio: as ONGs patrocinam os naufrágios, os especuladores desviam a habitação, a indústria fomenta guerras, o desporto produz inutilmente o máximo de CO2              Rui Pedro Matos: Muito bem!

 

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