A partir da Bíblia. Um texto curioso de P. Gonçalo Portocarrero de Almada,
demonstrador, simultaneamente, da sua coragem contra alguma perversidade
denunciada em alguns comentários, das opostas pessoas.
O
grande segredo de Jesus de Nazaré
Como
escreveu G. K. Chesterton, “a alegria, que era a pequena publicidade do pagão,
é o gigantesco segredo do cristão”.
P. GONÇALO
PORTOCARRERO DE ALMADA Colunista
OBSERVADOR, 17 jun. 2023, 00:1713
O mês de Junho é
tradicionalmente dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, uma devoção que ontem
foi celebrada universalmente e que evoca o mandamento novo da caridade, pelo
qual são conhecidos todos os verdadeiros discípulos de Cristo (Jo 13, 34-35).
Portugal tem uma especial
responsabilidade neste culto, porque a Basílica da Estrela, em Lisboa, é a
primeira igreja do mundo dedicada ao Coração de Jesus. Esta devoção expressa a humanidade de
Cristo que, enquanto consubstancial ao Pai, é perfeito Deus e, enquanto filho
de Maria, é homem perfeito. Nele, a natureza humana alcançou o seu
maior esplendor: é o exemplo que, com êxito, imitaram todos os santos. Ida
Görres, ao ver uma fotografia de Santa Teresinha do Menino Jesus, cuja
biografia escreveu, disse que era a face de Cristo no rosto de uma mulher.
Como gostava de dizer Bento XVI, na
origem da fé cristã não está um conjunto de dogmas, ou um código moral, mas
alguém: Jesus de Nazaré. Todos os seres
humanos são chamados à comunhão com Deus, não por via da negação da natureza,
mas pela sua perfeição e sublimação. Não há contradição entre a natureza e a
santidade, porque o Criador da espécie humana é também o autor da graça, que é
participação na natureza divina. Por isso, os santos são exemplo das virtudes
sobrenaturais – como a fé, a esperança e a caridade – mas também expoentes
máximos da natureza humana: não é por
acaso que os bem-aventurados são as pessoas mais felizes do mundo.
Jesus de Nazaré veio ensinar que só
se pode ser inteiramente feliz se se for santo. Ele é o caminho, a verdade e a vida (Jo
14, 6). Não veio ao mundo para
limitar a liberdade humana, mas para dar a vida na abundância (Jo 10, 10).
Embora o ideal da perfeição humana
seja inalcançável para quem só conta com as suas próprias forças (Jo 15, 5),
é acessível através dos dons e graças que Deus, por meio da Igreja, concede.
O exemplo perfeito da humanidade é
Jesus de Nazaré, cujo coração é modelo para todos os cristãos. Só assim é
possível, como sugere São Paulo, ter os seus mesmos sentimentos (Fl 2, 5), ou,
como repete o refrão de um piedoso cântico litúrgico, “amar como Jesus amou”. Mas, como
amou Jesus?
Tempos houve em que se entendeu que
era pouco masculina qualquer manifestação sensível de afecto. Reservavam-se
para as mulheres as expressões mais carinhosas e aos homens pedia-se uma
atitude reservada, se não mesmo distante, até para com os mais próximos
parentes. Não era bem-visto um pai que trouxesse ao colo um filho pequeno, nem
eram adequadas à virilidade certas manifestações de ternura. Como então se
dizia, ‘um homem não chora’.
Felizmente, esses estereótipos
foram ultrapassados em Cristo, embora seja conveniente não dissolver a maternidade
e a paternidade numa ambígua parentalidade, como pretende a moderna ideologia
de género, ou a cultura woke. Ser pai é
diferente de ser mãe e a mãe não é outro pai: os seus papéis, no seio da
família, não são idênticos, mas complementares e devem conjugar-se na educação
e formação da personalidade dos filhos. Mulheres e homens são iguais em
natureza e dignidade, têm igual capacidade afectiva, que devem expressar
segundo a respectiva feminilidade e masculinidade.
Os
relatos evangélicos sublinham a virilidade de Jesus. Sobressai a sua
masculinidade na expulsão dos vendilhões do templo (Jo 2, 13-22), ou nas suas
invectivas contra os fariseus (Mt 23, 1-39). Mas o filho de Maria é também
exemplo de uma extraordinária delicadeza com os mais fracos, como a adúltera
apanhada em flagrante (Jo 8, 3-11), ou as crianças (Mt 19, 13-15). É também
de uma comovedora proximidade com os seus mais chegados seguidores: João, o
apóstolo que se identifica como “o discípulo que (o Senhor) amava” (Jo 19, 26),
protagoniza um gesto de grande intimidade, que era tão intensa quanto pura, ou
seja, sem nada de sensual, quando, na última Ceia, reclina a sua cabeça sobre o
peito do Mestre (Jo 13, 23) e, assim, ausculta o seu coração.
Não
era só no círculo dos seus mais próximos colaboradores que Jesus cultivava
relações de grande amizade. Para além do grupo dos doze apóstolos (Mt 10, 1-4)
e mais de setenta discípulos (Lc 10, 1-12), Cristo tinha muitos amigos. Um
deles, Lázaro, irmão de Marta e de Maria (Lc 10, 38-42), adoeceu e morreu.
Quando as suas irmãs o chamaram, Jesus foi ao seu encontro e, mal viu Maria
chorar a morte do irmão, “comoveu-se profundamente e perturbou-se” e, também
ele, “chorou. Os judeus, por isso, disseram: Vede como ele o amava!” (Jo 11,
33. 35-36).
Nesta confissão da ‘fraqueza’ do coração de Jesus está, afinal, toda a
sua grandeza. Um coração impassível à dor alheia, ou indiferente, é um pobre
coração. Só quem sofre as dores alheias, porque as faz próprias, tem um coração
cristão. Cristo é capaz de sofrer e de se alegrar, porque sabe amar. Como disse G. K. Chesterton, “a alegria, que era a
pequena publicidade do pagão, é o gigantesco segredo do cristão”.
Foi também este publicista inglês quem,
na conclusão da sua Ortodoxia, revelou o grande segredo do coração de Jesus: “a tremenda figura que enche os Evangelhos
eleva-se – neste aspecto como em todos os outros – acima de todos os pensadores
que alguma vez se consideraram elevados. A sua compaixão era natural, quase
descontraída. Os estóicos, quer os antigos, quer os modernos, sentem-se
orgulhosos pelo facto de conseguirem esconder as lágrimas. Mas Cristo nunca
escondeu as suas: mostrou-as, claramente, no rosto aberto, à luz do dia, diante
da sua cidade. Mas escondia alguma coisa. Super-homens solenes e diplomatas
imperiais mostraram-se orgulhosos do facto de conseguirem conter a ira. Mas
Cristo nunca conteve a sua: atirou as mesas e bancas pelas escadas do templo
abaixo, e perguntava às pessoas como esperavam escapar à condenação do inferno.
Mas escondia alguma coisa. Digo-o com reverência: havia naquela personalidade
devastadora algo a que temos de chamar timidez. Havia qualquer coisa que ele
escondia aos homens quando subia à montanha para orar. Havia qualquer coisa que
ele ocultava permanentemente, por meio de silêncios abruptos, ou de isolamentos
impetuosos. Havia uma coisa que era grandiosa de mais para que Deus a mostrasse
quando andou sobre a terra; e eu tenho imaginado, de quando em vez, que era
a sua alegria.”
JESUS CRISTO CATOLICISMO CRISTIANISMO RELIGIÃO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS:
Ana Silva: “Estás contente?”, perguntei eu.
”Não - respondeu-me - estou
feliz” Contente, contentado significa cheio, satisfeito. Feliz, quer dizer aberto
e fecundo, capaz de amar e ser amado, virado para o futuro. Contente só é possível, um dia,
ao fim. Feliz posso ser já e cada vez mais” (citação a partir de um texto do P. Vasco Pinto de Magalhães
sj) bento
guerra: Tu. cá, tu lá com
Jesus, deve ser do "streaming" Pedra Nussapato: É sempre interessante ver
alguém utilizar texto bíblico como se de um documento histórico se tratasse Alberto Pereira:
Excelente artigo. Maria Emília Santos Santos: Antes da guerra, a Ucrânia era
o país mais corrupto da Europa, não sei se do mundo! Mas esse país, está a
conseguir reunir os recursos de todos os países, para quê? Ou será que outros
querem que ele os reúna para que ninguém tenha nada e todos sejam muito
felizes? Quando será que vamos abrir os olhos e perceber que
estamos numa terrível encruzilhada, debaixo da pata de poderosos e estranhos
ditadores que mandam em nós, no nosso país e nos nossos inclassificáveis
governantes! Maria
Emília Santos Santos: Na Ucrânia, o grande homem, acabou de proibir a
religião Ortodoxa! Fechou conventos, igrejas e proibiu de se falar em nome de
Deus! Aterrador! O governante que recolhe dinheiro de todo o mundo para as suas
coisas, proíbe a religião mais antiga do seu país! Ah! e também proibiu 10
partidos políticos de se manifestarem! Que extraordinária democracia! Estamos a
mandar os nossos recursos para onde? Viktor > Maria Emília Santos Santos: Que lhe deu? Porque vem
escrever isto aqui? Francisco
Almeida: Como gostava de dizer Bento XVI, na origem
da fé cristã não está um conjunto de dogmas, ou um código moral, mas alguém:
Jesus de Nazaré. Bento XVI, sempre ele. E não digo só ele, porque os antecessores são
Santos e o sucessor a caminho de o ser e não quero ser blasfemo. José Miranda: Deu-me alegria ler este hino ao
Coração Sacratíssimo e Misericordioso de Jesus. António Costa: Na realidade a vida reveste-se
de alegria tanto para o mamífero como para o homem e acredito que sempre foi
assim, mesmo nas gerações passadas. Só o medo e a doença anula a alegria
natural de ter saído do limbo. O comportamento das antigas gerações foi condenado
por Deus que as arrasou por completo, não eram, os que provocaram a sua ira,
seres tristes mas sim bastante alegres, "onde estão os estrangeiros que
chegaram à nossa cidade? Vai chamá-los que queremos ter relações com
eles". Sobre os "santos" (só Deus é santo) ninguém o pode ser se
não orar, pois é a matemática das coisas, a natureza do nosso mundo que se
esconde para lá da cortina. Ser santo é ser alegre mas de uma alegria que se
estende para além da satisfação das necessidades, é" ter por companheiro"
(Florbela Espanca) a confiança de quem não viaja sozinho, colhe em cada
confronto uma vitória e daí obtém satisfação, o mal, o pecado e se subsequente
medo é anulado pela natural alegria da vida. Ser santo é sair-se bem nas provas
do subconsciente. Ninguém pode ser santo, ou aspirar a tal, se daquele que faz
a parte do Espírito Santo não disser basta, no momento da tentação e esse basta
está directamente relacionado com a oração. António CostaAntónio Costa: Por outro o animal Homem é um
ser que quer mais do que lhe foi dado, ao não ter, o que quer, transforma-se num
animal triste e melancólico, vitimiza-se pelo seu infortúnio e encontra
consolação no infortúnio alheio.
Américo Silva: Em todo o lado há sofrimento, com amor pode ser
aliviado, não eliminado, se os políticos amarem o povo, os patrões os
empregados, os vizinhos os vizinhos, mas o que vemos é só negócio: as ONGs
patrocinam os naufrágios, os especuladores desviam a habitação, a indústria fomenta
guerras, o desporto produz inutilmente o máximo de CO2 Rui Pedro Matos: Muito bem!
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