Já vividas antes, a merecer curiosidades
e receios, aquando dos OVNIS, que nos
punham a todos as cabeças no ar, hoje ainda mais consistentes, esperemos que
não nos atirem a todos com as cabeças para o chão, joguetes que somos do saber
limitado e da fantasia muita… E os EU, como sempre, na linha da frente, para
maravilhar e assustar, hoje com UAPS, mais amplos
em ambiguidade assustadora (Unidentified
Anomalous Phenomena). Ainda bem que há quem advirta e brinque,
metaforicamente, com as nossas anomalias nacionais bem identificadas, como o
fez o Escritor e Argumentista ALEXANDRE BORGES.
J agora, uma notícia do outro mundo
Porque esconderiam os Estados Unidos a
existência de vida extraterrestre quando passam, publicamente, a vida a
procurá-la e a gastar nisso biliões de dólares, dirá o camarada leitor?
ALEXANDRE BORGES Escritor e
argumentista
OBSERVADOR, 29
jun. 2023, 00:1518
Há
anos que o pobre Fukuyama não faz outra coisa senão levar pancada de todo o
santo especialista em totobolas de segunda-feira. Mas a verdade é que a
História não só não acabou, como, convenhamos, tem tido ultimamente alguns twists
incríveis… Epidemias globais de vírus desconhecidos,
reencarnações de Estaline que declaram guerra a antigos actores de comédia,
máquinas pensantes que, em meia dúzia de meses, puseram as cabeças mais
respeitadas da espécie humana a falar em risco de extinção. O que é que falta? Isto: uma invasão extraterrestre pode estar a
caminho.
Certo. É provável que não
tenha ouvido, entre as bombas da guerra na Ucrânia e os tiros no pé do governo
português. Mas, nas últimas semanas, tem-se falado em OVNIs e ETs como não
acontecia desde que Orson Welles foi para a rádio relatar a “Guerra dos Mundos”.
David Grusch, um
oficial americano que passou os últimos 14 anos a trabalhar em agências de
informação do Departamento da Defesa, veio a público dizer: “não estamos sozinhos”. Aliás, um
pouco mais do que isso: segundo ele, não estamos a falar de uma possibilidade
abstracta, nem de um vago contacto com um som ou uma forma luminosa; os
Estados Unidos terão mesmo, em sua posse, em peças ou no conjunto integral,
vários “veículos exóticos de origem não-humana” que aterraram ou se despenharam
na Terra. Assim.
Grusch
não é, exactamente, o estereotipo de maluquinho que possa estar a
imaginar. É um
militar experiente, que liderou até há pouco tempo o gabinete de análise a UAPs da
NGA – Agência Nacional de Informação Geoespacial (UAP é a designação que substituiu o velho
“O.V.N.I. – Objecto Voador Não Identificado”. Significa “Unidentified
Anomalous Phenomena”, isto é, “Fenómeno
Anómalo Não Identificado”, uma vez constatado que muitos avistamentos
estranhos não correspondiam a objectos – mas a fenómenos atmosféricos, por
exemplo – e que nem tudo o
que é estranho voa – sim, ao que parece, volta e meia, também aparecem coisas
esquisitas a entrar e a sair dos oceanos). E como o próprio acrescenta,
também não é “um ex-trabalhador revoltado”. Demitiu-se ele mesmo no passado mês
de Abril para, ao abrigo do estatuto de “whistleblower”, denunciar o que
considera serem factos demasiado graves
para continuarem a ser escondidos ao povo americano, que paga com os seus
impostos estas agências, programas e investigações.
Na sequência das duas entrevistas que concedeu este mês,
outros militares vieram a público, uns para corroborar as afirmações de Grusch e outros a refrear a temperatura aos ânimos
com algum cepticismo. Todavia, o Congresso já anunciou que vai mesmo
abrir uma investigação
ao caso e o
próprio Mark Rubio, senador e antigo candidato à liderança do Partido
Republicano, veio nos últimos dias reconhecer que outros oficiais de alta
patente já partilharam relatos semelhantes ao de Grusch com a Comissão de
Inteligência do Senado.
No mundo da pós-verdade, em que dois dos
homens mais ricos e tidos por geniais do planeta se entretêm a prometer porrada
um ao outro e a responder com emojis em forma de cocó, já não parece estranho que exista mais
disponibilidade para ter esta conversa. Mas vale a pena lembrar que este não é
um acontecimento isolado, saído da cabeça do Garganta Funda do trimestre; vem
na sequência de uma série de notícias credíveis saídas nos últimos dois anos.
Em 2021, imagens mais tarde reconhecidas como verdadeiras pelas
autoridades mostravam um conjunto de encontros de aviadores militares
americanos com objectos voadores de comportamento bastante inexplicável. Na
sequência da divulgação, o Pentágono publicou um relatório onde reconhecia a ocorrência de mais de 140 encontros com
UAPs para os quais continua a não ter explicação. Um novo gabinete foi, então, criado, o AARO,
All-domain Anomaly Resolution Office (uma
espécie de tudo-em-um dos acontecimentos estranhos), que reunisse os dados e
investigações das diferentes agências. E é no contexto do
trabalho desse gabinete que sai, agora, o relato de David Grusch.
Mas porque esconderiam os Estados Unidos a existência de vida
extraterrestre quando passam, publicamente, a vida a procurá-la e a gastar
nisso biliões de dólares, dirá o camarada leitor? E eu digo: tem o camarada
toda a razão, mas há razões que a razão desconhece. Então na América.
A verdade é que, como nos lembrará,
dentro de dias, o filme “Oppenheimer”
e a própria corrida à Inteligência Artificial, de cada vez que se descobre uma nova tecnologia,
seja ela de que planeta for, há uma corrida para a dominar
antes da concorrência.
Michael Shellenberger, autor e activista ambiental distinguido
pela Time, acrescenta pormenores: estaremos
a falar de 12 a 15 veículos, metade em bom estado, metade em mau, de pelo menos
quatro morfologias diferentes. Terão sido, diz Grusch,
recolhidos pelo Pentágono ao longo de décadas, não necessariamente em solo
americano, começando com um achado nos anos 40 em Itália, remetido para os EUA
com ajuda de Mussolini e do Vaticano (como resistir a isto, caramba?). Desde então, são estudados em programas
de “engenharia reversa”, que tenta compreender como foram feitos e que
tecnologia utilizam, e pessoas já poderão ter sido mortas para manter estas
informações em segredo. Assim. À filme.
Agora, o que virão cá os
extraterrestres fazer, essa já é outra questão. Entre o perfil do invasor diabólico e o
do gentil diplomata consagrados pelo cinema, há espaço para quase tudo – até
para turistas espaciais em férias, em busca da nova Quarteira Sideral. Quem sabe, até não fazem visitas
regulares para observar a questão do aquecimento global, como quem vê se a água
do banho já está quentinha que chegue? Num tempo em que tudo o que está entre
nós e o apocalipse nuclear pode ser um ex-vendedor de cachorros-quentes
enraivecido, a história não deixa de trazer uma estranha dimensão de
esperança. Mas uma coisa lhe garanto: agora é que o preço dos alojamentos em
Alfama dispara para as estrelas.
COMENTÁRIOS (de 18)
João FlorianoAbilio Silva:
Eu diria que é um chip para ser facilmente localizado
e recolhido pela nave mãe se as coisas se complicarem. Ninguém me tira da
cabeça que o que se passou no Ministério das Infraestruturas, não foi mais do
que um confronto entre alienígenas de grupos diferentes e que a TAP não é o que
se pensa mas uma frota escondida para viagens intergalácticas. Só assim se
explica que já tenha consumido mais dinheiro dos contribuintes portugueses do
que a NASA dos congéneres americanos.
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