Salientes na temática que Helena Garrido explora,
com a competência de sempre, e bem assim os comentadores. Acomodamo-nos todos
bem, biquinhos abertos, no ninho, esperando o cibo, foi dito e redito. Sem cura,
todavia. Acomodadamente.
A política de distribuir as sobras
Em vez de política orçamental vivemos
na táctica popular de distribuir as sobras do dinheiro do Estado, numa lógica
de “bodo aos pobres”. Podia ser diferente.
HELENA GARRIDO Colunista
OBSERVADOR, 27
jun. 2023, 00:2028
A nova regra de política orçamental
em Portugal parece ser distribuir dinheiro quando há folga nas contas públicas. Ou será
antes uma regra de manutenção do poder, criando um exército cada vez mais
alargado de dependentes do Estado, sem capacidade de iniciativa nem qualquer
motivo para se mobilizar de forma a aumentar o seu rendimento. O
ministro das Finanças diz que não quer dar um passo maior do que a perna, mas
talvez não saiba o tamanho da perna e por isso demite-se de ter uma política de
finanças públicas, que nos afaste estruturalmente do risco de colapso
financeiro, optando pelo “bodo aos pobres” que garante votos.
Foi agora com a divulgação das contas nacionais
relativas ao primeiro trimestre que percebemos de onde veio a generosidade do
governo para com os funcionários públicos, os pensionistas, as famílias mais
vulneráveis, os inquilinos e os que têm prestação por crédito à habitação. O
primeiro trimestre deste ano foi marcado por um excedente orçamental histórico. Na ótica da contabilidade que é
relevante para Bruxelas, as administrações públicas registaram um excedente
orçamental de 761,3 milhões de euros, o equivalente a 1,2% do PIB.
Os primeiros apoios chegaram
logo em meados de
Fevereiro com o designado pacote “Mais Habitação”. Aí se consagra
uma ajuda à renda de casa que pode ir até ao máximo de 200
euros. Começaram a ser pagos em meados de Junho, desencadeando a decepção
de alguns inquilinos, depois de o Governo, através de um despacho do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Nuno
Félix, ter “interpretado” o decreto-lei, considerando que a taxa de esforço de
35% se devia calcular com o rendimento bruto e não com o rendimento colectável
(mais baixo), o que reduz os apoios. Aparentemente, e de acordo com o Diário de
Notícias, a formulação do decreto-lei levava a que o custo desta medida
atingisse os mil milhões de euros, quando o Governo esperava gastar 250 milhões
de euros, verba consagrada no Programa de Estabilidade, e que se prevê
que dure até 2027. Esta ajuda à renda começou a ser paga também em Junho,
incluindo-se neste pacote a bonificação de juros para o crédito à habitação,
com um custo previsto, apenas para este ano, de 200 milhões de euros.
O segundo apoio foi logo
anunciado em finais de
Março, dirigido às famílias mais vulneráveis no montante de 30 euros
mensais, pagos trimestralmente, mais 15 euros por dependente. O custo desta medida, que se pode ver no Programa de
Estabilidade 2023-27 é de 580 milhões de euros. O primeiro montante
foi recebido pelas famílias em Maio e o segundo em Junho. É uma ajuda mais
focada, respeitando melhor as orientações de evitar apoiar quem não precisa, como
de alguma forma aconteceu no final de 2022.
Na
mesma altura, em Março, foi anunciado
um aumento intercalar de 1% para
a função pública e a subida do subsídio de refeição em 80 cêntimos para 6 euros.
Começou a ser pago em Maio com retroativos a Janeiro e tem um custo bruto
estimado de 388 milhões de euros. (O encargo líquido é de 456 milhões de
euros porque a esse valor é preciso somar o IRS e as contribuições que se
perdem no caso do aumento do subsídio de refeição – 163 milhões ao todo – e
subtrair 95 milhões que se ganha em mais IRS e contribuições pelo aumento
salarial). E este é um valor que fica para sempre na despesa.
É também em Março que é
anunciada a redução do IVA para zero num cabaz de produtos alimentares, depois
de uma enorme resistência do Governo e mesmo assim alvo de criticas por
beneficiar quer as famílias vulneráveis como as de mais elevados rendimentos.
Uma decisão que custa 410 milhões de euros.
Em Abril é anunciado o aumento intercalar das pensões,
em 3,57%, a ser pago a partir de 1 de Julho. Esta é uma correção que pretende responder às críticas
que foram feitas ao Governo quando deu, o ano passado, uma prestação única e
aumentou as pensões em Janeiro apenas pela metade do que está previsto na lei.
De acordo com o Plano de Estabilidade, esta atualização significa mais 500 milhões de euros.
Foram seis anúncios de
aumentos, apoios e redução do IVA que começaram em Fevereiro e acabaram em
Abril. A seguir aos anúncios chegam os
pagamentos que se vão prolongando. São medidas de distribuição de dinheiro que
são tomadas passo a passo,
crescendo à medida que o Ministério das Finanças percebe que vai ter os cofres
cheios. Ao todo e por junto, estas medidas correspondem a um custo
orçamental adicional de quase 2,4 mil milhões de euros.
Claro
que podemos considerar que o aumento dos funcionários públicos é justo, pela
perda de poder de compra que têm tido, e que a correção do valor das pensões
mais do que justa corresponde ao cumprimento da lei. O
problema é a forma como se vai adoptando estas medidas, como se de um prémio se
tratasse. Uma tática que temos legitimidade de considerar que tem como objetivo
manter os votos deste segmento muito elevado da população – funcionários
públicos e pensionistas.
Resolvem-se
muito lentamente os problemas estruturais dos salários da função pública e vai-se
dando aumentos aqui e ali. Não se
resolve o problema das pensões e vai-se dizendo aos pensionistas que se paga o
que determina a lei se houver dinheiro. E
se ou quando não houver dinheiro? Os funcionários públicos regressam aos cortes
da era da troika e os pensionistas também?
O
apoio às famílias mais vulneráveis é o único que, na actual conjuntura, tem
racionalidade. A inflação, especialmente esta que tem sido mais elevada na
alimentação, é um pesado imposto para quem tem rendimentos baixos.
Mas
todos os outros apoios, nomeadamente os relacionados com a habitação e até com
o IVA zero já são mais discutíveis. Os apoios à renda e a bonificação
dos juros não resolvem problema nenhum.
Teria sido preferível aumentar o apoio às famílias vulneráveis, em vez de
entrar neste modelo de ajuda a quem é inquilino ou quem comprou casa. Mas a
ideia aqui, tal como está a acontecer com o PRR, é espalhar dinheiro pelo maior número de pessoas
possível.
Percebe-se
que Fernando
Medina joga pelo seguro, esperando para ver se tem dinheiro para depois o
distribuir. Prefere
ir dando dinheiro com um carácter excepcional do que reduzir impostos, ficando
com menos receitas cuja recuperação, se a conjuntura o exigir, tem elevados
custos políticos.
Mas
esta forma de gerir as contas públicas tem um perfil mais de “politics” do que
de “policy”, contribuindo igualmente para uma cultura de dependência
do Estado, de subsidiodependência, de esperar que o dinheiro caia do céu. Obviamente que é uma receita ganhadora para quem tenha
como único objectivo a perpetuação no poder e não a criação de uma sociedade
madura, responsável e desenvolvida.
A política orçamental deixou
de existir. Temos agora uma política de gestão do dinheiro que vai sobrando. E é isso que Fernando Medina irá fazer, escolher o saldo orçamental que quer e depois
distribuir o resto pelo povo, em apoios populares. E podia ser
diferente, porque há dinheiro para mudar estruturalmente o Estado, garantindo
melhores serviços públicos com menos despesa e, ao mesmo tempo, reduzir mais
rapidamente a dívida. Vivemos um tempo de oportunidades perdidas porque a
função objectivo de quem nos governa está apenas concentrada em manter o poder
– ou só sabe fazer política económica desta maneira.
GOVERNO POLÍTICA ORÇAMENTO DO
ESTADO ECONOMIA
COMENTÁRIOS (de 30):
José Manuel Pereira > Maria Clotilde Osório:
Muito bem Rui Pedro Matos > Maria Clotilde Osório: Acertado!
Jose Carlos Fonseca: HG podia explicar "preto no branco" como se garantem
melhores serviços públicos com menos despesa. Maria Clotilde
Osório: Chama-se "bodo aos pobres".
Pobres de espírito. E, mesmo assim, os números da pobreza aumentam? E os jovens
emigram? Em tempos houve um governo que tentou implementar medidas negociadas
pelo PS com os credores externos. A CS, Helena Garrido incluída, passaram o
tempo a reclamar. A Dra Ferreira Leite rasgou as vestes com os cortes nas
pensões mais altas (sim, porque as mais baixas não foram afectadas). A CS fez
coro. O aeroporto estava cheio de pais chorosos a despedir-se dos rebentos.
Agora, os pais ficam chorosos mas ninguém quer saber. CS incluída. E podia
continuar. A política de distribuir sobras rende muito mais aplausos do que a
política de planear e desenvolver uma estrutura de futuro para o país. A CS
promove isso. A pobreza de espírito e a dependência. No fundo, a CS também vive
do bodo. Filipe
Paes de Vasconcellos: A
“GENIALIDADE” DO PS!: 1 - O PS em 50 anos esteve 25 no governo. 2 - No período de 1986 a 2022, 36 ( TRINTA E
SEIS) anos, Portugal recebeu de fundos comunitários 160 000 000 000
(CENTO E SESSENTA MIL MILHÕES DE EUROS ). 3 - O PS desses 25
anos de des(governo) formou governos que levaram o país, por 3 (TRÊS) vezes
à falência. 4 - Resultado do socialismo: mais de 4 000 000 (QUATRO
MILHÕES) de pobres e subsídio - dependentes que se esganam, digo bem!, por um
salário de 750 ( SETECENTOS E CINQUENTA)€ e um subsídio de renda de 25 (VINTE E
CINCO)€ 5 - Cuidados de saúde nem ver! Estás doente, cuida-te ou
volta mais tarde! Cerca de 2 000 000 (DOIS MILHÕES ) sem médico de família. 6 -
Justiça nem ver! Se queres valer os teus direitos esquece, não arranjes
problemas! E já agora rouba à vontade! 7 - Educação,
para quê? Tens sempre a passagem de ano garantida porque aqui não entra a exigência da direita e dos
fascistas! 8 - Por último:
Mintam à vontade porque assim o povo socialista e os seus membros do governo já
podem continuar a mentir à bruta não precisando de ter aquele mínimo de pingo
de vergonha na cara! Sejamos todos cobardes tal quais os ditos! Conclusão:
estas “sumidades” que falam para os Portugueses e até para os deputados, do
alto da sua cagança, deviam ir a julgamento por má gestão dos dinheiros
públicos. Portugal deveria entrar de luto prolongado. E ninguém se revolta !? E
ninguém vai preso !? CHIÇA !!! Já agora1:na semana passada fui a um dos grandes Hospitais
públicos de Lisboa e o elevador que apanhei estava completamente às escuras e
cheio de doentes. Mas, que maravilha, ao menos funcionava! Há cerca de um mês
fui ao Palácio de justiça, também havia 2 elevadores só que um deles estava
selado por falta de assistência.
JA 2.: Até dói ao sentirmos a impressão de como recuámos a
níveis de qualidade de serviços públicos idênticos aos anos 60 do século
passado. Sérgio: O toine nepotista e mafioso deve andar num desespero a
vender-se e a comprar tudo e todos, típico vendedor de banha da cobra! Ele sabe
que as "contas certas" é uma treta e está mortinho por deixar a batata
quente para outros...Nunca tivemos tanta despesa fixa com o número recorde de
FP e não fosse a "bazuca" teríamos já cá a TROIKA! Que raio de
masoquista quereria na UE um estadista deste calibre?!? Um manhoso, aldrabão,
manipulador, mentiroso, nepotista, incompetente, despesista, desleixado e
rodeado de criminosos e envoltos em problemas de corrupção e favorecimento e
roubo e condenados.... O chefe do gang que nos arrasta para a cauda da Europa e
OCDE e que nos empobrece e, tudo isto com a maior divida e carga fiscal da
história! Que arruinou por completo o SNS, educação, justiça, entidades
reguladoras, empresas públicas, saúde.... Seria o maior tiro na credibilidade
da UE e Bruxelas! João
Ramos: A política de Costa é manter o poder e a
mediocridade, pois não sabe fazer mais nada! JOSÉ MANUEL: Diria antes "a política de distribuir
miséria" para obrigar as pessoas a mendigar sobras… JOSÉ MANUEL: complementando o meu anterior comentário, algo que me
surpreende é o facto de a comunicação social, em paralelo com o óbvio
empobrecimento da população, particularmente da antiga classe média, assistir
muda ao escandaloso e desproporcionado enriquecimento da turma propaladora da
igualdade, e basta apenas pensar na reforma do inútil Pinho, da indemnização
colocada nas unhas da Alexandra antes de lhe darem mais um tachão, ou a
remuneração da dona Cabrita ou do Sentino. E ficam ainda escandalizados com a
comparação com o porco Napoleão? Fernando CE: Muito bom. Costa só sabe governar para manter o poder.
Não tem engenho nem coragem para mais. joaquim zacarias: A política distributiva tem um nome. Socialismo. E é
praticada por todos os partidos de esquerda, em quase todos os países do mundo.
O nosso drama, é que os portugueses adoram o pai estado, e corremos o risco de
dentro de um ano, sermos o único país da Europa, com um governo socialista. José Carvalho: Tudo começou na velha Roma: começaram a repartir trigo
pela população, que era pobre porque a economia não funcionava, e todos sabemos
como a coisa acabou. Com esta política de esmolas do governo do PS, só nos
falta saber se acabamos comidos pelos bárbaros do Norte ou pelos do Sul. Carlos Chaves: Caríssima Helena, artigo certeiro descrevendo o método
de como criar pobres e dependentes eternizando os algozes no poder! Contudo não
concordo com esta sua frase – “Temos agora uma política de gestão do dinheiro
que vai sobrando”…. Proponho a seguinte alteração - “Temos agora uma política
de gestão do dinheiro que o governo vai esbulhando aos Portugueses! Rui Pedro Matos: Mais um artigo em que a dra. Helena Garrido articula o
NIM. Da minha parte, apenas percebo que estou cada vez mais empobrecido, face
ao custo real dos bens e serviços que utilizo e usufruo. Infelizmente a dra.
Helena não referiu a aproximação brutal entre salários dos licenciados e não
licenciados, como medida de política de empobrecimento deste governo...
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