sexta-feira, 30 de junho de 2023

Os Ministérios do Presente


Implicam, naturalmente, todos eles, a vida futura, motivados, cada um deles, em função dos tempos que seguem para a frente. A criação de mais um, com tal carisma de Ministério do Futuro, parece ser antes um meio sofisticado de desperdício, pela formação de mais cargos e burocracias implicativos de dispêndio de dinheiros, acentuando o parasitismo e o vazio nacionais. A questão do aeroporto é prova de mais esse arrastar, com super vigilâncias sucessivas descambando em… nada. Sentimos vergonha de tanta estreiteza. Mas tudo isso tem a ver com a deficiente Educação, para mais, de indisciplina consentida pelo seu Ministério…

Por um Ministério do Futuro

Pensar Portugal a 20 anos tornou-se um imperativo da governação, para não se insistir em erros que prejudicam o funcionamento de serviços públicos, o desenvolvimento do país e o bem-estar da população

ALEXANDRE HOMEM CRISTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 29 jun. 2023, 00:2027

Em Portugal, há um orgulho nacional no desenrascanço, característica virtuosa que os portugueses atribuem a si mesmos — essa capacidade para improvisar soluções, apesar das contrariedades e da constante falta de meios. Funciona praticamente como uma fé colectiva de que, apesar de quase tudo se preparar sobre a hora e em cima do joelho, no final tudo correrá bem. E, em parte, até corre. Os exemplos mais evidentes são as organizações de grandes eventos (como as próximas Jornadas Mundiais da Juventude), cujos preparativos tardios provocam atropelos institucionais, impõem erros estratégicos, aumentam os custos e exigem um desgaste brutal de quem trabalha a contra-relógio — mas, no final, corre bem. E, assim, todos celebram patrioticamente o sucesso de cada iniciativa.

Tal como uma moeda, este orgulho nacional tem um outro lado. Aquilo que se olha como uma virtude, este desenrascanço dos portugueses, foi apurado por um vício com anos e anos: a indisponibilidade para planear, para reflectir a longo prazo, para antecipar riscos e para decidir em prol de soluções robustas e estruturais. Em Portugal, olha-se para os pés, em vez de para o horizonte — só é problema o que é urgente, tudo o que não for urgente não é problema. Eis uma vergonha nacional: auto-sabotamo-nos, porque esperamos sempre que os problemas se agravem antes de os tentar resolver.

No palco da política nacional, o perdurar deste vício arrasta consequências mais profundas do que muitos imaginam. Nem é preciso teorizar, basta ler as notícias: o país lida actualmente com uma série de desafios complexos e gravíssimos que resultam directamente desta ausência de planeamento. Três exemplos da actualidade: professores, SNS e TAP. Na Educação, vive-se em emergência por faltarem professores (que, envelhecidos, estão em idade de se aposentarem), quando há (pelo menos) uma década que este problema está identificado e zero medidas foram implementadas. Na Saúde, a falta de médicos no SNS e os encerramentos de serviços eram riscos há muito discutidos, face às más condições de trabalho no sector público (atraindo muitos para o sector privado) — pouco ou nada se fez para contrariar a tendência. Nas infraestruturas, a definição da localização do novo aeroporto de Lisboa arrasta-se anedoticamente há décadas, sobrecarregando a capacidade existente e prejudicando o desenvolvimento da cidade.

Ou seja, hoje fala-se em colapso da rede pública de educação ou de falhas graves no SNS simplesmente porque, no tempo devido, estes desafios foram identificados sem que nenhuma medida fosse implementada. Um governo que está em funções há quase oito anos é obrigatoriamente responsável por esta negligente incapacidade de ver a longo prazo e antecipar soluções. Mas, em boa verdade, nisso este governo não difere dos que o antecederam — a governação do país está viciada em resolver questões imediatas e adiar com a barriga os restantes dossiers, até que o seu agravamento justifique um espaço na agenda do Conselho de Ministros.

Seria da maior importância quebrar esse ciclo vicioso num próximo governo, sobretudo se liderado por quem pretenda ser alternativa (em vez de alternância). Pensar Portugal a 20 anos tornou-se um imperativo da governação, para não se insistir em erros ou negligências que, no fim do dia, prejudicam o funcionamento dos serviços públicos, o desenvolvimento do país e o bem-estar da população. Não é preciso inventar a roda. Um passo em frente seria, por exemplo, ter um “ministério do futuro” no organigrama do governo, dedicado a estudar tendências e identificar riscos sociais e políticos, para responsabilizar e obrigar os ministros das pastas sectoriais a lidar com esses desafios previsíveis de forma atempada.

POLÍTICA    PAÍS    CRESCIMENTO ECONÓMICO    ECONOMIA    GOVERNO

COMENTÁRIOS (de 27):

Alfaiate Tuga: Já disse e volto a dizer, o 44 deixou um Estado falido financeiramente e o Kosta vai deixar um Estado falido estruturalmente. O Estado não consegue atrair gente qualificada, paga pouco e não tem mecanismos para reconhecer (€€€) o mérito. Desta forma vê os mais antigos a acomodarem-se ao funcionalismo, ou seja vão fazendo qualquer coisa sem grande empenho até chegar a bendita aposentadoria e vê os mais novos a dar à sola para o privado ou a nem sequer entrarem no Estado. De 2014 até hoje o número de funcionários públicos aumentou em cerca de 75000 pessoas, mas depois não há médicos nem professores suficientes para manter o SNS e ensino público a funcionar convenientemente. Estes 75000 novos contratados serão essencialmente gente pouco qualificada que o PS contratou para tapar o buraco das 35 horas e comprar votos por atacado. Portanto, cada vez temos um Estado maior, mais caro, mas que também presta piores serviços a cada dia que passa. A falência financeira do Estado resolveu-se em 4 anos, com um empréstimo acompanhado de corte de despesa e aumento de receita (impostos) . A falência estrutural do Estado não será fácil de resolver, implica uma transformação profunda na massa de funcionários públicos, e na forma como são avaliados, há muitos que não fazem falta nenhuma que tinham de sair, para liberar recursos para poder pagar melhor aos que fazem falta, com a legislação actual não sei como é que isto se faz. Estou convicto de que o governo actual de forma deliberada está a fazer com que o Estado preste cada vez pior serviço para afugentar os utentes para o privado, a saúde e educação são disso exemplo. Há um conjunto cada vez maior de portugueses que praticamente o único contacto que tem com o Estado é através do ministério das finanças para pagar impostos e quando circulam em estradas nacionais ou municipais, pois a saúde e educação já são prestados por privados, estes pagam impostos para quê? Para terem umas forças armadas de brincar e uma polícia para caçar multas? O irónico disto é que os que estão a rebentar com o Estado são os que juraram a pés juntos estarem a defendê-lo.

Ana Silva:  “Pensar Portugal a 20 anos” tornou-se imperativo para os partidos políticos que se alinham para suceder ao governo socialista na governação do país. O socialismo não funciona. Nestes anos todos provou ser uma escola de corrupção, incompetência e nepotismo. Do governo não se pode esperar mais do que uma mentalização coletiva, alimentada com o dinheiro dos contribuintes, para a dependência do Estado, para além do confisco gritante (leia-se roubo institucionalizado) das pessoas que trabalham e produzem alguma riqueza. Mas o que fazem os partidos da Direita e do Centro-Direita? A questão é que, tirando o Chega, um CDS em extinção e os ultra-minoritários monárquicos, não há Direita. O PSD é mais do mesmo. É centro-esquerda, encostada ao PS. Por sua culpa, fruto da era Rio. Não tem uma visão de futuro ou se tem disfarça bem. Gere o presente como se vivesse no limbo, como se não lhe interessasse nada, nadinha, chegar ao poder mostrando músculo, capacidade de defrontar com realismo e competência os problemas estruturais de que padece o nosso país. Como alguém dizia um dia destes por estas bandas no Observador, está simplesmente à espera que o poder lhe caia no colo, sem esforço nenhum, por efeito do desgaste do governo de António Costa. Talvez nem queira chegar-se à frente, tal o rasto de destruição que o PS semeou por décadas passadas e nutre com desvelo para as décadas futuras… Esgota as energias em bater vilmente no Chega, em vez de se  mobilizar pelo próprio mérito, pela apresentação de uma proposta credível, séria, mobilizadora da mudança. Em vez de pensar no país e nos filhos que partem sem vislumbrarem um futuro em solo pátrio. Vai ser necessário muito trabalho e espírito de sacrifício para inverter esta tendência nacional suicida, implementada pelos socialistas. Não há o mínimo esforço da parte do partido da oposição maioritário, que já o é há sete anos, mas a culpa é, para todos os efeitos, da iliteracia política dos portugueses. Nota: Portugal é a pátria dos portugueses e não um território europeu onde simplesmente residimos. Há toda uma memória histórica de oito séculos a prová-lo. Não são balelas ideológicas, como a do multiculturalismo globalista importado sem pudor pelo Costismo.

Carlos Chaves > Ana Silva: Caríssima Ana Silva, concordo em absoluto com este seu texto, obrigado. Ainda ontem o Sr. Montenegro (consta que seja o líder da oposição) apareceu com inaceitáveis declarações populistas bem ao jeito dos socialistas. Não é que os salários não devam subir, mas devem subir segundo as regras da economia e não por decreto como tanto gostam os socialistas/comunistas! E este tipo de comportamento tem sido uma constante, mesmo quando o “senador” social democrata com provas dadas, o Professor Cavaco Silva, vem a terreiro explicar como se faz.                                        

Nenhum comentário: