As
palavras de J. Lopes, do seu comentário à crónica “A
vingança da realidade” de Maria João Avillez.
«J. Lopes: Sá Carneiro foi e é passado, nunca saberemos o que
aconteceria, não fosse o que aconteceu e se seguiu, embora saibamos quem se
seguiu, pessoa que detesto e sempre detestei, hoje ainda mais pela Imprensa dos
subsídios do estado falidas, são a nova censura, mais a RTP e a TVI. O PSD não
tem líder por força de Rio, Montenegro nem controla os deputados, não se assume,
mas pode sempre dizer que foram eleitos pelas listas do PSD feitas por Rio, não
tem de servir de guarda-chuva aos seus esquemas, como os do PS e PCP nas
Câmaras. Estratégia é do que o PSD necessita mas tem um problema, não se assume
como Direita ou Conservador e Montenegro segue apenas a táctica e atrasada, não
tem carisma , reage sempre a reboque de Costa o governante do poder pelo poder,
é o responsável pela desgraça em que o país se encontra e sabe que terá sempre
uma Geringonça à esquina. Portugal não é Espanha, porque depois de Franco veio
Adolfo Suarez, em Portugal vieram Cunhal e Soares e os militares traidores, já
antes de Abril e depois, subordinados ao PCP controlado pela URSS, foram eles
os responsáveis pelo que Portugal é hoje.»
A “vingança da realidade”
As coisas transformaram-se no que se
transformaram graças à contemporização letárgica ou demissionária de
muitíssimos com este estado de coisas. Acreditar deixou de ser uma prioridade.
MARIA JOÃO AVILLEZ,
Jornalista, colunista do Observador Observador, 31 mai. 2023,
1Vejo as imagens, revejo-as, confundo-me:
vivemos aquilo, éramos assim? Simplesmente acreditávamos? Ou resume-se tudo
preguiçosamente a um “Ah, outros tempos…” ?
Falo de imagens marcantes que assinaram
rupturas e evoco outras, agilmente sedutoras, que nos trouxeram a festa. Mas em
ambas a marca “acreditar” é a mesma. As primeiras nasceram de um magnifico
documentário da autoria de Alberta
Marques Fernandes, apresentado há dias na RTP 1 sobre Conceição Monteiro, “A Militante número dois” (a ver e
rever); as segundas chegaram-nos também televisivamente a propósito do
aniversário da inauguração da Expo 98. Embora por
razões de natureza muito distintas, há em ambos os casos, o mesmo selo de
garantia: valia a
pena acreditar.
2Sim: acreditava-“se” e aqui o que menos
importa é a dimensão do “se”. Francisco
Sá Carneiro tinha fornecido ao país a promessa de outra coisa. Com uma
convicção de aço – e igual energia – que transbordam das imagens. A
verosimilhança política do que propunha, algo quase proibido no país pela
“nomenclatura”, confundia-se porém com o que uma muito considerável parte dos
portugueses percepcionava já (faltava-lhes era o porta voz): a
indispensabilidade de uma ruptura através do “achamento” de um porto de abrigo
não revolucionário, que acolhesse – e fortalecesse – uma democracia civilista
ainda balbuciante, ainda tutelada. Assim em duas linhas parece pouco, foi
imenso, ficaram sementes até hoje.
Se nem sempre foram bem cuidadas é outra história, o que me interessa sublinhar
é que houve quem – com êxito e em situação de puro cerco – deitou as sementes
ao solo do centro e da direita, num tempo em que tal não se fazia: a direita
era mais ou menos designada como culpada de existir… E as imagens (para além de revisitarem muito bem a colaboração ímpar
de Conceição Monteiro com Sá Carneiro) são como um líquido apetecido, que vai
escorrendo do documentário e apetece beber. Dos anos escaldantes de 74/75, até
aos oitenta do século passado não se sabe o que reter, se o exemplo político,
se a prova de que foi possível. Ambos, provavelmente.
3Em 1998 éramos felizes e achávamos que
nunca mais seríamos pobres: havia auto estradas, televisões privadas,
festivais, descobriam-se “movidas”, liam-se muitos jornais, vinham
estrangeiros, abriam restaurantes: o desenvolvimento do país, tanto (nesta)
forma como na substância, era uma verdade. Levávamo-nos a sério. Aquela Expo
era o farol cuja incandescência nos ampliava as certezas. E o sermos “da”
Europa, certificava tudo. Derisoriamente ou não, acreditávamos.
4Valerá a pena evocar “outros tempos” ou
sequer interessa evocá-los? Não me parece, o exercício é ocioso. A “culpa” não
é de ter havido melhores tempos, ou sequer de “acharmos” que eles existiram. Será antes do pouco que fazemos para recusar
os anos baços de hoje, e nos comprometermos com outros. Desfazendo o novelo do empobrecimento sem
contrabalanço algum (além das “contas certas”, ontem tão malditas, hoje tão
benditas, tristes herdeiros).
Claro que há gente que ainda aplaude,
gente sem queixas, há os concordantes, os fiéis, os que insistirão. Têm esse
direito. Claro que houve avanços, desenvolvimento, progressos, quem o contesta
e aí estão os números. Mas e agora? Hoje? Um hoje que dura há tempo demais? Por
mim quase me sinto uma “colaboracionista” – palavra temível. As coisas
transformaram-se no que se transformaram graças (não sei se também, se
sobretudo) à contemporização letárgica ou demissionária de muitos – muitos –
com esse mesmíssimo estado de coisas. Acreditar
politicamente em alguém ou alguma coisa – um ideal, um modelo, uma ideia, um
ramo de propostas – deixou de fazer qualquer sentido. Para quê se há mais vida
num mundo paralelo, despoluído da política? E no entanto… as sementes ficaram,
o eco da voz também. Mas quem colherá umas e expressará a outra?
Ou
seja, acreditar deixou de ser uma prioridade. Nos anos a que aludi, era quase o
ar que se respirava.
5Tudo isto me trouxe à memória uma frase
do antiquíssimo Horácio que vi há
dias citada num jornal estrangeiro: “toda a realidade ignorada prepara a
sua vingança”. Se há algo de permanentemente ignorado, fingido
ou manipulado de há muito até hoje, é obviamente a realidade. A nossa.
Vingar-se-á ela um dia?
Havendo poucos gestos tão inúteis como
chorar sobre leites derramados ou praticar saudosismos inférteis, preferiria
assistir ao exercício (devia ser obrigatório) da vitória da realidade sobre a
obsessiva ficção que a tem substituído.
Foi o que acabou de acontecer a Pedro Sánchez, nosso vizinho (mas felizmente não nuestro
hermano): a realidade da qual ele foi um galante e deslizante manipulador,
virou-lhe o dente. Diz-se que foi de vez mas a manipulação tem várias
encarnações.
A
única dúvida-delicada de tão pouco trivial – é a de saber se caso a nossa
realidade venha um dia a revoltar-se contra a negação, a “vingança”, ainda virá
a tempo. A tempo da única grande questão, a tempo do que começa a estar
seriamente em causa: o regime ainda se regenera? Quando se bate no fundo já não
há saídas de emergência. Mas uma coisa é certa: se o regime soçobrar também foi
por minha responsabilidade.
POLÍTICA PARQUE EXPO EMPRESAS ECONOMIA
COMENTÁRIOS:
João Ramos: Bom artigo Maria João, esta é a triste realidade da nossa nostalgia, que
também ela é de certo modo culpada por esta quase inacreditável situação…
valha-nos às vezes o prof. Cavaco Silva para nos fazer cair na realidade e
talvez pensarmos que ainda poderá haver esperança…??? J. Lopes:
Sá Carneiro foi e
é passado, nunca saberemos o que aconteceria, não fosse o que aconteceu e se
seguiu, embora saibamos quem se seguiu, pessoa que detesto e sempre
detestei, hoje ainda mais pela Imprensa dos subsídios do estado falidas, são a
nova censura, mais a RTP e a TVI. O PSD não tem líder por força de Rio,
Montenegro nem controla os deputados, não se assume, mas pode sempre dizer que
foram eleitos pelas listas do PSD feitas por Rio, não tem de servir de guarda-chuva
aos seus esquemas, como os do PS e PCP nas Câmaras. Estratégia é do que
o PSD necessita mas tem um problema, não se assume como Direita ou Conservador
e Montenegro segue apenas a táctica e atrasada, não tem carisma , reage sempre
a reboque de Costa o governante do poder pelo poder, é o responsável pela
desgraça em que o país se encontra e sabe que terá sempre uma Geringonça à
esquina. Portugal não é Espanha, porque depois de Franco veio Adolfo Suarez, em
Portugal vieram Cunhal e Soares e os militares traidores, já antes de Abril e
depois, subordinados ao PCP controlado pela URSS, foram eles os responsáveis
pelo que Portugal é hoje. Alberico
Lopes: Parabéns, Maria
João! Excelente e lúcida como sempre! C Barria: Bom texto e pensamento lúcido,
como sempre. A camela da realidade está sempre a meter-se entre nós e os nossos
sonhos. faz-me lembrar aquela estória da flauta e dos ratos. Que vão atrás da
música tocada pelo flautista, até ao precipício. assim está esta geração. ao
som de música e ratos. bento
guerra: Não ignorem as
"circunstâncias". Sá Carneiro é passado e Pedro Sanchez foi
oportunista, A questão está em conhecer e avaliar o que está em causa e a
realidade circundante S Belo:
Esplêndido artigo, MJA. Obrigada Madalena Sa: Tão bom este artigo MJA! Que saibamos ser dignos dum Sá
Carneiro e ajudemos Portugal a erguer-se! Assim Deus nos dê forças !!! Fernando CE:
Deus a oiça. Mas há uma “elite” a comer
da gamela e os pobres com medo que lhes tirem o pouco que têm. Falta um Sá
Carneiro ou um Cavaco Silva. Não vejo no horizonte actual ninguém com a fibra
dos dois e um projecto reformador galvanizante devidamente sustentado. Pobre
país. Alberico
Lopes > Fernando CE: Eu pelo contrário, vejo pelo menos mais um: Pedro
Passos Coelho! Maria da Graça
de Dias > Alberico Lopes: Absolutamente de acordo. S BeloAlberico Lopes: Com realce
para a CS, PPC foi e ainda é o político mais vilipendiado e menosprezado desde
o 25/a . Por muito patriótico que seja deve pensar que para tudo há limites. Pobre
Portugal: "gente que
ainda aplaude, gente sem queixas": SIC/Expresso/RTP/Público/JN/TVI/etc. Ou
seja, 99% da comunicação social. S Belo > Pobre Portugal: Também aplaudem os pobres que,
temerosos de mudanças, se contentam com as migalhas que sobram da mesa dos
tiranos. Joao
Barbosa > Pobre Portugal: Com essa comunicação social
vendida ao poder não vamos longe. É manipulação constante a favor dos mais
fortes e sempre aos améns a quem paga. Independência é zero, sempre a voz do
dono Maria Nunes: MJA, obrigada por este
excelente artigo. Acreditámos e temos que continuar a acreditar, apesar das
terríveis circunstâncias em que nos encontramos. É absolutamente necessário que
os mais velhos e mais sabedores, os que ainda têm escrúpulos, se cheguem à frente.
Nos partidos ainda há gente que pode reverter a situação do nosso país. JOHN MARTINS: Hoje, a MJ, brinda-nos, com um texto cheio de história, mas também com
algumas perplexidades. Ao recordar Conceição Monteiro, uma das figuras mais
históricas de Portugal, a quem o PSD muito deve; é o momento mais alto do seu
artigo. Já as perplexidades, vindas do fim do Sanchismo, ou à falta da
regeneração do nosso regime, é quase assustador! Estamos todos fartos de muita
coisa que tem acontecido, e não o devia ter? Certamente que sim. Mas estejamos
sempre prontos, sem tibiezas para defender a DEMOCRACIA, como fez Sá Carneiro e
a grande MULHER Conceição Monteiro!
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