quinta-feira, 29 de junho de 2023

Não digo que seria mal

 

Por enquanto, não passa de sonho. Para mais que na caixa de Pandora a Esperança é a última a desaparecer, conquanto na cartilha cristã, ela fique entre a Fé e a Caridade, além de que pertence mais ao foro divino, como virtude teologal, o que a torna menos acessível, sobretudo se formos buscar a Caridade, por cortesia. Hitler foi mais dinâmico – digo, na extinção pessoal - embora retardada, para a esperança generalizada. Além de que Putin não vai nesses conceitos teológicos, por muito que o Papa Francisco tente encaminhá-lo, o que eu acho uma imoralidade, o dar-lhe troco, se bem que também tenhamos o nosso Guterres virtuoso, a ir lá, à mesa, sem se importar com a distância longitudinal estabelecida, dificultando com certeza a audição entre ambos, de resto, sem isso aquentar nem arrefentar, dada a vacuidade da tentativa. Entretanto, Putin vai destruindo o que pode, na Ucrânia. É bem certo que são os seus homens, não ele, que tem daí as mãos lavadas, já Pilatos fora assim, drástico mas sem dar o corpo – naturalmente com as mãos incluídas, ao manifesto, que é papel dos governantes explicar as decisões e mandar outros cumpri-las. Por isso não sei se tem razão, João Marques de Almeida, na sua afirmação de que a guerra na Ucrânia acabará com Putin, ele saberá defender-se, e tem bons apoios no seu povo admirador, para além de outros povos auxiliares das suas diversões explosivas.

A guerra na Ucrânia vai acabar com Putin

Quando a oligarquia de Moscovo chegar a um consenso sobre a pessoa que irá defender os seus interesses, Putin chega ao fim. Será o único culpado da guerra e abandonado por todos.

JOÃO MARQUES DE ALMEIDA Colunista do Observador

OBSERVADOR, 28 jun. 2023, 00:3226

Putin não acredita na existência de uma nação ucraniana. Podia não existir, mas a guerra iniciada em Fevereiro do ano passado, criou uma nação na Ucrânia. Ninguém sabe quais serão as fronteiras do Estado ucraniano, mas já todos perceberam que a Ucrânia é um país independente. Muitas vezes, a soberania conquista-se nos campos de batalha.

Se não integrasse o território ucraniano na Rússia, Putin queria transformar a Ucrânia num protectorado russo com soberania limitada. Não sendo uma grande Crimeia, teria que ser uma nova Bielorrússia. Nada disso vai acontecer. A Ucrânia estará, mais tarde ou mais cedo, na NATO e na União Europeia. Mais uma vez, graças a Putin. O Presidente russo também já conseguiu que dois países, tradicionalmente neutrais (a Finlândia e a Suécia), tivessem entrado na Aliança Atlântica.

Com a ocupação da Ucrânia, Putin queria mostrar que a Rússia ainda é uma grande potência. Mas a sua incapacidade de derrotar a Ucrânia apenas mostra que a Rússia já não é uma grande potência mundial. Foi despromovida para a categoria de potência regional.

A revolta do grupo Wagner no fim-de-semana passado mostra que a guerra na Ucrânia está a enfraquecer o regime de Putin. Se não houvesse guerra, ou se a Rússia estivesse a ganhar, nada teria acontecido. A partir de agora, a principal questão já não é quem ganha a guerra, mas por quanto tempo se aguentará Putin no poder?

Aliás, Putin deu razão a todos aqueles que têm condenado a guerra. Chamou ao grupo Wagner uma organização terrorista. Tem toda a razão. Mas esses terroristas, desde a Crimeia e Donbass em 2014, lutam ao lado de Putin. Os terroristas foram usados por Putin para fazerem guerras em nome da Rússia. Matam inocentes, e reduzem cidades a cinzas, como têm feito na Ucrânia. Porquê? Porque Putin começou uma guerra de ocupação. E agora tem o descaramento de chamar de terroristas àqueles que lutam por ele há uma década. Putin confessou a todo o mundo que é o líder de um regime terrorista. Esse regime iniciou o caminho para o fim no dia em que invadiu a Ucrânia.

Quando a oligarquia de Moscovo chegar a um consenso sobre a pessoa que irá defender os seus interesses, Putin chega ao fim. Será o único culpado da guerra e abandonado por todos. Até o Presidente chinês, Xi, abandonará o seu “amigo” Putin. Há limites para o regime chinês apoiar aventuras de quem começa guerras e não as consegue ganhar.

VLADIMIR PUTIN   RÚSSIA   MUNDO   GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA

COMENTÁRIOS (de 26):

Fernando CE: E o “nosso” PCP? Como conseguem dormir os dirigentes desse partido, sobretudo os que se têm pronunciado publicamente a favor - ou pelo menos justificando-o - do regime criminoso de Putin quando vêem a destruição de vidas civis causadas pela guerra? Cegueira ideológica que se repetiria caso alguma vez tomassem o poder em Portugal, justificando os meios pelos fins, como aconteceu durante o PREC.               João Floriano > Fernando CE: Não estou nem um pouco preocupado com as insónias do PCP. Estou sim incomodado por ver na AR um partido destes ostensivamente anti Ocidente, anti Nato, anti UE, partido que sempre foi bajulado pelo PS, que tem aceitação na CS e no mundo sindical. Preocupa-me muito mais «dormir com o inimigo» da democracia, adorador de estados autocráticos e de ditadores abomináveis.                   Paulo Silva: Quem dera uma bola de cristal… O que sei é que Putin é um saudosista do Império russo e um admirador dos tempos áureos do expansionismo soviético. Quando chegou à idade adulta e ingressou no KGB, a defunta URSS começava a trajectória de descida e nada podia fazer – o ‘período de estagnação’, Zastoi. Criticou o regime dos gulags, não por pruridos morais ou humanistas, mas por causa dos erros estratégicos que destruíram o poderio da superpotência. Recusou-se a aceitar que a era dos Impérios na Europa tinha acabado.               João Floriano: Uma questão: a Suécia já é membro da NATO? Não havia entraves por parte da Turquia devido aos refugiados curdos na Suécia? A Rússia nunca será uma potência regional devido ao seu arsenal nuclear. A Rússia é uma potência à beira da implosão, o que a torna particularmente perigosa. Como será a era pós Putin? Atrevo-me a pensar que será ainda mais assustadora porque como alguém dizia ontem num comentário: Putin já é velho conhecido do Ocidente. Quem vier depois pode ser um ilustre desconhecido ainda mais nacionalista e obcecado pelo renascimento imperialista da Rússia. A guerra na Ucrânia tem todas as possibilidades de não acabar com Putin, mas de alastrar a outras regiões.

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