Por enquanto, não passa de sonho. Para
mais que na caixa de Pandora a Esperança é a última a desaparecer, conquanto na
cartilha cristã, ela fique entre a Fé e a Caridade, além de que pertence mais
ao foro divino, como virtude teologal, o que a torna menos acessível, sobretudo
se formos buscar a Caridade, por cortesia. Hitler foi mais dinâmico – digo, na
extinção pessoal - embora retardada, para a esperança generalizada. Além de que
Putin não vai nesses conceitos teológicos, por muito que o Papa Francisco tente
encaminhá-lo, o que eu acho uma imoralidade, o dar-lhe troco, se bem que também
tenhamos o nosso Guterres virtuoso, a ir lá, à mesa, sem se importar com a
distância longitudinal estabelecida, dificultando com certeza a audição entre
ambos, de resto, sem isso aquentar nem arrefentar, dada a vacuidade da tentativa. Entretanto,
Putin vai destruindo o que pode, na Ucrânia. É bem certo que são os seus
homens, não ele, que tem daí as mãos lavadas, já Pilatos fora assim, drástico
mas sem dar o corpo – naturalmente com as mãos incluídas, ao manifesto, que é
papel dos governantes explicar as decisões e mandar outros cumpri-las. Por isso
não sei se tem razão, João Marques
de Almeida, na sua afirmação de que a guerra na Ucrânia acabará
com Putin, ele saberá defender-se, e tem bons apoios no seu povo admirador,
para além de outros povos auxiliares das suas diversões explosivas.
A guerra na Ucrânia vai acabar com Putin
Quando a oligarquia de Moscovo chegar
a um consenso sobre a pessoa que irá defender os seus interesses, Putin chega
ao fim. Será o único culpado da guerra e abandonado por todos.
JOÃO MARQUES DE ALMEIDA Colunista do Observador
OBSERVADOR, 28 jun. 2023, 00:3226
Putin
não acredita na existência de uma nação ucraniana. Podia não existir, mas a
guerra iniciada em Fevereiro do ano passado, criou uma nação na Ucrânia.
Ninguém sabe quais serão as fronteiras do Estado ucraniano, mas já todos
perceberam que a Ucrânia é um país independente. Muitas vezes, a soberania
conquista-se nos campos de batalha.
Se
não integrasse o território ucraniano na Rússia, Putin queria transformar a
Ucrânia num protectorado russo com soberania limitada. Não sendo uma grande
Crimeia, teria que ser uma nova Bielorrússia. Nada disso vai acontecer. A
Ucrânia estará, mais tarde ou mais cedo, na NATO e na União Europeia. Mais uma
vez, graças a Putin. O Presidente russo também já conseguiu que dois países,
tradicionalmente neutrais (a Finlândia e a Suécia), tivessem entrado na Aliança
Atlântica.
Com
a ocupação da Ucrânia, Putin queria mostrar que a Rússia ainda é uma grande potência.
Mas a sua incapacidade de derrotar a Ucrânia apenas mostra que a Rússia já não
é uma grande potência mundial. Foi despromovida para a categoria de potência
regional.
A
revolta do grupo Wagner no fim-de-semana passado mostra que a guerra na Ucrânia
está a enfraquecer o regime de Putin. Se não houvesse guerra, ou se a Rússia
estivesse a ganhar, nada teria acontecido. A partir de agora, a principal
questão já não é quem ganha a guerra, mas por quanto tempo se aguentará Putin
no poder?
Aliás,
Putin deu razão a todos aqueles que têm condenado a guerra. Chamou ao grupo
Wagner uma organização terrorista. Tem toda a razão. Mas esses terroristas,
desde a Crimeia e Donbass em 2014, lutam ao lado de Putin. Os terroristas foram
usados por Putin para fazerem guerras em nome da Rússia. Matam inocentes, e
reduzem cidades a cinzas, como têm feito na Ucrânia. Porquê? Porque Putin
começou uma guerra de ocupação. E agora tem o descaramento de chamar de
terroristas àqueles que lutam por ele há uma década. Putin confessou a todo o
mundo que é o líder de um regime terrorista. Esse regime iniciou o caminho para
o fim no dia em que invadiu a Ucrânia.
Quando
a oligarquia de Moscovo chegar a um consenso sobre a pessoa que irá defender os
seus interesses, Putin chega ao fim. Será o único culpado da guerra e
abandonado por todos. Até o Presidente chinês, Xi, abandonará o seu “amigo”
Putin. Há limites para o regime chinês apoiar aventuras de quem começa guerras
e não as consegue ganhar.
VLADIMIR PUTIN RÚSSIA MUNDO GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA
COMENTÁRIOS (de 26):
Fernando CE: E o “nosso”
PCP? Como conseguem dormir os dirigentes desse partido, sobretudo os que se têm
pronunciado publicamente a favor - ou pelo menos justificando-o - do regime
criminoso de Putin quando vêem a destruição de vidas civis causadas pela
guerra? Cegueira ideológica que se repetiria caso alguma vez tomassem o poder
em Portugal, justificando os meios pelos fins, como aconteceu durante o PREC. João Floriano >
Fernando CE: Não estou nem um pouco preocupado com as insónias do
PCP. Estou sim incomodado por ver na AR um partido destes ostensivamente anti
Ocidente, anti Nato, anti UE, partido que sempre foi bajulado pelo PS, que tem
aceitação na CS e no mundo sindical. Preocupa-me muito mais «dormir com o
inimigo» da democracia, adorador de estados autocráticos e de ditadores
abomináveis. Paulo
Silva: Quem dera uma bola de cristal… O que sei
é que Putin é um saudosista do Império russo e um admirador dos tempos áureos
do expansionismo soviético. Quando chegou à idade adulta e ingressou no KGB, a
defunta URSS começava a trajectória de descida e nada podia fazer – o ‘período
de estagnação’, Zastoi. Criticou o regime dos gulags,
não por pruridos morais ou humanistas, mas por causa dos erros estratégicos que
destruíram o poderio da superpotência. Recusou-se a aceitar que a era dos
Impérios na Europa tinha acabado.
João Floriano: Uma
questão: a Suécia já é membro da NATO? Não havia entraves por parte da Turquia
devido aos refugiados curdos na Suécia? A Rússia nunca será uma potência
regional devido ao seu arsenal nuclear. A Rússia é uma potência à beira da
implosão, o que a torna particularmente perigosa. Como será a era pós Putin?
Atrevo-me a pensar que será ainda mais assustadora porque como alguém dizia
ontem num comentário: Putin já é velho conhecido do Ocidente. Quem vier depois
pode ser um ilustre desconhecido ainda mais nacionalista e obcecado pelo renascimento
imperialista da Rússia. A guerra na Ucrânia tem todas as possibilidades de não
acabar com Putin, mas de alastrar a outras regiões.
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