Trata-se antes do caldeirão dos feijões
onde coziam os feijões da Carochinha. Um caldeirão de feijões, onde mergulhamos,
ratões que somos, ingénuos portanto, para apanhar sequer um feijãozito. Mas
caímos na esparrela e morreremos, antes de apanhar algum. Os feijõezitos
divertem-se no caldeirão, não se deixam apanhar assim, chamando outros feijões para
o seu ballet sem sequer em bicos de pés, preferindo o sapateado no caldeirão do
nosso presente, do nosso futuro, indefinidamente, sem perspectiva. De mudança,
apesar dos clássicos comedidos...
A comissão de finalistas
Um ministro chamar o SIS para
intimidar alguém seria grave se Portugal tivesse um Governo. Não é o acaso. Não
temos Governo. Estamos nas mão duma comissão de finalistas. De ciclo político,
obviamente.
HELENA MATOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 04 jun. 2023, 00:2271
Bernardo Blanco, deputado da IL: “Quem é que lhe disse para contactar o SIS?”
João Galamba, ministro das
Infraestruturas: “O gabinete do
primeiro-ministro”,”O secretário de Estado Adjunto Mendonça Mendes”.
António Costa, primeiro-ministro: “Ninguém
deu instruções ao SIS. Já toda a gente sabe a história. Eu não percebo porque
querem fazer mistérios de coisas que não têm mistério”.
Uma nova divisão separa os
portugueses. Não, não é
a riqueza. Ou de certa forma é, se por riqueza se entender o ter direito à
irresponsabilidade. Uns de nós, a esmagadora maioria vê quotidianamente
crescer a lista daquilo que tem de se lembrar e cumprir, já outros quando
confrontados com as suas decisões (ou falta delas) declaram, como fez esta
semana o secretário de Estado das Finanças, a propósito dos 55 milhões pagos a
David Neeleman, “Não consigo elucidar“. (Se o
secretário de Estado das Finanças então em funções não consegue elucidar quem
conseguirá?)
Só
na semana que agora acabou passámos a ter de nos lembrar que já começou mais
uma greve por trinta dias da CP (sim, caro leitor, a CP chegou a acordo com 14
dos seus sindicatos mas não com o Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial
Itinerante – SFRCI, logo vamos ter nova greve e quando o SFRCI tiver assinado
um acordo de imediato os outros catorze sindicatos voltarão à luta). Também
ficamos a saber que temos de salvar o planeta e, por isso, não só a PSP
esclarece que não vale a pena apresentar queixa contra quem esvazia os pneus
dos carros alheios, como temos de pagar mais uma taxinha por usar sacos de
plástico quando compramos legumes frescos (oferecem-se alvíssaras a quem
conseguir transportar ervilhas descascadas nos saquinhos de rede alegadamente
amigos do ambiente e, já agora, também uns carapauzinhos frescos!) Também não podemos esquecer que não devemos
usar indevidamente as urgências hospitalares e consequentemente temos de nos
lembrar de despertar de madrugada para ir para a fila do centro de saúde… A nossa
vida é um rol crescente do que somos obrigados a lembrar: impostos a pagar,
declarações a preencher e licenças a obter. Simultaneamente, ministros, CEO,
CFO, COO e secretários de Estado desfilam diante de nós, a propósito da TAP,
declarando nada saberem, não se lembrarem ou ambas as coisas. E, como se isso
fosse pouco, consideram ainda que a ignorância ou a amnésia são sinónimas de desresponsabilização.
Primeiro
era Pedro Nuno
Santos que não se
lembrava de ter aprovado a indemnização a Alexandra Reis, depois lembrou-se e
miraculosamente lembrou-se não só ele mas também aquele que fora seu secretário
de Estado, Hugo
Mendes, que consequentemente teve corrigir o
depoimento que dera à IGF.
Já Miguel Cruz, secretário de
Estado do Tesouro, que teve a tutela financeira da TAP e que estava no cargo
quando a ex-administradora Alexandra Reis saiu da companhia, declarou
que desconhecia o acordo com Alexandra Reis, as divergências entre esta e
Christine Ourmière-Widener e, por fim mas não por último, as objecções que o
Ministério das Infraestruturas colocava ao contacto directo entre a TAP e o
Ministério das Finanças ou qualquer outro.
Se do lado do Governo o esquecimento
e a ignorância causam dúvidas, do lado dos altos responsáveis pela TAP já nada
surpreeende: “Não conhecia, não participei,
não negociei e não elaborei o acordo de Alexandra Reis” – declarou Gonçalo
Pires, administrador financeiro da TAP, ou, como se tornou moda dizer, CFO da
companhia aérea. O mais
espantoso nem é que Gonçalo Pires não soubesse, é que não tenha achado isso
estranho! Já o Inspetor-Geral
de Finanças, António Ferreira dos Santos, não
sabe se o administrador financeiro da TAP, Gonçalo Pires, teve
conhecimento ou não do montante pago a Alexandra Reis mas ficou-se pela ignorância.
Nesta sucessão de explicações improváveis, a minha preferência vai para
o ex-administrador financeiro da TAP, João Weber
Gameiro, que não sabe explicar porque a comissão executiva da companhia teve de
aprovar um contrato no valor de 625 mil euros para a compra de copos de papel
enquanto a indemnização de meio milhão de euros a Alexandra Reis não foi à
mesma comissão… Mas agora tudo isto já é passado porque outros
esquecimentos maiores se sobrepuseram: o
ministro João Galamba às vezes lembra-se, outras esquece-se sobre com quais
membros do Governo falou e sobre o que falou na noite em que seu assessor foi
trancado no ministério. A sua chefe de gabinete não se
lembra de quem veio a ordem para fechar Frederico Pinheiro no
ministério mas assume ter sido
ela a chamar o SIS, o que já é uma lembrança em segunda mão pois
inicialmente o ministro João Galamba declarou
ter sido ele a articular com a sua chefe de gabinete a chamada para o SIS e não
ter sido ela a chamar por iniciativa própria o SIS. O ministro
da Administração Interna, José Luís Carneiro, diz que não pode dizer o que lhe disse Galamba
naquela noite porque “o que se passou está nos autos e
está, portanto, no Ministério Público”. À procura
do seu lugar neste universo de desresponsabilização anda agora o secretário de
Estado António Mendonça Mendes. E, sejamos honestos, porque não há-de o senhor
secretário de Estado adjunto ter direito ao seu esquecimentozinho?
A desresponsabilização tornou-se uma
forma de manter o poder. Seja na TAP,
em que ninguém sabia das circunstâncias de saída de Alexandra Reis, ou se sabia
apenas sabia informalmente, seja também no Governo, ninguém sabe quem chamou o
SIS, ou sabendo sabe que não pode saber ou, parafraseando o PM, estamos a fazer
um mistério de uma coisa que não tem mistério: chamar o SIS seria grave se Portugal tivesse um
Governo. Não é o acaso estamos nas mãos duma comissão de finalistas. De ciclo
político, obviamente.
GOVERNO POLÍTICA ANTÓNIO COSTA TAP EMPRESAS ECONOMIA
COMENTÁRIOS (de 71)
Ana Maia: Já não há muito mais a dizer, resta mostrar o ridículo a que chegou o
governo do país. E finalmente o ridículo já não se limita aos reality shows da TVI e outras,
o ridículo tornou-se o nosso dia- a-dia, somos estrelas do ridiculo na nossa
própria vida. Parabéns! GateKeeper: Após leituras, algumas bem difíceis por razões óbvias,
gostaria de expressar aqui, mais uma vez a minha homenagem a Helena Matos. O
seu registo corresponde à miserável realidade em que [sobre]vivemos há mais de
24 anos. E o "banho de realidade" aproxima-se a trote, quando este
regime (este "ciclo" como lhe chama] chegar ao fim. O meu único receio e que NÓS os
Portugueses pagantes "acabemos" antes do "banho".
Quanto ao
"senhor" "58 likes" e os seus "escritos"
provavelmente pagos [ Luís Monteiro, salvo erro ou omissão ], sugiro-lhe que se
limite ao Público, Expresso, TSF ou agência Lusa , vulgo "pasquins
dilatadores" de uma "geringonça/trotineta" que acabou e mal.
Eu sei como se
"constroem" esses "likes" em redes incautas como esta. Nem
precisa responder porque o meu desprezo por "pessoas" como vocemecê
leva-me sempre para LONGE E LARGO do seu rasto. Fique bem ou mal, o problema
é seu e do seu "patrão" do rato. jorge espinha: Houve uma migração de muita
gente da extrema-esquerda e comunista para o PS. São gente da minha geração,
nascidos nos anos 70 e estão muito bem representados na comunicação social, na
academia e instituições. São possuidores da verdade e a verdade não deve ser
submetida ao escrutínio democrático. Para eles o PS não pode ser responsabilizado
por nada. Pensam como Bolcheviques e têm o mesmo respeito pela democracia que
os seus antepassados soviéticos. A corja representada pelo Galamba e PNS quer
lá saber de responsabilidades! JOHN MARTINS: Neste sítio que beija o Atlântico, há uma comissão
política provisória, sem mínimos olímpicos a desgovernar os seus habitantes. E
sem memória. Há algumas excepções, como se nota, HM, possuidora de fina memória
que se lembra de tudo.
Já Costa e sua
comissão esquecem-se do MONSTRO TAP, mistério criado por COSTA, que pôs sobre a
albarda do burro lusitano, a módica carga de 200.000€ diários. SÓ EM JUROS...para
toda a vida. AD ETERNUM!!! É preciso recordar isto, ao desmemorizado COSTA!!! Censurado sem razão:
O que me dá
tristeza é o povo tolerar esta infâmia permanente. Depois disto tudo tolerado
como podem exigir seja o que for ao psd? Não consideram que esta infâmia já
deveria ter terminado? A desculpa da maioria absoluta é vergonhosa. Esta gente
já deveria estar atrás das grades a responder criminalmente em tribunal. Mas
aqui neste país de bananas continuamos a considerar que é melhor manter esta
pouca vergonha porque, imagine-se, o psd não é alternativa. Não é alternativa?
Estão a dizer que oposd faria igual ou pior que isto? A sério? Não têm
vergonha? Aceitam ser insultados desta maneira e calam-se João A: Bem, está aí um
comentário com 51 likes ( parece o mais votado) que é uma verdadeira tristeza. É mesmo isso - é triste.
Porque se trata do país onde nascemos. É uma pena a
propaganda ou a cegueira. não faço ideia.
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