sexta-feira, 23 de junho de 2023

QUESTÕES OPORTUNAS

 

Que um status quo oportunista e malandro, de recuo na exigência mental e moral, que ele próprio foi gradativamente estabelecendo, neste país, faz naturalmente conceber, mas que não envergonham os que poderiam sentir-se atingidos pelos dizeres importunos do autor do texto, pouco habituados, contudo, a leituras mais complexas, gozando os privilégios dos seus prazeres vários, num linguajar naturalmente mais acessível. Não, não temos safa, as próprias televisões vão favorecendo a deseducação, como se viu ainda há pouco na Sic, a respeito dos Descobrimentos e a insistência no seu apedrejamento…

Mas só se pede que gente íntegra, como o autor da crónica, não esmoreça na objecção orientadora de uma rapaziada apenas fabricadora do préstimo próprio, com os específicos truques facilitadores do seu apoio e progressão, rapaziada refractária, naturalmente, ao estudo oneroso, facilmente propiciando a tal caquistocracia da actual aberração existencial.

CAQUISTOCRACIA - 2

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO22.06.23

ou

REVISITANDO PLATÃO

O Doutor Salazar dizia que o seu era o melhor Governo que se poderia imaginar pois era constituído (apenas?) por professores universitários.

Seria perda de tempo desmanchar agora o sofisma pois é sabido que:

As políticas eram todas de Salazar e os Ministros se limitavam a ser os respectivos executantes;

Nenhum Ministro ousava duvidar.

Ou seja, o critério principal era o da fidelidade e a competência era supletiva.

«Quod erat cavillatio demonstrandum» - sofisma que estava para ser demonstrado.

Mas se a afirmação de Salazar não passava de sofisma, o conceito é plenamente credível na «República» de Platão quando considera que o voto só deve ser permitido aos letrados. Com o voto universal, a democracia transforma-se em «ditadura do número» correndo-se o risco do populismo, a vitória do voto manipulado, o exercício da governança nas mãos dos mais demagogos e não seguramente na dos mais capazes.

Assim fica a porta aberta aos mais ousados o que não significa necessariamente os mais competentes e sérios. Eis que chega a caquistocracia se é que não está já instalada.

- E agora?

- Agora chegou a hora de muitos sapos serem engolidos vivos.

- Como assim?

- As Leis são para levar a sério ou para as driblarmos à nossa vontade?

- ???

- Sim! Se o 12º ano está legalmente definido como o nível obrigatório da escolaridade, como pode acontecer que haja quem não possua essas habilitações e possa ter carta de condução e votar como um erudito? Têm essas pessoas um nível cultural que lhes confira uma mundividência que lhes confira o discernimento suficiente para manipularem uma arma tão potencialmente letal como um veículo motorizado? E têm o conhecimento holístico que lhes permita independência intelectual na hora de votar? Sinceramente, não creio! E mais digo que a complacência perante o vulgar incumprimento de algo que a Lei diz ser obrigatório só pode resultar do predomínio de caquistocratas.

Então, aqui chegados, várias hipóteses restam a quem queira resolver este imbróglio:

- Desobriga a obrigação e pactua com o regresso a condições de analfabetismo cavernícola

Ou

- Cumpre a Lei.

* * *

Não possuir a escolaridade obrigatória relega naturalmente o adulto para uma condição de cidadania incompleta e, daí, não se tratando de um crime, deve-se legislar de modo incentivador e não punitivo. Deste modo, sem cassar direitos já atribuídos e licenças já concedidas, a carta de condução e o direito de voto, só deverão ser concedidos a quem prove ter, no mínimo, a escolaridade obrigatória.

Assim como na Função Pública e nas Forças Armadas e das de Segurança as hierarquias são previamente estabelecidas com forme as habilitações dos candidatos, também na política se deve aplicar tal tipo de critérios.

Candidatos autárquicos devem, pelo menos, ter escolaridade obrigatória;

Candidatos a Deputados (AR) devem possuir mestrado universitário (Bolonha) ou licenciatura universitária (pré Bolonha);

Membros do Governo devem possuir as mesmas habilitações mínimas exigíveis aos Deputados (AR)

E a pergunta final é: - Queremos uma democracia que incentive as pessoas a subir na vida ou preferimos um regime que abra as portas à caquistocracia?

Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca

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COMENTÁRIO:

Adriano Miranda Lima 23.06.2023 20:20;

O Dr. Salles da Fonseca toca num ponto importante e susceptível de ficar cada vez mais candente à medida que o regime da democracia vai confirmando que possui, de facto, debilidades e imperfeições. A "caquistocracia" é uma realidade, não há como reconhecê-lo. Muitas razões a justificam, uma é a pouca apetência para querer ser-se membro de governo, outra, provavelmente consequência disso, será o critério de pouca exigência para a subida na hierarquia da política. Habilitações mínimas, certamente, mas seria exigível, também, verdadeiros tirocínios para certificar as condições para o exercício da liderança e da capacidade de governação. Tal como o Dr. Salles da Fonseca sugere, deveria olhar-se, por exemplo, para o que acontece nas Forças Armadas. Frequenta-se a licenciatura em Ciências Militares, mas isso não chega para se chegar a coronel. Tem de se frequentar o Curso de Promoção a Capitão e depois o Curso de Promoção a Oficial Superior, ambos de 1 ano lectivo. Mais, alguns frequentam ainda o Curso de Estado-Maior e mais tarde, para se chegar a general, o Curso de Comando e Direcção. Por causa da caquistocracia é que já se fala numa pós-democracia.

 


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