Que um status quo oportunista e malandro, de recuo na exigência mental e
moral, que ele próprio foi gradativamente estabelecendo, neste país, faz naturalmente
conceber, mas que não envergonham os que poderiam sentir-se atingidos pelos
dizeres importunos do autor do texto, pouco habituados, contudo, a leituras
mais complexas, gozando os privilégios dos seus prazeres vários, num linguajar
naturalmente mais acessível. Não, não temos safa, as próprias televisões vão
favorecendo a deseducação, como se viu ainda há pouco na Sic, a respeito dos
Descobrimentos e a insistência no seu apedrejamento…
Mas só se pede que gente íntegra, como o
autor da crónica, não esmoreça na objecção orientadora de uma rapaziada apenas
fabricadora do préstimo próprio, com os específicos truques facilitadores do seu
apoio e progressão, rapaziada refractária, naturalmente, ao estudo oneroso,
facilmente propiciando a tal caquistocracia da actual aberração existencial.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM
DA NAÇÃO22.06.23
ou
REVISITANDO PLATÃO
O Doutor Salazar dizia que o seu era
o melhor Governo que se poderia imaginar pois era constituído (apenas?) por
professores universitários.
Seria perda de tempo desmanchar agora o
sofisma pois é sabido que:
As
políticas eram todas de Salazar e os Ministros se limitavam a ser os
respectivos executantes;
Nenhum Ministro ousava duvidar.
Ou
seja, o critério principal era o da fidelidade e a competência era supletiva.
«Quod
erat cavillatio demonstrandum» - sofisma que estava para ser demonstrado.
Mas se a afirmação de Salazar não
passava de sofisma, o conceito é plenamente credível na «República» de Platão
quando considera que o voto só deve ser permitido aos letrados. Com o voto universal, a democracia
transforma-se em «ditadura do número» correndo-se o risco do populismo, a
vitória do voto manipulado, o exercício da governança nas mãos dos mais
demagogos e não seguramente na dos mais capazes.
Assim fica a porta aberta aos mais
ousados o que não significa necessariamente os mais competentes e sérios. Eis
que chega a caquistocracia se é que não está já instalada.
- E agora?
-
Agora chegou a hora de muitos sapos serem engolidos vivos.
-
Como assim?
-
As Leis são para levar a sério ou para as driblarmos à nossa vontade?
-
???
- Sim! Se o 12º ano está legalmente
definido como o nível obrigatório da escolaridade, como pode acontecer que haja
quem não possua essas habilitações e possa ter carta de condução e votar como
um erudito? Têm essas pessoas um nível cultural que lhes confira uma
mundividência que lhes confira o discernimento suficiente para manipularem uma
arma tão potencialmente letal como um veículo motorizado? E têm o conhecimento
holístico que lhes permita independência intelectual na hora de votar?
Sinceramente, não creio! E mais digo que a complacência perante o vulgar
incumprimento de algo que a Lei diz ser obrigatório só pode resultar do
predomínio de caquistocratas.
Então, aqui chegados, várias hipóteses
restam a quem queira resolver este imbróglio:
-
Desobriga a obrigação e pactua com o regresso a condições de analfabetismo
cavernícola
Ou
-
Cumpre a Lei.
* * *
Não
possuir a escolaridade obrigatória relega naturalmente o adulto para uma
condição de cidadania incompleta e, daí, não se tratando de um crime, deve-se
legislar de modo incentivador e não punitivo. Deste modo, sem cassar direitos já
atribuídos e licenças já concedidas, a carta de condução e o direito de voto,
só deverão ser concedidos a quem prove ter, no mínimo, a escolaridade
obrigatória.
Assim como na Função Pública e nas
Forças Armadas e das de Segurança as hierarquias são previamente estabelecidas
com forme as habilitações dos candidatos, também na política se deve aplicar
tal tipo de critérios.
Candidatos autárquicos devem, pelo
menos, ter escolaridade obrigatória;
Candidatos a Deputados (AR) devem
possuir mestrado universitário (Bolonha) ou licenciatura universitária (pré
Bolonha);
Membros do Governo devem possuir as
mesmas habilitações mínimas exigíveis aos Deputados (AR)
E a pergunta final é: - Queremos uma
democracia que incentive as pessoas a subir na vida ou preferimos um regime que
abra as portas à caquistocracia?
Junho de 2023
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIO:
Adriano
Miranda Lima 23.06.2023 20:20;
O Dr. Salles
da Fonseca toca num ponto importante e susceptível de ficar cada vez mais
candente à medida que o regime da democracia vai confirmando que possui, de
facto, debilidades e imperfeições. A "caquistocracia" é uma
realidade, não há como reconhecê-lo. Muitas razões a justificam, uma é a pouca
apetência para querer ser-se membro de governo, outra, provavelmente
consequência disso, será o critério de pouca exigência para a subida na
hierarquia da política. Habilitações mínimas, certamente, mas seria exigível,
também, verdadeiros tirocínios para certificar as condições para o exercício da
liderança e da capacidade de governação. Tal como o Dr. Salles da Fonseca
sugere, deveria olhar-se, por exemplo, para o que acontece nas Forças Armadas.
Frequenta-se a licenciatura em Ciências Militares, mas isso não chega para se
chegar a coronel. Tem de se frequentar o Curso de Promoção a Capitão e depois o
Curso de Promoção a Oficial Superior, ambos de 1 ano lectivo. Mais, alguns
frequentam ainda o Curso de Estado-Maior e mais tarde, para se chegar a
general, o Curso de Comando e Direcção. Por
causa da caquistocracia é que já se fala numa pós-democracia.
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