Que, por cá, merece uma adesão múltipla, embora não
total, naturalmente.
Russofobia
Este termo,
russofobia, não é novo na história de Moscovo. A tradição de governar o império
com a narrativa “A culpa de tudo está nos estrangeiros, que têm inveja dos russos” funciona desde há séculos
PAVLO SADOKHA Presidente da Associação dos
ucranianos em Portugal
OBSERVADOR, 02
jun. 2023, 00:1422
Em 2014, num encontro com representantes
de organizações não governamentais e religiosas internacionais, Putin disse: “Goebbels era uma pessoa talentosa. Ele conseguia
atingir os seus objectivos”.
Esta declaração explica da melhor forma a
política do regime de Putin, que manifestamente se orienta pela palavra de ordem do tristemente célebre Ministro da Propaganda,
na Alemanha Nazi, entre 1933 e 1945, Joseph Goebbels: “Uma mentira dita mil
vezes torna-se verdade“.
O famoso historiador dos países do
Leste da Europa e professor da Universidade de Yale, Timothy Snyder, explicou como a Rússia usa o termo
“russofobia” para justificar a guerra agressiva, a política genocida e os
crimes de guerra. No seu discurso de 14 de março de 2023, perante uma
reunião do Conselho de Segurança da ONU, convocada a pedido de Moscovo para
discutir “russofobia”, ele disse: “os
danos causados aos russos e à cultura russa são principalmente resultado da
própria política da Federação Russa. Se nos preocupamos com os danos causados
aos russos e à cultura russa, então preocupamo-nos com a política do estado
russo.
O termo “russofobia”, que
estamos a discutir hoje, é usado durante esta guerra como uma forma de
propaganda imperial na qual o agressor reivindica o papel de vítima. Durante o
ano passado, serviu para justificar os crimes de guerra da Rússia na Ucrânia.”
Este
termo – “russofobia” – não é novo na história de Moscovo e sempre esteve
relacionado com a política interna e externa da Rússia imperial.
A tradição de governar o império com a
narrativa: “A culpa de
tudo está nos estrangeiros, que têm inveja dos russos e, por isso, sempre nos
querem fazer mal”, funciona na Moscóvia desde há séculos.
Há uma piada na cultura russa que na verdade já teve consequências horríveis.
Na forma mais moderna, ela soa assim: «Se numa torneira não há água, é porque
os judeus beberam tudo!”. Para a maioria do povo, não importa muito que este
tique de responsabilização dos inimigos externos – reais ou puramente
imaginários – até enferme de uma contradição lógica.
Assim, por exemplo, na mentalidade de
um apoiante do regime de Putin, nada impede que o presidente da Ucrânia – Zelensky – seja judeu
e nazi no mesmo tempo (mesmo que o
avô dele tenha combatido no exército vermelho na Segunda Guerra Mundial).
Aliás, este tipo de declarações vem até da mais “alta” elite política
russa, como, por exemplo, do ministro dos negócios estrangeiros, Sergei Lavrov,
que em maio de 2022 comparou Zelensky com Hitler.
Claro, não podemos generalizar isto,
aplicando-o indiscriminadamente ao povo e à cultura russos. Muito em especial
não o podemos aplicar aos patriotas russos, que agora heroicamente começaram a
libertar a Rússia do regime do Putin, nos combates da cidade Belgorod. Pois
eles têm por missão justamente converter a Rússia num país democrático, que
deixe de ser uma ameaça permanente para os países vizinhos.
Com
mais intensidade, o termo “russofobia” começou a ser martelado pela propaganda
russa em 2010, quando o assessor de Putin, Dmitry Medvedev, aprovou a nova doutrina militar russa, segundo a
qual a Rússia passa a reservar-se o direito de recorrer a armas nucleares em
resposta ao uso de qualquer arma de destruição maciça usada contra ela ou seus
aliados.
Isto serviu de pretexto ao governo
russo para deixar de investir em programas sociais, para a população, e
converter a economia do país numa economia predominantemente militar, votada ao
reforço do armamento e ao exército.
Mas a propaganda da “russofobia” não é
usada só na Rússia.
Antes
da anexação da Crimeia, este termo começou a ser explorado pelos partidos e activistas
pró-russos na Ucrânia. Assim, por exemplo, a revolução de 2014 foi logo
descrita por apoiantes de Putin na Ucrânia como manifestação de “russofobia”,
quando os estudantes ucranianos, que inicialmente se juntaram na Praça de Maidan,
em Kiev, simplesmente queriam ver a Ucrânia na União Europeia. Estes partidos
faziam parte de “quinta coluna” que na verdade não pretende defender os
interesses dos cidadãos ucranianos russófonos, mas sim preparar a Ucrânia para
uma futura rendição completa a Moscovo.
Também os “agentes do Moscovo” noutros
países afinaram pelo mesmo diapasão. Assim, por exemplo, em Portugal.
O
recente caso com um professor de russo na Universidade de Coimbra ilustra-o
muito claramente. Trata-se de pura actividade de propaganda, manifesta e
despudorada, documentada com factos concretos e que não tem nada que ver com a
liberdade de opinião. A acusação levantada contra Vladimir Pliassov, que usava
as suas funções de professor para desculpar e justificar a bárbara
agressão russa contra a Ucrânia, foi logo condenada pela embaixada da Rússia em
Portugal e pelos apoiantes do império russo como “russofobia”.
Mesmo que os activistas ucranianos que
levantaram a lebre não tenham dito absolutamente nada contra a cultura ou a
língua russa, os múltiplos admiradores e lacaios de Putin (principalmente os
ligados a PCP) traziam aparelhada a resposta pronta, estereotipada e rápida,
que lhes havia sido sugerida pelos seus mentores: “Isso é russofobia e ponto final!”
É
possível que, para um português comum, que há quase 50 anos vive num país
livre, não diga nada o facto de Vladimir
Pliassov ter
escolhido Portugal para viver e ter podido sair livremente da URSS nos anos 80.
Mas, para os ucranianos, que sabem a sua história, esse facto já diz tudo. Com
efeito, é óbvio que, naquela época, ir trabalhar na universidade de um país que
pertencia à NATO só podia acontecer com autorização do KGB – e na verdade com
uma missão especial…
Mas
mais: o próprio Pliassov confirmou, numa entrevista, que quem tratou da
deslocação dele para universidade de Coimbra foi a primeira mulher, a
cosmonauta Valentina Tereshkova, que agora é deputada do parlamento russo e uma
das mais activas apoiantes da agressão russa contra a Ucrânia.
Entre
outros amigos de Pliassov conta-se
também o já falecido Iosif Kobzon, ex-cônsul-honorário da autoproclamada
república de Donetsk e que fazia parte da lista de pessoas sancionadas pela
União Europeia por apoiarem de alguma forma os separatistas pró-russos na
Ucrânia. Para se ter ideia da personagem em questão, refira-se que desde
1994 Kobzon tentou obter um visto para ir aos EUA, visto que lhe foi repetidamente
recusado, devido ao seu alegado envolvimento com a máfia russa.
Nós, ucranianos, não estranhamos nada
disto. Pois há muito sabemos que a fundação Russky Mir, a que Pliassovestá ligado, foi criada
principalmente para fins da propaganda.
Dei-me ao trabalho de tentar encontrar nos artigos que falam de “russofobia”
a propósito do caso Pliassov algum vestígio de simpatia para com o povo
ucraniano, que sofre diariamente a agressão russa. Mas foi em vão: nem uma
palavra. Parece um sinal inconfundível do cego parti pris que os move. De facto, só revelam sensibilidade e
preocupação em relação a um dos lados – não por acaso, o agressor. Ficamos
entendidos: estamos a lidar com profissionais da indignação e do “humanismo”
selectivos!
Convém, aliás, não esquecer que o caso
de Coimbra não é único: há relato de
casos semelhantes com representantes do Russky Mir em universidades Europeias.
Há pouco tempo algo semelhante aconteceu na Sorbonne, em Paris.
Não li os artigos de Pliassov (não
sei se existem). Nunca participei nas aulas dele. Mas basta analisar
minimamente os livros actuais da história e literatura russa para perceber, que
eles negam existência da Ucrânia como país e os ucranianos como nação.
Este é um tema que os defensores do Pliassov não querem discutir. E
percebe-se porquê: dessa forma não têm de lidar com o facto de toda esta mentirosa
narrativa ter servido para invadir a Ucrânia e matar os ucranianos, a pretexto
da reconquista das terras “históricas” do império russo.
Por
último, convém ainda ter em atenção a tradução directa da palavra “fobia”, que
etimologicamente fala não de ódio, mas de medo. Em última análise, “russofobia”
é “medo da Rússia”, não “ódio a ela”.
Esta
táctica de que todos estrangeiros têm de ter medo da Rússia corresponde
absolutamente à mentalidade da liderança de Putin. O antigo oficial da FSB, Alexandr
Litvinenko, descreveu a tomada do poder pelo presidente russo, Vladimir Putin,
como um golpe de estado organizado pelo FSB em sintonia com grupos de
criminosos, todos coligados para controlarem o país inteiro.
Criar medo é procedimento habitual dos malfeitores para alcançarem
os seus objetivos – pois, se têm medo, as vítimas tendem a oferecer menos
resistência.
É
por isso que, além da tentativa de chantagem em relação ao uso de armas
nucleares, o exército russo estava motivado para levar a cabo as cenas brutais de
execução não só de soldados ucranianos, mas de população civil, incluindo
crianças, que têm acompanhado a sua intervenção desde fevereiro de 2022.
Infelizmente, as mentiras de Moscovo conseguiram
que os países livres se deixassem enredar na armadilha desta “fobia” e tenham
demorado a perceber, que a agressão de Putin não se destina a parar na Ucrânia
e que, nas palavras de Dmitry Medvedev, a Rússia de Vladivostok a Lisboa é
objetivo real do Moscovo.
Seja como for, a continuação de
colaboração com instituições da propaganda russa aumenta o sofrimento e
destruição da Ucrânia. Ela ajuda a prolongar a crise, que na verdade só tem uma
solução: não ter “fobia” (i. e., medo) dos russos e ajudar a Ucrânia a fazer o
seu trabalho: defender a Europa do único neonazi nesta história (e que é em
tudo uma cópia fiel dos nazis do século passado) – Vladimir Putin.
RÚSSIA-UCRÂNIA MUNDO
VLADIMIR PUTIN…RÚSSIA
COMENTÁRIOS:
Henrique Frazão: Quando li o artigo pensei ter que esperar um pouco para ver se quem o
escreveu teria razão, voltei aqui umas horas depois já com 20 e tal comentários.
Concluí que a russofobia existe sim em Portugal, claro que felizmente há gente
com bom senso mas é pena a raiva que alguns demonstram por um grande país
multiétnico e com uma enorme cultura. Uma coisa é a Rússia outra o Sr Putin. Luis Gabriel: Uma análise lúcida e
esclarecedora. O medo não pode vencer. João Guerreiro: Excelente artigo! António Cézanne: Certeiro em toda a linha. Todos
os países livres e civilizados perceberam tudo isso e não vão dar espaço para
aventuras da russalhada que tem a mania que é tudo deles porque metem medo a
todos. Ora, se antes desta guerra até podia haver não medo, mas respeito pela
força militar da russalhada, com esta guerra apresentaram-se. Muito fraquinhos,
parece que pararam na segunda guerra com fogachada e trincheirinhas do
esconde-esconde, agarrados à marmita para comer qualquer coisa podre. Um
exército completamente ridículo que anda há um ano e meio à fogachada e nada de
avanços. Tão ridículo que já perdeu quase 30% do que conquistou. Nunca mais a
Rússia vai conseguir respeito por parte do ocidente. Podem vir lá com a
russofobia todos os dias que já ninguém tem medo deles. C Barria: Não aceitamos esta mentalidade
de roubo, saque, "mato porque sou mais forte". Também sabemos que não
é responsabilidade de todos os russos. Nem dos artistas passados russos, nem
dos cientistas nem dos matemáticos. É principalmente de quem apoia este pensamento
execrável, comandado pelo Kremlin. Também é verdade que os vários regimes
russos trouxeram ao mundo o pior que há no ser humano. A isso já estamos
habituados. Portanto, algo de generalizado há naquela gente, que só pensa em
roubar, pilhar, matar e violar, para enriquecer. bento guerra: Não admira que o Observador
tenha dificuldade em aguentar-se financeiramente, ao publicar propaganda desta,
Aliás ,um testemunho de russofobia Miguel Ramos > bento guerra: lol, o cómico falou. Car Los > bento guerra:
Tu deves julgar que muitas
pessoas "pensam" como tu, e que desistem do Observador por causa
destes artigos. Mas basta ver a orientação da esmagadora maioria dos
comentários às notícias desta guerra, para perceber que tu fazes parte de uma
insignificante e detestável minoria. Vocês não contam para nada, não
influenciam nada, e servem apenas para nos fazer rir e para não nos esquecermos
que existem seres humanos indignos dessa condição. bento guerra > CarLos:A minha linguagem não é a vossa
:mééé... F. C.
> bento guerra:
Chora, bebé! António Cézanne > bento guerra: Linguagem igual a essa, só na
Coreia do Norte, Venezuela e Irão. Em países civilizados não existe! Car Los: Este é o artigo que as
putinettes têm que comentar. Vamos lá borregada, digam qualquer coisa! João Floriano: Viva a Ucrânia! Vivam os
defensores da Ucrânia tanto dentro como fora das suas fronteiras! A seu tempo
saberemos dar a resposta a quem por aí anda a apoiar o massacre levado a efeito
pelos russos em solo ucraniano contra civis inocentes. São inimigos da Ucrânia
mas também dos portugueses. klaus mullerJoão Floriano: Subscrevo. Fernando Fernandes: O nazismo voltou à Europa,
desta vez vindo de um país ex-comunista. Nada de novo, já que os extremos se tocam. Aqui e no Brasil os
esquerdistas mostram bem a sua linha de pensamento e a simpatia pelos regimes
autocráticos que ameaçam as democracias. Luis Oliveira: A maralha de putin, e amigos,
que governam a nova moscóvia com um regime estalinista-nazi tem como ídolo
hitler. Não enganam ninguém.... Lourenço de Almeida > Luis Oliveira: Eu acho que tem como ídolo o
Estaline. É parecido com o Hitler nos resultados finais, mas a táctica é
diferente e por isso o seguro morreu de velho e com meio mundo a chorá-lo.
Ainda me lembro de murais do MRPP e de outros partidos comunistas que tinham as
imagens do Marx, Engels, Lenine, Estaline, e nalguns casos Mao, em poses
heróicas como nunca vi de outros idiotas ou criminosos como o Hitler. S N: Não sei bem porquê, mas há
grandes admiradores e exímios seguidores de Goebbels em Portugal. Triste e
trágico, mas as provas disso abundam. Muito bom artigo S Belo: Muito bem! É importanre
que tenha esclarecido o conceito de "russofobia". Mario: Parabéns pelo excelente artigo.
Obrigado. Victor
Alves Gomes: Excelente, subscrevo e partilho. Rui Pedro Matos: Muito bem!
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