sexta-feira, 16 de junho de 2023

O clima pátrio


Democracia envenenada, é o que se sente também com a leitura de certos comentários. Chega-se à conclusão de que uns e outros, nós e eles somos todos farinha do mesmo saco, a explodir rancores apenas, embora alguns apontem orientações. Não, não temos razões para estarmos felizes connosco, nas cenas que fabricamos, nas expansões de perversidade linguageira que nos permitimos, afinal. Mas a crónica de Alexandre Homem Cristo parece-me  cordata, como sempre.

O 10 DE JUNHO NUMA DEMOCRACIA ENVENENADA

Portugal vai-se dividindo em dois países — o da bolha que se entretém com a pequena política, e o dos cidadãos que se sentem à margem. Eis uma atmosfera tóxica na República, que se afunda no populismo

ALEXANDRE HOMEM CRISTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 15 jun. 2023, 00:2124

Os portugueses consideram que o poder político vive longe da população: inquiridos sobre o tema, avaliam que a influência política real da população é muito baixa (28%) quando idealmente deveria ser elevada (84%), e consideram ainda que se tem dado insuficiente atenção aos problemas de pessoas como eles (73%). Os portugueses tendem a não confiar nos partidos políticos (79%), no governo (64%) ou no parlamento (59%). Os portugueses gostariam de mudar o sistema eleitoral, de modo a votar mais em candidatos e menos em partidos — 76% concordam totalmente ou tendem a concordar com esta proposta. Os portugueses gostariam que o Estado central tivesse menos poder e que as autarquias tivessem mais poder71% concordam totalmente ou em parte com esta proposta. Os portugueses estão pouco ou nada satisfeitos com o combate à corrupção (87%), com a qualidade de vida em geral (79%), com a falta de oportunidades de ascensão social (76%), com o desempenho do SNS (74%) ou da rede pública de educação (68%).

Numa frase: os portugueses estão zangados, desiludidos e frustrados com o funcionamento da democracia em Portugal. Os dados acima foram todos retirados da mais recente sondagem ICS-ISCTE e traduzem esse descontentamento e essa descrença, actualmente em níveis muito elevados. Repare-se na dimensão: os índices de insatisfação rondam sucessivamente valores superiores a dois terços ou três quartos dos inquiridos, com apenas leves flutuações face a ideologias ou posicionamentos políticos. Não é uma questão partidária, é um problema de fundo e está a envenenar a vida política.

As comemorações do 10 de Junho teriam sido um palco oportuno para o regime reconhecer a legitimidade das inquietações dos portugueses e colocar esse descontentamento na fila da frente do debate público e da acção política. Parafraseando uma canção dos Xutos & Pontapés, se isto não chega temos o mundo ao contrário. E, como pelos vistos não chegou, suspeita-se que Portugal está cada vez mais do avesso.

Não chegou porque o Presidente da República, que até começou bem o seu discurso, não resistiu a construir mais um episódio do seu braço-de-ferro de pequena política com o Primeiro-Ministro, referindo-se a “ramos mortos” para indirectamente insistir na demissão do ministro João Galamba. Não chegou porque o Primeiro-Ministro, pressionado pelos protestos dos sindicatos de professores e sentindo-se ofendido com um cartaz de mau gosto, conseguiu virar toda a atenção mediática para uma caricatura (em vez de lidar com esclarecimentos ainda devidos sobre a actuação do SIS ou as falhas da sua governação). Não chegou porque os professores, que se queixam do desprestígio da sua profissão, se comportaram como vândalos a invadir uma cerimónia solene. Ninguém saiu bem na fotografia.

À conta destas oportunidades perdidas, Portugal vai-se dividindo em dois países — o da bolha mediática que se entretém com a pequena política, e o dos cidadãos que se sentem à margem das grandes decisões sobre o seu futuro. Eis uma atmosfera tóxica para uma república democrática, que se afunda numa dicotomia de “nós” e “eles” tão propícia ao escalar do populismo, do discurso de ódio, da fragmentação do tecido social. A 10 meses de assinalarmos 50 anos do 25 de Abril de 74, já era tempo de o regime aprender a lidar com as suas próprias falhas, para não dar força aos inimigos da democracia.

10 DE JUNHO   PAÍS   POLÍTICA   ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA   ESTADO   ECONOMIA

COMENTÁRIOS (de 24)

Joaquim Rodrigues: O habilidoso Costa foi à Régua à procura da "sua" Marinha Grande (*). O "tiro" saiu-lhe pela culatra. Escolheu o cartaz errado. Porque se o Costa acha o cartaz racista então é o Costa que é racista.  (*) - Para quem não se recorda, ou não era desse tempo, foi na Marinha Grande que Mário Soares foi vítima de uma tentativa de agressão que lhe deu a vitória nas eleições Presidenciais.             Alberico Lopes > Joaquim Rodrigues: Na altura dizia-se que tudo foi encenado, que o presumível agressor até era filiado no PS e que recebeu um prémio por ter encenado a agressão! Mas a verdade é que os papalvos acreditaram e vai daí o Soares chegou a PR quando na altura tinha cerca de 12% de intenções de voto! Foi isto que o Costa tentou fazer! Espero bem que a malta esteja vacinada! E já não vá em encenações!                Alberico Lopes: Alexandre: fiquei mesmo ofendido pela sua falta de respeito para com a classe de professores a quem apelidou de "VÂNDALOS"! Será que esse epíteto não ficaria mais bem colocado no indiano que se diz 1º. ministro e que, como raposa matreira que é, provocou todo este sururu para que as atenções se desviassem da sua fraca prestação como 1º. ministro mas para os professores que afinal só lutam para reaverem aquilo que o Sócrates e o Costa lhes tiraram? Sim, porque não foi o Passos Coelho que criou esta situação mas sim o governo do sócrates e do seu nº. 2 - o costa! Fiquei desiludo com o seu artigo!               Rui Pedro Matos > Alberico Lopes: Muito bem! Certíssimo. Força                joao lemos: esta gente não presta!            Alberico Lopes > joao lemos: Tanto um como o outro são duas fracas figurinhas! Estão mesmo bem um para o outro! Por isso eles até seguram o guarda-chuva para tirarem selfies a enganar os papalvos! Agora parece que andam um pouco "aborrecidos", mas isto é só para dar uma "pimentazinha" para os jornais e Tvs!              joao lemos: já alguém se perguntou porque as enormes figuras Marcelo e António Costa , sempre com o pé do estribo do avião para viajarem, nunca foram  à Ucrânia???? a resposta é simples - o Marcelo morreria de medo e o Costa além do medo ainda juntaria a falta de protagonismo - o último dos últimos!               Joaquim Rodrigues: No 10 de Junho tivemos uma pequena amostra das “Cortes de Lisboa” e das suas intrigas “Palacianas” para mostrar, ao povão duriense (sedento de um qualquer sinal de consideração e respeito), em todo o seu esplendor, como funcionam os meandros do poder em Portugal (Lisboa). 0 “espectáculo” que nos foi sendo servido pelos Órgãos de Comunicação Social, peças centrais no funcionamento das Cortes de Lisboa, mostrou-nos que ela está de tal forma envolvida na “bolha das Cortes de Lisboa” que já confunde “opinião pública”, com a “opinião por eles próprios publicada”, ampliando a "bolha". É o “Estatismo” e o “Centralismo” no seu melhor. Do confronto de “projectos políticos”, da discussão de diferentes ideias para o desenvolvimento do País ou da Região anfitriã, da afirmação de estratégias e caminhos alternativos para o futuro de Portugal ou da Região, nada, nada, nada, rigorosamente nada! O que há é intriga política, à volta dos casos de corrupção, nas Cortes de Lisboa, agora acirrada pela disponibilidade de mais Fundos Comunitários. Razão tinha um conhecido Professor Catedrático de Urbanismo, já falecido, quando, há mais de 3 décadas, dizia nas suas aulas: "a “Regionalização” é muito importante para promover a participação democrática dos cidadãos e o desenvolvimento económico e social do País e de todas as Regiões do País. Mas a principal vantagem da Regionalização, em Portugal, é a de “esmagar a cabeça da serpente”, ou seja, acabar com a “oligarquia” instalada em Lisboa com “interesses” sedimentados ao longo de décadas e décadas de “Estatismo” e de “Centralismo”, que estão a empobrecer Portugal e, ainda mais, o povo de Lisboa". Portugal vai continuar a caminhar para a cauda da Europa se não conseguirmos fazer as reformas, que se impõem, para a conclusão das “tarefas de democratização” do “sistema” que herdamos de Salazar/Cunhal. O “Sistema Político/ideológico” que nos rege, tem raízes nos 40 anos de Salazar/Cunhal (farinha do mesmo saco), foi forjado no “Estado Novo”, na “Estatização” da economia, no proteccionismo económico, no “rentismo”, no condicionamento industrial, no Estado Fomentador, nos monopólios de Estado e na “Centralização” Política e Administrativa dos poderes de Estado, no Estado Central. O “sistema” que nos rege, preservou, até aos dias de hoje, o “estatismo e o centralismo”, dois dos atributos típicos dos “Estados Totalitários”, fascistas/comunistas, que emergiram após a Primeira Guerra Mundial. Esse “Sistema” perpetuou-se, em Portugal, primeiro, por termos passado ao lado da “onda liberalizadora e descentralizadora”, que percorreu a Europa Ocidental, após a Segunda Guerra Mundial, depois, porque Cunhal, no PREC, se encarregou de “branquear e certificar” os atributos totalitários “estatistas e centralistas” do Estado Novo, porquanto, tendo como guião o Estado Soviético, via neles a oportunidade de tomada e perpectuação do poder através do controlo do “Aparelho de Estado”. Sá Carneiro e Lucas Pires foram das raras e honrosas excepções que lutaram pela democratização do regime, afirmando, como suas Prioridades Políticas, a “Libertação da Sociedade Civil”, a “Livre Iniciativa Privada”, o “Mercado e a Concorrência”, a “Liberalização da Economia”, a “Descentralização Política do Estado” e o “Desmame da Oligarquia da mama do OE”, das “Negociatas de Estado” e das “Rendas Monopolistas outorgadas pelo Estado”. Quando Sá Carneiro, (após ter enfrentado e derrotado os emissários da “nova oligarquia”, no interior do partido), se preparava para desestatizar (liberalizar) e descentralizar (regionalizar) foi assassinado. Estatismo e Centralismo, mantiveram-se assim, até aos dias de hoje, como heranças intocáveis do Estado Novo e do PREC, e estão a condenar Portugal ao lento, mas inexorável, definhamento, atraso e sub-desenvolvimento. Portugal é hoje dos países mais pobres, mais corruptos, com mais desigualdades sociais e territoriais, mais “estatizados” e mais “centralizados” da Europa e vai tornar-se, em breve, o País mais pobre da União Europeia. Portugal é viável sim, mas, para que não caminhe de forma irreversível para o lento, mas inexorável definhamento, temos de encontrar as formas de acabar com os atavismos totalitários, herdados de salazar/cunhal e agora acarinhados pelos “Oligarcas da Corte”, que estão a sufocar o País.          António Sennfelt: Com o actual PR e com o actual PM é sempre a descer!             José Rego: Mas só agora reparou que isto está assim? Temos um país, dois sistemas. Um para os políticos, para os boys e girls, para os partidos, para os familiares e amigos e outro sistema para as massas escravizadas, que servem apenas para extorquir impostos, para espremer até ao tutano. Num sistema, a justiça garante todos os recursos, apelos e adiamentos (havendo dinheiro e conhecimentos) , no outro cumpre-se a lei. Num sistema há jobs for the boys, com salários com que as massas nem sonham, no outro sistema, há salários mínimos, há mais de metade das famílias a viver com 900€, 1/3 com 700€. No sistema certo, pode-se sonhar, ter família, viver no verdadeiro sentido da palavra, no outro mal se consegue sobreviver. Um verdadeiro sistema de castas. Isto é o que se criou em 50 anos de democracia. Inimigos da democracia? Só pode estar a falar do PS, com certeza. Não vejo maior inimigo da democracia em Portugal. Se quer ser intelectualmente honesto terá de admitir que é o PS quem realmente é um perigo para a democracia e para as instituições. Esta república está podre. Aguentámos com os Filipes durante 60 anos, a ditadura militar e Estado Novo duraram 66 anos , quanto tempo mais durará esta 3a república podre?           José RegoJosé Rego: E muito mais haveria a dizer sobre a vida nos dois sistemas criados por esta oligarquia.              Carlos Chaves: Caríssimo Alexandre, mais um bom artigo onde os resultados desta sondagem não colam com os resultados de outras sobre a popularidade deste miserável Governo, miserável partido socialista e miserável PR. Como explicar isto? Que quase tudo o que está a acontecer se dever à estratégia socialista de para se perpetuarem no poder, condenarem a nossa sociedade à divisão, não restam grandes dúvidas e como é obvio isto é gravíssimo, mas não explica esta contradição entre sondagens.                 João Eduardo Gata: Há décadas esta situação já teria descambado numa revolução, com a proibição de partidos políticos e a introdução de um Estado autoritário.               bento guerra: Cristo desceu a Portugal.Com uma pala no olho, como o nosso maior poeta. Somos o que somos              Fernando Cascais: O presidente dos afectos arranjou um inimigo; o Galamba. O presidente recusa todo e qualquer afecto ao Galamba, assim como o Galamba lá em casa, na moldura da sala onde aparece a tomar posse ao lado do presidente, riscou a cara de Marcelo e espetou-lhe um lápis no olho. O presidente dos afectos anda agora com uma faca na algibeira. Enquanto beija crianças, velhas e acólitos mete a mão ao bolso, apalpa a faca e vê se o Galamba anda por perto. Galamba por sua vez esconde-se atrás das árvores e sempre que apanha o presidente distraído nos beijos dá-lhe um calduço e esconde-se. A coisa está a ficar feia, e Costa já grunhiu a Galamba para ele não provocar o presidente. Apesar do meu posicionamento político me colocar mais perto de Marcelo torço por Galamba. Elogio-lhe a coragem e o temperamento. Digo-o com sinceridade. Ele que também poderia optar por andar aos beijinhos para conquistar o povo, tem preferido a postura de solenidade que o cargo obriga, e, agora que já aprendeu a exonerar colaboradores, pode vir a ser um dos melhores ministros deste governo. Torço por Galamba, o jovem político mais odiado de Portugal trucidado, dissecado e enterrado pela comunicação social, analistas políticos, comentadores e PR.             F. Mendes: Muito bom artigo. Sintético e certeiro. A inépcia das nossas instituições é assustadora, não havendo quase nada, ou alguém, que se safe.               Alberico Lopes > F. Mendes: Bom artigo? Que chama "VÂNDALOS" aos professores?            Américo Silva: No meio desta triangulação tóxica, presidente governo e professores, o mais sensato seria o governo adiar qualquer iniciativa legislativa até as coisas acalmarem. Informo os leitores que o assassino de Nottingham é um migrante africano, doente mental e já referenciado, o mesmo de sempre.             Alberico Lopes > Américo Silva: Lá vem o "avençado" com a sua costumeira mediocridade!            Rui Pedro Matos: Sr. Alexandre Homem Cristo! E no tempo do Passos Coelho, as invasões às cerimónias eram uma constante (até no famoso 10 de Junho onde Cavaco Silva desmaiou) e de que lado esteve o sr. Alexandre? E no coelho enforcado, que lado tomou? Pois....uma constância a falta de memória em alguns artigos que assina. Atentamente, Rui Pedro Matos        Juventino Fontes > Rui Pedro Matos: O Sr. Alexandre Homem Cristo, tal como o diretor do Observador, Miguel Pinheiro, deve ter feito coisas graves, nas escolas que frequentaram. Odeiam os professores, sempre que se pronunciam sobre eles. O que terão feito, para sentir tanto ÓDIO? Um professor da CGTP(!!!...), criou uns cartazes... Meia dúzia de outros professores, transportaram os ditos, seguindo o Costa, como muitas pessoas seguiram outros políticos e, só agora se "atiram" aos professores! Peçam desculpa a esses profissionais...       Rui Pedro Matos > Juventino Fontes: Claramente! Obrigado sr. Juventino. Cumprimentos.           Alberico Lopes > Rui Pedro Matos: É sempre bom lembrar a certos articulistas o passado mais ou menos longínquo destes articulistas! Por favor, veja o meu comentário mais acima!               Rui Pedro Matos > Alberico Lopes: Obrigado sr. Alberico. Vou olhar. Cumprimentos.

 

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