Democracia envenenada, é o que se sente
também com a leitura de certos comentários. Chega-se à conclusão de que uns e
outros, nós e eles somos todos farinha do mesmo saco, a explodir rancores
apenas, embora alguns apontem orientações. Não, não temos razões para estarmos felizes
connosco, nas cenas que fabricamos, nas expansões de perversidade linguageira
que nos permitimos, afinal. Mas a crónica de Alexandre
Homem Cristo parece-me
cordata, como sempre.
O 10 DE JUNHO NUMA DEMOCRACIA ENVENENADA
Portugal vai-se dividindo em dois
países — o da bolha que se entretém com a pequena política, e o dos cidadãos
que se sentem à margem. Eis uma atmosfera tóxica na República, que se afunda no
populismo
ALEXANDRE HOMEM
CRISTO Colunista do Observador
OBSERVADOR, 15
jun. 2023, 00:2124
Os portugueses consideram que o poder
político vive longe da população: inquiridos sobre o tema, avaliam que a
influência política real da população é muito baixa (28%) quando idealmente
deveria ser elevada (84%), e consideram ainda que se tem dado insuficiente
atenção aos problemas de pessoas como eles (73%). Os portugueses tendem a
não confiar nos partidos políticos (79%), no governo (64%) ou no parlamento
(59%). Os portugueses gostariam de mudar o sistema eleitoral, de modo a votar
mais em candidatos e menos em partidos — 76% concordam totalmente ou tendem a
concordar com esta proposta. Os portugueses gostariam que o Estado central
tivesse menos poder e que as autarquias tivessem mais poder — 71%
concordam totalmente ou em parte com esta proposta. Os portugueses estão
pouco ou nada satisfeitos com o combate à corrupção (87%), com a qualidade
de vida em geral (79%), com a falta de oportunidades de ascensão social
(76%), com o desempenho do SNS (74%) ou da rede pública de
educação (68%).
Numa frase: os portugueses estão
zangados, desiludidos e frustrados com o funcionamento da democracia em
Portugal. Os dados acima foram todos retirados da mais
recente sondagem ICS-ISCTE e
traduzem esse descontentamento e essa descrença, actualmente em níveis muito
elevados. Repare-se na dimensão: os índices de insatisfação rondam
sucessivamente valores superiores a dois terços ou três quartos dos inquiridos,
com apenas leves flutuações face a ideologias ou posicionamentos políticos. Não
é uma questão partidária, é um problema de fundo e está a envenenar a vida
política.
As comemorações do 10 de Junho teriam
sido um palco oportuno para o regime reconhecer a legitimidade das inquietações
dos portugueses e colocar esse descontentamento na fila da frente do debate
público e da acção política. Parafraseando uma canção dos Xutos & Pontapés, se
isto não chega temos o mundo ao contrário. E, como pelos vistos não chegou,
suspeita-se que Portugal está cada vez mais do avesso.
Não chegou porque o Presidente da
República, que até começou bem o seu discurso, não resistiu a construir mais um
episódio do seu braço-de-ferro de pequena política com o Primeiro-Ministro,
referindo-se a “ramos mortos”
para indirectamente insistir na demissão do ministro João Galamba. Não
chegou porque o Primeiro-Ministro, pressionado pelos protestos dos
sindicatos de professores e sentindo-se ofendido com um cartaz de mau gosto, conseguiu
virar toda a atenção mediática para uma caricatura
(em vez de lidar com esclarecimentos
ainda devidos sobre a actuação do SIS ou as falhas da sua governação). Não chegou porque os professores, que se
queixam do desprestígio da sua profissão, se comportaram
como vândalos a invadir uma cerimónia solene. Ninguém
saiu bem na fotografia.
À conta destas oportunidades perdidas,
Portugal vai-se dividindo em dois países
— o da bolha mediática que se entretém com a pequena política, e o dos cidadãos
que se sentem à margem das grandes decisões sobre o seu futuro. Eis uma
atmosfera tóxica para uma república democrática, que se afunda numa dicotomia
de “nós” e “eles” tão propícia
ao escalar do populismo, do discurso
de ódio, da fragmentação do tecido social. A 10 meses de assinalarmos
50 anos do 25 de Abril de 74, já era tempo de o regime aprender a lidar com
as suas próprias falhas, para não dar força aos inimigos da democracia.
10 DE JUNHO PAÍS POLÍTICA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA ESTADO ECONOMIA
COMENTÁRIOS (de 24)
Joaquim Rodrigues: O habilidoso Costa foi à Régua
à procura da "sua" Marinha Grande (*). O "tiro" saiu-lhe
pela culatra. Escolheu o cartaz errado. Porque se o Costa acha o cartaz racista
então é o Costa que é racista. (*) - Para quem não se recorda, ou não era desse
tempo, foi na Marinha Grande que Mário Soares foi vítima de uma tentativa de
agressão que lhe deu a vitória nas eleições Presidenciais. Alberico Lopes > Joaquim Rodrigues: Na altura dizia-se que tudo foi
encenado, que o presumível agressor até era filiado no PS e que recebeu um
prémio por ter encenado a agressão! Mas a verdade é que os papalvos acreditaram
e vai daí o Soares chegou a PR quando na altura tinha cerca de 12% de intenções
de voto! Foi isto que o Costa tentou fazer! Espero bem que a malta esteja
vacinada! E já não vá em encenações! Alberico Lopes: Alexandre: fiquei mesmo ofendido pela sua falta de
respeito para com a classe de professores a quem apelidou de
"VÂNDALOS"! Será que esse epíteto não ficaria mais bem colocado no indiano que se diz
1º. ministro e que, como raposa matreira que é, provocou todo este sururu para
que as atenções se desviassem da sua fraca prestação como 1º. ministro mas para
os professores que afinal só lutam para reaverem aquilo que o Sócrates e o
Costa lhes tiraram? Sim, porque não foi o Passos Coelho que criou esta situação
mas sim o governo do sócrates e do seu nº. 2 - o costa! Fiquei desiludo com o
seu artigo! Rui
Pedro Matos > Alberico Lopes: Muito bem! Certíssimo. Força joao lemos: esta gente não presta! Alberico Lopes > joao lemos: Tanto um como o outro são duas
fracas figurinhas! Estão mesmo bem um para o outro! Por isso eles até seguram o
guarda-chuva para tirarem selfies a enganar os papalvos! Agora parece que andam
um pouco "aborrecidos", mas isto é só para dar uma
"pimentazinha" para os jornais e Tvs! joao lemos: já alguém se perguntou porque
as enormes figuras Marcelo e António Costa , sempre com o pé do estribo do
avião para viajarem, nunca foram à Ucrânia???? a resposta é simples - o
Marcelo morreria de medo e o Costa além do medo ainda juntaria a falta de
protagonismo - o último dos últimos! Joaquim Rodrigues: No 10 de Junho tivemos uma
pequena amostra das “Cortes de Lisboa” e das suas intrigas “Palacianas” para
mostrar, ao povão duriense (sedento de um qualquer sinal de consideração e
respeito), em todo o seu esplendor, como funcionam os meandros do poder em
Portugal (Lisboa). 0 “espectáculo” que nos foi sendo servido pelos Órgãos de Comunicação
Social, peças centrais no funcionamento das Cortes de Lisboa, mostrou-nos que
ela está de tal forma envolvida na “bolha das Cortes de Lisboa” que já confunde
“opinião pública”, com a “opinião por eles próprios publicada”, ampliando a
"bolha". É o “Estatismo” e o “Centralismo” no seu melhor. Do confronto de “projectos
políticos”, da discussão de diferentes ideias para o desenvolvimento do País ou
da Região anfitriã, da afirmação de estratégias e caminhos alternativos para o
futuro de Portugal ou da Região, nada, nada, nada, rigorosamente nada! O que há é intriga política, à volta dos casos de
corrupção, nas Cortes de Lisboa, agora acirrada pela disponibilidade de mais
Fundos Comunitários. Razão tinha um conhecido
Professor Catedrático de Urbanismo, já falecido, quando, há mais de 3 décadas,
dizia nas suas aulas: "a “Regionalização” é muito importante para promover a participação
democrática dos cidadãos e o desenvolvimento económico e social do País e de
todas as Regiões do País. Mas a principal vantagem da Regionalização, em
Portugal, é a de “esmagar a cabeça da serpente”, ou seja, acabar com a
“oligarquia” instalada em Lisboa com “interesses” sedimentados ao longo de
décadas e décadas de “Estatismo” e de “Centralismo”, que estão a empobrecer
Portugal e, ainda mais, o povo de Lisboa". Portugal vai continuar a
caminhar para a cauda da Europa se não conseguirmos fazer as reformas, que se
impõem, para a conclusão das “tarefas de democratização” do “sistema” que
herdamos de Salazar/Cunhal. O “Sistema Político/ideológico” que nos rege, tem raízes nos 40 anos de
Salazar/Cunhal (farinha do mesmo saco), foi forjado no “Estado Novo”, na
“Estatização” da economia, no proteccionismo económico, no “rentismo”, no
condicionamento industrial, no Estado Fomentador, nos monopólios de Estado e na
“Centralização” Política e Administrativa dos poderes de Estado, no Estado
Central. O “sistema” que nos rege, preservou, até aos dias de hoje, o “estatismo e o
centralismo”, dois dos atributos típicos dos “Estados Totalitários”,
fascistas/comunistas, que emergiram após a Primeira Guerra Mundial. Esse “Sistema” perpetuou-se, em
Portugal, primeiro, por termos passado ao lado da “onda liberalizadora e
descentralizadora”, que percorreu a Europa Ocidental, após a Segunda Guerra
Mundial, depois, porque Cunhal, no PREC, se encarregou de “branquear e
certificar” os atributos totalitários “estatistas e centralistas” do Estado
Novo, porquanto, tendo como guião o Estado Soviético, via neles a oportunidade
de tomada e perpectuação do poder através do controlo do “Aparelho de Estado”. Sá Carneiro e Lucas Pires
foram das raras e honrosas excepções que lutaram pela democratização do regime,
afirmando, como suas Prioridades Políticas, a “Libertação da Sociedade Civil”,
a “Livre Iniciativa Privada”, o “Mercado e a Concorrência”, a “Liberalização da
Economia”, a “Descentralização Política do Estado” e o “Desmame da Oligarquia
da mama do OE”, das “Negociatas de Estado” e das “Rendas Monopolistas
outorgadas pelo Estado”. Quando Sá Carneiro, (após ter enfrentado e derrotado
os emissários da “nova oligarquia”, no interior do partido), se preparava para
desestatizar (liberalizar) e descentralizar (regionalizar) foi assassinado.
Estatismo e
Centralismo, mantiveram-se assim, até aos dias de hoje, como heranças intocáveis do
Estado Novo e do PREC, e estão a condenar Portugal ao lento, mas inexorável,
definhamento, atraso e sub-desenvolvimento. Portugal é hoje dos países mais pobres, mais
corruptos, com mais desigualdades sociais e territoriais, mais “estatizados” e
mais “centralizados” da Europa e vai tornar-se, em breve, o País mais pobre
da União Europeia. Portugal é viável sim, mas, para que não caminhe de forma irreversível para
o lento, mas inexorável definhamento, temos de encontrar as formas de acabar
com os atavismos totalitários, herdados de salazar/cunhal e agora acarinhados
pelos “Oligarcas da Corte”, que estão a sufocar o País. António Sennfelt: Com o actual PR e com o actual
PM é sempre a descer! José
Rego: Mas só agora
reparou que isto está assim? Temos um país, dois sistemas. Um para os
políticos, para os boys e girls, para os partidos, para os familiares e amigos
e outro sistema para as massas escravizadas, que servem apenas para extorquir
impostos, para espremer até ao tutano. Num sistema, a justiça garante todos os
recursos, apelos e adiamentos (havendo dinheiro e conhecimentos) , no outro
cumpre-se a lei. Num sistema há jobs for the boys, com salários com que as
massas nem sonham, no outro sistema, há salários mínimos, há mais de metade das
famílias a viver com 900€, 1/3 com 700€. No sistema certo, pode-se sonhar, ter
família, viver no verdadeiro sentido da palavra, no outro mal se consegue
sobreviver. Um verdadeiro sistema de castas. Isto é o que se criou em 50 anos
de democracia. Inimigos da democracia? Só pode estar a falar do PS, com
certeza. Não vejo maior inimigo da democracia em Portugal. Se quer ser
intelectualmente honesto terá de admitir que é o PS quem realmente é um perigo
para a democracia e para as instituições. Esta república está podre. Aguentámos
com os Filipes durante 60 anos, a ditadura militar e Estado Novo duraram 66
anos , quanto tempo mais durará esta 3a república podre? José RegoJosé Rego: E muito mais haveria a dizer sobre a vida nos dois
sistemas criados por esta oligarquia. Carlos Chaves: Caríssimo Alexandre, mais um
bom artigo onde os resultados desta sondagem não colam com os resultados de
outras sobre a popularidade deste miserável Governo, miserável partido
socialista e miserável PR. Como explicar isto? Que quase tudo o que está a
acontecer se dever à estratégia socialista de para se perpetuarem no poder,
condenarem a nossa sociedade à divisão, não restam grandes dúvidas e como é obvio isto é
gravíssimo, mas não explica esta contradição entre sondagens. João Eduardo Gata:
Há décadas esta situação já teria descambado numa
revolução, com a proibição de partidos políticos e a introdução de um Estado
autoritário. bento
guerra: Cristo desceu a Portugal.Com uma pala
no olho, como o nosso maior poeta. Somos o que somos Fernando Cascais: O presidente dos afectos arranjou um inimigo; o
Galamba. O presidente recusa todo e qualquer afecto ao Galamba, assim como o
Galamba lá em casa, na moldura da sala onde aparece a tomar posse ao lado do
presidente, riscou a cara de Marcelo e espetou-lhe um lápis no olho. O
presidente dos afectos anda agora com uma faca na algibeira. Enquanto beija
crianças, velhas e acólitos mete a mão ao bolso, apalpa a faca e vê se o
Galamba anda por perto. Galamba por sua vez esconde-se atrás das árvores e
sempre que apanha o presidente distraído nos beijos dá-lhe um calduço e
esconde-se. A coisa está a ficar feia, e Costa já grunhiu a Galamba para ele
não provocar o presidente. Apesar do meu
posicionamento político me colocar mais perto de Marcelo torço por Galamba.
Elogio-lhe a coragem e o temperamento. Digo-o com sinceridade. Ele que também
poderia optar por andar aos beijinhos para conquistar o povo, tem preferido a
postura de solenidade que o cargo obriga, e, agora que já aprendeu a exonerar
colaboradores, pode vir a ser um dos melhores ministros deste governo. Torço
por Galamba, o jovem político mais odiado de Portugal trucidado, dissecado e
enterrado pela comunicação social, analistas políticos, comentadores e PR. F. Mendes: Muito bom artigo. Sintético e certeiro. A inépcia das
nossas instituições é assustadora, não havendo quase nada, ou alguém, que se
safe. Alberico
Lopes > F. Mendes: Bom
artigo? Que chama "VÂNDALOS" aos professores? Américo Silva: No meio desta triangulação
tóxica, presidente governo e professores, o mais sensato seria o governo adiar
qualquer iniciativa legislativa até as coisas acalmarem. Informo os leitores que o
assassino de Nottingham é um migrante africano, doente mental e já
referenciado, o mesmo de sempre.
Alberico Lopes > Américo Silva: Lá vem o "avençado" com a sua costumeira
mediocridade! Rui
Pedro Matos: Sr. Alexandre Homem Cristo! E no tempo do Passos Coelho, as invasões às
cerimónias eram uma constante (até no famoso 10 de Junho onde Cavaco Silva
desmaiou) e de que lado esteve o sr. Alexandre? E no coelho enforcado, que lado
tomou? Pois....uma constância a falta de memória em alguns artigos que assina.
Atentamente, Rui Pedro Matos
Juventino Fontes > Rui Pedro Matos:
O Sr. Alexandre Homem Cristo,
tal como o diretor do Observador, Miguel Pinheiro, deve ter feito coisas
graves, nas escolas que frequentaram. Odeiam os professores, sempre que se
pronunciam sobre eles. O que terão feito, para sentir tanto ÓDIO? Um professor
da CGTP(!!!...), criou uns cartazes... Meia dúzia de outros professores,
transportaram os ditos, seguindo o Costa, como muitas pessoas seguiram outros
políticos e, só agora se "atiram" aos professores! Peçam desculpa a
esses profissionais... Rui
Pedro Matos > Juventino Fontes: Claramente! Obrigado sr.
Juventino. Cumprimentos.
Alberico Lopes > Rui Pedro Matos: É sempre bom lembrar a certos
articulistas o passado mais ou menos longínquo destes articulistas! Por favor,
veja o meu comentário mais acima! Rui Pedro Matos > Alberico Lopes: Obrigado sr. Alberico. Vou
olhar. Cumprimentos.
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