De delicadeza, na questão das prioridades
explosivas, já justificadas na fábula do lobo e do cordeirinho, de puro
pretexto justificativo: “Pois se não
foste tu, foi teu pai”, que me parece relevante aqui. Mas os cordeirinhos
honestos também podem perder a tramontana, nunca se sabe, ante a sanha alheia,
senil, se não de mentecapto…
Quem mais ganha com explosão da barragem? Tudo aponta para a Rússia, que rejeita e fala em "sabotagem" de Kiev
Ataque à barragem de Nova Kakhovka
pode fazer com que contra-ofensiva ucraniana estagne, tornando avanços no sul
difíceis. Mas Rússia insiste em culpar Kiev e argumenta com a água que chega à
Crimeia.
JOSÉ CARLOS DUARTE: Texto
OBSERVADOR, 06 jun. 2023, 21:3810
Uma faca de dois gumes. A
inesperada explosão da barragem e da central termo-eléctrica de Nova Kakhovka, situada
na margem oriental rio Dniepre, traz vantagens estratégicas para a Rússia, num
plano meramente teórico. Trava o
ímpeto mediático da alegada contraofensiva, impede a Ucrânia de avançar no sul
do seu território e obriga a uma reformulação dos planos que Kiev tinha para
recuperar os territórios perdidos. Ainda assim, Moscovo não assumiu a
autoria do ataque, lembrando que o ataque à infraestrutura também acaba por
prejudicar as localidades que ocupa no país vizinho, nomeadamente a Crimeia.
E as autoridades russas têm aproveitado exactamente esse argumento para
apontarem o dedo aos ucranianos.
À luz da estratégica militar, a
decisão até pode fazer algum sentido. Contudo, noutros domínios, a explosão
da barragem constitui um acidente que gera consequências muito graves para o
meio ambiente e para as populações locais — a última contabilização dá conta de
que milhares de pessoas já tinham abandonado a região de Kherson, onde se
localiza a infraestrutura. O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chegou mesmo a classificar o sucedido
como um “ecocídio”, um acto ilegal
que origina a destruição total ou parcial dos ecossistemas.
Os
ataques a barragens, uma técnica militar que já foi utilizada outras vezes ao
longo da história, destrói a fauna e a flora das zonas envolventes, assim como
obriga à retirada de pessoas por conta das cheias. Neste caso,
a principal região afetada é Kherson, mas também originará impactos em Zaporíjia, onde está localizada a maior central nuclear
da Europa e que utiliza a água armazenada na infraestrutura de Nova Kakhovka
para arrefecer os reatores. Para já, a Agência Internacional de Energia
Atómica (IAEA, sigla em inglês) está a avaliar os danos, se bem que tenha
destacado que não há “qualquer risco de segurança iminente”.
As
trocas de acusações entre Kiev e Moscovo
A destruição da barragem não foi reivindicada
por nenhum dos lados, com trocas de acusações pelo meio. Na sua conta pessoal do Twitter, Volodymyr
Zelensky culpou os “terroristas russos” pelo sucedido. “Este é um dia da agressão russa. É um acto do
terrorismo russo. Este é apenas um dos crimes de guerra russos. Agora a Rússia
é culpada por um ecocídio brutal. Quaisquer comentários são supérfluos”, atirou o
Chefe de Estado da Ucrânia, que apelou igualmente a uma reacção da comunidade
internacional.
Para além disso, o Presidente ucraniano
lembrou que é Moscovo quem “controla a barragem” — há “mais de um ano”.
“É fisicamente impossível que seja
destruída ao longe. Foi minada pelos ocupantes russos. E eles rebentaram
com ela”,justificou Volodymyr Zelensky, que sublinhou que este
é “o maior desastre ambiental causado pelo Homem em décadas na Europa”
— e reforçou a responsabilidade da Rússia, o “terrorista mais perigoso” no
seio da comunidade internacional.
Por sua vez, o porta-voz do
Kremlin, Dmytro Peskov, declarou
“oficialmente” que Moscovo rejeita “de forma categórica” as acusações da
Ucrânia. “Estamos aqui a falar claramente de uma sabotagem
deliberada pelo lado ucraniano, que foi planeada e levada a cabo seguindo as
ordem de Kiev, do regime de Kiev”, acusou
o responsável da presidência russa, levantando ainda a possibilidade de este
ato “ter a ver com o facto de a operação ofensiva em larga escala lançada pelas
forças armadas ucranianas há dois dias não estar a alcançar os seus objectivos”.
Porém, o discurso russo sobre o que
aconteceu não é completamente linear. Por um lado, à semelhança de Dmytro
Peskov, alguns dirigentes locais ligados à Rússia responsabilizam a Ucrânia
pelo sucedido; por outro, outros dizem que a barragem explodiu por conta dos confrontos
que ocorrem na região e que não ocorreu necessariamente um ataque lançado por
Kiev, como frisa a
Al Jazeera.
De acordo com
as imagens de satélite consultadas pela CNN internacional, a ponte que
atravessa a barragem terá começado a ficar danificada a partir de 1 de junho, o
que pressupõe que pode ter sido um ataque planeado com antecedência. Ora, a
versão oficial — quer da Rússia, quer da Ucrânia — é de que a infraestrutura em
Nova Kakhovka foi destruída após várias explosões.
As autoridades ucranianas explicaram que
os “terroristas russos levaram a cabo uma explosão nas estruturas internas da
central termoelétrica”, enquanto as russas garantiram que existiram “bombardeamentos
massivos” para destruir a infraestrutura. Adicionalmente,
a Rússia acusa a Ucrânia de usar a barragem de Dnipro, controlada por Kiev,
para influenciar os níveis de armazenamento de água da infraestrutura de Nova
Kakhovka, de modo a causar danos ainda mais substanciais.
A barragem de Nova Kakhovka estava com níveis
de armazenamento de água acima do normal. A 4 de maio, o governador pró-russo de
Zaporíjia, Vladimir Rogov, avisou que havia um
excesso de água, que estava a “níveis recordes”. “Está nos 17 metros, que
é 2,5 metros acima da média”, explicou na altura o responsável, lembrando que
isso poderia implicar riscos para as populações.
O que
a Rússia tem a ganhar com a explosão da barragem?
Ao levar a cabo esta ação, a Rússia
consegue travar os avanços das tropas ucranianas no sul do país. Esta é, pelo
menos, a convicção do conselheiro da presidência ucraniana Mykhailo Podolyak. “Os
objectivos são óbvios: criar obstáculos intransponíveis no caminho das forças
armadas ucranianas, interceptar o espaço mediático e retardar o final da
guerra”, escreveu na
sua conta pessoal do Twitter.
Mais tarde, em declarações à CNN, Mykhailo
Podolyak considerou que a Rússia, ao ter alegadamente destruído a
infraestrutura, não “pensa estrategicamente”. Em vez disso, Moscovo avalia
somente as “vantagens situacionais a curto prazo”. Realçando que as consequências são “catastróficas”, o
braço direito do Chefe de Estado ucraniano sugere que esta é uma prova do
“pânico” que as autoridades russas sentem com uma possível ofensiva da Ucrânia.
▲ A barragem
após a explosão VIA REUTERS
Elaborando o raciocínio de Mykhailo
Podolyak, o analista militar Mykola Bieleskov comentou, ao Observador, que existem
“muitas razões pelas quais a Rússia teme o avanço das forças armadas ucranianas
no sul”, incluindo a possível “recuperação
de territórios aráveis e a perda da central nuclear de Zaporíjia”. Para mais, explica o mesmo especialista, existe um
“sério risco” de Kiev poder vir a controlar as vias terrestres para a entrada
na Crimeia.
Mykola Bieleskov ressalva que a
destruição da barragem vai acabar por prejudicar território ocupado pela Rússia
e isso é, a seu ver, uma “estupidez”. Mesmo assim, no entender do analista, pesou mais para Moscovo o objectivo de “dificultar o
cruzamento das tropas ucranianas”.
Em declarações
ao Financial Times, Pavel Luzin, professor universitário na Universidade
de Fletcher na área do Direito e da Diplomacia, apresenta outro argumento: a barragem foi construída com materiais resilientes
que tornam praticamente impossível que seja destruída com recurso a meras
explosões. “Eles tentaram parar os ataques [da Ucrânia] com mais ataques de
mísseis. Não funcionou, então decidiram explodir com a barragem“, expõe o
especialista.
Sobre a resistência da barragem, o
vice-presidente da administração pró-Ucrânia de Kherson, Yurii Sobolevsky,
assegurava, em declarações no mês de outubro ao jornal Ukrainska Pravda, que a infraestrutura foi construída na década de 50, tendo
em consideração possíveis ataques militares no futuro. É, por isso, “muito
difícil destruí-la desde fora”. “Seria provavelmente necessário utilizar armas
nucleares tácticas para o fazer. Mas se houver acesso à barragem, então pode
ser minada desde dentro”, justificou, sublinhando que as armas “utilizadas
pelos militares ucranianos não são suficientes” para criar esse efeito.
Um membro do governo de Kiev que
pertence à Centro de Comunicação Estratégica e Segurança da Informação
ucraniano sinalizou, ao Financial Times, que
outras das razões para Rússia destruir a barragem consiste no seu “desejo em infligir danos máximos à Ucrânia” num
cenário em que os “ocupantes perderam a última esperança de manterem o seu
controlo no sul da Ucrânia”. Por outras palavras: face às dificuldades, Moscovo terá aplicado uma
política de terra queimada.
O que
é que a Ucrânia tinha a ganhar?
Por sua parte, o
Ministério dos Negócios Estrangeiros russo explica que a Ucrânia causaria
danos à população que vive em Kherson, prejudicando as culturas agrícolas da
região. Para além disso, o Kremlin salientou que este ataque à barragem pode levar a que a Crimeia fique sem água potável
num futuro próximo.
Porém, o administrador da Crimeia, Sergei Aksyonov, já
veio desdramatizar, dizendo que não há qualquer ameaça ao armazenamento de água na península, ainda que
não descarte que no futuro possa haver problemas. Para já, assegurou o
responsável, há “mais do que água potável”. “Estão a ser realizados esforços para minimizar as perdas da explosão
da barragem.”
Michael Kofman,
analista militar no think tank do Centro de Análises Navais, também duvida de que esta acção possa beneficiar a
Rússia. “Haverá uma
destruição da primeira linha da defesa russa junto ao rio Dniepre em Kherson”,
argumentou ao Financial Times, garantindo que o
desastre “não vai beneficiar ninguém” e “vai
afectar especialmente o território ocupado pela Rússia”.
A par da questão
da Crimeia, o porta-voz do Kremlin enfatizou que a alegada sabotagem também
estará relacionada com o “facto de a
ofensiva em larga escala” da Ucrânia“ não
estar a obter os resultados esperados”. Seria, assim, uma forma de
Kiev desviar as atenções de uma contraofensiva que começou apenas há dois dias,
tornando o foco mediático na questão da barragem.
Aliás, na óptica
do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, o que aconteceu à barragem foi
um “acto terrorista” dirigido contra a “infraestrutura civil” — e está
enquadrado precisamente na “chamada contraofensiva”. “Foi um acto planeado e deliberado
por parte do regime de Kiev”, acusou a diplomacia de Moscovo.
A história dos ataques às barragens
Nesta guerra são conhecidos os casos em
que as barragens tiveram um papel determinante, como quando Kiev se protegeu da
tomada dos russos, logo em fevereiro de 2022. Mas num passado menos recente, a
Rússia já havia acusado igualmente a Ucrânia de bloquear o transporte de água
para a Crimeia. Em 2014, meses depois da anexação da península, os dirigentes
de Moscovo sublinharam que as intenções dos dirigentes
ucranianos visavam criar impactos no sector agrícola e também
entre a população civil que vivia na península.
Numa
perspectiva mais antiga, e olhando para a II Guerra Mundial, foram dois os
momentos em que os ataques a barragens se revelaram preponderantes para o
desenrolar daquele conflito. Por exemplo, as
tropas russas, aquando da invasão da Alemanha nazi à Ucrânia, destruíram a barragem de
Dniepre, localizada no que é hoje em dia o oblast de Zaporíjia, evitando que os alemães conseguissem
aproveitar-se da eletricidade gerada pela central termoelétrica.
▲As
inundações em Kherson AFP VIA GETTY IMAGES
Ainda na II Guerra Mundial, um ataque
britânico contra as barragens, desta vez no território alemão, ficou para a História. Designada
como operação Chastise, o Reino Unido atacou três infraestruturas vitais no
vale de Ruhr, a zona com maior produção industrial na Alemanha e onde estavam
concentradas as fábricas de armamento. Duas barragens foram destruídas,
enquanto uma terceira ficou parcialmente danificada — e isso causou danos ao
complexo militar nazi.
GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO RÚSSIA
COMENTÁRIOS:
Fernando Martins Do Vale: Uma
das regras básicas da investigação
criminal é VER QUEM BENEFICIA COM O CRIME - O CRIMINOSO TEM UM MOTIVO.A Ucrânia
está a ter sucesso nos casos de batalha, e a Rússia para evitar a humilhação de
mais derrotas, inundou o capo de batalha para dificultar a progressão do exército ucraniano. Este
é o motivo do estado terrorista russo.
Acresce que
Putin segue a escola de Estaline, que na 2ª guerra aplicou esta táctica para
barrar o exército de Hitler, sacrificando muitos soldados russos. Para as
mentalidades marxistas/leninists os fins justificam os meios. Luis Freitas: O desespero da Rússia está à vista de todos, tiveram de
arrebentar uma grande barragem para parar a contra ofensiva do exército Ucraniano
mas este enorme crime de guerra é um grande incentivo para finalmente os países
aliados da Ucrânia fornecerem aviões de combate da última geração e mísseis de
longo alcance para esmagar o exército Russo e destruir a economia da Rússia. Filipe Costa > Luis Freitas: Não vão ser só F-16, há F-18 Hornet a caminho. Quanto ao treino dos
pilotos, acham mesmo que já não estão treinados? Os F-18 Hornet foi dada
formação em Espanha.
Filipe Costa Querem travar o ataque, bem, vão levar com ele por cima. Liberales Semper
Erexitque: É a guerra, não é
um piquenique. Tendo em conta a capacidade destrutiva dos russos, os ucranianos
podem dar-se por felizes por ainda ter um bom naco de terra. Quanto mais
adiarem aquilo que já deveria estar feito, pior vai ser para eles: terão mais
custos, mais perdas e mais agonia, parafraseando Lyndon Johnson. Tum balalaika! Luis Freitas > Liberales
Semper Erexitque: E tu um fervoroso apoiante do ditador nazi-estalinista
do Putin podes dar-te por feliz por em Portugal não ter pessoas similares ao
teu amado Putin senão a esta hora estavas enterrado num cemitério . Liberales
Semper Erexitque > Luis Freitas: Lá
isso, dos brandos costumes dos tugas aos costumes bem selvagens dos ruskus e
dos seus clones de Kiev vai uma distância semelhante àquela que separa Lisboa
de Vladivostok! Ediberto Abreu: Uma coisa é certa, a cobardia
dos dirigentes russos, aponta para que nos caso de a Ucrânia levar de vencida
esta contenda contra estes terroristas, não olharão a meios para numa fuga para
a frente usar meios nucleares. Eles, tal como fizeram com a barragem, não se
preocupam com o que possa acontecer ao seu próprio povo...isto é um acto típico
de cobardes desta índole. António Cézanne: A Rússia pode dizer o que quiser que não lhe adianta
nada, já se entalou toda e já nem conseguem passar para o lado de cá tantas
aldrabices e tão seguidas. Além de se perceber a quilómetros de distância que
só falam para consumo interno, para os cobardolas e para os poucos países que
apoiam a Rússia. Do lado de cá já ninguém sequer perde 1 segundo a tentar
acreditar nas aldrabices ridículas que eles passam dias e anos seguidos a
inventar. Os poucos países que a apoiam podem dar, meio a medo e longe dos
olhares do mundo civilizado, algum crédito àquele chorrilho de aldrabices, mas
quais são esses países? Todos juntos não fazem um país ocidental livre e
civilizado. bento
guerra: É uma enormidade,
que trava a capacidade de movimento de blindados. Visto assim, o suspeito é a
Rússia
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