segunda-feira, 12 de junho de 2023

Um trabalho útil


De revisão de matéria dantes dada.

Estrutura interna d’OS LUSÍADAS

- O plano da Viagem (do Gama a Calecut), iniciado no Canto I (“in media res”- “Já no largo oceano navegavam” - estr. XIX do Canto I) - mas logo interrompido (pelo plano dos deuses do Olimpo – “Consílio dos Deuses”); para ser retomado posteriormente (Cantos I, II, V, VI, VII, VIII).

- O plano da História de Portugal : (de encaixe na pausa de Melinde)História conhecida por Vasco da Gama, que a narra ao Rei de Melinde (Canto III1ª Dinastia, até D. Fernando; Canto IV – 2ª Dinastia, até à partida das naus de Vasco da Gama, finalizando com o episódio do Velho do Restelo; Canto VIII: relato ao Governador de Calecut, por Paulo da Gama, a partir das figuras das bandeiras sobre a formação de Portugal até D. Afonso V). Vaticínios de uma ninfa (da «Ilha dos Amores», já no retorno do Gama à Pátria) sobre a História portuguesa posterior ao Gama, bem conhecida por Camões, tendo vivido no Oriente).  CantoVI:Um episódio cavaleiresco referido por Fernão Veloso:Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço)

- O plano dos Deuses, iniciado com oConsílio dos Deuses do Olimpo(Canto I estrofes. XX - XLI - que interrompe a narrativa da Viagem (XIX)para justificar as várias mistificações do vingativo Baco ao longo desta tomando formas humanas(Canto I, estr. LXXVII): De“Um Mouro em Moçambique conhecido / Velho, sábio e co’o Xeque mui valido”, que instiga este contra asgentes roubadoras” “que com pactos de paz sempre ancoravam(I- LXXVIII); Canto II: “O falso deus – (Baco sob a forma de sacerdote, dizendo missa) – adora o verdadeiro”, assim enganando os dois enviados do Gama a terra, em Mombaça, que, de regresso às naus, a este fornecem notícias positivas (com a imediata resposta no apoio de Vénus e as Nereidas, desviando as naus do Gama de entrarem na barra, e assim afugentando os mouros que as tinham ocupado. No Canto VI, o episódio da tempestade marítima (com o Consílio dos deuses marítimos), manigância de Baco, que Vénus mais uma vez desfaz. Mas é sobretudo na Ilha dos Amores, já de regresso do Gama, que Vénus exerce a sua meritória acção de premiar os feitos dos nautas, em cenas de ligações amorosas entre os nautas e as ninfas (com paralelo nas epopeias clássicas, onde não faltam amores de ordem vária).

De notar, o simbolismo dos consílios – dos deuses do Olimpo (I), uma viagem real dependente do apoio ou da perseguição das divindades, o dos deuses marinhos (VI) significativo da derrota definitiva de Baco e da vitória dos descobridores.

O Plano dos Excursos pessoais: são os discursos de 1ª pessoa, pontos de vista pessoais, que implicam, pois, subjectividade, formando um dos planos estruturais d’ “OS LUSÍADAS, embora por vezes esses discursos sejam pronunciados por outros locutores (Vasco da Gama ao Rei de Melinde, por exemplo), cujas exclamações ou considerandos são resultantes da sensibilidade e ponto de vista de Camões ele-mesmo, ainda que integrados nas falas de outras personagens.

No plano dos Excursos Pessoais podemos, pois, incluir não só todos aqueles excertos em que o sujeito narrativo se identifica com o autor da mensagem (perceptíveis, pois, nos discursos de 1ª pessoa, com os respectivos deícticos denunciadores), mas muitos outros pronunciados sobretudo pelo Gama (ao Rei de Melinde), que dificilmente poderíamos considerar como provenientes de um navegante naturalmente pouco letrado, como, de resto, o próprio Camões (sujeito poético) lhe aponta, no Canto V (estr. 97), sobre a sua falta de conhecimento dos clássicos (contrastando com outros guerreiros da epopeia clássica), cito apenas a estr. XCVII, sobre a defesa – humanista - de conhecimento dos heróis antigos, contra a ignorância dos nautas portugueses:

Enfim não houve forte capitão, / Que não fosse também douto e ciente, / Da Lácia, Grega ou bárbara nação, /Senão da portuguesa tão-somente. / Sem vergonha o não digo, que a razão / D’algum não ser por verso excelente / É não se ver prezado o verso, e rima/ Porque quem não sabe a arte não na estima.”

Alguns excursos pessoais n’Os Lusíadas:

No Canto I, as três primeiras partes da epopeia (discursos de 1ª pessoa): Estrs.1–18, referentes à PROPOSIÇÃO (1-3), INVOCAÇÃO às Tágides (4-5), DEDICATÓRIA (a D. Sebastião), Final: Estrofes CV “Oh grandes e gravíssimos perigos… “e CVI “No mar tanta tormenta e tanto dano…… Contra um bicho da Terra tão pequeno?”

No Canto II: Estr. CXI e CXII (discurso elogioso do Rei de Melinde ao Gama).

Canto III: Estrs, 1 e 2 (Invocação a Calíope). Episódio de Inês de Castro - CIX: “Tu, só tu, puro Amor…  - CXXII: “Quando um gesto suave te sujeita”: CXXIII (“Que furor consentiu…”): CXXXIII (“Bem puderas, ó sol…), CXLII- CXLIII (D. Fernando).

Canto IV: “Velho do Restelo: “Mas ó tu, ó geração…”(XCVIII), CI – CIV – reflexões do Poeta.

Canto V: Crítica à falta de conhecimento dos clássicos dos portugueses. (Já citado)

Canto VI: Final do Canto VI: “Por meio destes hórridos perigos…” (XCV – XCIX); A conquista da fama; pelo esforço próprio.

Canto VII: I: “Ora sus; gente forte… “. Contraste entre os procedimentos corajosos dos portugueses e os europeus dispersos em questões religiosas: XIV:.”Mas em tanto que cegos e sedentos / Andais de vosso sangue, ó gente insana, / Não faltarão cristãos atrevimentos /Nesta pequena casa Lusitana: /De África tem marítimos assentos; /É na Ásia mais que todas soberana; / Na quarta parte nova os campos ara; / E se mais mundo houvera, lá chegara. Formidável crítica contra os compatriotas que ele louvou e o não sabem reconhecer:   LXXVIII: “Um ramo na mão tinha… mas ó cego…

Canto VIII: O poder corruptor do ouro: (XCVII – XCIX): ”Este rende munidas fortalezas, Faz traidores e falsos os amigos…”

Canto IX: LXXXVIII – XCII: A elevação dos “barões” a “deuses”, conceitos sobre a conquista da imortalidade, apelo ao esforço, para a conquista do heroísmo.

Canto X: CXLV -  CLVI: “Nô mais, Musa… queixumes sobre a pátria, discurso final, apelativo, exortação elogiosa a D. Sebastião para a “digna empresa em África”, que ele cantará.

Estrutura externa: 10 Cantos, oitavas em verso decassílabo de esquema abababcc. Total de oitavas: 1102. (…)

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