De revisão de matéria dantes dada.
Estrutura interna d’OS
LUSÍADAS
- O plano da Viagem (do Gama a Calecut), iniciado no Canto I (“in media res”- “Já no largo oceano navegavam” - estr. XIX do Canto I) - mas logo interrompido (pelo plano dos deuses do Olimpo – “Consílio dos Deuses”); para ser retomado posteriormente (Cantos I, II, V, VI, VII, VIII).
- O plano da História de Portugal : (de encaixe na pausa de Melinde) – História conhecida por Vasco da Gama, que a narra ao Rei de
Melinde (Canto III – 1ª Dinastia, até D. Fernando; Canto IV – 2ª Dinastia,
até à partida das naus de Vasco da Gama, finalizando com
o episódio do Velho do Restelo; Canto VIII: relato
ao Governador de Calecut, por Paulo da Gama, a partir das figuras das
bandeiras sobre a formação de Portugal até D. Afonso V). Vaticínios de uma ninfa (da «Ilha dos Amores», já no retorno do Gama à Pátria) sobre a História portuguesa posterior ao
Gama, bem conhecida por Camões, tendo vivido no Oriente). CantoVI:Um episódio cavaleiresco referido
por Fernão Veloso: “Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço)
- O plano dos Deuses, iniciado com o “Consílio dos Deuses do Olimpo” (Canto I estrofes. XX - XLI - que
interrompe a narrativa da Viagem (XIX) – para justificar
as várias mistificações do vingativo Baco ao longo desta tomando formas humanas – (Canto I, estr. LXXVII): De“Um Mouro em Moçambique conhecido / Velho,
sábio e co’o Xeque mui valido”, que instiga este contra as “gentes roubadoras”
“que com pactos de paz
sempre ancoravam” (I- LXXVIII); Canto II: “O falso deus – (Baco sob a forma de sacerdote,
dizendo missa) – adora o verdadeiro”, assim
enganando os dois enviados do Gama a terra, em Mombaça, que, de regresso às
naus, a este fornecem notícias positivas (com a imediata
resposta no apoio de Vénus e as Nereidas,
desviando as naus do Gama de entrarem na barra, e assim afugentando os mouros
que as tinham ocupado. No Canto VI, o
episódio da tempestade marítima (com
o Consílio dos deuses marítimos),
manigância de Baco, que Vénus mais uma vez desfaz. Mas é sobretudo na Ilha dos Amores, já de regresso do Gama,
que Vénus exerce a sua meritória acção de
premiar os feitos dos nautas, em cenas de ligações amorosas entre os nautas e
as ninfas (com paralelo nas epopeias clássicas, onde não faltam amores de ordem
vária).
De notar, o simbolismo
dos consílios – dos deuses do Olimpo
(I), uma viagem real
dependente do apoio ou da perseguição das divindades, o dos deuses marinhos (VI)
significativo da derrota definitiva de Baco e da vitória dos descobridores.
O Plano dos Excursos pessoais: são os
discursos de 1ª pessoa, pontos de vista pessoais, que implicam, pois,
subjectividade, formando um dos planos estruturais d’ “OS LUSÍADAS, embora por
vezes esses discursos sejam pronunciados por outros locutores (Vasco da Gama ao Rei de Melinde, por
exemplo), cujas exclamações ou considerandos são resultantes da sensibilidade e
ponto de vista de Camões ele-mesmo, ainda que integrados nas falas de outras
personagens.
No plano dos Excursos
Pessoais podemos, pois, incluir não só todos aqueles
excertos em que o sujeito narrativo se identifica com o autor da mensagem
(perceptíveis, pois, nos discursos de 1ª pessoa, com os respectivos deícticos
denunciadores), mas muitos outros pronunciados sobretudo pelo Gama (ao Rei
de Melinde), que dificilmente poderíamos considerar como
provenientes de um navegante naturalmente pouco letrado, como, de resto, o
próprio Camões (sujeito poético) lhe aponta, no Canto V (estr. 97), sobre a sua
falta de conhecimento dos clássicos (contrastando com outros guerreiros da
epopeia clássica), cito apenas a estr. XCVII, sobre a defesa – humanista - de conhecimento dos
heróis antigos, contra a ignorância dos nautas portugueses:
“Enfim não houve forte capitão, /
Que não fosse também douto e ciente, / Da Lácia, Grega ou bárbara nação, /Senão
da portuguesa tão-somente. / Sem vergonha o não digo, que a razão / D’algum não
ser por verso excelente / É não se ver prezado o verso, e rima/ Porque quem não sabe a arte não na estima.”
Alguns
excursos pessoais n’Os Lusíadas:
No Canto I, as três primeiras partes
da epopeia (discursos de 1ª pessoa): Estrs.1–18,
referentes à PROPOSIÇÃO (1-3), INVOCAÇÃO às Tágides (4-5), DEDICATÓRIA (a D.
Sebastião), Final: Estrofes CV “Oh
grandes e gravíssimos perigos… “e CVI “No
mar tanta tormenta e tanto dano…… Contra um bicho da Terra tão pequeno?”
No Canto II: Estr. CXI e CXII (discurso
elogioso do Rei de Melinde ao Gama).
Canto III: Estrs, 1 e
2 (Invocação a Calíope). Episódio de Inês de Castro - CIX: “Tu,
só tu, puro Amor… - CXXII: “Quando um
gesto suave te sujeita”: CXXIII (“Que furor consentiu…”): CXXXIII (“Bem
puderas, ó sol…), CXLII- CXLIII (D. Fernando).
Canto IV: “Velho do
Restelo: “Mas ó tu, ó geração…”(XCVIII), CI – CIV – reflexões do Poeta.
Canto V: Crítica à
falta de conhecimento dos clássicos dos portugueses. (Já citado)
Canto VI: Final do
Canto VI: “Por meio destes hórridos
perigos…” (XCV – XCIX); A conquista da fama; pelo esforço próprio.
Canto VII: I: “Ora sus; gente forte… “. Contraste entre
os procedimentos corajosos dos portugueses e os europeus dispersos em questões
religiosas: XIV:.”Mas em tanto que
cegos e sedentos / Andais de vosso sangue, ó gente insana, / Não faltarão
cristãos atrevimentos /Nesta pequena casa Lusitana: /De África tem marítimos
assentos; /É na Ásia mais que todas soberana; / Na quarta parte nova os campos
ara; / E se mais mundo houvera, lá chegara. Formidável crítica contra os
compatriotas que ele louvou e o não sabem reconhecer: LXXVIII: “Um ramo na mão tinha… mas ó cego…
Canto VIII: O poder corruptor do ouro: (XCVII – XCIX): ”Este rende munidas
fortalezas, Faz traidores e falsos os amigos…”
Canto IX: LXXXVIII – XCII: A elevação
dos “barões” a “deuses”, conceitos sobre a conquista da imortalidade, apelo ao
esforço, para a conquista do heroísmo.
Canto X: CXLV
- CLVI: “Nô mais, Musa… queixumes sobre a pátria, discurso final, apelativo,
exortação elogiosa a D. Sebastião para a “digna
empresa em África”, que ele cantará.
Estrutura externa: 10 Cantos,
oitavas em verso decassílabo de esquema abababcc. Total de oitavas: 1102. (…)
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