sábado, 3 de junho de 2023

Indignação


Naturalmente bem sentida, de Alberto Gonçalves, que infelizmente não dá para rir, mas para meditar sobre as armadilhas do progresso… com o respectivo retrocesso ético comportamental, que aquele favorece.

E se os Extintores de Pneus entrassem em extinção?

Uma coisa são as homilias do eng. Guterres, que ninguém ouve ou respeita. Coisa distinta é ter um acólito da criatura a sabotar-nos o automóvel à porta de casa.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 03 jun. 2023, 00:202

Chamam-se The Tyre Extinguishers, mas podemos e devemos chamar-lhes outros nomes. São sujeitos que esvaziam pneus de carros que acham poluentes, por regra os SUV. Começaram em 2021, nos EUA e na Europa, e já andam por cá, ao que parece sobretudo em Lisboa. Depois de realizado o serviço, deixam uma cartinha no pára-brisas: “Esvaziámos um ou mais dos teus pneus. Vais sentir raiva, mas não leves isto pessoalmente. Não és tu. É o teu carro.” O sermão prolonga-se pela página inteira, com referências elogiosas à ONU [!] e pesarosas aos “milhões de pessoas” que “estão a morrer por causas relacionadas com a crise climática”. Para o fim, justificam-se: “Por isso fizémos [sic] esta ação. Não terás dificuldade em mover-te sem o tem [sic] sugador de gasolina, seja a pé, de bicicleta ou de transportes públicos.” É notório que o empenho no “activismo” prejudica o processo de alfabetização.

Não é novidade que a ignorância se dá bem com a presunção. E a presunção destes mocinhos é ilimitada. Eles, e só eles, conhecem os problemas do mundo. Eles, e só eles, sentem-se habilitados a resolvê-los e a orientar o resto da humanidade, necessariamente herege, pelo caminho da Virtude. São transtornados, fanáticos religiosos em parte similares aos que tocavam o sino nas esquinas, a anunciar o fim dos tempos. A diferença é a diferença entre a loucura individual e a colectiva (a “folie à deux”, e a 30, e a 450, é uma condição psiquiátrica real). Aos poucos, tais profetas descobriram que vandalizar obras de arte não tinha reflexos imediatos nas emissões de gases e mudaram-se de Van Gogh e Monet para a Michelin e a Pirelli. Um dia, talvez descubram que estimular o comércio de pneus também não favorece o ambiente. Entretanto, convinha que descobrissem outras coisas.

É que, como os The Tyre Extinguishers recorrem à válvula e formalmente não destroem nada, a polícia promete não fazer nada. Pelos vistos, perturbar a vida alheia, forçar infelizes a pagar um reboque e, com jeitinho, provocar acidentes não constitui crime ou sequer infracção: a PSP avisa que qualquer queixa é escusada. Não admira que o gangue tenda a evitar a China ou a Arábia, onde a proeza os habilitaria a martírios maiores. Aqui deslocam-se sem constrangimentos de SUV para SUV, a exercer um trabalho que, à semelhança de quase todos os trabalhos dignos, se realiza de cócoras. Era importante complicar-lhes a vida.

Na ausência das autoridades, seria útil que os cidadãos imitassem os beatos do clima e, cito a carta no pára-brisas, tomassem “a responsabilidade de agir pelas próprias mãos” – para proteger a sua propriedade e, de passagem, para salvar a Terra da proliferação de doidos varridos. Aguardo com expectativa e espumante no frigorífico o dia em que a vizinhança de um bairro “de classe média”, o “alvo” explícito dos tarados, intercepte um tarado a fazer aos pneus aquilo que a desdita ou Deus Nosso Senhor fizera ao interior da caixa craniana dele. A partir daí, as hipóteses são abundantes, desde os vetustos alcatrão & penas até à prosaica sessão de porrada. Se se optar por retribuir o critério de formalmente não estragar nada, é importante concentrar os sopapos na cabeça do “activista”. É igualmente indispensável que alguém filme o espectáculo e o partilhe no YouTube, para efeitos dissuasores e serões de galhofa. De sobremesa, cola-se uma carta na testa do delinquente, que este, caso saiba, poderá ler quando despertar no hospital ou no meio da rua.

A título de mera sugestão, eis um possível modelo do texto, susceptível de alterações a gosto: “Apanhamos-te a esvaziar um ou mais dos meus pneus. Vais sentir dores no corpo, mas leva isto pessoalmente. Não é o teu corpo. És tu. Fizemos isto porque abusar de bens que não te pertencem tem imensas consequências, incluindo as que acabas de experimentar. A histeria ecológica tem prejudicado milhões de inocentes num planeta em que as mortes causadas pelo clima diminuíram 98% nos últimos cem anos. A necessidade de garantir um futuro para a humanidade, e um futuro que não se confunda com o regresso ao Paleolítico Superior, implica impedir que chalados impunes tomem conta disto. De resto, uma coisa são as homilias do eng. Guterres, que ninguém ouve ou respeita. Coisa distinta é ter um acólito da criatura a sabotar-nos o automóvel à porta de casa. Por isso te aplicámos um arraial de pancada. Mal te concedam alta, não terás dificuldade em mover-te com muletas, privadas ou cedidas pelo glorioso SNS. Se, ainda assim, insistires em brincar com câmaras de ar, compra uma e usa-a para boiar num charco, de modo a não poluíres o oceano. Felicidades! P.S.: os teus pertences ficaram no chão porque não te quisemos ofender enfiando-os num saco plástico.”

ACTIVISMO   SOCIEDADE   ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS   CLIMA   AMBIENTE   CIÊNCIA   NAÇÕES UNIDAS   MUNDO   PROTESTOS

COMENTÁRIOS:


Vitor Batista: Eheheheh! Rir a bom rir, e o parágrafo dedicado às criaturSérgio: Muito bom. Realmente só ridicularizando....                   Nuno Borges: Guterres devia responder por terrorismo. Ele é o autor moral destes actos de vandalismo.               Eduardo Couteiro: Percebo perfeitamente o que quer dizer mas as suas palavras são tóxicas. Cumprimentos                 António Cézanne: Muito bom mesmo! É certinho que é isto que vai acontecer. Prevejo que muitos destes activistas ridículos vão ficar ligados às máquinas nos hospitais durante vários dias, caso sejam apanhados no acto. Tenho vários amigos com SUV’s e conheço-os bem. Metam-se com eles, metam, mas depois não se queixem. Conheço bem a forma deles “actuarem”, com um estalo metem o “activista” no passeio, a seguir só acorda no hospital, ligado à máquina.                  José Vaz: Eheh e é sempre um prazer ler Alberto Gonçalves poucos cronistas dominam o sarcasmo inteligente e uma óptima escrita como ele, temos neste jornal também a Helena que é soberba, por cronistas destes é que renovo a minha assinatura              Radykal Chic > José Vaz: Apoiado!                 Cipião Numantino: E se? Pois, isso mesmo! E se todos os comentadores que antes de mim comentaram acertaram mesmo ao lado? Calma pessoal, que não estou a propor nenhuma charada! Trocando por miúdos, por que é que ninguém aflorou, digamos, o alfa e o ómega do problema? E ninguém se apercebeu, também, que parece haver mesmo "gato escondido com o r a bo de fora"? Não vos faz espécie que se queiram atingir SUV´s que, como os rebaldeiros climáticos afirmam, costumam ser pertença justamente da classe média? E será mesmo que um Qashqai gasta mesmo mais do que um  um Mercedes ou BMW de mais de 200 CV? Nãa! Essa história está mal contada! E terá muito pouco a ver com o consumo do "pitrol" e muito mais com o outro pitrol que faz mover esta gentinha, ou seja, o sacrossanto e omnipresente sentimento esquerdoso que se chama INVEJA! Quanto às deletérias lutas pelo clima estamos conversados. E o seguidismo diletante em relação ao songa-monga que preside à ONU, idem aspas. O Gugu da ONU, a espécie de padreco que abandonou por cá o pântano para desaguar precisamente noutro tipo de pantanal, é um especialista em alarmismos e se não tivesse ficado já rico com os lautosos proventos da ONU, ainda desaguaria tipo agente de Gretas e afins. Aliás, já antes outros alarmistas do calibre dele, vieram colocar o mundo num perfeito desassossego. Entre outros, o derrotado político Al Gore, previa que Nova Iorque ficaria submerso em 2013 e a Florida seria totalmente tragada pelo mar em 2015. Por sua vez, mesmo por cá os nossos patuscos Testemunhas de Jeová já aventaram tantas datas para o fim do mundo que, pasme-se, algum dia ainda vão acabar por acertar. Não merecem atenção as alterações climáticas? Não chegaria a tanto, mas acredito piamente que as vozes são definitivamente mais que as nozesQuanto à manjericada baderneira, vão perpassando sustentadamente por modas. Atirar coisas contra pinturas famosas foi uma delas e colar-se a mesas ou corrimãos, outra. Como desde sempre se disse,a ociosidade, é a mãe de todos os vícios. E o problema deles é decisivamente nada terem que fazer. Os pais e mesmo avós sustentam-lhes todos os vícios e, no resto, a inveja e a presunção fazem o resto. Por mim, a exemplo, do que quase todos os comentadores acentuam, acabarão por encontrar gente atrevida que ao pontapé ou bastonada lhes faça lembrar que a inveja larvar e atrevida é melhor ser guardada no recato das suas minúsculas mentes. No resto, tal como os carros que seviciam, muitos deles terão de pegar de empurrão. Mas isso, acredito, que fará parte até dos seus peculiares e extravagantes gostos. Mas poorra pessoal, um taco de basebol enfiado pelo fiofó acima, deve doer como o caraças! Estão mesmo a pedi-las, digo eu!...               Alexandre Barreira > Cipião Numantino: Pois. Ah grande Cipião. Essa do "Gugu da ONU" Está divinal. E tirando o ar dos "pneus". Passa a ser "Fiat UNO"....!             pedro dragone > Cipião Numantino: Quem comete estas vandaleiras com a complacência das autoridades, tem de levar no  *cinho independentemente da razão pela qual o faça! É verdade que a maioria o faz por inveja. Mas isso não é novidade para quem tenha a noção que todo o esquerdismo é alimentado a inveja! Quando e se um dia chegarem a ricos, muitos tornam-se direitistas dos sete costados, não vão os invejosos esquerdistas roubar-lhe o conforto................................................................................................................................................................................................Vitor Batista: Eheheheh! Rir a bom rir, e o parágrafo dedicado às criaturas está demais! confesso que já o imprimi recortei, justamente para colar na testa do primeiro que for vítima....da moka de Rio Maior         Meio Vazio: Hilariante. Not_Valid_Username: „Aqui deslocam-se sem constrangimentos de SUV para SUV, a exercer um trabalho que, à semelhança de quase todos os trabalhos dignos, se realiza de cócoras“ . Lindo, eheheh           J Santos: Soberbo!                F. Mendes: É por artigos desta qualidade e humor excelente, que assino este Jornal. Ri-me com gosto, até porque não tenho SUV; e porque espero que não façam isto a carros não eléctricos (aí estaria bem tramado). Concordo com tudo o que aqui foi escrito, excepto nisto: não estou a ver estes activistas do esvaziamento, a terem a sorte de receber um par de muletas do nosso SNS, depois da saída (ou fuga, se pudessem) de um qualquer hospital público, nosso, social, modelar, dos melhores do mundo e arredores. Isto por várias razões: a) provavelmente, o amachucado não arranjaria ambulância para o transportar; b) se arranjasse, teria que percorrer vários hospitais para, com sorte, encontrar uma urgência aberta; c) numa das inevitáveis paragens impostas por um SNS a funcionar em "rede", provavelmente esvaziavam os pneus à ambulância, que polui à fartazana; d) onde é que, num tal hospital, se encontravam muletas, quando se não mudam roupas de cama, a alimentação é horrenda, os equipamentos frequentemente não funcionam, os consumíveis de base escasseiam, etc.? Não frequento hospitais públicos (ufa), mas é este o testemunho que recebo de quem por lá trabalha. Nem a propaganda socialista consegue esconder isto.




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