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20:49 (há 2 horas) |
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O Carlos Calixto é professor e penso que
dirigente sindical. Não é desconhecido, embora eu não o conhecesse. Escreve
para o público on-line, me parece.
Beijinhos.»
Só lamento que tão justo desânimo – e indignação, é claro – expressos nesta extraordinária e justa diatribe tenham ficado desalinhados à direita. Ela merece bem ser encaixilhada e difundida no país inteiro.
PS: Relendo o texto no sítio certo, verifico que, afinal , o texto de Carlos Calixto ficou alinhado em ambos os lados.
«O PULSAR DOCENTE (Carlos Calixto)
Carta de Direitos/Tempos de Conquista»
O
pensar e o sentir dos educadores e professores portugueses é de mágoa, revolta,
reivindicação
e conquista de direitos perdidos do ECD (Estatuto da Carreira Docente) e
tempo
de serviço que trabalhamos e descontamos para a Caixa Geral de
Aposentações/Segurança
Social, congelado e “roubado” para progressão pelo ME
(Ministério
da Educação). O consulado dos governos Sócrates e seguintes humilharam e
vilipendiaram
a classe docente com danos “terroristas” irreparáveis à imagem e autoridade
dos
professores. Dizemos
não à degradação e contínua destruição da carreira docente
defraudada.
O ME está em estado de negação. O sentimento de traição da tutela lateja
desde
2005, desde Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues (“Não era grave perder os
professores”),
passando pelo Passismo/Cratismo (“Havia professores a mais”). Tiago
Brandão
Rodrigues foi uma nulidade para esquecer. João costa tem a oportunidade de, em
parceria
com os professores, fazermos história. Durante a Covid-19, o desempenho dos
professores
foi de adaptação, resiliência e excelência. Até ao presente, o autismo, a
arrogância,
o autoritarismo e a prepotência, levaram à perda de confiança política e
conduziu
à rutura ME/Professorado. Haja memória e gratidão. Obrigado professores. Bem
hajam.
Carlos Calixto
«Respeito! Premeditadamente,
este artigo de opinião é politicamente incorreto, é incómodo
porque diz verdades que denunciam mentiras e maldades tutelares.
Queremos abanar
consciências. Exigimos reconhecimento, ser valorizados e pagos de
acordo com as
responsabilidades que desempenhamos na formação da pessoa humana dos
alunos. Muito
mais que cansados e merecedores, estamos exaustos e fartos de ser
tratados como
“espúrios bastardos”; temos direitos e o direito legal ao que é
nosso. O Estatuto da Carreira
Docente tem sofrido alterações
aberrantes que o desvirtuam, desfiguram e tornam uma
caricatura do que já foi em
tempos. Do tempo em que comecei a trabalhar e era feliz como
professor. In illo tempore. Os
governos não têm cumprido o “contrato”. Tenho
mais de 30
anos de docência e não vou
chegar ao topo da carreira, (apesar de me ter saído a lotaria
com o único Excelente a que a
minha escola tinha direito), assim como uma grande maioria
dos colegas. O ME não se tem
comportado como pessoa de bem e de boa fé. Temos
trabalhado com regras de jogo
sujo, viciadas, que mudam sempre para pior, consoante dá
jeito aos governos. Ao
longo da longa carreira vamos ser “roubados” no tempo de serviço,
nas progressões, na carreira, nos ordenados e na pensão de reforma.
Empobrecimento
garantido. Contrapartidas nada. É obrigatório e de justiça haver
formas de compensação.
Perante os últimos escândalos, é gritante a desconsideração, (vide casos
TAP, 2
indemnizações milionárias, remodelações governamentais, alegados
casos de corrupção que
se multiplicam, o partidarismo, o amiguismo, o nepotismo e o
caciquismo), paulatinamente
assistimos a um gradual ambiente de degradação política e a um lento
“apodrecimento do
regime democrático”. Adensa-se a destruição da escola pública. O calvário dos professores
não tem fim por causa da
burocracia insane do “sucesso virtual”, medidas ad hoc e números
martelados para a estatística,
rácios e indicadores de um sucesso educativo “de faz de
conta”, enganador para pais e
alunos. Os professores sentem-se mal por obrigados,
participarem nesta “farsa”. Haja coragem política e acabe-se por
Decreto com a avaliação
sumativa/exames e passe a haver apenas avaliação formativa. Saia o
Decreto. Façamos a
assumpção de que há alunos que pura e simplesmente não querem nem
tão pouco estão
para aí virados, estudar. Deixe o professor de ser o bode expiatório
do sistema. Os
professores estão em
sofrimento. Os pais tenham mão nos filhos. A tutela articule com a
docência e não contra a
docência. Diretores e Inspeção idem aspas. É urgente e imperativo
mimar os professores. Castigar
os professores com burocracia (sonegando tempo precioso
de preparação de aulas), actas
Golias com mais de 40 páginas, grelhas, relatórios, testes,
perfis e assinalamentos,
apoios, planos de aulas de substituição, planos de recuperação,
medidas de inclusão:
universais, selectivas e adicionais, definidas e implementadas com base
nas evidências, em função das
necessidades educativas dos alunos, rumo ao sucesso
educativo garantido. Mais o
trabalho com a psicóloga. Mais o trabalho com a equipa da
CPCJ. Mais trabalhos. Mais
planificações e reuniões. E os professores dizem que a escola vai
de mal a pior e que os alunos
pouco aprendem. Que saudades de dar aulas. O problema
é
bem mais fundo do que a informação
veiculada pela comunicação social. A
classe há vários anos que é desconsiderada pelo poder político, subinvestimento
e desinvestimento na
escola pública e no
professorado. Passar, ter aproveitamento, dá menos despesa ao erário
público que reter, reprovar.
O preço a pagar no futuro vai ser muito superior, sendo que a
escola não pode pactuar com a formação de “analfabetos funcionais”.
Donde, estudar, o
estudo não se compadece com “educar para a felicidade”, (escola de
Paulo Freire),
facilidades, facilitismos e motivação avulsa de kahoots e quizzes. Testes
de exames do IAVE,
de cruzinha/escolha múltipla, (mais intuitivos o tanas). Apetecia-me
escrever português
vernáculo, não posso, mas posso dizer que há alunos que já não sabem
escrever à mão,
articular as ideias estruturadas num texto, perde-se a escrita
cursiva, a motricidade fina, o
raciocínio crítico, análise, síntese, argumentação, contraditório.
Ganha-se dedos bem
treinados e olhos muito bem castigados pelo excesso de luz azul.
Criticar o “debitar matéria”
e conhecimento dos professores mais experientes e conservadores e
menos modernaços é
ver a Educação de “patas para o ar”. Estudar é saber, trabalho e
exigência. O acto
pedagógico de ensinar e educar consiste na partilha do saber
professor-aluno. Nem as
ferramentas telemáticas/digitais são o “Santo Graal” milagreiro, nem
o papel é pecado no
processo de ensino-aprendizagem. O ponto de equilíbrio q.b. de todas
as ferramentas
pedagógico-didácticas, (sem os fundamentalismos alcoolizantes de
certas mentes), são a
solução/método do critério consciente da abordagem professoral per
si do sucesso
educativo, na relação humana íntima e única professor-educando, no
caminho da
construção da pessoa humana do aluno. O caminho faz-se caminhando
lado a lado na
gradual autonomia, emancipação e responsabilidade pelo outro. “As raízes da Educação são
amargas, mas o fruto é doce”.
Aristóteles “Sucesso não é sobre o
resultado final, é sobre o
que você aprende no caminho”.
Vera Wang “Feliz aquele que
transfere o que sabe e
aprende o que ensina”. Cora
Coralina “É no problema da Educação
que assenta o grande
segredo do aperfeiçoamento da
humanidade”. Immanuel Kant “Eles
ensinaram-me mal, mas
eu lixei-os, que aprendi bem”.
M.F. Patrício Num universo
paralelo, num mundo invertido,
radical e moderno, com o
argumentum ad nauseam do ultra/mega sucesso educativo (…) e
por que não o Reiki, meditação
reikiana, transferência de energia, alinhar chakras, promover
o equilíbrio energético e manter
o bem-estar físico e mental em harmonia. Talvez assim
ajudasse a melhorar/resolver o
processo/resultados de ensinoaprendizagem. O “chato da
coisa” é que estudar dá trabalho (…) e o professor in extremis lá
consegue o desiderato.
Extenuante! Os professores andam muito infelizes. Perdeu-se a
atractividade da docência e
se pudéssemos muitos de nós fugíamos da profissão. A escola hoje é angustiante, surreal e
disruptiva. É ridículo e afronta o comentário da Ex.
ministra da Educação, Maria de Lurdes
Rodrigues, que há tempos
mostrou surpresa e não compreender como se chegou aqui,
sobre a falta de professores. Dois
comentários: Falhou e
estava errada quando afirmou que
“não era grave perder os
professores desde que ganhasse os pais e a opinião pública”. Haja
vergonha na cara. Também é erro político, o facto do Governo de
Passos Coelho e o ministro
da Educação Nuno Crato terem feito alterações legislativas e tomado
medidas de redução da
carga horária disciplinar, facto que em 2013 levou ao desemprego de
cerca de 30000
professores, sendo que muitos deles não voltaram, alegando que
“havia professores a mais”
e ter apelado à emigração dos jovens. É única a autoridade, identidade, unicidade,
singularidade e condição dos
professores na organização escola. O professor É! É lamentável
e miserável a posição da
Confap, (Confederação Nacional das Associações de Pais), ao pedir
serviços mínimos ao ME,
condicionando a luta e reivindicações dos professores e o legítimo
direito à greve. Não percebeu
a importância de um corpo docente estabilizado e focado. A
felicidade docente leva a melhor desempenho, melhores aprendizagens
e melhores
resultados escolares. Do imperativo de um novo paradigma na relação
ME/professores/sindicatos. Da importância da sobrevivência da escola
pública 4 e do apoio
da comunidade educativa, pais e alunos, da sociedade civil. Somos
pela proposição,
negociação, concertação social e pela greve quando para lá do
limite. Governo, ME e
Ministério das Finanças têm de dar respostas cabais aos problemas
reais da classe docente,
(um dos maiores grupos sócio-profissionais de Portugal e da Função
Pública, senão mesmo o
maior, e sendo uma carreira especial). Estamos muito para além do
limite (mas em tempo
negocial e com tudo em aberto). Este é mesmo o momento da verdade.
Xeque-mate!
Simbolicamente, invocando a “Alegoria
da Caverna” de Platão, as imagens projectadas na
parede, as sombras, são uma
ilusão de óptica. O verdadeiro “monstro” está escondido a
projectar, manipular, manietar,
iludir com subtilezas, mentir, dividir e reinar.
Decididamente, os “monstros” não são os professores. Somos as
vítimas. De facto, assim é.
Temos direito a uma carreira que garanta a dignidade da condição
docente. Temos direito à
estabilidade na profissão. Temos direito à progressão na carreira e
ao fim das quotas/vagas
na avaliação. Temos direito a um regime de mobilidade por doença
humanista e sem baixas
médicas “vigiadas”. Temos direito a um regime especial de
aposentação docente com 36
anos de serviço (sendo reconhecida a especificidade e desgaste da
profissão docente).
Temos direito à pré-reforma docente em termos a negociar num novo
ECD. Temos direito a
um horário respeitador da intelectualidade docente, sem
ultrapassagem dos limites do
tempo de trabalho. Temos direito a um aumento da redução do horário
lectivo por idade e
tempo de serviço, na componente individual de trabalho (dada a
complexidade e exigência,
doenças profissionais, síndrome de burnout, trabalho caseiro, etc.
da escola hoje). Temos
direito à eliminação dos constrangimentos burocrático-administrativos
asfixiantes. Temos
direito a uma actualização/aumento salarial que anule a inflacção e
reponha o poder de
compra há muito perdido. Temos direito a turmas e programas mais
reduzidos e
respeitadores dos ritmos de aprendizagem dos alunos. Temos direito a
inverter o ciclo de
degradação das condições de trabalho docente. Temos direito a ter
uma compensação por
despesas varius educatio. Temos direito a ter os mesmos direitos e
condições de trabalho
que as regiões autónomas. (Nos Açores houve uma redução/equiparação
dos horários da
Educação pré-escolar e do 1º ciclo aos horários do 2º e 3º ciclos do
ensino básico e do
ensino secundário, passando de 25 para 22 horas lectivas semanais).
A República é a mesma.
O argumento estafado da “autonomia” não colhe. Não podemos ter um
país com três
realidades diferentes (Continente, Açores e Madeira) para o mesmo
grupo sócioprofissional.
Para uns tudo. Para os outros nada. Não é sério, não é justo, não é
negociável e cria
acrimónia. Os professores estão muito zangados com o Ministério da
Educação, António
Costa e o Governo. Temos direito à indignação (Mário Soares) e a
dizer não à discriminação
e à “escravatura” docente. Temos o direito professoral de ser
determinantes numa escola
pública de massas, democrática e de qualidade. Temos o direito da
palavra e da razão que
não pode ser contida nem calada. A luta faz-se com todos e de todas
as formas, com a força
e determinação dos professores nas reivindicações, nas greves, nas negociações,
nos
acordos. A luta é agora. Dizemos presente. Temos o direito a Ser
Professores!
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