«O coração tem
razões que a razão desconhece». O comportamento extraordinário do herói Zelensky mereceu certamente os argumentos de
apoio à adesão da Ucrânia na NATO
Ucrânia na NATO: Quatro argumentos a favor da adesão
Segura no seio da NATO, seria mais fácil para Kiev
negociar concessões territoriais à Rússia. Outro aspecto é que a adesão à NATO
poderia significar um maior controle sobre as ações ucranianas.
01 jun. 2023, 00:183
MADALENA MEYER
RESENDE Departamento de Estudos Políticos. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas –
NOVA FCSH
OBSERVADOR, 01
jun. 2023, 00:183
Enquanto
se debatem os termos da paz, o Presidente Biden e outros líderes da Organização
do Tratado do Atlântico Norte preparam a Cimeira de Vilnius, na Lituânia, em
Julho, onde a adesão da Ucrânia será o principal ponto de negociação. Zelensky
participará na cimeira, onde se espera que a aliança crie um novo órgão, o
Conselho da NATO para a Ucrânia.
O consenso acerca da adesão é ainda
inexistente. O que se debate neste momento é a criação de uma série de
garantias de segurança asseguradas pelos Estados Unidos, o Reino Unido a França
e a Alemanha. Estas são providenciadas bilateralmente, mas enquadradas na
Aliança Atlântica.
Henry Kissinger, em
entrevista ao Wall Street
Journal na semana passada, a propósito do seu 100º
aniversário, tomou uma posição clara, afirmando o seu apoio à entrada da
Ucrânia na NATO. “Estou na posição
irónica de ter estado sozinho quando me opus à adesão (em 2008) e de estar
quase sozinho quando defendo a adesão à NATO (hoje).” Kissinger não
elaborou excessivamente sobre as razões do seu apoio à entrada da Ucrânia na
NATO, mas foi claro que considera que apenas esta garantia de segurança é
suficiente.
A primeira razão para se concordar com
Kissinger é óbvia: Todos os outros
métodos de caucionar a segurança da Ucrânia, que incluíam a garantia das
fronteiras do novo estado europeu pelas potências nucleares, não resultaram. A
defesa das fronteiras da Ucrânia foi assegurada no Memorando de Budapeste sobre
Garantias de Segurança (1994), originalmente assinado por três potências
nucleares: a Federação Russa, o Reino Unido e os Estados Unidos. A China e a França deram garantias
individuais em documentos separados mais tarde. O Memorando de Budapeste pode ser visto como o Rolls Royce das
garantias de segurança, semelhante ao agora proposto pelos aliados à Ucrânia. Contudo, este não impediu a invasão
russa nem 2014, nem tão pouco em 2022. A adesão à NATO parece, por isso, o único cenário em que Kiev pode
considerar a sua fronteira internacionalmente assegurada.
O
segundo argumento
para apoiar a adesão da Ucrânia à NATO prende-se com a melhoria das condições
em que a Ucrânia se encontraria no contexto das possíveis negociações de paz. Segura no
seio da NATO, seria mais fácil para o governo em Kiev negociar concessões
territoriais à Rússia, incluindo, eventualmente, a Crimeia. Outro aspeto deste
argumento é que a adesão à NATO poderia significar um maior controle sobre as acções
ucranianas. No seio da aliança seria mais fácil influenciar a Ucrânia e o seu
comportamento face à Rússia. Este argumento implica a abertura de uma excepção.
Mas dadas as circunstâncias – já é factual
que as fronteiras de segurança europeia serão as de Kiev – não seria
descabido enquadrar a Ucrânia de forma excepcional.
Em terceiro lugar, há um argumento histórico que importa mobilizar. Desde
o grande alargamento da União Europeia, em 2004, que todos os novos membros se
tornaram primeiro membros da NATO. A lógica de que a entrada numa União que
partilha os seus recursos económicos entre os membros pressupõe uma garantia de
segurança de primeira água é clara. Para a Ucrânia, aplica-se a mesma lógica,
aumentada pela evidência de que está rodeada de vizinhos perigosos.
Por fim, a adesão da Ucrânia à NATO
seria, sem dúvida, uma excelente lição para a Rússia. Foi
para a impedir que Vladimir Putin invadiu a Ucrânia. A ironia
de que o resultado da sua acção seja o exacto oposto da sua intenção parece uma
excelente forma de dissuadir Moscovo no futuro.
NATO MUNDO UCRÂNIA EUROPA CAFÉ EUROPA UNIÃO EUROPEIA
COMENTÁRIOS:
Eduardo L: Repito aqui um comentário que fiz recentemente:
Esta guerra não tem fim à vista. Há duas 'quadraturas
de círculos' completamente impossíveis: - território: os ucranianos nunca vão abdicar de
recuperar o território (oblasts) ocupado pelos russos e estes nunca vão aceitar
abandoná-lo - segurança:
para os russos (desde há muito) ter a NATO na Ucrânia é uma 'ameaça
existencial' e assim inaceitável (neste ponto a única coisa que conta é o que
os russos pensam, as nossas opiniões são interessantes mas não contam); os
ucranianos, por seu lado, precisam de garantir a sua própria segurança como país
e, para isso, só existe a NATO (concordo neste ponto com a colunista).
Assim sendo, negociações são impossíveis. Ou se decide 'congelar' o conflito 'a
la' Coreia ou se perpetua o mesmo indefinidamente (ex. os americanos levaram 20
anos a sair do Afeganistão). A tentativa do Ocidente de empurrar a Rússia
para trás ou de incluir a Ucrânia na NATO, acarreta o enorme risco de
despoletar um conflito nuclear. Não consigo imaginar uma saída mais
positiva além do dito 'congelamento' para parar com a mortandade e destruição
em curso. Francisco Almeida: Tendo em conta o Artº 6º ou eu já não sei pensar ou, de
duas uma: Ou, seguindo-se a um cessar fogo, reconhece-se a actual ocupação no
terreno como as novas fronteiras da Ucrânia ou a entrada da Ucrânia na NATO é
uma declaração de guerra da NATO À Federação Russa. Eduardo L
> Francisco
Almeida: exactamente! em linha com o meu comentário acima. J. Lopes: Quando a morte está perto há que se redimir seja
crente ou não, mas é tramado o medo do juízo final, mesmo dizendo que não se
acredita nele, um cínico é sempre um cínico: "Henry Kissinger, em
entrevista ao Wall Street Journal na semana passada, a propósito do seu 100º
aniversário, tomou uma posição clara, afirmando o seu apoio à entrada da
Ucrânia na NATO. “Estou na posição irónica de ter estado sozinho quando me opus
à adesão (em 2008) e de estar quase sozinho quando defendo a adesão à NATO
(hoje).” Kissinger não elaborou excessivamente sobre as razões do seu apoio à
entrada da Ucrânia na NATO, mas foi claro que considera que apenas esta
garantia de segurança é suficiente”. bento guerra: Na realidade, a NATO já aderiu à Ucrânia João Alves > bento guerra: Engana-se. Foi em consequência da actuação da
Federação Russa que, factualmente, a Ucrânia já está integrada na NATO, embora
com restrições. Putin, com a sua ‘operação militar especial’ e com a sua
retórica anti-NATO, foi quem transformou as fronteiras entre a Ucrânia e Federação
Russa+ Bielorrússia nas fronteiras entre estes países e a NATO.
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