Mas para adultos, por ser verdadeira, fazendo
evocar o Polegarzinho de antanho. Embora não minúscula como aquele, uma Lesly responsável,
protagonizando uma história de tragédia, com o desastre e a morte da mãe, mas
igualmente enchendo-nos as medidas, com a sua inteligência, coragem e lúcida
dedicação aos irmãos. Merece toda a sorte do mundo. Será que a vai ter? Se
fosse uma história de fadas, para a infância, teria um happy end. É o que lhes
desejamos, aos quatro irmãos. Mas admira-se também a persistência nas buscas –
tal como em muitos outros lugares do mundo vão acontecendo tentativas de
salvação de casos vários, que nos espantam e orgulham, mau grado os seus contrários.
A heroína responsável pelo milagre: como Lesly, a mais
velha dos quatro irmãos perdidos na selva, salvou a família
A recuperar no hospital, Lesly, de 13 anos, contou ao jornal espanhol El
Mundo como conseguiu salvar os irmãos durante 40 dias, recorrendo a todo o seu
engenho e conhecimento da selva.
OBSERVADOR, 20 jun. 2023, 22:03 1
Pouco a pouco, vão sendo conhecidos
os pormenores do “calvário” vivido pelos quatro irmãos que, durante 40 dias,
sobreviveram sozinhos na selva colombiana. À medida que o exército procurava os
menores incessantemente, e o país sustia a respiração à espera de um final feliz,
uma heroína emergiu: Lesly, a mais velha das crianças, que com um engenho e
responsabilidade muito além dos seus 13 anos de vida, conseguiu salvar os
irmãos até ao dia do resgate.
Foi a própria Lesly quem contou
os detalhes ao jornal espanhol El Mundo,
um dos poucos meios de comunicação a quem foi permitido falar com a adolescente. A jovem
encontra-se neste momento sob observação e a receber cuidados hospitalares.
Apesar de debilitada, está livre de perigo e, à medida que recupera as forças,
começa a revelar como, exactamente, é que se conseguiu manter, a si e aos
irmãos, vivos.
(E agora? Desnutridas
mas vivas. O "milagre" na Colômbia 10 jun. 2023, por Tiago Caeiro)
Tudo começou momentos após a queda da
pequena aeronave em que seguiam e que vitimou três pessoas (incluindo
a mãe das crianças). Ainda atordoada, Lesly, que não se tinha apercebido
da turbulência e dos alertas antes do acidente, tratou imediatamente de retirar os irmãos do avião.
Primeiro, Soleiny, de 9 anos, e
Tien Noriel, de 4, que estavam a seu lado; depois, Cristin, o bebé de 11 meses
(completou o primeiro ano de vida na selva), que estava ao colo da mãe.
Uma vez fora da aeronave, tratou de procurar nos destroços por
mantimentos que lhes durassem alguns dias. Na pequena bolsa, guardou alguma
comida que levavam para a viagem, fraldas, leite em pó e o biberão de Cristin,
algumas roupas da mãe e uma rede mosquiteira para se protegerem dos insectos.
De seguida, era imperativo encontrar um
local para dormir. Por sorte, quando
era mais nova, a jovem indígena costumava brincar com a tia montando refúgios à
base de folhas e troncos grossos — um conhecimento que, na selva, se revelou
essencial. “A Lesly é forte, sabe como estar na vegetação”, afirmou a Damaris,
a sua tia, ainda antes de os jovens serem encontrados. “Sinto que é ela quem
cuida dos irmãozinhos”.
Mais de um mês na selva em busca de
um rio
Lesly pensava que o resgate
demoraria horas, talvez um par de dias a acontecer. Não tinha como saber que as
equipas de resgate demorariam cerca de duas semanas para encontrar o local do
acidente e outras três para encontrar os quatro irmãos. Não podiam esperar
tanto tempo.
Quatro
dias depois do desastre, com os mantimentos a esgotarem-se e o cheiro dos
corpos em decomposição a tornar-se cada vez mais intenso, a adolescente decidiu
partir vegetação dentro. O objectivo era encontrar um rio; Lesly deduziu que,
se encontrasse um corpo de água, talvez conseguisse encontrar uma embarcação
para pilotar ou, melhor ainda, uma povoação local que os acolhesse.
Para
matar a sede, iam bebendo dos riachos no caminho e aproveitavam a água da chuva
que caía copiosamente. Enganar a fome era mais difícil: os únicos alimentos
comestíveis na região eram frutas — maracujás e cocos — que Lesly foi apanhando
e racionando pelos irmãos. A certa altura, perdeu o biberão de Cristin, e
viu-se forçada a improvisar um recipiente com a vegetação da floresta, que usou
para alimentar o bebé com a pouca fórmula que restava.
(O desenho feito por Lesly, a mais velha
dos quatro irmãos desaparecidos, que comprova que Wilson esteve com as crianças
antes de estas serem encontradas
Foi
precisamente este o biberão que Wilson, o cão de resgate das forças
especiais, encontrou,
naquela que foi a primeira prova de que as crianças estariam vivas. Por
esta altura, já tinha sido montada uma mega-operação para os
encontrar, com cerca de 100 elementos das forças de segurança e do exército a
aliarem-se às dezenas de indígenas na região.
Quanto ao pastor-belga, acabou
por fugir da equipa que acompanhava (estando neste momento a decorrer uma
operação para o tentar encontrar). Dias depois,
Wilson esteve mesmo com os irmãos, no primeiro sinal que estes receberam de que
estavam a ser procurados.
A jovem confirmou que, ao longo das semanas, foram-se cruzando com
membros das equipas de busca. No entanto,
num misto de medo e exaustão, Lesly instruiu os irmãos para não fazerem barulho
e permanecerem escondidos, tapando inclusive a boca de Cristin para que este
não chorasse. Pelo meio, os kits de emergência que foram sendo largados pelos
meios aéreos que participavam na busca foram essenciais para prolongar a
sobrevivência das crianças, que encontraram dois deles.
Mas, ao fim de 40 dias, Lesly já não tinha forças para continuar. Resignada
e sem conseguir encontrar o rio, sentou-se num local abrigado com os irmãos, à
espera da morte — ou da salvação. No dia anterior, depois de um dos muitos
rituais celebrados pelas tribos nativas da região, um líder indígena tinha
afirmado que conseguiram convencer os “duendes da selva” (espíritos que as
tribos acreditam formar a “consciência” das selvas indomadas) a levantar o véu
de invisibilidade que manteriam sobre as crianças, permitindo assim que estas
fossem vistas pelas equipas de resgate. 24
horas depois, numa zona que já tinha sido revistada pelos operacionais, Lesly e
os irmãos foram salvos.
COMENTÁRIO:
Cisca Impllit: Grande menina. Irmãos que são mesmo Irmãos
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