A dívida
O Luís enviou-me há pouco um mail sobre
a dívida portuguesa actual, segundo uma fonte inglesa, que registo.
Talvez responda em parte às decepções traduzidas por ALEXANDRE HOMEM
CRISTO, confirmando
o estado de uma nação em que todos condenam a governação, mas nem sempre se
debruçam sobre a dívida catastrófica que o texto inglês refere e que, pelos
vistos, se vai fortalecendo, como encargo para os nossos descendentes, se é que
estes entretanto não são apanhados nos efeitos de uma indisciplina
generalizada, que favorece o crime, a mândria e o encosto.
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20/07/2023, 22:06 (há 2 horas) |
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«The Portuguese national debt, the public debt of Portugal, or the debt
of the public administrations of Portugal, as any other government debt, is the
financial amount the Portuguese State
owes, externally and internally, due to its various financial commitments.
By the first semester of 2013, the Portuguese
national debt was 130% of the GDP, around 214.5 billion Euros or 293 billion US
dollars.
There were two main periods since
the early 90s when the debt of Portugal had a strong growth. The first
was at the beginning of the third millennium, i.e., from the year 2000 the
Portuguese public debt began to have growth that many economists considered
worrisome, and that in their opinion would contribute to create a structural
crisis in the country. However, the big increase in the
public debt, in parallel with the rest of Europe, was post-2008, after the
international crisis of the Great
Recession which began in 2008, that caused the sovereign
debt crisis in the majority of European countries.
As the public debt presented
as a % of Gross Domestic
Product – (PIB) - , it is actually presented as a ratio, as the
division between the sovereign debt and the Portuguese GDP multiplied by 100
percent.
Therefore, the debt increase after 2008 was also a result of GDP decrease due
to economic recession.»
--
Luis Salvador
Copio, por não conseguir
transportar, a primeira referência:
«Portugal National Debt Spiraling Upwards
for 20 years. Find out why.
315.019.654.931 E
Source: Portuguese Government Data
Last Updated Julyn5, 2023»
Eis, pois uma razão “necessária e suficiente” a justificar as
agonias de um povo que tem vivido do imposto e do empréstimo, segundo hábito
antigo, é certo, mas de que se não falava no tempo de Salazar, que saldara a
dívida da República anterior, e construíra – na mediania, sim, sem fausto mas
com equilíbrio, uma nação que, embora à margem das mais evoluídas, só
envergonhava os habituais do descontentamento, ledores – ou puramente
seguidores – da cartilha em moda, a despeito da PIDE, e que assim se davam ares
de progressistas, sem grandes sentimentos pátrios, embora. Como hoje, de resto.
Estado de decepção
Muito além das reformas estruturais, o
que Portugal urgentemente precisa é de uma liderança política que lhe dê algo em
que acreditar. Nenhum país é viável sem acreditar que viver melhor é possível.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO Colunista do Observador
OBSERVADOR, 20 jul. 2023, 00:2235
Nasci em 1985. Cresci
num Portugal em transição para um modo de vida moderno e europeu, à boleia dos
fundos da CEE. Quem cresceu
naquele tempo lembra-se da energia no ar. O país abria-se ao mundo e as
oportunidades surgiam — e, claro, as expectativas subiam em flecha, entre
negócios a prosperar e escolas a abrir. As famílias de avós analfabetos viam
os netos a completar a escolaridade secundária e a abraçar a promessa do ensino
superior, que na realidade era a promessa da ascensão social. Naqueles anos 90,
Portugal era ainda um país atrasado, tacanho e desigual — mas era também um
país onde todos olhavam com optimismo para o futuro porque, simplesmente, todos
acreditavam que viver melhor estava ao seu alcance.
Por
comparação, o Portugal de hoje está irreconhecível. Por um lado, ainda bem — a
ambicionada melhoria nas condições de vida cumpriu-se: os índices de
desenvolvimento social e económico melhoraram extraordinariamente, elevando o
nível de vida e de bem-estar dos portugueses. Basta observar as qualificações
das novas gerações ou constatar como evoluiu o conceito de pobreza, já longe da
miséria dos bairros sem saneamento básico que marcava a paisagem suburbana há
30 anos. Por outro
lado, ainda mal — esvaziaram-se as expectativas sobre o futuro. As famílias
olham para os filhos sob a perspectiva angustiada de que viverão pior do que os
seus pais. Aliás, os inquéritos de opinião retratam esse desencanto quanto ao
futuro: a ascensão social parece inatingível, os desafios sociais parecem
inultrapassáveis, os bloqueios do regime democrático parecem irresolúveis, o
país parece à deriva e sem aspirações. Ao contrário do Portugal dos anos 90,
falta algo em que acreditar.
A
minha geração, a que tem agora entre 30 e 40 anos de idade, ficou a meio.
Cresceu no optimismo, sob a promessa de prosperidade para a então “geração mais
qualificada de sempre”, mas entrou na idade adulta já num país estagnado e em
crise. A entrada no mercado de trabalho coincidiu
com a crise das dívidas (2008-2009), com a bancarrota nacional (2010-2011) e
com o programa de ajustamento financeiro imposto pela troika (2011-2014). Foi,
nesse sentido, a geração que iniciou a nova tendência de perda de qualidade de
vida, porque cercada por salários baixos, recibos verdes e instabilidade
profissional — às quais se juntam hoje inflação, custos insustentáveis na
habitação, estagnação salarial e aumento generalizado do custo de vida. Olho à minha volta e vejo as consequências dessa
razia: muitos amigos emigraram, outros sobrevivem por cá em empregos mal
remunerados, só uma minoria se estabeleceu profissionalmente. Ninguém quer que
os filhos fiquem em Portugal e, de uma forma ou de outra, todos os preparamos
para a emigração.
Das crises económicas à inflação e ao
aumento no custo da habitação, a ideia de que as gerações mais jovens viverão
pior que os seus pais espalhou-se como um vírus. Está nas sombras do debate político em todos os países
ocidentais. E aprofundou-se especialmente em países como Portugal, onde o
imobilismo e uma economia encostada ao Estado geraram perda de riqueza e
competitividade. Mais: os seus efeitos alargaram-se à vida política e
partidária. Em grande medida, esse choque entre expectativas e
realidade tem promovido transversalmente o surgimento de populismos de esquerda
e de direita, que exploram o desencanto das populações e a incapacidade dos
regimes democráticos em renovar-se ou construir soluções — eis descodificada a
ascensão eleitoral do Chega. Daí que o desafio seja político nos dois sentidos:
na doença, porque compete às lideranças políticas criar uma saída reformista
para este marasmo, e no sintoma, porque essa
ideia de um futuro pior deu palco ao populismo, uma semente destrutiva de uma
sociedade aberta e plural.
Por tudo isto, o estado da nação é um estado de decepção. A dos mais velhos, que não conseguem
proporcionar aos filhos as oportunidades de que usufruíram. A dos mais novos,
que estudam e investem num futuro que vislumbram muito aquém das suas
expectativas. E a de um país inteiro, que olha incrédulo para a nossa classe
política, com evidente falta de nível e incapaz de indicar um rumo. Neste
estado de decepção, o ponto a que chegámos coloca-se já muito além da
necessidade de reformas estruturais, que desbloqueiem sectores-chave, como a
educação ou a saúde. Hoje, o que Portugal urgentemente precisa é de uma
liderança política que lhe dê algo em que acreditar. É só isto, porque isto é
tudo — nenhum país é viável sem acreditar que viver melhor é possível.
observador censurado > F. Mendes: Entre 2009 e 2011, Medina
Carreira dedicou 42 episódios a explicar o que
está a acontecer em Portugal desde 2001. O título do programa televisivo, Plano
Inclinado, era
sugestivo. Nos
últimos 14 anos, nunca mais vi nenhum economista nas televisões a dizer uma
fracção mínima do que ele disse. Provavelmente, o país é pequeno, todas as
pessoas se conhecem e o governo do PS poderá congelar as respectivas carreiras
ou fazer coisa bem pior.
João Ramos: É fácil porque está na moda dizer mal do Chega, chamam
lhes populista, mas é o único que tem a coragem de dizer as verdades
directamente na cara do governo, pois eu prefiro esse “populismo” ao
populismo de um governo que não governa e que a todo o momento apregoa
maravilhas que não passam de enormes mentiras, e já agora será bom não esquecer
outro populista mor, que dá pelo nome de Marcelo. Se tudo isto não é um
populismo nefasto, não sei o que será??? O resultado está à vista! Ana Maia:
O Alexandre nasceu já eu tinha 15 anos,
nasceu num pais mais ou menos desenvolvido e sente a desilusão. Mas para
quem nasceu antes, como eu, a desilusão é ainda maior, eu nasci num pais pobre
e cinzento mas com pessoas felizes, talvez algo conformadas mas com esperança,
a esperança que trouxe o 25 de abril e a entrada na CEE, vimos o pais crescer,
desenvolver-se, havia trabalho, criaram-se condições para criar riqueza, e
durante a 2a metade da decada de 80 e a decada de 90 os nossos rendimentos
aproximaram-se da europa, 84% foi o mais alto, depois vieram os
socialistas e desde ai tem sido sempre a descer. Sente-se desiludido sem nunca
ter conhecido o antes, agora imagine a desilusão de quem conheceu o antes, é
como andar numa montanha russa, estamos cá em baixo, subimos e depois de
repente vimos tudo o que foi construído a esvair-se por entre os dedos como
areia. Todos os sacrifícios foram em vão, a esperança de um pais melhor que
foge entre os dedos. Nós estamos
pior, a sua geração ainda tem o canudo, a minha nem isso, morrer e definhar
neste pais, trabalhar para um estado que tudo suga, o rendimento a esperança e
também a vida. Resta lembrar que é a sua geração e não a minha, uma geração que
nasceu com poucas necessidades que está agora na flor da vida e a começar a
gerir o pais, o PNS tem a sua Idade, a ministra da habitação tem a sua idade, o
Galamba tem a sua idade, o Duarte cordeiro, a Marta Temido. A minha geração fez
qualquer coisa de muito errado ao criar os filhos pois são vocês o futuro do
país e ninguém acredita que sairá daqui nada de bom. Se Calhar o erro foi
nosso. antonyo
antonyo: “ Geração mais qualificada de sempre” ou
geração que praticamente sem exames e classificações rigorosas , com “
licenciaturas” que em qualquer país europeu são bacharelatos , com ministros da
educação que interrompem as comparações alterando as provas de aferição ,
baixando assustadoramente as exigências como com o fim dos exames em matemática
!! mesmo para cursos de economia e gestão ! Mas tudo isto faz algum
sentido? Carlos Almeida > F. Mendes: Completamente
de acordo com o autor do artigo e com os comentários acima. No entanto, por
experiência própria, também sei que no seio das famílias muito se pode fazer
para incutir nos jovens uma cultura diferente da que se vive no resto da
sociedade. Espírito competitivo, rigor, trabalho, estudo, honestidade, cultura
através da muita leitura, prazer no risco (controlado e com planos
alternativos), aversão ao facilitismo, respeito e amor pelo próximo, amor ao
país, consciência de que a vida não é fácil, acrescentar valor no que se faz,
pensar pela própria cabeça sabendo que decisões tomadas levam a determinados
resultados e consequências, não pactuar com a mediocridade e com vícios
perigosos…etc. Tudo isto é educação que dificilmente se aprende na escola e que
podem também mudar o país. Não é necessário ser-se político para mudar este
país!!!
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