Do assunto do
texto anterior, enviado pelo Luís: Das palestras de SALAZAR:
Discursos
Volume 1º , pág. 183 e 184).
Estabelece a separação entre a Igreja
e o Estado.
1933 – O estatuto político fundamental é posto à
consulta do país em Março, e em Abril entra em vigor e faz ratificar a nova Constituição (corporativa),
tendo a União Nacional tido
um papel importante pela intensa campanha política desenvolvida; cria a PVDE, polícia política; proíbe as
oposições, impõe o partido único. Termina aqui a ditadura militar e é
institucionalizado o Estado Novo sob
a forma de um presidencialismo
autoritário.
Em 16 de Março, na Sede da União Nacional, faz um discurso destinado à cidade doPorto, para onde foi radiodifundido,
observando os conceitos económicos da nova Constituição: a Riqueza,
o Trabalho, a Família, a Associação Profissional e o Estado.
a) A Riqueza
... Em suma: a riqueza, os bens, a produção não constituem
em si próprios, fins a atingir: têm
de realizar o interesse individual e o interesse colectivo; nada significam se não
estão condicionados à conservação e elevação da vida humana. A este objectivo devem obedecer o conjunto da produção
nacional e a actividade administrativa do
Estado, dispostas, uma e outra, o mais possível segundo a
ordem racional das necessidades dos
indivíduos e da Nação. Eis porque se afirma que a organização
económica deve realizar o máximo de produção socialmente útil e que é obrigação do Estado zelar pela moral, pela
salubridade e pela higiene pública.
b) O Trabalho
...
Se o homem não deve ser escravo da riqueza, também não deve organizar a vida de
modo a ser escravo do trabalho.
O trabalho, todo o trabalho tem a mesma nobreza e
a mesma dignidade, quando é a contribuição proporcionada às faculdades de cada
um para a colectividade a que pertence.
Mas, sendo igualmente digno sob o ponto de vista humano, não tem o
mesmo valor sob o ponto de vista económico e social. Tem utilidades diferentes, tem rendimentos diversos e por isso não
pode ter igual remuneração...
... O salário, por
consequência, não tem que ter limite
superior, mas pode ser-lhe fixado o limite mínimo, para que não desça além do
que é imposto pelas exigências duma vida suficiente e digna.
c) A Família
Subamos agora mais alto e ponhamos este
problema: a produção que lida com trabalhador pode ignorar a família? O homem que trabalha não é só; ele vive enquadrado numa sociedade natural,
geralmente não a família de que proveio, mas a família que ele constituiu. Quando a produção desconhece a família,
começa por convidar ao trabalho os
vários membros dela que o possam fornecer – a mulher e os filhos menores, e parece que estes salários
suplementares são benefício apreciável; contrária é porém a
realidade. Quem diz família diz lar; quem diz lar diz atmosfera
moral e economia própria – economia
mista de consumo e de produção. O
trabalho da mulher fora do lar desagrega este, separa os membros da família,
torna-os um pouco estranhos uns aos outros. Desaparece a vida em comum, sofre a
obra educativa das crianças, diminui o número destas; e com o mau
ou impossível funcionamento da economia
doméstica, no arranjo da casa, no preparo da alimentação e do vestuário, verifica-se uma perda importante, raro
materialmente compensada pelo salário percebido. De vez em quando perde-se de vista a importância dos factores
morais no
rendimento do trabalho. O
excesso da mecânica que aproveita o braço leva a desinteressar-se da disposição
interior. Em todo o caso continua exacto ainda hoje, na maior parte da
produção, que a alegria, a boa disposição, a felicidade de viver constituem
energias que elevam a qualidade e a quantidade do trabalho produzido. A família
é a mais pura fonte dos factores morais da produção.
Assim
temos como lógico na vida social e como útil à economia a existência regular da
família do trabalhador; temos como fundamental que seja o trabalhador que a
sustente;
defendemos que o trabalho da mulher
casada e geralmente até o da mulher solteira, integrada na família e sem a
responsabilidade da mesma, não deve ser fomentado; nunca houve nenhuma boa dona
de casa que não tivesse imenso que fazer.
d) A Associação Profissional
No campo da actividade profissional
não deve também o trabalhador estar só. Naturalmente ele terá tendência para se
associar com outros a fim de defender melhor os interesses materiais e morais
da profissão. Ora o sindicato profissional é, pela homogeneidade
de interesses dentro da produção, a melhor base de organização do trabalho, e o ponto de apoio, o fulcro das
instituições que tendem a elevá-lo, a cultivá- lo, a defendê-lo da injustiça e da adversidade.
Na
grande produção moderna, altamente concentrada, já não
pode ter-se a pretensão de repor no velho aspecto familiar as relações do
operário e do patrão; mas há que compensar o que por esse lado se perdeu com estabelecerem-se as relações na base do sindicato
com a empresa. O sindicato
pode substituir, à indefinida verdade de relações existentes com os diferentes factores da produção, tipos de soluções
extensivas a todos os interessados da
mesma ordem no que toca à remuneração a às condições do trabalho. Ele diminui por uma
intervenção nacional o que há de precário e frágil na utilização do trabalho,
substituindo as posições meramente individuais as que resultam das próprias
posições económicas dos interessados a defender.
e) O Estado
O Estado deve manter-se superior ao mundo da produção, igualmente
longe da absorção monopolista e da intervenção pela concorrência. Quando
pelos seus órgãos a sua acção tem decisiva influência económica, o Estado
ameaça corromper-se. Há
perigo para a independência do
Poder, para a justiça, para a liberdade e igualdade dos cidadãos, para o interesse geral em que da
vontade do Estado dependa a organização da
produção e a repartição das riquezas, como o há em que ele se tenha constituído
presa da plutocracia dum país. O Estado
não deve ser o senhor da riqueza nacional nem colocar-se em condições de ser
corrompido por ela. Para ser árbitro superior entre todos os interesses é
preciso não estar manietado por alguns.
Normalmente o Estado deve tomar sobre si a protecção e a direcção
superior da economia nacional pela defesa externa, pela paz pública, pela
administração da justiça, pela criação das condições económicas e sociais da
produção, pela assistência técnica e o desenvolvimento da instrução, pela
manutenção de todos os serviços que são auxiliares da actividade económica,
pela correcção dos defeitos que por vezes resultam do livre jogo das
actividades privadas, como é o da desigual distribuição da população e duma
inconveniente estrutura da propriedade rural, pela especial protecção das
classes menos favorecidas, pela assistência, quando não pode conseguir-se,
mediante a acção das instituições privadas, a conveniente satisfação das necessidades
humanas.
Infelizmente do livre jogo das actividades particulares nem sempre
resulta a justiça, nem a administração é sempre satisfatória perante a inferioridade
económica de muitos indivíduos. Eis porque
essa mesma aspiração do
justo nas relações sociais nos deve
levar a proteger os fracos dos possíveis abusos dos fortes e os pobres do excesso da sua pobreza. Na
função educativa que deve ser dada a este moderado intervencionismo, o
progresso, porém, não está em o Estado alargar as suas funções, despojando os
particulares, mas em o Estado poder abandonar qualquer campo de actividade por
nele ser suficiente a iniciativa privada.
(Discursos, volume 1o , pág. 198,
201, 202, 203, 204, 206, 207, 208 e 209).
No dia 1 de Abril, o 1o vaso de
guerra “Gonçalo Velho” é motivo de referência e satisfação por fazer parte do
plano de restauração da armada nacional: Este pequeno barco entra nas
águas portuguesas pago, antecipadamente pago, integralmente pago, com
dinheiro todo de portugueses; a Armada começa a renovar-se nos mesmos anos em
que o País colheu todo o pão para comer. Os políticos
do acaso encontrarão nisto uma
simples coincidência; mas eu afirmo que está aí a base fundamental e a razão deste custoso
empreendimento. Nós não teríamos ouro para pagamento
imediato da nova esquadra se pelas campinas não houvessem lourejado, abundantes,
as searas. Para que pudessem sulcar os mares os navios portugueses, foi preciso
que a charrua sulcasse mais extensamente, e melhor, a terra da Pátria, poupando
à nação largas somas do seu ouro.
(Discursos, volume 1o , pág. 218 e
219).
27 de Maio. Fala às comissões da União Nacional de todo
o País, que se reuniram em Lisboa, no Coliseu dos Recreios em grande
manifestação patriótica, ponderando sobre se a Revolução Nacional estaria no bom caminho:
Vão passados sete anos de lutas
contra o espírito de desordem, contra a corrupção da administração pública,
contra a intolerância da demagogia, contra o parlamentarismo anárquico, contra
a guerra de classes, contra o aviltamento nacional, contra a esterilidade das
lutas partidárias, contra o desaproveitamento dos melhores valores nacionais,
contra o abandono a que foram votadas as necessidades fundamentais do País,
contra a não realização das suas melhores aspirações no campo da inteligência e
da moral, contra o abandono dos povos, o desprezo das reivindicações do
trabalho, a falta de incentivo, disciplina e protecção da nossa actividade
económica, o desânimo que invadira tudo e todos, tirando à Nação não já a
vontade de progredir, mas parece até que a vontade de viver.
Sete anos de lutas e sete anos
de vitórias a impor a ordem nas ruas e nos espíritos, nas finanças e na economia,
nos costumes e na mentalidade, nos serviços públicos e nas actividades
privadas, sete anos a impor Portugal aos Portugueses e a impor os Portugueses
ao respeito do mundo. Estamos ainda, pode dizer-se, no começo desta obra e
já parece diferente a nossa Pátria!
(Discursos, volume 1o , pág. 224 e 225).
Na abertura solene da primeira
conferência dos Governadores Coloniais, em 1 de Junho no Palácio da Assembleia
Nacional, em Lisboa, capital do Império, convocados para estudarem com o
Ministro os mais altos e instantes problemas dos seus respectivos domínios e em
conjunto os que respeitam às suas recíprocas relações e às que devem ser mantidas
com a metrópole: É na verdade com
o mesmo critério de nação, agregado social diferenciado, independente,
soberano, estatuindo, como entende, a divisão e organização do seu território,
sem distinções de situação geográfica, que nós consideramos, administramos,
dirigimos as colónias portuguesas. Tal qual como o Minho ou a Beira é, sob a
autoridade única do estado, Angola ou Moçambique ou a Índia. Somos uma unidade
jurídica e política, e desejamos caminhar para uma unidade económica tanto quanto
possível completa e perfeita, pelo desenvolvimento da produção e intensa permuta
das matérias-primas, dos géneros alimentícios e dos produtos manufacturados entre
umas e outras partes deste todo. Os regimes económicos das colónias têm de ser estabelecidos
«em harmonia com as necessidades do seu desenvolvimento, com a justa reciprocidade
entre elas e os países vizinhos e com os direitos e as legítimas conveniências
da metrópole e do Império Colonial Português».
(Discursos,
volume 1o , pág. 238 e 239).
Discurso no contratorpedeiro «Vouga» em 29 de Julho, assinalando a vinda deste segundo barco de guerra,
chegado de Inglaterra para reorganizar a Armada. Este barco ficou com o mesmo
nome do que se afundara há cerca de dois anos quando da revolução política da
Madeira: ... Surge o Vouga dos mares, e logo o povo pensou: mais fortes, mais
seguros, mais um passo em frente. E o que é este barco afinal? É a arma de
homens do mar, casa de marinheiros, pedaço do torrão natal – terra da Pátria –
sulcando os oceanos.
(Discursos, volume 1o , pág. 247).
Palavras de louvor e agradecimento por ocasião do encerramento do I
Congresso Industrial e II Ciclo da Exposição Industrial, no Salão Nobre do
Palácio das Exposições do Parque Eduardo VII em 15 de Outubro:
Meus Senhores: - Ao encerrar os
trabalhos do Congresso e o II Ciclo da Exposição permito-me salientar, como é
de inteira justiça, as Associações Industriais de Lisboa e Porto, e abraçar na
mesma saudação amiga, dirigida à indústria portuguesa, com os melhores votos
para as suas prosperidades, os patrões, os técnicos e os nossos excelentes
operários.
(Discursos, volume 1o , pág. 253).
Na Cidadela de Cascais em 22 de
Outubro. Palavras radiodifundidas para o Brasil, no
encerramento da «Semana de Portugal»:
Se
me fosse permitido, a mim, de certo modo responsável neste momento pelos
destinos do País, dizer mais uma palavra, eu diria ser necessário que a colónia
portuguesa continue a afirmar-se no Brasil como a que melhor compreende e que
mais entranhadamente ama o progresso da grande nação, como a que mais trabalha,
com disciplina e quase desinteresse, pelas prosperidades da terra alheia, como
se fosse sua. E diria, ainda, que toda essa obra pode ser feita, deve ser
feita, como tem sido até ao presente, dentro da mais estreita ligação com a
mãe-Pátria, no acrisolado amor a Portugal, que tão bem sentimos vibrar em todas
as manifestações da colónia.
(Discursos, volume 1o , pág. 258).
Em 26 de Outubro na Sede Secretariado da Propaganda Nacional, no
acto da sua inauguração:
Em primeiro lugar: o Secretariado
denomina-se “da propaganda nacional”. Quem
penetrar bem o seu significado, entenderá que não se trata duma repartição
de elogio governativo, que não se trata de elevar artificialmente a estatura
dos homens que ocupam as posições dominantes do Estado; compreenderá que o
Secretariado não é um instrumento do governo, mas um instrumento de governo no
mais alto significado que a expressão pode ter. Não se
vai certamente evitar, com mal-entendido pudor, toda a referência pessoal
elogiosa, toda a homenagem prestada aos que se afirmam pelo trabalho, pela
dedicação, pelo desinteresse com que servem a causa pública.
(Discursos, volume 1o , pág. 262).
Palavras de incitamento e de esperança aos clubes desportistas de
Lisboa, no Ministério das Finanças, em parada no Terreiro do Paço em 3 de
Dezembro, pelos votos formulados pelo Congresso dos Clubes Desportivos, reunido
em Lisboa, com atenção especial para a construção do Estádio Nacional:
Que pena me faz a mim, filho do
campo, criado ao murmúrio das águas de rega e à sombra dos arvoredos, que esta
gente de Lisboa passe as horas e dias de repouso acotovelando-se tristemente
pelas ruas estreitas, e não tenha um grande parque, sem luxo, de relvados
frescos e árvores copadas, onde brinque, ria, jogue, tome o ar puro e verdadeiramente
se divirta em íntimo convívio com a natureza! Que pena me faz saber aos
domingos os cafés cheios de jovens, discutindo os mistérios e problemas de
baixa política, e ao mesmo tempo ver deserto esse Tejo maravilhoso, sem que
nele remem ou velejem, sob o céu incomparável, aos milhares, os filhos deste
país de marinheiros! Temos de reagir pela verdade da vida que é trabalho, que é
sacrifício, que é luta. Que é dor, mas que é também triunfo, glória, alegria,
céu azul, almas lavadas e corações puros, e de dar aos Portugueses, pela
disciplina da cultura física, o segredo de fazer duradoura a sua mocidade em
benefício de Portugal. Eis porque muito bem compreendo o vosso sentir, as
vossas aspirações, e porque creio, tanto como no ressurgimento da nossa
Pátria pelas virtudes da vossa mocidade, na realização, metódica mas certa, das
que me são agora presentes. E porque a primeira de todas é a construção do
Estádio Nacional, regozijemo-nos, porque teremos em breve o Estádio Nacional!
(CONTINUA)
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