Mas de falas sim. Bota-as boas e
sorridentes, ele, o Costa, acompanhando-as com os trocos da nossa submissão,
ponto final. Quanto a Passos
Coelho… quem dera que ele fosse uma espécie de Zelensky, de igual
fervor como amante da sua pátria espezinhada, rodeando-se de um conjunto de
patriotas como ele, apesar das dificuldades no convencimento de um povo que
gosta essencialmente de folia…
Mudar?
Um dia Passos Coelho disse-me que não
sabia porque haveria de voltar à política. “Continuo com as maiores dúvidas que
o país queira mudar estruturalmente qualquer coisa de importante”. Hoje também
diz.
MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista, colunista do Observador
OBSERVADOR, 19 jul. 2023, 00:2051
1A litania perseguiu-nos
incansavelmente. Ao princípio, soava-nos como uma reacção política que podia
ser verosímil; depois ia sendo cada mais igual, e finalmente, isto é, 14 meses
depois (!) tornou-se inaguentável: “deixemos
a justiça funcionar”, António Costa
dixit.
Apetecia perguntar a Costa, primeiro-ministro de Portugal há
oito anos, a qual Justiça se refere. A que aí está? A que dá pelo nome mas
não está? A que se foi estilhaçando por entre esta governação já longa? A
ladainha incomoda por mais de uma razão: primeiro porque não haver Justiça; depois porque fazer crer que ela existe faz de nós um bando de imbecis;
e finalmente porque a política — e por
isso a governação — não pode confundir-se com repetições monocórdicas de frases
feitas e clichés inconsequentes. Umas e outros atirados para o ar da
media como a melhor — ou devia dizer a “única”?
— resposta para situações duvidosas e/ou obscuras e já lá vai um bom par delas.
Quando um chefe de governo mais nada tem a dizer ao seu país após a décima
terceira ou décima quarta demissão do seu governo senão uma frase que ele sabe
sem futuro, nem destino, que se pode esperar ainda dele? A menos que se dê
por satisfeito (?) com um tardio texto que publicou
há dias aqui no Observador. Pouca sorte: o escrito não aqueceu, nada arrefeceu,
a ninguém convenceu: o seu autor ficou a meio de uma ponte que não apetece
atravessar.
2Qual era o delito que não percebemos bem?
Buscas de supetão às sete da manhã em casa de um cidadão de cuja seriedade
nunca levantou suspeitas? Computadores, papéis, telemóveis que de também de
supetão abalam da sua morada? Televisões que, se não estavam avisadas, parecia
que estavam? Alarido, conversas de varanda, espectáculo? Quanto mais ele durava
mais o nível da água da democracia descia. Que tem de estar a acontecer no país
para o Ministério Público ter caído disto abaixo? Lucília Gago, Procuradora
Geral da República sabia desta operação relâmpago? E concordou com ela? Ou não
sabia e… pior?
Rio defendeu-se com o humor – não faz, digamos, o meu género preferido de
intervenção política - mas a sua perplexidade, que se imagina imensa, levou-o
para isso. Humor tristíssimo, num caso perigoso. Ou que — modestamente e sem
formação jurídica — assim me parece. Os sinais vermelhos políticos são para ser
accionados. É o caso: expliquem-nos o delito e o comportamento.
3Percebi, tardiamente aliás, que ninguém
jamais nos explicará o que ocorreu com o SIS há semanas: eis um sinal vermelho que nunca será accionado, o que prevaleceu foi
o mistério e o mutismo. Mau sinal. Mas que dizer também das notícias
que vamos tendo sobre o estado de
eficácia e responsabilidade do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF),
quando sabemos a vital importância de um serviço público com estas
características? Se lhe juntarmos a recente derrapagem do Ministério
Público e o obstinadamente opaco silêncio do SIS, quantas portugueses
normalmente constituídos dirão que estamos bem entregues?
4Esta mistura insalubre, ou melhor,
esta articulação insalubre entre factos, silêncios, abusos de poder,
comportamentos irresponsáveis, desconfianças, suspeitas e — sim, sim –
corrupção a granel está a tornar-se tão tóxica que me interrogo, a sério, sobre
quem ainda queira um dia, quando o vento rondar, pegar “nisto”. Quem
acredite que consegue protagonizar a recusa de uma prática política que não
provou — nem no desígnio, nem no resultado – para um entendimento dela norteado
pela responsabilidade e pelo serviço. Os estragos operados por esta
governação não iludem ninguém. E nalguns casos — Educação — são devastadores;
noutros – Justiça –, sulfúricos.
E no entanto… mais importante do que
saber quem se propõe combater e inverter o “downgrading” a todos os níveis,
ocorrido no país, importa muito mais saber se há portugueses disponíveis
para corresponder a tão ciclópica empreitada. Haverá?
Um dia, lembro-me bem, Passos Coelho
havia de me dizer — e eu tomei boa nota — que não sabia porque haveria de
voltar à política se os portugueses não queriam nada do que ele teria de fazer
para mudar as coisas, (“continuo com a maior das dúvidas que o país queira
realmente mudar estruturalmente qualquer coisa de importante”). Por mim
gostaria de um país — e não de um sítio — onde não se (sobre)vivesse entre as
“garantias” da pertença ao funcionalismo público e as esmolas externas.
No
estado da arte será pedir demais? Ou Passos Coelho tem razão?
POLÍTICA ANTÓNIO COSTA JUSTIÇA
COMENTÁRIOS ( de 51)
Ana Luis da Silva: “Misturar”?
Alhos com bugalhos… Pelo intróito
pensei que se fosse falar de um possível regresso de Passos Coelho (uma
centelha da esperança?) à política, o que não tinha mal nenhum, bem pelo
contrário, daria finalmente crédito a um PSD desmoralizado, para afinal ficar a
ler umas linhas que me encheram de fastio acerca de uma busca domiciliária
levada a cabo pelo MP a um ex-dirigente partidário de má memória e que bem
poderá ter motivos sérios para acontecer, com críticas nada veladas e acusações
de manipulação política, com recurso selectivo a outros momentos infelizes
(menos da administração da Justiça do que da actuação encapotada e mafiosa dos socialistas
que nos governam), e ao chavão de um António Costa sempre pronto a ser igual a
ele mesmo… para quê? Porquê misturar a actuação do MP no caso Rio, que os
portugueses ainda não perceberam completamente, com o que já sabemos da
vergonhosa actuação política deste governo? Com isto não estou a dizer que o MP
tenha actuado bem ou mal (mais tarde saberemos), mas a suspeição sobre os
órgãos da justiça sem provas irrefutáveis tem que parar, se de facto queremos
continuar a acreditar na separação de poderes. Que os políticos sempre tentarão
manipular, claro. Mas assim, deste modo, não há jornalismo sério. Eduardo
Horta: Passos Coelho tem obviamente
razão. Captar esse desejo de conservadorismo, talvez réstea do regime anterior
foi o maior mérito de António Costa. Ele leu o país como ninguém e deu-lhe o
que queria. Só isso explica a sua durabilidade e a nossa indiferença. João Floriano: Passos Coelho está coberto de
razão. Mudar vai exigir sacrifício e sobretudo tocar em interesses instalados, vai
ser doloroso e em breve o governo que venha substituir Costa vai ser
confrontado com uma oposição feroz. A herança deixada por AC acolitado por
Marcelo Rebelo de Sousa é pesadissima . O dia a dia da nossa política é
feita de banalidades, anedotas, clichés como aquele que o governo mais
aparecia:«estamos a trabalhar na resolução dos problemas dos portugueses.», sondagens,
interferências grosseiras do PR, tudo o que possamos imaginar, menos o que
de facto interessa. E uma notícia de todo o interesse é que o PM, vai dar a
volta ao mundo para ver a estreia da selecção feminina de futebol. Estamos tão
felizes com um PM que aprecia futebol, mas tão felizes, que estou aqui a sar
saltos de alegria. Carlos
Chaves: Caríssima Maria
João, sim, sim e sim. O Passos Coelho tem toda a razão! Na minha opinião
existem três factores fundamentais para os Portugueses não quererem mudar mesmo
quando vivem nesta hipocrisia onde todos (menos os corruptos que vivem à nossa
conta) sabem e sentem que tudo ou quase tudo está mal e muito mal, a Justiça, a
educação, a saúde, os transportes, a segurança, a defesa, as finanças públicas,
a segurança social, a cultura, os serviços públicos… até a democracia está em
perigo. A dependência do Estado que o
socialismo alimenta, e não é só o aumento dos funcionários públicos são também as
“esmolas” que ardilosamente arranja, extorquidas dos impostos de quem trabalha
no privado, para convencer os menos avisados da “bondade” do socialismo. A
política da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, que vão financiando
acriticamente estas políticas de “adormecimento” do povo, ao contrário do que
aconteceu durante o dificílimo consulado de Passos Coelho. O envelhecimento da
população e a não aceitação deste estado de coisas por parte dos mais jovens e
mais bem formados, levando-os a abandonar o país. Na física de Newton
aprendemos que todos “corpos” tendem para o seu estado de repouso, ou seja, com
uma população mergulhada nas condições acima descritas, não lhe peçam para
mudar, pois seria pedir-lhes que saíssem do “repouso” e como já alguém disse os
“velhos” não fazem revoluções!
Fernando CE: Passos Coelho tinha e tem
razão. Na maioria, somos um povo sem ambição, sem exigência pessoal e
individual, adepto e acomodado da cunha , do jeitinho, dos “ conhecimentos” ,
algo hipócrita, lambe-botas, que não gosta de se esforçar nem activamente mudar
o que está mal. Exemplos: se precisa de uma consulta médica rápida, arranja um
conhecimento, fala com um amigo que conhece outro amigo para arranjar um
emprego para o filho, no trabalho apoia o chefe apesar de saber que ele é menos
honesto, no restaurante caro conhece alguém a passar à frente dos outros, etc
etc. . Poderia dar dezenas de exemplos. Este país não tem solução. Não
existe “coragem civil” pela maior parte dos cidadãos. Voto em branco comentando o
Passos Coelho, o país quer mudar, por isso é que lhe deu a vitória nas eleições
após ele ter implementado uma subida enorme de impostos. Agora, está claro
que as televisões, a imprensa, os comentadores, os sindicatos (dos profs, da
CP, dos funcionários judiciais, dos enfermeiros, etc) e o PSD, nenhum deles
quer realmente mudar estruturalmente qualquer coisa de importante, porque todos
são mamões do povo oprimido Miguel
Ramos: Este País não é do Passos Coelho, é do António Costa, do Galamba, do Pedro
Nuno Santos e do Medina. Ana
Maia: Pois é cara Maria
João, os portugueses querem mudar alguma coisa? Aparentemente, a ver pelos
últimos anos, não, estão óptimos como estão pois têm um governo que dá enquanto
o Passos tirou. E ter sido o PS a causa, não os demove, nem o PSD alguma vez se
mostrou particularmente interessado em explicá-lo. Eu pessoalmente, e não sou
garantidamente a única teria todo o gosto e prazer em votar no Passos Coelho,
mas sejamos honestos, a maioria dos portugueses tem o que quer, gosta e
escolheu, e continuaria a escolher a acreditar nas sondagens. Repito pela enésima
vez, o pais não merece um Passos,
merece o Costa e todos os Costas que se lhe seguirem. Mario Bastos: Passos Coelho tem razão. Os
resultados eleitorais das últimas legislativas que deram uma maioria absoluta
do PS são disso prova.
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