Mas não nos ralamos, ora! Viver é bom e
sobreviver ajuda. O AHC é muito
exigente na moral cristã ou outra, da escala racional, porque é jovem e
escrupuloso. Esta - refiro-me à escala - contudo, apresenta hoje em dia cada vez
mais facetas, de apoio aos novos e desprestígio aos velhos preceitos, de modos
que a baralhação reina. O que precisamos é de calma. Mas já o Diabo vicentino do "Auto da Feira" falava em “mentiras vinte e
três mil”, para senhoras e senhores, numa lenga-lenga que já aqui citei, que
não vale a pena repetir, pois se torna cansativo. Mas agradece-se sempre a
seriedade dos apelos, como a deste texto de AHC,
pese embora o efémero da citação, sempre sobreposta pela indiferença, aliás
resultante da falta de leitura geral, por cá, mas é um supônhamos apenas.
O PS tem um problema com a verdade
Seria benéfico que as votações em
comissões de inquérito dependessem de maiorias de dois terços dos deputados.
Tal levaria à negociação e a relatórios que fossem além do interesse do partido
dominante
ALEXANDRE HOMEM CRISTO Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 06
jul. 2023, 00:202
Mais de 24 horas após a entrega do
relatório preliminar da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da
TAP, é ponto assente que o conteúdo do relatório não corresponde ao que
efectivamente se apurou nas dezenas de audições realizadas. A deputada relatora do PS, Ana Paula
Bernardo, optou por submeter uma versão dos acontecimentos que se alinha com os
interesses do governo e do seu partido, criando factos alternativos, ocultando
testemunhos, ignorando evidências e excluindo episódios relevantes e amplamente
escrutinados na CPI (tais como a violência no Ministério da
Infra-estruturas ou a actuação dos Serviços Secretos na recuperação do
computador portátil usado por Frederico Pinheiro).
No final, refugiou-se numa argumentação extraordinariamente criativa para
defender que não houve ingerência política na gestão da TAP, nomeadamente em
casos onde essa ingerência está documentada.
Apesar da sua desfaçatez, este
relatório será aprovado, eventualmente com as alterações pontuais que o PS
validar — por ter maioria absoluta no parlamento, o PS controla completamente o
conteúdo do relatório. E é isto
que me justifica dois pontos de reflexão.
O primeiro ponto é o dano que este relatório causa no prestígio da
Assembleia da República, atirando-a para o descrédito total. Tem de se lamentar que, numa comissão com
poderes especiais (justificados pela missão de apurar a verdade), uma maioria
absoluta simples sirva de instrumento para um partido elaborar uma ficção,
manipular os factos e criar uma realidade paralela à medida da sua conveniência
política. Ao fazê-lo, o PS atacou a instituição parlamentar. E ao
fazê-lo ao abrigo de uma maioria absoluta, o PS expôs uma fragilidade
democrática que deveria ser corrigida: tal como já sucede em várias matérias e
instâncias parlamentares, seria benéfico que as votações nas comissões de inquérito,
dado o seu carácter especial, dependessem de maiorias de 2/3 (dois terços) dos
deputados. Esta condição obrigaria à negociação entre partidos e, forçosamente,
levaria à produção de relatórios que fossem além dos interesses do partido
dominante — atribuindo força e relevância às suas conclusões, o que é
particularmente importante numa comissão de inquérito.
O segundo ponto é que o PS já nem disfarça o seu (cada vez maior)
problema com a verdade. A
desfaçatez com que o relatório preliminar da CPI ignora factos e reinterpreta
acontecimentos revela um completo desligamento à realidade, demonstra como a
prioridade dos socialistas se reduz à defesa dos seus interesses partidários, e
exibe uma soberba própria de quem acredita que a maioria absoluta legitima um
estatuto de donos disto tudo. O PS cria ficções à sua medida para
todo e qualquer dossier incómodo. E isto é tão evidente que, desconfio, se
tornará contraproducente para os próprios socialistas: um partido que opta por
este comportamento está a comprometer a sua credibilidade e a degradar a sua
imagem face aos cidadãos e eleitores. A continuar neste caminho, o PS põe-se a
jeito para pagar uma pesada factura eleitoral.
TAP EMPRESAS ECONOMIA ASSEMBLEIA DA
REPÚBLICA POLÍTICA
COMENTÁRIOS
observador censurado: As
pessoas ouvidas na CPI não podiam mentir mas os deputados do Partido Socialista
(PS) podem mentir? Se os deputados do PS podem mentir na Assembleia da
República porque é que os restantes cidadãos não poderão passar a mentir nos
tribunais? Carlos Chaves: Ou seja, não
temos democracia em Portugal e somos governados por um grupo de mitómanos,
incluindo o bebedor de “fortimel” (meu Deus ao ponto que chegámos) e o das
matracas que gosta de malhar na direita, toda esta gente protegida por uma
comunicação social lacaia que lembra o tempo do PREC! Caríssimo Alexandre, eu
não estaria tão certo que o PS a continuar assim, e é certo que continuará,
pois, o PS sempre foi assim, pagará uma “pesada factura eleitoral”. Receio que
esteja a ter os votantes socialistas em muito boa conta!
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