segunda-feira, 31 de julho de 2023

Sim


Derrotismo, comodismo, medo, timidez, cobardia, acefalia, zombaria, talvez, por aquilo que afinal deixou de merecer o respeito e devoção, mesmo sem ostentação, mas como algo ancorado no porto da educação – o amor da sua nação. Mas tais exigências não são mais do foro dos partidos oprimidos pela deslealdade e esperteza dos saloios opressores, amantes do capital que lhes vem parar às mãos, sem esforços de maior, e escrúpulos também não. Helena Matos bem o sabe expressar, através das comparações com os vizinhos peninsulares e as suas combinações à volta das eleições, e os seus comentadores apressam-se a elogiá-la com simpatia, pela sua sabedoria despida de fantasia...

A grande mistificação

Nem os independentistas catalães querem um referendo, nem o PP perdeu por não se ter afastado do VOX, nem as lições a tirar em Portugal são as que se dizem. O problema é outro. Chama-se derrotismo.

HELENA MATOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 30 jul. 2023, 02:3555

 “Nem pensar!” – terão respondido os socialistas espanhóis às reivindicações do Junts de um referendo à independência da Catalunha.

A frase é bonita mas de real tem pouco, a começar logo pela própria exigência do referendo: os últimos a quererem o referendo a uma possível independência da Catalunha são mesmo os dirigentes do Junts, partido que obteve menos 137.591 votos nestas eleições. Sim, o PSOE depende para governar de um partido em perda que obteve uns escassos 392.634 votos, 1.6 % do total, contra os 530.225, ou seja 2.21 %, conseguidos em 2019.

Parece-me óbvio que daqui a uns meses, quando Sanchez for investido como chefe de governo com o apoio do Junts, logo se dirá que o líder dos socialistas espanhóis é um negociador tão hábil que conseguiu convencer o Junts a protelar o seu projecto de referendo. E assim seguirão neste faz de conta conveniente para ambas as partes.

A evidência deste faz de conta leva-me a um ponto em cuja defesa creio estar sozinha: é tempo de acabar com o tabu em torno dos referendos independentistas em Espanha. Não porque eu defenda a secessão de Espanha mas precisamente pelo contrário: afinal é precisamente a sua não celebração ou sequer discussão versus constante reivindicação que permite aos nacionalistas manterem o seu ascendente, não obstante os votos que obtêm nas urnas.

Há décadas que, na ânsia de conseguir paz, as sociedades democráticas têm alienado valores e princípios. Da agenda trans ao revisionismo da História ou à imposição de novas censuras é assim que tem sido. Obviamente, após cada concessão descobre-se que outras reivindicações já estão na mesa e assim sucessivamente até que um dia o que antes era impensável se torna a realidade. Como radicais que são, os nacionalistas em Espanha contam com o desgaste e cansaço da sociedade para transformarem em factos consumados o que antes era tabu.

Em resumo, em Espanha a direita que ganhou perdeu. A esquerda que perdeu não só ganhou como vai governar e sobretudo Sanchez vai aparecer como o grande negociador que apaziguou os nacionalistas.

É um faz de conta à vista de todos. Um faz de conta que se alimenta de uma série de dogmas que, com as devidas variantes, se pretende impor em Portugal.

O mais importante desses dogmas estabelece que a esquerda, no caso o PSOE, pode negociar com terroristas condenados por crimes de sangue (Bildu) ou foragidos à justiça como é o líder do Junts, não pode contudo negociar com o PP. Durante o debate com Sanchez, o líder do PP propôs-lhes assinarem um acordo: o que ganhasse, se ganhasse sem maioria absoluta, permitiria ao outro formar governo sem ter de fazer pactos. Sanchez não aceitou pela mesma razão que António Costa fez de conta que negociava com Passos Coelho enquanto montava a geringonça: o centro tornou-se tabu. E depois de o centro se ter tornado tabu é a possibilidade de um governo de direita que ela mesma passa a interdita. Como se faz isso? Diabolizando os acordos à direita. Sim, ao mesmo tempo que se normalizavam o fim do centro e as mais controversas alianças à esquerda, instituía-se que o partido charneira da direita não podia fazer alianças no seu bloco. As eleições tornaram-se assim numa espécie de jogo com regras diferentes consoante as equipas: a esquerda pode fazer alianças no seu campo, a direita não.

Não vale a pena discutir se o PP em Espanha governariam melhor sem ter de fazer acordos com o VOX ou o PSD em Portugal com o Chega porque pura e simplesmente não governam. Podem ser estimáveis grupos de reflexão mas governos não formarão certamente.

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COMENTÁRIOS:De 55

Cisca Impllit: A mistificação? São como uma doença! É isto, preto no branco: o jogo está viciado, há muito tempo. Aliás, em minha opinião, Portugal é um País armadilhado. É só pensar um bocadinho. Muito bem, Helena Matos.                 Nuno Simões de Melo: A “direita” portuguesa anseia sempre pela aprovação da esquerda. Este complexo de inferioridade (pecado original da revolução que deu início ao actual regime) impede-a de se apresentar como um bloco alternativo ao PS e respectivos “compagnons de route”. O caminho existe, desde que haja coragem de o assumir. Não se podem aceitar “vetos” da esquerda às coligações à direita! Excelente artigo da Helena Matos, para os dirigentes dos partidos à direita reflectirem!            Fernando CE: Estamos fartos desta esquerda caviar em que se transformaram os dirigentes do PS, uma burguesia de Estado. Estragam o SNS em vez de o transformarem num eficiente Sistema Nacional de Saúde, mas depois recorrem aos Hospitais privados. Como Vasco Pulido Valente disse 1978, prefiro a burguesia económica â burguesia de Estado.               Fernando Cascais: Na entrevista desta semana do João Matos Fernandes ao Observador este foi peremptório em diferenciar as uniões à esquerda com as uniões à direita. Segundo o antigo ministro, as esquerdas radicais respeitam a CR e o estado democrático enquanto as direitas radicais têm como agenda acabar com o regime democrático… obviamente, dito por outras palavras mas o sentido é o mesmo. Só um aparte sobre esta entrevista, Matos Fernandes a falar do Partido Socialista fez-me lembrar um avençado do FCP (isto porque ele é do Porto) a defender um penálti inexistente marcado a favor da sua equipa num programa de desporto na CMTV. Impressionante, não arrisca o mínimo dos mínimos que possa suscitar um comentário desfavorável dos seus pares ou colocar em causa a sua militância. Uma falta de coragem assinalável. É gente desta que transforma a política                 Maria Tubucci: É verdade, uma grande verdade, HM. O esquerdismo ou marxismo transforma a sua derrota em vitória e a vitória do adversário em derrota e pior o adversário deixa. Consente esta perversão, deixa-se sequestrar, caindo no engodo do politicamente correcto, assim eles vão ganhando e corrompendo todo o tecido social. Tal com diz, quando é atendida uma reivindicação, já têm outras na calha, pois o seu objectivo é sempre o mesmo, dividir, para eles reinaram, como está à vista de todos em Espanha e em Portugal, nos dias que correm. Costuma dizer-se, quando vires as barbas do teu vizinho a arder põe as tuas de molho, o único caminho a seguir é: nunca fazer-lhes a vontade, afrontá-los sempre, nunca ser vencido pelo cansaço e nunca, mas mesmo nunca, dar-lhe qualquer razão, ser sabujo. No fundo nunca deixá-los pôr o pé em ramo verde, ou seja, há que ter coragem e determinação para os reduzir àquilo que na realidade são, uma praga de gafanhotos. Quem adormece em democracia acorda em ditadura, alguém disse, e é bem verdade.                Amigo do Camolas: Helena Matos vê mais sozinha que toda a direita junta: a esquerda não existe para ajudar a sociedade, a esquerda existe para ajudar a esquerda. E em vez da direita se preocupar com o Chega, deve é preocupar-se com a esquerda. E não é difícil fazerem bonito. É só fazer o que eles fazem. Falem do Lula - aquele que eles fizeram questão de pôr a falar na AR e fizeram o "L" todos sorridentes como se ele fosse um herói deles e da democracia. Façam "contra-correntes". Citem só as frases dele. Digam que com ele o amor venceu, o ódio e a vingança acabou e a democracia chegou mesmo ao Brasil: as pessoas já estão a ser presas e censuradas por pensar que têm liberdade de expressão; o ex-presidiáro presidente do Brasil já pode pregar ódio e vingança dizendo que "não descansa enquanto não fodher o Moro", que "certas pessoas são uns animais selvagens e precisam de extirpadas", que é contra as famílias, que "o agro-negócio é uma seita de fascistas", que "o Brasil viveu 4 anos de Nazismo" e que quem o critica (quase metade do País) "é uma cambada de fascistas que é preciso acabar com eles". E um Juiz do STF já pode assumir que ajudaram a acabar com o Bolsonarismo. Não é sobre isso que a esquerda, o Costa e todos os que fizeram o "L" querem falar. E não é o que seus facilitadores dos mídia querem ver conduzida a conversa. Mas é sobre isso que a direita deveria falar. Isso seria muito mais honesto: falar do que está acontecer com os seus heróis e não do que pode acontecer com o Chega ou o VOX.              Lúcia Henriques: A esquerda ibérica (será só cá?) descobriu uma maneira de governar: se  ganha, forma governo; se perde, junta-se com quem calhar e governa. Não tem linhas vermelhas, até se vangloria de derrubar muros, como disse o Costa.     Carlos Chaves: Caríssima Helena Matos, só lhe faltou dizer que essa grande mistificação, eu chamar-lhe-ia manipulação e mentira, é vergonhosamente alimentada pela esmagadora maioria da comunicação social. Ontem, por exemplo, ao ler a última edição do nascer do Sol constactei que é dos últimos jornais com notícias fora da amálgama que nos querem impor, com notícias contextualizadas com os reais problemas que estamos a viver e com crónicas e cronistas no lado certo da estória actual! Mas pergunto-me qual será a audiência do jornal nascer do Sol? Quantos jornalistas deste jornal são convidados para os painéis de opinião/análise política e dos noticiários das TV’s generalistas? Todos sabemos a resposta! Num tempo muito difícil, Sá Carneiro conseguiu uma maioria, um governo e quase um Presidente, como? Tendo um projecto motivador, realista, democrático e alternativo para a sociedade Portuguesa da altura, e a juntar a isto mobilizou e congregou toda a “direita” democrática da altura! Muitas vezes sozinho e contra todos! Não é preciso inventar a roda duas vezes, basta só fazer igual! O PSD de hoje deve fazer exactamente o que Sá Carneiro fez, construir uma alternativa credível com TODA a direita democrática, incuindo o CHEGA e o CDS. Se os Portugueses não quiserem e insistirem em continuar a “chafurdar na lama” e a comprometer o seu próprio futuro e o dos seus filhos e netos, então continuem, e terão o que merecem.                    Fernando Marques: A esquerda infiltra-se a gritar ou de mansinho, o povo só quer paz como diz a HM no texto, e quando dermos conta é tarde e já não há coragem nem força para abrir os olhos, também aqui no observador se vai notando essa infiltração, salvam-se alguns como a Helena, mas qualquer dia quando acordarmos não sei se estes bons e esclarecedores artigos iram aparecer…           albino ferreira > Fernando Marques: Verdade. Aqui no Observador vai-se notando a infiltração de esquerda            João FlorianoTristão: por causa dos fenómenos de rejeição que cria nos eleitores. CHEGA - 7,18%      IL - 4,91%    Bloco - 4,40%     PCP - 4,30% Explique-nos lá mas muito devagarinho, para ver se entendemos, como é que um partido que tem 7,18% nas eleições de 2022 enfrenta fenómenos de rejeição e o Bloco ou o PCP com percentagens muito mais baixas são um fenómeno de aceitação? Afinal qual é o seu lado Tristão? O do PSD não é de certeza absoluta. Não é devido ao CHEGA que o PSD não descola, é devido à falta de carisma e ao medo que o PSD tem da esquerda. O inimigo do PSD não é o CHEGA, é o PS e a restante esquerda. Se o PSD estiver em situação de formar governo, tenho quase a certeza que o CHEGA viabilizará esse governo em nome do interesse nacional. Essa narrativa da rejeição é uma invenção da esquerda, do mesmo modo que é culpar o CHEGA pela direita não chegar ao poder.              António Dias: Subscrevo na íntegra a excelente reflexão com que nos presenteou. Este artigo além de pedagógico é um hino a inteligência da argúcia política. Desmonta com clareza as narrativas dos idiotas úteis, que diabolizam o Chega para impedirem o centro-direita ao poder. Foi das melhores reflexões políticas que tenho lido. Lembro que há uma faixa importante de direita em Portugal tão legítima como a dos extremistas da esquerda, que não se vê representada pelo PSD , que é um partido social democrata Alguém de direita pode estar num partido onde o Pacheco Pereira milita ? O caminho faz-se caminhando. Tal como Itália , chegaremos a uma solução governativa de centro direita . A Meloní está a ser uma excelente PM                   António Sennfelt: Texto extremamente inteligente e extremamente verdadeiro!              José Paulo C Castro > Carlos Castro: Isso de chamar "contas certas" às actuais tem muito que se lhe diga. Se acabarem as cativações, como diz Medina, vamos ver a realidade. Aliás, já se vê no SNS e noutras partes do Estado.                  João Floriano: Muito triste mas é melhor enfrentar a verdade do que viver em negação, na mentira. Aceita, que dói menos. O que mais me custa é que é a própria direita que baixa a cabeça e os braços. O povo costuma dizer perdido por 10, perdido por100. A direita, a fofinha, obediente, sempre carente da aprovação da esquerda e sempre recebendo dela o escárnio, o desprezo e a falta de respeito, não arrisca. É por isso que eu votarei sempre CHEGA e nunca PSD ou CDS, que anda iludido com um impossível ressurgimento.             Censurado sem razão: Depois de mais este exemplo porque continuam a insistir no perigo da direita em acabar com a democracia, quando a esquerda acabou com ela há muito? Acham mesmo que vivemos em democracia? Em Portugal e Espanha já se instalou a ditadura. O povo, dado pela esquerda, até merrrrrrrda come. Impressionante.              Luis Barrosa: Concordo plenamente com a sua análise. Penso que muitos “da casa do Observador” não têm a mesma opinião e até a criticam. Parabéns               TIM DO Á: Tempos da esquerda corajosa e do vale tudo versus a direita fofinha inferiorizada e auto derrotada.              Rui Lima: Hoje o que chamam extrema direita será um partido identitário  que significa, semelhança, , compatibilidade, igualdade, parecença, similaridade… Falando na Europa com  os seus simpatizantes eles defendem os valores ocidentais a democracia a liberdade mas pensam que o seu modo de vida está a ser destruído por povos que chegam à Europa e não se integram . O PC é mil vezes mais anti-Ocidente que todos os partidos populistas da Europa juntos basta ver a sua posição no conflito Ucrânia Rússia onde ele é pelo o inimigo do Ocidente o Putin, além de ser contra a economia de mercado que é a nossa economia . O problema deste partidos populistas é que uma vez chegados ao poder se comportas como todos os outros .

.Ana Luís da Silva: Na mouche!

 

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