sexta-feira, 21 de julho de 2023

Como disco rachado…


A elegia em torno da governação gira e gira, ininterruptamente, nos solavancos do tempo, com maior ou menor agudeza interpretativa. Maior, no caso de LUÍS SOARES DE OLIVEIRA, naturalmente preocupado, Deus lhe dê muita saúde e vida para o ir demonstrando, quiçá advertindo, porventura consciencializando, embaixador actual do bom senso, pese embora a sua reforma, não da sensatez e agudeza próprias…. Mas governantes com iguais tendências para o escape europeu, ou mesmo americano, houve-os qb., por cá, para prestígio pessoal e talvez também nacional, afinal. Não, não fazem falta por aqui, nem costumam deixar saudades, pródigos no proveito próprio, para um resto de vida de plenitude. Enquanto, por aqui, a acefalia e o descuido singram, de mãos dadas.

 

créditos: Paulo Rascão | Madre Media

Acefalia crónica

Luís Soares de Oliveira, economista e embaixador na reforma

O problema básico do país, lamentavelmente, não está inscrito na agenda do debate sobre o Estado da Nação. Trata-se da acefalia. Sempre tivemos forte tendência anárquica e desprezo pela res publica. Já lá disso se queixavam os romanos e, séculos mais tarde, o bispo de Olinda. Mas, de tempos a tempos, conseguimos chefias que nos fizeram progredir.

Agora, aparentemente, temos um chefe - que até dispõe de maioria absoluta -, que a todos transmite a ideia de que o que quer é escapar daqui, trepar mais alto, obter uma sinecura europeia e mandar o país aos bichos. Não assume o cargo porque tem outros interesses.

Não temos, pois, o chefe de que precisamos. Um líder assim não motiva as pessoas; não consegue pedir os sacrifícios necessários para o bem comum, não convence os ministros que têm de trabalhar para o bem da nação e não para o bem próprio. Não é distanciando-se que vai conseguir resolver os problemas nacionais. Consegue, sim, criar cepticismo, mas nunca a confiança. Com ele só trabalha quem quer aproveitar, não os que querem servir.

Todo o mal que o país sente vem daí. Mas a questão nem sequer está em pauta, é tabu total.

Publicado no SAPO, hoje

21/7/23

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