domingo, 23 de julho de 2023

Enviado pelo Luís

 

Textos de Salazar, dos seus discursos políticos, precedidos de simples frases soltas mais ou menos conhecidas, com que o Luís se recreou, na convicção de que aquele foi o Homem certo, no momento necessário, com o seu discurso tão diferente dos das actuais gerações de políticos, discurso disciplinado, nimbado de um carácter de autoritarismo antidemocrático, certamente, mas nunca antipatriótico. Só costumamos referir, nas nossas conversas de café, como complemento do retrato do Homem que o Luís tanto admira, que oxalá Passos Coelho se inspirasse em iguais desígnios nacionalistas - que os tem, pois já o demonstrou - para ultrapassar a rejeição de tomar em mãos idêntico propósito de safar este país, reconhecendo embora o acto de heroísmo que tal passo traduziria, de abandono provável de uma vida de estabilidade, em sacrifício de si próprio.

Um discurso simples e eficiente, o de Salazar, nos textos que seguem, “não movido de prémio vil, mas alto e quase eterno, que não é prémio vil ser conhecido por uma “libertação financeira” do ninho meu paterno”, “pregão” indispensável, tal como o que Camões requereu para si - o do épico, todavia, de uma apologética bem outra, na consciência de um legado literário naturalmente de diferente universalidade. E todavia, o de Salazar – bem como o de Passos Coelho, caso este quisesse aceder ao patriótico sacrifício por uma nação que talvez o não mereça, não seriam menos valiosos e heróicos, no seu significado de reconstrução de uma pátria mais ou menos pulverizada, nas suas facetas de comodismo, inércia e desonestidade, caso Salazar não fosse o Homem certo no momento próprio, como hoje se pede o surgimento de um novo Salazar - ambos herdeiros, de resto, no desempenho político e económico, de um “Marquês de Pombal” propício, em igual tempo de crise. Aliás, tais condicionantes de “empréstimo e de imposto” que regem a economia portuguesa, também Eça as satirizou, em páginas de uma graça feroz, como traço de constância, requerendo soldados heróicos de uma causa tantas vezes julgada irreparavelmente perdida, para a qual se pede, uma vez mais, o milagre de um qualquer Sebastião, não envolto, contudo, no seu nevoeiro de bronca superstição num povo em permanente infância, tendo a pieguice chorosa como traço distintivo do seu carácter.

Eis os textos de Salazar, que me enviou o Luís, que dividirei no blog, em virtude da sua extensão, para uma reflexão mais ponderada de algum “peito lusitano” indispensável e disponível para a ara do sacrifício:

FRASES SOLTAS:

«A Nação é para nós sobretudo uma entidade moral».

«Aguardamos apenas a realização de condições convenientes para que o remédio não seja pior de sofrer do que o mal que se destina a curar».

«Aquém, a autoridade que cria a ordem e a ordem que condiciona a liberdade; além, a liberdade, tomada no vago, no absoluto, e desprendida de todo o condicionalismo social, a liberdade até aos paroxismos da anarquia».

«As discussões têm revelado o equívoco, mas não esclarecido o problema; já nem mesmo se sabe o que há-de entender-se por democracia».

«Através de uma orgânica adequada, toda a ideia construtiva, toda a divergência fundada, toda a reclamação justa têm as máximas possibilidades de ser ouvidas e consideradas e atendidas no juízo independente que só o interesse colectivo ilumina e aquece».

«À parte os Chefes de Estado, que têm, pelo relevo especial de suas pessoas e responsabilidades na condução dos povos, lugar sempre destacado na História, todos os mais que colaboram de uma ou outra forma no esforço colectivo da grei devem ficar sujeitos – nomes e obras – ao desgaste do tempo».

«Decididamente, decisivamente, pela Nação, por nós e …até por eles».

«Deus, Pátria, Família».

DISCURSOS:

1928 – Em 27 de Abril o Dr. Salazar discursa na sala do Conselho de Estado a propósito da tomada de posse como Ministro das Finanças agradecendo o convite formulado pelo general José Vicente de Freitas, e desta vez em definitivo:

Agradeço a V. Ex.a o convite que me fez para sobraçar a pasta das Finanças, firmado no voto unânime do Conselho de Ministros, e as palavras amáveis que me dirigiu. Não tem que agradecer-me ter aceitado o encargo, porque representa para mim tão grande sacrifício que por favor ou amabilidade o não faria a ninguém. Faço-o ao meu país como dever de consciência, friamente, serenamente cumprindo. Não tomaria, apesar de tudo, sobre mim esta pesada tarefa, se não tivesse a certeza de que ao menos poderia ser útil a minha acção, e de que estavam asseguradas as condições dum trabalho eficiente. V. Ex.a dá aqui testemunho de que o Conselho de Ministros teve perfeita unanimidade de vistas a este respeito e assentou numa forma de íntima colaboração com o Ministério das Finanças, sacrificando mesmo nalguns casos outros problemas à resolução do problema financeiro, dominante no actual momento.

(Discursos, volume 1o , pág. 3 e 4).

Para aceitar o cargo, o novo ministro das Finanças apresentou as suas condições para tirar o País da crise aguda em que se encontrava, que imediatamente foram aceites apesar de medidas extremas de sacrifícios mas de salvação. O País já conhecia o Homem cujo exemplo moral e conhecimento da ciência económica e financeira não por indicadores de opinião vaga, mas por observação directa da realidade, lhe deu inteira liberdade, também pela clareza das suas ideias. Assim sendo, condicionou a sua entrada no Ministério das Finanças pela imposição de condições pelas quais não subordinaria os seus desígnios assentes em maiorias.

Esse método de trabalho reduziu-se aos quatro pontos seguintes:

a) Que cada Ministério se compromete a limitar e a organizar os seus serviços dentro da verba global que lhes seja atribuída pelo Ministério das Finanças;

b) Que as medidas tomadas pelos vários Ministérios, com repercussão directa nas receitas ou despesas do Estado, serão previamente discutidas e ajustadas com o Ministério das Finanças;

c) Que o Ministério das Finanças pode opor o seu veto a todos os aumentos de despesa corrente ou ordinária, e às despesas de fomento para que se não realizem as operações de crédito indispensáveis;

d) Que o Ministério das Finanças se compromete a colaborar com os diferentes ministérios nas medidas relativas a reduções de despesas ou arrecadação de receitas, para que se possam organizar, tanto quanto possível, segundo critérios uniformes.

Postas as condições, acrescentou no momento da tomada de posse:

Estes princípios rígidos, que vão orientar o trabalho comum, mostram a vontade decidida de regularizar por uma vez a nossa vida financeira e com ela a vida económica nacional.

Debalde, porém, se esperaria que milagrosamente, por efeito de varinha mágica, mudassem as circunstâncias da vida portuguesa. Pouco mesmo se conseguiria se o País não estivesse disposto a todos os sacrifícios necessários e a acompanhar-me com confiança na minha inteligência a na minha honestidade -confiança absoluta mas serena, calma, sem entusiasmos exagerados nem desânimos depressivos. Eu o elucidarei sobre o caminho que penso trilhar, sobre os motivos e a significação de tudo que não seja claro de si próprio; ele terá sempre ao seu dispor todos os elementos necessários ao juízo da situação.

Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o País estude, represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar.

(Discursos, volume 1o , pág. 4, 5 e 6).

Inicia-se então uma obra de salvação nacional em que o Ditador manda, a Nação obedece e a Pátria redime-se.

As manifestações de reconhecimento pelo trabalho realizado, cresciam, ainda que com o sacrifício inerente à gravidade da situação que se vivia, e em 9 de Junho por altura do segundo aniversário do 28 de Maio, no Quartel-General de Lisboa, agradece aos oficiais presentes, representantes das diversas unidades do País, ali reunidos a pedido do Governador Militar General Domingos de Oliveira: Queria dizer a VV. Ex.as que me foi singularmente grata a homenagem de simpatia que quiseram tributar-me, não por aquilo que ela representa de motivo de vaidade para mim, mas pelo que traduz de apoio necessário à obra que todos desejam ver realizada.

(Discursos, volume 1o , pág. 10).

Foram focados neste encontro, os problemas nacionais e a ordem da sua solução, relacionados com quatro problemas fundamentais: o financeiro, o económico, o social e o político, enumerados por esta ordem, segundo orientação bem definida. Esteve presente o Ministro da Guerra General Morais Sarmento.

1929 Em 21 de Outubro, Salazar, agradece na sala do Conselho de Estado, a homenagem prestada pelas Câmaras Municipais do País, com a presença do Governo, Comissões Administrativas dos Municípios e do então Ministro da Justiça, Dr. Lopes da Fonseca. É aqui reforçada a mensagem das três políticas necessárias à renovação e reforma do País, responsáveis pelo sucesso da política seguida: “Política de Verdade, Política de Sacrifício e Política Nacional”:

Num sistema de administração em que predomina a falta de sinceridade e de luz, afirmei, desde a primeira hora, que se impunha uma “política de verdade”.

Num sistema de vida social em que só direitos competiam, sem contrapartidas de deveres, em que comodismos e facilidades se apresentavam como a melhor regra de vida, anunciei, como condição necessária de salvamento, uma “política de sacrifício”. Num Estado que nós dividimos ou deixámos dividir em irredutibilidades e em grupos, ameaçando o sentido e a força da unidade da Nação, tenho defendido, sobre os destroços e os perigos que dali derivaram, a necessidade de uma “política nacional”.

Política de verdade, política de sacrifício, política nacional, é o que se há feito, é o que entendo vós aplaudis na vossa mensagem.

(Discursos, volume 1o , pág. 23).

1930 – Em 28 de Maio, é a comemoração do quarto aniversário da Ditadura Nacional, em reunião na Sala do Risco, com oficiais do Exército e da Armada. São prestadas contas à actuação do Governo no cumprimento do programa, da Ditadura Administrativa e Revolução Política e a forma como tem conseguido contrariar a desordem política, financeira, económica e social. É o Presidente do Conselho de Ministros e acumula interinamente o Ministério das Colónias, onde permanece até Julho. Neste período é publicado o Acto Colonial, que institui o conceito de Império Colonial Português e reestrutura a organização ultramarina.

Em Julho é aprovado pelo Gabinete o texto do compromisso político em que assentam os novos movimentos de apoio à ditadura. Deste compromisso nasce a União Nacional (Deus, Pátria e Família). No dia 30 do mesmo mês discursa na Sala do Conselho de Estado, perante o Governo e os representantes de todos os distritos e concelhos do País, sobre ao “Princípios Fundamentais da Revolução Política”, com a presença e intervenção do General Domingos de Oliveira, Presidente do Ministério. Salazar comenta a crise política geral, particularizando o caso português como Nação independente, com o direito de possuir o Património Ultramarino. Em 30 de Dezembro, por ocasião da imposição das insígnias da Grã-Cruz de Cristo ao então Governador Militar, brigadeiro Daniel de Sousa, elogia as virtudes militares: ...Tirando motivo da festa de hoje, entreter-vos-ei uns minutos em simples palestra,

sobre vós próprios, digo, sobre a função, o ideal e as virtudes militares, “Valor,

Lealdade, Patriotismo”.

...Que ideia faremos da função militar? Ela é, simplesmente, a actuação da força organizada para a defesa do agregado social e para a realização da justiça.

Meus Senhores: - A vossa carreira militar não é um «modo de vida» como outro qualquer, mas o exercício duma função como nenhuma outra na sociedade e no Estado. Certamente se vive dela, como têm de viver da sua actividade todos os que não criam directamente riqueza: mas o interesse, como princípio dominante, mas o espírito de lucro ou de enriquecimento indefinido que encontramos, e com legitimidade, nas profissões privadas, deve andar longe da função militar, como da magistratura, como do ensino, como do sacerdócio, como da governação. Não se trata de ganhar a vida, mas de desempenhar altas missões sociais.

(Discursos, volume 1o , pág. 100, 102, 105 e 110).

Com a apresentação do orçamento para 1930-1931 o País vê desaparecer a grave crise em que Portugal havia mergulhado. Tinha valido a pena o País confiar no Estadista que cumpriu a sua palavra determinada pelos alicerces – Previsão, rigidez, honestidade saneando assim as finanças.

1931 17 de Maio, Coliseu dos Recreios, por ocasião da grande manifestação promovida pela União Nacional ao Governo da Ditadura no seu primeiro acto interventivo na vida pública portuguesa. Aqui realçou o Interesse Nacional na Política da Ditadura na área financeira, económica, política e na reforma constitucional. E

relembrou os tempos da indisciplina, dos favorecimentos partidários, dos grupos de assalto ao poder, em suma, toda a instabilidade governativa que vitimava os próprios governantes, sintetizando:

Das profundezas da alma da Pátria surgiu então o anseio duma disciplina que a todos se impusesse, duma autoridade que a todos conduzisse, duma bandeira que todos pudéssemos seguir – ditadura nacional, governo nacional, política nacional.

Essa foi a promessa, e hei-de crer que tal tem sido a realização. Sacrificarei tudo quanto hoje pudesse dizer-vos a fazer ressaltar em poucas palavras este traço da obra governativa.

(Discursos, volume 1o , pág. 118).

1932Comemoração do sexto aniversário do 28 de Maio. Obtidas por subscrição entre a oficialidade de terra e mar, são atribuídas a Salazar numa cerimónia espectacular na Sala do Conselho de Estado, as insígnias da Grã-Cruz da Torre e Espada, que agradece:

O Sr. Presidente da República quis ter a amabilidade de conceder-me a condecoração que entre nós tradicionalmente quer dizer – Valor, Lealdade e Mérito, e que será porventura rara, fora dos que se consagram à vida militar.

(Discursos, volume 1o , pág. 140).

As forças armadas prestam-lhe homenagem e agrega neste momento a confiança de todas as forças políticas que contam no país. Destacou o papel do exército na Revolução Nacional:

É preciso ir até ao fim: exigem-no a memória dos iniciadores do movimento de 28 de Maio, os destinos da nossa Pátria e a honra do Exército.

(Discursos, volume 1o , pág. 151).

Domingos de Oliveira apresenta a demissão e o Presidente da República convida Salazar a constituir Governo, no qual passa a acumular o Ministério das Finanças a partir de 5 de Julho de 1932. No acto de posse do primeiro governo da sua presidência, na Sala do Congresso de Estado, salienta que os homens que constituem o Ministério

são outros, mas o Governo é o mesmo – O Governo da Ditadura Nacional, que tem as suas ideias assentes e as principais directrizes traçadas. Os problemas que há a resolver na política e no conjunto da administração pública são numerosos, graves e alguns muito urgentes, mas o espírito fundamental desta obra de regeneração em que trabalhamos é o mesmo que explica e tem inspirado o movimento da própria Ditadura.

(Discursos, volume 1o , pág. 155 e 156).

Em Conselho de Ministros reunido em Outubro, Salazar faz o ponto da situação política do país e em 23 de Novembro na posse da Comissão Central e da Junta Consultiva da União Nacional, na Sala do Conselho de Estado, Salazar discursa e dá a conhecer ao país a sua doutrina. Esclareceu o papel das diferentes forças políticas: os monárquicos, os católicos, os antigos partidos e as organizações operárias, em face da revolução nacional: A todos os que são nossos ou desejem sê-lo havemos de dizer, claro e alto, em nome da Nação a reconstruir, que às forças da Ditadura se exige Disciplina,

Homogeneidade, Pureza de Ideal.

Não estão connosco os que preferem à obediência a sua liberdade de acção nem os que sobrepõem às directrizes superiormente traçadas as indicações da sua inteligência, ainda que esclarecida, ou os impulsos, ainda que nobres, da sua vontade. Não estão connosco os que não sentem profundamente os princípios essenciais de reconstrução nacional, os que restringem a sua adesão àqueles com que concordam ou lhes convêm, nem os que entram e ficam ainda de fora, recebendo de mais de uma parte indicações e ordens. Não estão connosco os que pensam tirar da sua adesão título de competência, os que buscam uma vantagem em vez de um posto desinteressado de combate, os que

não sentem em si nem dedicação para servir a Pátria nem disposição para sacrificar-se

pelo bem comum.

Agora, como de outras vezes, vão muitos julgar tudo perdido, porque as coisas são diferentes da ideia que formavam ou dos intuitos que tinham; outros e mais do que esses, porém, vendo clarear os horizontes da política portuguesa e desfeitos os seus equívocos, sairão do alheamento, da indiferença e até da hostilidade para a

colaboração a que são chamados no terreno patriótico em que trabalha a DitaduraNacional. Eu tenho confiança, eu tenho a certeza de que o doce País, que nós somos, quer realmente salvar-se!

(Continua)


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