Com uns e com outros. Os
que destroem, os indiferentes a isso, os que pretendem reconstruir das cinzas,
procurando um qualquer ponto bruxuleante, por entre aquelas. O Dr. Salles da
Fonseca é desses heróicos batalhadores saudosistas, há muito que defende a tese
de uma continuidade linguística que vai sobressair, por enquanto, nesses que hoje
dominam, aqui no país. De quem eu gostei mesmo foi de Narana Coissoró, pela sua
integridade, naqueles tempos em que o CDS seguia esses rumos que o Dr. Salles
não se cansa de pretender reaver, ainda que só na memória dos Homens. Mas o
mundo vai em frente, outros valores se lhe impondo, até mesmo os daqueles que
só pensam em destruir, despudoradamente… Talvez em lembrança dos czares, seus
antepassados, conquistadores de outrora. Se vale a pena ou não, outros o dirão.
Mas o esforço do Dr. Salles é, de facto admirável, na sinceridade do seu amor pátrio.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO08.07.23
O
Estado Português da Índia existiu desde 1510 a finais de 1961. Foram 451 anos
de convivência intercultural a que deveremos acrescer os anos que antecederam a
criação oficial do referido Estado e os anos que já decorreram desde a sua
extinção de facto até ao presente. São, praticamente, cinco séculos de
intercâmbio cultural cuja realidade global deve ser reconhecida como verdadeiro
Património da Humanidade tanto na vertente material como na imaterial.
Arquitectura,
religião, língua, mobiliário, medicina, literatura, pintura, música, enfim,
todas as vertentes da intelectualidade e da cultura popular.
A
cultura indo-portuguesa consubstancia um estilo de vida que traduz uma
Civilização híbrida de grande mérito dentro e fora do subcontinente
hindustânico. São inúmeras as personalidades oriundas desse estrato
civilizacional que ao longo da História se elevaram aos mais altos postos das
hierarquias indiana e portuguesa. Por exemplo, Jorge Fernandes que
foi Ministro da Defesa da Índia de 2001 a 2004 e António Costa que é o actual Primeiro Ministro de Portugal.
Mas
esta cultura vem desaparecendo porque as vicissitudes da História puseram fim à
presença da Administração Portuguesa, porque os indo-portugueses vêm emigrando
e porque o espaço assim deixado vago vai sendo preenchido por quem não se sente
ligado a essa tradição cultural. Mesmo a Igreja Católica se apressou
a substituir a língua portuguesa pela inglesa nas homilias das suas celebrações
e esse foi, só por si, um golpe da maior gravidade na coesão da cultura indo-portuguesa.
Valha
o Visconde Seabra cujo Código Civil prevaleceu.
Entretanto, a Universidade
de Goa acolheu o Instituto Camões e ali se
ministra a didáctica da língua portuguesa aos futuros professores. Este é um
trabalho ciclópico a que não poupo louvores.
Mas
os professores não podem ensinar se não houver quem os queira escutar e eles
próprios precisam de viver.
Assim nasceu a Sociedade de
Amizade Indo-Portuguesa, Goa (Indo-Portuguese
Friendship Society, Goa) que vem
desempenhando um papel da maior relevância no estreitamento das relações de
amizade entre os dois países, ou seja, entre as duas culturas. O mesmo é
dizer que vêm preservando a cultura indo-portuguesa.
Falta
que em Damão-Silvasssa e em Diu os lusófilos se associem de modo semelhante em Sociedades
de Amizade Indo-Portuguesa, recrutem professores indianos de língua portuguesa
e preservem desse modo a identidade civilizacional que os distingue a nível
mundial.
Falta
promover a Cultura Indo-Portuguesa a Património da Humanidade.
Lisboa, Abril de 2022
Henrique Salles da Fonseca
(publicado
na «Revista da Casa de Goa», ed. Julho-Agosto de 2023)
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